domingo, 31 de outubro de 2010

3 tempos no mar do Japão

As águas nas ilhas japonesas variam entre frias, temperadas e tropicais. Mas a vida marinha é sempre extraordinária.

Por Juli Berward
Foto de Brian Skerry
3 tempos no mar do Japão Um cardume de peixes-morcego procura petiscos de plâncton perto da superfície no mar subtropical das ilhas Bonin. A cor turquesa permeia a água no fim de tarde, quando os raios vermelhos do sol se dispersam e incidem com meios de intensidade


A luz do sol escoa por fendas no gelo. Os blocos mais grossos, cravejados de algas, fulguram em verde-esmeralda. Os personagens desse reino gelado começam a aparecer: uma lesma azul, um peixe róseo cuja cauda lembra um leque de gueixa, um peixe com espinhos alaranjado saído de um episódio de Pokémon.




É esse o mundo submarino à espera do fotógrafo Brian Skerry. De roupa de mergulho seca e 14,5 quilos de lastro, ele se arrasta pela praia na orla da cidade pesqueira de Rausu, no nordeste do Japão, até calçar as nadadeiras e submergir o rosto devagar para se acostumar com a água a -1,7ºC. Seus lábios adormecem. De câmera em punho, Skerry mergulha entre as banquisas, camadas superficiais de gelo no mar de Okhotsk, que contorna a península Shiretoko.

Muitos imaginam o Japão como um compacto aglomerado de grandes ilhas, mas, se olharmos o mapa, a ideia é bem outra. O território japonês abrange 2,4 mil quilômetros e contém mais de 5 mil ilhas. Essa vasta comunhão de terra e oceano abriga três ecossistemas distintos. No gélido norte, gigantescos caranguejos-rei e águias-do-mar com asas de 2 metros de envergadura frequentam os mares da remota península Shiretoko. Nas frescas águas centrais da península Izu e da baía Toyama, a poucas horas de carro dos arranha-céus de Tóquio, enxameiam lulas cintilantes e crescem florestas de coral mole. No cálido sul, peixes-borboleta e tubarões-touro compartilham recifes de coral nas ilhas Bonin.

As correntes oceânicas são essenciais a essa diversidade marinha. Elas banham a costa japonesa a temperaturas que variam entre -1°C e 30°C. As correntes também trazem ao país dois recordes mundiais. A poderosa Kuroshio impele água quente para o norte, permitindo que recifes de coral prosperem onde normalmente não seriam encontrados. A corrente oriental de Sakhalin atrai a água fria do norte na direção do Japão, ajudando a fazer da península Shiretoko o ponto mais meridional com gelo marinho no inverno.

Essas correntes controlam mais que a temperatura da água. Também transportam vida marinha por longas distâncias. "A costa vulcânica do Japão é toda rendilhada de angras", diz Robert van Woesik, do Instituto de Tecnologia da Flórida. Em ilhas cercadas de recifes de coral, as lagunas "agem como luvas de beisebol, apanhando larvas de coral e peixes".

Como em tantas partes dos oceanos do planeta, esses ecossistemas estão em risco. O Japão aterra suas lagunas para que a construção civil tenha mais terras a ocupar. Quando isso ocorre, larvas de peixes, corais e caranguejos passam direto, sem se fixar.

Por ora, a comunidade de seres oceânicos está florescendo. Quando Brian Skerry emerge das águas geladas, dá graças pela casa de chá na praia. Livra-se do equipamento, aquece-se tomando sopa de missô e observa a neve cair. Enquanto isso, lá no mar, o peixe "pokémon" cor de laranja nada, e o gelo verde resplandece.

Publicado em 11/2010
Fonte: National Geographic Brasil 

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