terça-feira, 29 de março de 2011

Menos bichos mais pesquisas
Os zoológicos reveem seu papel na conservação da vida silvestre 
 
Edição Impressa 181 - Março 2011

Muitas espécies de animais hoje em vida livre passaram por zoológicos. O mico-leão-dourado, o condor americano, o condor andino, uma espécie de cervo da Oceania e outra de cavalo da Polônia, o diabo-da-tasmânia e o panda já estiveram em perigo iminente de extinção, foram levados para zoológicos, conseguiram se reproduzir e voltaram à vida livre. A ararinha-azul não foi mais vista nas matas, mas vive em zoológicos do Brasil. O rinoceronte-branco, chimpanzés e lobos já estariam extintos se não estivessem em cativeiro. 
“Para muitas espécies, o zoológico é a última fronteira”, diz José Luiz Catão Dias, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo e ex-diretor técnico-científico do zoológico de São Paulo, o maior do Brasil, com um acervo de cerca de 3.100 animais, visitado anualmente por 2,5 milhões de pessoas, a maioria crianças. Os zoológicos participam há anos do esforço para conservar animais silvestres, embora não consigam acompanhar o ritmo em que seus ambientes naturais se perdem: dos estimados 2 milhões de espécies de seres vivos no mundo, 150 tipos únicos de organismos são extintos diariamente. Agora intensificam a colaboração com outras instituições para ampliar a pesquisa científica que possa beneficiar tanto os animais quanto os seres humanos. 

Dentro de cochos de alvenaria com a frente de madeira pintada de verde, em um pátio cercado por mata atlântica, uma mistura de folhas, galhos e troncos de árvores triturados, serragem, um lodo rico em microalgas resultante do tratamento da água dos lagos, dejetos e carcaças dos animais se  decompõe durante 90 dias, antes de ser usada como adubo nas plantações e jardins do zoológico paulistano. Em meio ao material de compostagem, uma equipe da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) encontrou quase 400 espécies de microrganismos de interesse biotecnológico, por produzirem enzimas que podem facilitar o desenvolvimento de novos antibióticos, produtos de uso amplo como sabões em pó ou combustíveis derivados da cana-de-açúcar. Se as pesquisas correrem bem, vários microrganismos podem ganhar uma aplicação ambiental, por digerirem compostos poluentes como fenóis e hidrocarbonetos. 

Em outra vertente, Fernando Soares, pesquisador do Hospital do Câncer AC Camargo e coordenador do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) do Câncer financiado pela FAPESP, conheceu em dezembro a coleção de lâminas e blocos de parafinas com amostras de órgãos e tecidos de animais necropsiados desde 1958 – e gostou muito. “É um material intocado, que abre imensas oportunidades de pesquisa”, disse. “Queremos começar a trabalhar assim que possível, oferecendo nossa experiên­cia de 13 anos do banco de tumores do Hospital do Câncer, para formar um banco de tumores dos animais.” Um dos animais que tinha sido necropsiado havia pouco tempo quando Soares estava lá era um tamanduá com um câncer de fígado – tumores são bastante comuns, já que os animais em cativeiro vivem mais do que em vida livre. Outro era um orangotango obeso com uma severa aterosclerose, causada pelo acúmulo de gorduras de origem animal nas paredes dos vasos sanguíneos. Algo intrigante, porque orangotangos são herbívoros.


Normalmente, os zoológicos aprovam os projetos de pesquisa e o acesso aos animais, mas raramente veem os resultados finais. Para dimensionar essa contribuição à produção de conhecimento, o atual diretor técnico-científico do zoológico de São Paulo, João Batista da Cruz, conta que vasculhou as fontes possíveis de informações e encontrou cerca de 1.100 publicações acadêmicas (artigos científicos, teses ou dissertações) elaboradas por grupos externos de pesquisadores nos últimos 50 anos. 
Como quase nunca têm equipes científicas próprias, diferentemente das instituições equivalentes em Nova York, Washington ou Berlim, os zoológicos daqui dependem das iniciativas, dos interesses e das equipes de outras instituições. Luiz Antônio da Silva Pires, presidente da Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB), diretor do zoo de Bauru e professor da Universidade de Marília, ajudou a aprovar cerca de 150 trabalhos para serem apresentados no próximo congresso dos zoológicos, marcado para o final de março em Gramado, no Rio Grande do Sul – quase todos de universidades. É provável que os zoológicos brasileiros consigam produzir mais e mais rapidamente quando não forem apenas fornecedores de animais ou de materiais, mas também tiverem equipes próprias de pesquisadores.
Agora, ao acompanharem de perto as novas pesquisas, os diretores do zoológico de São Paulo procuram desfazer a imagem de que um zoológico é apenas um lugar para expor animais que nem sempre teriam o merecido conforto. Os zoológicos estão revendo seu papel, em resposta a pressões de grupos de proteção de animais, órgãos de governo e visitantes, que esperam ver os animais em cativeiro sendo bem tratados. 
Em novembro de 2010, em um dos lances mais recentes de contestação aos zoológicos, um grupo de organizações não governamentais pediu judicialmente, por meio de um habeas corpus, a transferência para espaços mais amplos de um chimpanzé mantido em um zoológico de Niterói, alegando que o animal estava deprimido. Um juiz do Rio de Janeiro negou o habeas corpus
À frente desse movimento, o cubano Pedro Ynterian, presidente do Projeto dos Grandes Primatas (GAP), diz que não desistirá: “Vamos até o Supremo Tribunal e queremos que os juízes se pronunciem, determinando se um primata é um sujeito, portanto com direitos, ou um objeto como um carro. Os primatas são só os primeiros, porque queremos que outros animais, como os golfinhos, muito parecidos em inteligência com os seres humanos, também sejam reconhecidos como sujeitos”.
Ynterian divide o tempo entre sua empresa de microbiologia na cidade de São Paulo e o GAP, em Sorocaba, interior paulista. Ali, segundo ele, vivem 50 chimpanzés, a maioria vinda de circos e zoológicos, em espaços amplos, fechados para visitação pública. Com base nessa experiência, ele diz: “Em geral os zoológicos do Brasil, do modo como são administrados, são depósitos de animais que nunca vão sair de lá. Os animais não representam as espécies de vida livre, estão todos estressados e se acomodam em espaços pequenos e inapropriados, alguns com problemas mentais, expressos nos movimentos repetitivos. O que as crianças veem é uma caricatura do que se passa na natureza”.


Rinoceronte-branco, ameaçado de extinção 

Segundo ele, seria mais proveitoso assistir a documentários que mostram chimpanzés em movimento na mata. “Eles são inteligentes e sofrem muito com o assédio do público. Se os zoológicos não têm condições de fazer recintos grandes, para eles terem privacidade, é melhor não ter nada. Não quero fechar zoológicos, nem desempregar ninguém, mas mudar o propósito dos zoológicos, que deveriam ser centro de conservação, fechados à visitação.”

Catão Dias discorda. “Os zoológicos são janelas de conscientização do mundo. Quando as crianças veem animais da Amazônia ou do cerrado, enxergam melhor a importância de conservar as espécies animais e os ambientes em que originalmente viveram.” Segundo ele, os zoológicos poderiam ir muito além se valorizassem também as culturas humanas ligadas a cada espécie animal. “No zoológico de Buenos Aires, as paredes dos recintos dos leopardos-das-neves estão decoradas com desenhos do Nepal, já que esses animais vieram do Himalaia, e grupos budistas às vezes aparecem para realizar uma cerimônia de adoração do leopardo”, diz ele. 

Catão Dias conta que em janeiro de 2005 ele assistiu em Buenos Aires aos representantes do povo mapuche homenagear os condores, que são seus mensageiros diante das divindades, mantidos cativos. Depois, ele participou da soltura dos condores em uma península do sul da Argentina. As penas que caíam eram recolhidas e entregues a um xamã, que as abençoava e depois as soltava ao vento. Ele ganhou uma pena e a pôs em um quadro que mantém em frente à sua mesa de trabalho. “Seria fantástico fazer esses resgates culturais com nossos bichos, usando as tradições dos povos indígenas, como os guaranis com o lobo-guará e a onça”, diz.  
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está contribuindo para a modernização dos zoológicos mostrando mais rigor na fiscalização: nos últimos anos, fechou totalmente ou apenas para visitação uma dezena de instituições que não tinham equipes, condições sanitárias nem infraestruturas adequadas. “Os zoológicos não eram obrigados a ter sequer um técnico para cuidar dos animais, mas hoje têm de ter no mínimo um médico veterinário e um biólogo”, observa Pires. “Não há mais como justificar a manutenção de um animal em cativeiro se não estiver em plenitude de saúde física e psicológica.” Ainda assim há muito por fazer. Das 129 instituições ligadas à SZB, apenas 45 estão registradas no Ibama. 
Manter animais em cativeiro é um hábito antigo. Há 5 mil anos os faraós já colecionavam hienas, macacos, leopardos, girafas e aves. Os imperadores chineses e romanos e mais tarde os reis europeus também gostavam de expor animais exóticos, que atestavam como eram vastos seus domínios. No Brasil, as primeiras coleções tomaram forma no Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará, em 1882, e depois no Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo e outras cidades, mais intensamente a partir dos anos 1970. Agora, procurando se renovar, os zoológicos brasileiros diversificam as coleções, hoje de cerca de 40 mil animais do Brasil ou de outros países, incluindo os peixes, normalmente pouco lembrados por quem sai no domingo de sol para ver leões e girafas. “Aquário também é zoológico”, afirma Pires.

Segundo Catão Dias, os zoológicos tendem a ter menos animais, mas todos eles com mais qualidade de vida. Ele conta que em 2001, ao assumir a diretoria técnico-científica do zoológico paulistano, viviam ali cerca de 4.600 animais. Com base em um planejamento sobre espécies prioritárias para conservação e em informações sobre o estado de saúde, idade e abundância dos animais, começou um controle da procriação, por meio de esterilização ou vasectomia, e o total caiu para 3.100 em 2007, quando ele deixou o cargo. “Em seis anos, reduzimos à metade o número de grandes carnívoros, como leão, onça e suçuarana, cuja população era muito grande, sem prejuízo para a conservação dessas espécies.”

Outra decisão: “Desde 2001 não aceitamos mais animais provenientes de apreensão ou de doações”, diz Paulo Magalhães Bressan, diretor presidente do zoológico de São Paulo. “Não há mais espaço. Ainda temos um longo caminho a trilhar, mas a imagem de zoológicos como depósitos de animais é equivocada. Os zoológicos já foram assim, mas não são mais.” Tanto quanto a redução da população de animais, a pesquisa científica costumava correr em silêncio. Raramente se acompanhava de perto uma pesquisa, como está acontecendo com a busca de microrganismos no material em decomposição nos fundos do zoo de São Paulo.

Esse trabalho começou de modo inusual: com uma mala perdida no aeroporto de Chicago. A bagagem vinha do Japão, com amostras de microrganismos extraídos de fezes de animais de zoológicos. Kohei Oda, professor emérito do Instituto Tecnológico de Kyoto, pretendia investigar as propriedades desses microrganismos na Unifesp, onde estava temporariamente em 2007. Oda já havia descoberto micróbios produtores de enzimas que ajudaram a desenvolver novos métodos para degradar embalagens plásticas.  
Em busca de organismos similares, o professor da Unifesp Luiz Juliano Neto levou Oda para conhecer a unidade de compostagem do zoológico paulistano. Oda exultou, mas logo teve de voltar ao Japão. A equipe da Unifesp prosseguiu. “Ninguém queria mexer nos dejetos dos animais, mas de repente todos estão vendo que aquilo vale ouro”, diz Juliano, coordenador do grupo, que já atraiu colaboradores da USP e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Luis Fernando Tamassia, gerente de pesquisa da Tortuga, fabricante de rações para animais, acompanha o trabalho, com interesse especial em um grupo específico de enzimas, as fitases, que podem facilitar a absorção dos alimentos e gerar menos dejetos. 

Pelo menos uma vez por semana, Renata Pascon e Julio Cezar Franco de Oliveira, professores da Unifesp, põem botas, avental e luvas, sobem nos cochos e colhem amostras de diferentes profundidades do material em decomposição. Isolar e identificar os microrganismos cultiváveis era demorado, mas em 2008 Juliano soube que um equipamento de seu laboratório, um espectrômetro de massa usado para separar e identificar proteínas, poderia ser utilizado para identificar microrganismos. “A identificação das espécies passou de semanas para algumas horas”, diz Renata. O próximo desafio é produzir as enzimas de maior interesse. Segundo Oliveira, raramente os microrganismos crescem fora de seus próprios ambientes. Por essa razão, os pesquisadores estão formando um banco de microrganismos e de clones de genes. Eles acreditam que poderão expressar os genes em bactérias que produzirão as enzimas.
O zoológico de São Paulo deve participar da gestão do Centro de Pesquisa de Triagem de Animais Silvestres (CPTRAS), que deve entrar em operação este ano em Cubatão, litoral paulista. Dirigido por Eliana Matushima e Luiz Carlos de Sá-Rocha, professores da Faculdade de Veterinária da USP, o centro deve promover a pesquisa de animais provenientes da mata atlântica e ajudar na busca de novos critérios sobre o que fazer com eles. 

Estima-se que os órgãos do governo apreendam milhões de animais todo ano do tráfico ilegal; só a Polícia Ambiental paulista reteve 25 mil animais em 2005, o último ano contabilizado. A maioria morre. Os que sobrevivem são soltos, nem sempre nos espaços de onde vieram, ou vão para criadores autorizados. “Soltar animais sem o devido cuidado pode ser desastroso”, alerta Cruz. “Duas espécies de saguis, o Callithrix jacchus, vindo do Nordeste por meio do tráfico e introduzido no estado de São Paulo, e o C. penicillata, que ocorre em zonas de transição entre estados em São Paulo, são mais agressivos e ameaçam uma espécie endêmica em São Paulo e Rio de Janeiro, o C. aurita, competindo por espaço e alimentos. O resultado pode ser a perda de biodiversidade do Sudeste.”

Onça-pintada, maior felino das Américas 

Bressan e Cruz acreditam que, por meio do novo centro, poderão propor, com base em recomendações internacionais, critérios sobre a destinação dos animais selvagens apreen­didos ou abandonados. “Não existem diretrizes legais, técnicas ou científicas que indiquem claramente o que fazer”, diz Cruz. “A eutanásia de animais silvestres, adotada em instituições públicas de outros países, por aqui ainda é polêmica.” Segundo Pires, em alguns países os animais são sacrificados no próprio aeroporto em que são apreendidos, o que contribui para evitar a disseminação de vírus desconhecidos. Diz Catão Dias: “Os zoológicos da Austrália não podiam atender cangurus atropelados, que eram eutanasiados, porque a população desses animais em cativeiro já era grande o bastante”.
Bressan conta que o labirinto de leis dificulta o esforço de conservação: “Um criador de Belo Horizonte está separando harpias machos e fêmeas porque não quer que se reproduzam mais. As harpias nos interessam, mas enquanto não tivermos as autorizações de vários órgãos do governo federal, elas não saem de lá”. 
Cristiano Azevedo, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e atualmente no Centro Universitário de Belo Horizonte, verificou que os zoológicos brasileiros estão longe de representar a diversidade das aves brasileiras. Seu levantamento, publicado na Zoo Biology, indicou que os zoológicos brasileiros mantêm 350 espécies de aves – ainda pouco diante das quase 2 mil espécies nativas. Outra conclusão é que as espécies mais ameaçadas de extinção são as menos encontradas nos zoológicos. Azevedo participou da elaboração de um índice matemático que avalia o papel dos zoológicos na conservação de animais silvestres: “O único com resultados satisfatórios foi o zoológico de São Paulo. Os outros estão aquém do desejável”. 
Dificilmente os zoológicos conseguirão acompanhar o desejo dos amantes da vida silvestre.“O Brasil é um país megadiverso, com megaproblemas e micro-orçamentos. Não conseguiremos representar a biodiversidade brasileira nos zoos”, comenta Catão Dias. Bressan acrescenta: “Temos de identificar as espécies prioritárias”. Pires alerta: “Os zoológicos não são uma Arca de Noé”.      

>Artigo científico 
AZEVEDO, C. et al. Role of Brazilian Zoos in Ex Situ Bird Conservation: from 1981 to 2005. Zoo Biology. 29, 1-17. nov. 2010
A floresta oculta
Uso da terra afeta a diversidade biológica do solo amazônico
Edição Impressa 181 - Março 2011

Besouros, pseudoescorpiões, cupins, bactérias, formigas, fungos, aranhas, ácaros, caramujos, larvas e raízes de plantas fazem parte de um mundo invisível. Pelo menos para quem anda pela floresta amazônica atordoado pelo tamanho das árvores, pelo ruído das aves, pelo calor úmido e pelas picadas de insetos. É justamente essa diversidade oculta que uma equipe de pesquisadores que reúne 15 instituições de vários estados brasileiros vem catalogando desde 2002 no alto Solimões, uma região da Amazônia próxima à fronteira com a Colômbia e o Peru. Coordenado pela microbióloga Fatima Moreira, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, o projeto Bios Brasil contou, por exemplo, 239 espécies de formigas, 75 de cupins e 53 de besouros nas amostras de solo analisadas. “Ninguém pensa nos organismos pequenos ou invisíveis, mas o solo é uma fonte imensa de recursos”, argumenta a pesquisadora. 
O projeto nasceu de uma iniciativa do Programa de Biologia e Fertilidade do Solo Tropical que, com apoio do programa ambiental da Organização das Nações Unidas, em 1995 reuniu representantes de vários países que ainda têm florestas e diversidade biológica importantes a serem protegidas. A ideia amadureceu aos poucos, e passados alguns anos sete países – Brasil, México, Uganda, Quênia, Costa do Marfim, Indonésia e Índia – começaram o trabalho com métodos padronizados.

A vertente brasileira envolveu 40 pesquisadores e mais de 100 estudantes, que escavaram 100 pontos de amostragem junto das comunidades estudadas. Somando todos esses pontos, a amostragem chega a 54 hectares, algo como 54 campos de futebol transformados em buraco. Nas escavações era preciso sempre estarem presentes pelo menos um professor e um aluno para cada uma das 15 especialidades de estudo, trabalhando à sua maneira. Os especialistas em solo analisavam as propriedades e recolhiam amostras para depois fazer análises químicas e físicas; os entendidos em organismos microscópicos, como as bactérias, fungos e nematoides, também coletavam amostras para depois examinar ao microscópio e extrair material genético revelador da diversidade invisível a olho nu. Já os estudiosos de minhocas e insetos, por exemplo, esquadrinhavam a terra revirada em busca de seus organismos prediletos. Outra equipe identificou todas as espécies de plantas encontradas nas áreas estudadas.
Trabalhando juntos, os pesquisadores têm segurança em relacionar a diversidade de um tipo de organismo com outro e buscar a correspondência dessa diversidade com o tipo de solo e de uso: floresta, capoeira, roça, sítio e pastagem. Precisaram vencer não só as dificuldades intrínsecas ao trabalho, mas também conquistar a confiança dos moradores. “No começo eles achavam que estávamos procurando ouro”, se diverte Fatima, “mas depois nos aceitaram e se interessaram pelo estudo”.

Os brasileiros escolheram o alto Solimões, na Amazônia, por ser uma zona ainda de difícil acesso e por isso preservada. Ali só se chega pelo rio, depois de meia hora de barco desde Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, até o município de Benjamin Constant, onde estão as comunidades indígenas de Nova Aliança e Guanabara II. A zona é isolada, o que não quer dizer que ali só vivam alguns índios caçando com arco e flecha em meio à mata virgem. São comunidades  com cerca de 50 famílias que praticam a queima e o corte da floresta para plantar alimento.

Corte permitido – O achado mais importante do estudo, até agora, diz respeito às consequências do método usado por lá, de desmatar áreas pequenas e, depois de um tempo de plantio, deixar regenerar a floresta. “Existe uma noção de que a derrubada e a queima sejam procedimentos maléficos”, explica Fatima. Mas sua equipe descobriu que, associados à conservação de grandes áreas de floresta, pequenos trechos desmatados se regeneram bem como capoeiras, uma forma de floresta imatura. E que o solo das capoeiras logo readquire características e riqueza biológica semelhantes às das florestas. “As comunidades ali fazem isso há centenas de anos, e funciona”, conta. E contrasta: “Desmatar grandes áreas, como se faz no Acre, em Rondônia e no Pará, é maléfico mesmo”.
Esse foi o tema do doutorado de Ederson Jesus, orientado por Fatima, que recebeu menção honrosa pela  Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes. Ele mostrou que mudanças no uso do solo alteram a estrutura das comunidades bacterianas, mas quando a capoeira cresce essas comunidades voltam a ser semelhantes às que se veem em florestas primárias. Segundo artigo de 2009 no ISME Journal, essas alterações nas comunidades bacterianas estão ligadas às propriedades químicas do solo, sobretudo a acidez e a concentração de nutrientes. Concluir que as técnicas de plantio usadas nessas comunidades não bastam para perder a diversidade de bactérias é essencial, porque esses organismos microscópicos são indissociáveis das propriedades do solo e ajudam a manter um fluxo de nutrientes adequado.

A própria queimada permite neutralizar a acidez e reduzir a concentração de alumínio disponível, que é naturalmente alto no solo da região e tem efeito tóxico para as plantas. Mas essa melhoria do solo não passa de temporária, conforme mostrou a equipe de Fatima em artigo de 2009 na revista Science of the Total Environment. Depois que as plantas cultivadas consomem os nutrientes, o solo rapidamente fica empobrecido sem a produção e a deposição de matéria orgânica, o que acontece quando a floresta cresce. É por isso que o grupo encontrou as piores condições, com alta acidez e baixa concentração de nutrientes, nos pastos. 
Em colaboração com bactérias e fungos, os grandes (embora minúsculos) responsáveis pelo enriquecimento do solo por meio da decomposição da matéria orgânica são os artrópodes, sobretudo os ácaros oribatídeos e os colêmbolos. Um estudo liderado por José Wellington de Morais, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e publicado em 2010 na Neotropical Entomology, mostrou que o conjunto de organismos dos sistemas de roça não é muito diferente daquele que caracteriza a floresta primária. Já o sistema agroflorestal, com desmatamento mais extenso, acaba ficando mais parecido com o dos pastos, que são bastante pobres. O trabalho indicou também que os ácaros parecem ser mais resistentes às condições adversas, já que são os organismos dominantes no solo das áreas de pastagem. 
Os pesquisadores do Bios Brasil ainda estão quebrando a cabeça para encaixar todas essas peças e tentar entender as relações cíclicas que ligam o solo, os organismos que vivem nele e o tipo de uso feito pelas populações humanas. “Tudo se relaciona”, ressalta Fatima, “mas é como o enigma do ovo e da galinha”. 
Para os pesquisadores, os achados equivalem a ouro: muitas novidades surgem da exploração desse mundo desconhecido logo debaixo dos pés. “Já descrevemos espécies novas de nematoides, de formigas, de cupins e de fungos”, comemora a coordenadora do projeto. Alguns dos cupins encontrados chegaram a representar um gênero novo, descrito na Zootaxa por Reginaldo Constantino, da Universidade de Brasília, e Agno Acioli, da Universidade Federal do Amazonas. O nome dos insetos, Ngauratermes, vem do idioma ticuna, falado pelos índios  mais comuns na região. Significa cupim que habita a serrapilheira.

Ação local – Além de render um grande número de publicações científicas, que estão longe de chegar ao fim, o grupo produziu também uma cartilha para expor os resultados às comunidades locais, disponível no site do projeto (www.biosbrasil.ufla.br). “O trabalho do pesquisador é essencial”, destaca Fatima, “mas quem vai preservar de fato é a população local, por isso precisamos mostrar a importância dessa riqueza de maneira que possam entender”. As cartilhas, em português, espanhol (por ser uma região fronteiriça com a Colômbia e o Peru) e inglês (a língua oficial do projeto internacional), têm sido bem usadas pela equipe. Foram o material didático para cursos em que apresentaram os dados à população e agora são usadas nas escolas, explicando noções de ecologia em termos integrados ao cotidiano das crianças.

Manter intacta essa riqueza é muito mais do que sentimentalismo. Fatima esclarece que a região produz importantes fontes de alimento, como a pupunha, o cupuaçu e várias hortaliças típicas dali. A agrobiodiversidade vem sendo explorada não só como maneira de cultivar essas plantas e tê-las disponíveis em outras regiões, mas também de entender as parcerias naturais que as tornam mais saudáveis e produtivas. Um exemplo são bactérias e fungos que se associam às raízes de plantas e as ajudam na nutrição.

O grupo da pesquisadora da Ufla tem usado bactérias amazônicas para melhorar a produtividade do feijão-caupi (Vigna unguiculata) em outras regiões. Esse enfoque vem do mestrado de Fatima, no Inpa, com Johanna Döbereiner, reconhecida no mundo todo por seu trabalho pioneiro com bactérias fixadoras de nitrogênio.


Gláucia Alves e Silva, sob orientação de José Oswaldo Siqueira, da Ufla, e Sidney Stürmer, da Fundação Universidade Regional de Blumenau, testou a eficiência da associação entre fungos e o feijão-caupi. Ela verificou, conforme publicado na Acta Amazonica, que os fungos mais eficientes para a absorção de fósforo são mais comuns em roças e em pastagens. Além disso, Fatima lembra que a diversidade biológica é uma proteção natural: nenhuma praga consegue dizimar uma floresta, elas só são eficientes contra monoculturas.
Fatima considera que outro grande benefício do projeto foi agregar pesquisadores que de outra maneira teriam continuado isolados. “Formamos um grupo unido que está aumentando.” O trabalho não deve ficar restrito à Amazônia. Acaba de ser aprovado um projeto de R$ 2,5 milhões pela Vale, como parte de um edital com participação da FAPESP e da Fapemig, para fazer um estudo semelhante nos estados de Minas Gerais e São Paulo, que deve ter início ainda este ano.
Para a pesquisadora, preservar a Amazônia é um assunto de interesse mundial, e ela defende uma bolsa-floresta que ajude as comunidades locais a preservar a floresta amazônica e evitar as transformações drásticas que já aconteceram, sem possibilidade de retorno, em outras regiões do mundo. “A região do Irã e do Iraque, o berço da civilização, já foi toda floresta; hoje é deserto.”     

>Artigos científicos 
1. JESUS, E. da C. et al. Changes in land  use alter the structure of bacterial  communities in Western Amazon soils.  The ISME Journal. v. 3, p. 1.004-11. 2009.
2. MOREIRA, D. M. de S. et al. Differentiation in the fertility of Inceptisols as related to land use in the upper Solimões river region, western Amazon. Science of the Total Environment. v. 408, p. 349-55. 2009.
3. MORAIS, J. W. de et al. Mesofauna  do solo em diferentes sistemas de uso da terra no alto rio Solimões, AM. Neotropical Entomology. v. 39, n. 2, p. 145-52. 2010.
4. SILVA, G. A. et al. Eficiência de fungos micorrízicos arbusculares isolados de solos sob diferentes sistemas de uso na região  do alto Solimões na Amazônia. Acta Amazonica. v. 39, n. 3, p. 477-88. 2009.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Dental Occlusion in a 260-Million-Year-Old Therapsid with Saber Canines from the Permian of Brazil

  1. Juan Carlos Cisneros1,2,
  2. Fernando Abdala3,
  3. Bruce S. Rubidge3,
  4. Paula Camboim Dentzien-Dias4, and
  5. Ana de Oliveira Bueno2
+ Author Affiliations
  1. 1Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências da Natureza, 64049-550, Ininga, Teresina, Piauí, Brazil.
  2. 2Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Paleontologia e Estratigrafia, Avenida Bento Gonçalves 9500, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil.
  3. 3Bernard Price Institute for Palaeontological Research, University of the Witwatersrand, Private Bag 3, WITS 2050, Johannesburg, South Africa.
  4. 4Universidade Federal do Piauí, Picos, Piauí, Brazil.

Abstract

Anomodonts, a group of herbivorous therapsid “mammal-like reptiles,” were the most abundant tetrapods of the Permian. We present a basal anomodont from South America, a new taxon that has transversally expanded palatal teeth and long saber canines. The function of the saber teeth is unknown, but probable uses include deterring attack from predators and intraspecific display or combat. The complex palatal teeth were used to process high-fiber food and represent early evidence of dental occlusion in a therapsid. This discovery provides new insight into the evolution of heterogeneous dentition in therapsids and broadens our understanding of ecological interactions at the end of the Paleozoic. 

  • Received for publication 10 November 2010.
  • Accepted for publication 2 February 2011.

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Mordida moderna

25/3/2011

Agência FAPESP – O Tiarajudens eccentricus foi um dos primeiros animais a ter uma boca na qual os dentes de cima se encaixam com os debaixo, possibilitando mastigar vegetais duros. A espécie, que acaba de ser descrita, viveu há cerca de 260 milhões de anos no atual Brasil.

O extinto animal, do tamanho de um cão atual de grande porte, também tinha dentes-de-sabre, com cerca de 12 centímetros de comprimeiro nos adultos.
A descrição do Tiarajudens eccentricus foi feita por Juan Carlos Cisneros, do Centro de Ciências da Natureza da Universidade Federal do Piauí, e colegas do Brasil e da África do Sul na edição desta sexta-feira (25/3) da revista Science.

A inusitada boca da espécie agora descrita amplia o conhecimento a respeito da diversidade de um grupo de animais herbívoros conhecidos como anomodontos, parte do grupo dos terapsídeos, répteis mamaliformes que são ancestrais dos mamíferos.
A descoberta do Tiarajudens também oferece a mais antiga evidência de oclusão dentária – em que os dentes de cima e de baixo se encaixam para um mastigar eficiente – em terapsídeos.
Mordida moderna
Precursor dos mamíferos que viveu há 260 milhões de anos no Brasil foi um dos primeiros a conseguir mastigar vegetais duros. Descoberta foi descrita na Science (divulgação)

A oclusão dentária pode ter ajudado a espécie e outros anomodontos a consumir plantas com muita quantidade de fibras, ajudando na expansão para novos nichos ecológicos.

Mas por que um herbívoro precisaria de dentes-de-sabre? Segundo Cisneros e colegas, o Tiarajudens pode ter usado as presas para lidar com competidores e assustar predadores.
O artigo Dental Occlusion in a 260-Million-Year-Old Therapsid with Saber Canines from the Permian of Brazil (doi:10.1126/science.1200305) de Cisneros e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

quarta-feira, 23 de março de 2011





Em referência a tri = três, já que na sua localidade-tipo, na Alemanha, esse período é caracterizado por três tipos de rocha: Buntsandstein (arenito fluvial vermelho), Muschelkalc (calcário marinho fossilífero) e Keuper (evaporitos e arenitos continentais). A caracterização do período com base na litologia é apenas local. Globalmente o Triássico é identificado pela sua fauna típica.
 
Definido por von Alberti, geólogo alemão, em 1834. Durou de 248.2 to 205.7 milhões de anos. O limite inferior é de difícil caracterização, uma vez que as condições de sedimentação predominantemente continentais são as mesmas do período precedente (Permiano). Apesar de controvertido é aceito como limite inferior o aparecimento do réptil Lystrosaurus.
No início do Período Triássico, praticamente todos os continentes estavam aglomerados em um supercontinente chamado Pangea (do grego pan = toda + gea = terra). Esse grande e único continente era circundado por um vasto  oceano chamado Panthalassa (correspondente ao atual Oceano Pacífico), por um pequeno mar à leste de Pangea, chamado Tethys (correspondente ao atual Mar Mediterrâneo) e por um proto-Oceano Ártico, à norte.

Reconstrução da provável posição das massas continentais no Triássico, 237 milhões de anos.
Modificado de http://www.scotese.com



No interior do continente, as áreas montanhosas sofriam intensa erosão. Os sedimentos gerados nesse processo eram transportados pelas chuvas e rios, entulhando as área mais baixas, e formando arenitos e folhelhos. Nas áreas próximas ao Equador o clima era mais árido, com deposição de camadas de gipso e sal (evaporitos). Os depósitos marinhos se localizavam próximos às margens continentais, incluindo rochas clásticas e carbonáticas.

Os depósitos de evaporitos tem relativa importância econômica, bem como os arenitos e calcários, usados para construção civil.
 
Localmente temos a ocorrência de sedimentação do tipo rift, o que sugere que Pangea começava a sofrer esforços distensivos. Em alguns casos essas forças distensivas romperam toda a crosta, chegando ao manto, permitindo que magma basáltico chegasse à superfície, como no grande Platô Basáltico da Sibéria.
 
A fauna marinha não é muito variada no Triássico, já que 90% das espécies haviam desaparecido na grande extinção do final da Era Paleozóica. As novas espécies, como corais modernos, moluscos bivalves e répteis marinhos, por exemplo, ainda não tinham proliferado e se diversificado o suficiente para povoar completamente os mares.
Em terra, vários grupos de répteis apareceram, como crocodilos, répteis voadores e dinossauros. No final desse período também são encontrados os primeiros fósseis de mamíferos.
 
Quanto à flora, os gimnospermas (plantas com sementes) passam a ser as formas dominantes.
No Brasil encontramos diversos fósseis de idade triássica, como foraminíferos, moluscos, crustáceos, peixes, anfíbios e plantas. Mas os répteis, ainda que não sejam as formas fósseis mais abundantes são, sem dúvida, as mais populares. A Bacia do Paraná, na região sul do Brasil apresenta fósseis de rincossauros, dicinodontes e cinodontes (estes últimos não são propriamente répteis, fazendo parte de um grupo que tem parentesco longínquo com os mamíferos) (Kellner et al., 1999).
 
 


Bibliografia:
  KELLNER,A.W.A., Schwanke, C. , Campos, D.A.C.  O Brasil no tempo dos Dinossauros. Rio de Janeiro,  Museu Nacional, 1999. 60p.
PARKER, S.P. McGraw-Hill Encyclopedia of the Geological Sciences. 2. ed. New York : McGraw-Hill, 1988. 722 p.
ROGERS, J.J.W. History of Continents in the Past Three Billion Years. J. of Geology, Chicago,  v.104, p. 91-107. 1996.
SCHOBBENHAUS, C. et al. Geologia do Brasil. Texto Explicativo do Mapa Geológico do Brasil e da Área Oceânica Adjacente incluindo Depósitos Minerais. Escala 1:2.500.000. Brasília : DNPM-MME, 1984. 501p.


 
  Dinossauro = deinos (terrível) + sauro (lagarto) = lagarto terrível



Dentre as inúmeras formas fósseis já descobertas, indubitavelmente as que mais impressionam as pessoas são os dinossauros. Mais de mil espécies já foram descobertas, e esse número continua crescendo.
Algumas pessoas acreditam que todos os fósseis grandes correspondem à dinossauros. Isso não é verdade.

Em primeiro lugar porque alguns  mamíferos, e até algumas aves dos períodos Terciário e Quaternário também eram de grande porte. E em segundo lugar porque nem todos os dinossauros eram tão grandes assim. Algumas espécies eram pouco maiores que uma galinha.
Na verdade os dinossauros são um grupo restrito de répteis extintos, com características bastante peculiares.
Acredita-se que os répteis descendam dos anfíbios, mas a transição entre essas classes não é clara no registro fossilífero, uma vez que as formas intermediárias entre os dois grupos são muito parecidas (Ribeiro-Hessel, 1982).
As principais diferenças entre eles estão no tipo de reprodução: muito embora os anfíbios tenham conquistado o ambiente terrestre, ainda dependiam da água para se reproduzir. Já os répteis desenvolveram um ovo, com casca impermeável e uma membrana que mantem o embrião envolvido num líquido protetor. Dessa forma ficaram totalmente independentes da água.
Os dinossauros diferem dos outros répteis em características ósseas, principalmente na bacia e nos membros posteriores.
 
Na verdade o termo dinossauro é aplicado à apenas duas órdens de répteis: Saurischia (animais com púbis similar ao dos outros répteis) e Ornitischia (animais com púbis semelhantes ao das aves). Assim sendo, nem os répteis voadores nem os marinhos podem ser chamados de dinossauros (Mendes, 1977).
 
Os Saurischios se dividem em duas sub-órdens: Terópodes (bípedes, predominantemente carnívoros) e Saurópodes (quadrúpedes herbívoros). Vários exemplares das duas sub-órdens já foram encontrados no Brasil.
Os Ornitischios se dividem em quatro sub-órdens: Ornitópodes, Stegossaurídeos, Anquilossaurídeos e Ceratopsídeos, todos herbívoros. Nenhum deles foi encontrado no Brasil, com excessão de algumas pegadas encontradas na Formação Rio do Peixe, do Cretáceo inferior da Paraíba (Kellner, 1998).
Em vista disso concluimos que chamar os dinossauros de  "lagartos terríveis" é uma grande injustiça, já que os carnívoros correspondem à apenas uma sub-órdem de répteis!
Os dinossauros surgiram no Período Triássico, viraram durante toda a Era Mesozóica e se extinguiram no final do Período Cretáceo, há 65 milhões de anos.
No Brasil, os fósseis de dinossauros se concentram em três regiões: Formação Santa Maria (225 milhões de anos) no Rio Grande do Sul, Formação Santana (110 Ma), Ceará, Pernambuco e Piauí, e Grupo Baurú (80 Ma), Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso (Kellner et al., 1999).
 

Principais regiões onde são encontrados fósseis de dinossauros no Brasil.
Modificado de Kellner et al., 1999.


Formação Santa Maria (Triássico médio a superior, Bacia do Paraná, RS)
 
A Formação Santa Maria é constituída de siltitos e sedimentos pelíticos, depositados em um ambiente com rios e lagos.
Nessa região foi encontrado um dos fósseis de dinossauros mais antigos do mundo, um Staurikosaurus, encontrado em sedimentos de 225 milhões de anos.
Apenas um exemplar dessa espécie foi descrito até hoje, e esse esqueleto atualmente se encontra em exposição nos Estados Unidos.
 
O Staurikosaurus tinha aproximadamente 1,5m de comprimento por 1m de altura, era bípede e, pelo tipo de dentes, carnívoro.
Recentemente, expedições realizadas no Rio Grande do Sul encontraram vestígios de outros dinossauros pertencentes ao grupo dos prossaurópodes (alguns dos primeiros dinossauros herbívoros), que estão aguardando descrição pormenorizada (Kellner et al., 1999).
A Formação Santa Maria é rica em fósseis de outros vertebrados tais como os Dicinodontes (anteriormante chamados de répteis e hoje considerados parentes distantes dos mamíferos), dos quais já foram encontrados quase cem exemplares (Schwanke, 1995), Cinodontes (muito importantes por serem as primeiras formas de mamíferos) (Keller, et al., 1999), e vários répteis como, por exemplo o Prestosuchus (maior predador do Triássico brasileiro, parente dos crocodilos).
A Formação Santa Maria é correlacionável à algumas formações ricas em fósseis de dinossauros da Argentina (Los Chanares, Ischigualasto e Los Colorados), fato que evidencia o potencial dessa formação para novas descobertas importantes.
 



Reconstituição de um Staurikosaurus.
Modificado de Kellner et al., 1999.



Formação Santana (110 milhões de anos, Cretáceo inferior da Bacia do Araripe, CE, PE e PI)
Essa é provavelmente o mais rico depósito de vertebrados fósseis do Brasil, e um dos mais importantes do mundo, chamando atenção pelo excelente estado de preservação. É de lá que vem aqueles nódulos com peixes encontrados nas feiras e lojas de souvenirs por todo o Brasil. Aqui cabe um aparte:
 





Mesmo que eles sejam encontrados à venda em vários lugares, lembre-se: aquele fóssil que você tem na sua casa, e que só pode ser visto por você e por seus amigos, pode ser um exemplar único, nunca antes descrito, que pode fornecer informações importantes para se entender a evolução da vida na Terra!
Os fósseis de dinossauros são raros, e estão restritos ao Membro Romualdo (que é a unidade mais do topo da bacia), composto de folhelhos e margas.
Dois grupos foram descritos formalmente: Irritatos (Martill et al., 1996) e Angaturama (Kellner & Campos, 1996) e mais alguns pequenos exemplares aguardam descrição. Todos pertencem ao grupo dos Terópodes, o único grupo de dinossauros carnívoros, que inclui até os famosos Tyrannosaurus rex e Velociraptors.
No caso do Angaturama limai só se conhece parte do crânio, mas foi suficiente para classifica-lo como um espinossaurídeo (dinossauros de crânio comprido e achatado lateralmente, que provavelmente se alimentavam de peixes).
 



Reconstituição de um Angaturama.
Modificado de Kellner, et al., 1999.



A grande atração da Bacia do Araripe é um fóssil encontrado em 1991, que ao ser submetido à um microscópio eletrônico, mostrou a presença de pele, fibras musculares e possíveis vasos sanguíneos do animal. Esse é melhor exemplar de tecido mole preservado encontrado até o momento (Kellner & Campos, 1998).
 
 
 
Detalhe do tecido mole do Santanaraptor placidus.
Modificado de Kellner et al.,1999.
Além dos dinossauros a Bacia do Araripe é rica em fósseis de peixes (já foram coletados centenas de milhares de fósseis até o momento!!!! - Kellner et al., 1999), tartarugas, crocodilianos e répteis voadores.
 
Grupo Baurú (80 milhões de anos, Cretáceo inferior da Bacia de Bauru, MG, SP e MT)
 
A Bacia de Bauru é a mais extensa sequência sedimentar de idade cretácea da América do Sul, e é constituida de arenitos e siltitos depositados em ambiente fluvial.
A presença de dinossauros carnívoros é evidenciada por dentes e ovos.
Já as formas herbívoras apresentam também alguns fósseis de ossos, que permitiram ser classificados como pertencentes à saurópodes (Kellenr & Campos, 1999).
Os Saurópodes são os típicos dinossauros de grande tamanho, cauda e pescoço longos e cabeça pequena, como por exemplo os Brontossauros (ATUALMENTE, Apatossauros
No Brasil, as formas coletadas pertencem ao grupo dos Titanossauros, animais de 6 a 20m de comprimento, com crânio pequeno e dentes finos, longos e pontudos. Esses animais também são encontrados na Argentina.
 
Os restos de Titanossauros correspondem à maior parte do material relacionado à dinossauros encontrado no Brasil, incluindo até um raro ovo.
O Grupo Bauru apresenta também fósseis de peixes, crocodilos, tartarugas e lagartos.
Além dos fósseis de ossos de dinossauros, já foram encontrados no Brasil mais de trezentos dentes, quatro ovos e pegadas fósseis (Kellner et al., 1999). 
 


Bibliografia:
  KELLNER, A.W.A. Panorama e perspectiva do estudo de répteis fósseis no Brasil. An. Acad. Bras. de Ciencias, Rio de Janeiro. v. 70, n. 3, p. 647-676. 1998
________, CAMPOS, D.A. Fisrt early Cretaceous theropod dinosaur from Brazil. N. J. Geol. Paläont., v. 199, n. 2, p.151-166. 1996.
________, ________, Vertebrate paleontology in Brazil - a review. Episodes,  Ottawa, v. 22, n. 3, p. 238-251.  1999.
KELLNER, A.W.A., SCHWANKE, C. , CAMPOS, D.A. O Brasil no tempo dos dinossauros. Rio de Janeiro : Museu Nacional, 1999. 60 p.
MARTILL, D.M. et al. A new crested maniraptoran dinosaur from the Santana Formation (lower Cretaceous) of Brazil. J. Geol. Soc. of  London, London, v.153, p. 5-8.  1996p.
MENDES, J.C. Paleontologia Geral. Rio de Janeiro : LTC, 1977. 342p.
RIBEIRO-HESSEL, M.H. Curso prático de Paleontologia Geral. Porto Alegre, Ed. da Universidade,1982. 250p.
SCHWANKE, C. A utilização de dicinodontes em correlações bioestratigráficas no Meso e Neotriássico. Comunic. do Museu de Ciências e Tecnologia. Porto Alegre : UBEA/PUC-RS. 1995. (Série Ciências da Terra, v. 1, p. 57-62)

 
 

Do grego Creta = chalk =calcário
 
Definido pelo naturalista belga d'Halloy em 1822, durou de 135 a 65 milhões de anos.
O limite inferior é definido como a base da zona da Craspedita.
A fauna cretácica não difere muito da jurássica: amonitas abundam no início, mas escasseiam e se extinguem no final do período. Equinodermas e braquiópodes também se extinguem no final do Cretáceo e os corais deixam de ser abundantes.
 
Em terra os dinossauros ainda eram dominantes, mas igualmente se extinguiram no final do período. Mamíferos e aves ainda são insignificantes em número. Quanto à flora, os angiospermas (plantas com flores) se diversificam e adquirem bastante importância.
Nesse período, grande parte da superfície da Terra estava coberta por mares rasos (Europa, Norte da África, Madagascar, norte da Índia, Japão, margem leste da América do Norte, México e leste da América do Sul).
 
No início do Cretáceo havia quatro grandes áreas de terra bem próximas, e um vasto Oceano Pacífico. Essas massas consistem de América do Sul + África, Índia, América do Norte + Groenlândia + Europa ( também chamada de Laurásia) e Austrália.
 
O rift que separou a América do Sul e a África começou de sul para norte no final do Jurássico. No início do Cretáceo, o rift já estava na altura da Nigéria. A separação total se deu no Cretáceo Superior.
Outros rifts separaram a Groenlândia da Europa e Madagascar da África. A Índia já havia se separado e estava em rota de colisão com a Ásia.
A ligação entre as Américas do Norte e do Sul não existia por completo, sugerindo um estreito que ligava os oceanos Atlântico e Pacífico.
No Cretáceo Médio tem início uma grande transgressão marinha que afeta principalmente a Europa e a América do Norte.
 
O padrão sedimentar é semelhante ao do Jurássico (marinho de águas rasas), com ocorrências locais de facies lacustres, deltáicas e estuarinas.
Litologicamente merece menção a ocorrência de um tipo de calcário branco muito fino, conhecido como chalk.
Neste período tinha início a Orogenia Alpina, representada pelo entulhamento do Mar de Thetys (bacia entre Laurásia e Gondwana), produzindo espessa pilha de sedimentos marinhos.
 
 


Bibliografia:
Parker, S.P. - 1988 - McGraw-Hill Encyclopedia of the Geological Sciences, 2nd ed. McGraw-Hill, New York, 722p.


De Jura, cadeia de montanhas entre o sudoeste da França e a Suíça.



Definido pelo geógrafo e naturalista alemão von Humboldt em 1795, o Período Jurássico durou de 205.7 a 142 milhões de anos.
O limite inferior é caracterizado pela mudança das condições de sedimentação, que antes eram continentais, e que passaram a ser marinhas, já que o período se inicia com uma grande transgressão, ou seja, o nível dos oceanos sobe, e as águas invadem os continentes, formando grandes mares intracontinentais.
Este período é bastante prolífico em subdivisões locais, e mais de 100 zonas fósseis foram caracterizadas.
 
A fauna do Jurássico é bastante variada, com destaque para os amonitas e crustáceos.
Praticamente todos os grupos de peixes modernos já estavam presentes, bem como os anfíbios, as primeiras aves (Archaeopteryx), e pequenos mamíferos marsupiais.
Os répteis são representados por inúmeras formas, e seus domínios se extendiam por terra, água e ar. Os dinossauros são representados pelas órdens Saurischia e Ornithischia, e foram tão abundantes que esse período é conhecido como a "Era dos Dinossauros", reconhecido até pela indústria cinematográfica no filme "Jurassic Park".
 
Havia também insetos, como moscas, borboletas e libélulas.
No Brasil, o registro fóssil dessa idade é escasso, porque as condições de sedimentação eram desfavoráveis à preservação dos mesmos.
A flora desse período é relativamente uniforme, sugerindo que o clima era bastante regular. Ginkos, pinheiros e outras coníferas eram abundantes. Ainda predominavam os gimnospermas, mas já são encontrados pólens de angiospermas.
No mar, algas calcárias construíam grandes recifes em várias partes do globo.
 

Reconstrução da provável posição das massas continentais no Jurássico inferior, há 125 milhões de anos.
Modificado de http://www.scotese.com
 
A mesma deriva continental, que, no final da Era Paleozóica, possibilitou a união dos continentes que formaram o Pangea, trata agora de rompê-lo e separa-lo em blocos novamente. A quebra e separação desses blocos continentais durou aproximadamente 100 milhões de anos, se extendendo por todo Jurássico e Cretáceo.
 
A primeira grande "quebra" separou Pangea em 2 blocos: Laurásia (América do Norte+Europa+Ásia) e Gondwana (América do Sul, África, Antártica, Austrália e Índia).
Esses dois grandes continentes foram se subdividindo em blocos menores, e no final do Jurássico tínhamos quatro áreas continentais: Laurásia, Índia, América do Sul + África e Austrália + Antártica.
 
A separação total entre a África e a América do Sul só ocorreu no final do Período Cretáceo, mas o processo de separação começou no final do Jurássico, gerando uma grande depressão (rift) ao longo do que hoje é a nossa margem continental. Essa depressão foi entulhada de sedimentos, gerando seis bacias marginais: Pelotas, Santos, Campos, Espírito Santo, Bahia Sul e Sergipe - Alagoas. É nessas bacias que se armazenam os maiores depósitos de petróleo e gás do Brasil.
 

Mapa índice da distribuição das bacias mesozóicas da margem continental brasileira.
Modificado de Chang et al., 1992.


Os esforços gerados por essa separação rasgaram a crosta em diversos pontos da plataforma sulamericana, permitindo a ascensão de lava basáltica. Esse basalto ocorre tanto sob a forma de diques, quanto de derrames, como é o caso da Formação Serra Geral, na Bacia do Paraná, onde de lavas basálticas cobriram uma área de quase 1.200.000 km2, atingindo vários estados do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.
 
Ainda que esses movimentos de extensão tenham sido bastante significativos do ponto de vista paleogeográfico,  pode-se dizer que durante a maior parte do Jurássico predominava uma calmaria tectônica, e só havia geração de montanhas localizadamente, como na Criméia e no Cáucaso.
 
No final do período, no entanto, essa passividade chega ao fim, e podem ser observados os primeiros efeitos da Orogenia Alpina, na Europa e da Orogenia Laramide na América do Norte.
Os movimentos verticais das massas continentais (epirogenese) também são muito importantes na história jurássica. Eles foram responsáveis pelas transgressões e regressões marinhas (subida e descida do nível dos oceanos) e consequentes aberturas e fechamentos das ligações entre os mares e migrações de faunas entre eles.
 
Litologicamente predomina uma sedimentação marinha de águas rasas, e, localmente, sedimentação do tipo rift. São encontradas também diversas ocorrências de minério de ferro de origem sedimentar, carvão e rochas betuminosas. Minerais industriais (pedras para construção e cimento) também são muito importantes. Mas, indubitavelmente, o bem mineral mais importante é o petróleo, obtido em horizontes jurássicos nos Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, França, Alemanha, Marrocos e Arábia Saudita.
  

Bibliografia:
 
CHANG, H.K., et al. Tectonics and stratigraphy of the East Brazil Rift system: an overview. Tectonophysics, v. 213, p. 97-138. 1992.
PARKER, S.P. McGraw-Hill Encyclopedia of the Geological Sciences. 2. ed. New York : McGraw-Hill, 1988. 722 p.
SCHOBBENHAUS, C. et al. Geologia do Brasil. Texto Explicativo do Mapa Geológico do Brasil e da Área Oceânica Adjacente incluindo Depósitos Minerais. Escala 1:2.500.000. Brasília : DNPM-MME, 1984. 501p.

PALEOZOICO

Do grego: paleo = antiga + zóico = vida. Durou de 570 à 248,2 Ma.

A Era Paleozóica é limitada por dois importantes eventos da história da Terra: o seu início, há 545 milhões de anos, marca o começo da expansão da vida, e seu final, há 248 milhões de anos, marca a maior extinção em massa que já ocorreu no nosso planeta.
Até bem pouco tempo se acreditava que a vida na Terra tinha começado no início dessa era. Hoje se sabe que a vida já existia desde o Arqueano, há 3.465 bilhões de anos (Apex chert, na Australia - Schopf, 1993).
 
O início da Era Paleozóica marca, na verdade, o aparecimento de animais com partes mineralizadas (conchas ou carapaças), que nos forneceram os primeiros fósseis propriamente ditos, já que até então os registros eram apenas impressões em rochas sedimentares geradas por animais de corpo mole.
As rochas que marcam a base da Era Paleozóica foram alvo de discussões por mais de 20 anos, até que em 1987 os membros da Subcommission on Cambrian Stratigraphy definiram a localidade-tipo desse limite: Fortune Head na Península de Burin, Newfoundland, Canadá, com idade em torno de 545 milhões de anos (Brasier, et al. 1994).
A expansão da vida foi tão intensa, que praticamente todos os filos animais apareceram em apenas alguns milhões de anos.
 
Em oposição à essa riqueza de vida, o final do Paleozóico marca a maior extinção em massa já ocorrida no nosso planeta, já que aproximadamente 90% de todas as espécies marinhas não sobreviveu. A causa dessa extinção é desconhecida e é alvo de controvérsias.
 

Reconstrução da provável posição das massas continentais no início do Paleozóico.
Modificado de http://www.scotese.com

Ao longo do paleozóico as placas litosféricas sofreram intenso retrabalhamento, mas podemos considerar basicamente quatro grandes massas continentais: Laurentia (atual América do Norte), Báltica (atual Europa), Sibéria e Gondwana.
Esses continentes se movimentaram bastante ao longo dos quase 300 milhões de anos da Era Paleozóica sendo que a África já esteve no polo sul e a Antártica no Equador e o nível do mar subiu e desceu várias vezes.
A movimentação desses continentes, que frequentemente colidiam uns com os outros, fez com que no final dessa era as quatro grandes massas continentais e vários blocos menores colidiram estivessem aglutinados em um grande continente chamado Pangea (do grego pan = toda + gea = terra). Esse continente tinha uma disposição alongada, se estendendo do pólo norte ao pólo sul. O restante da superfície da Terra era coberto por um grande oceano chamado Panthalassa (do grego pan = todo + thalassa = oceano), com exceção de um pequeno mar à leste de Pangea, chamado Tethys (que hoje é representado pelo Mar Mediterrâneo).
 
Durante a Era Paleozóica nos blocos  Laurentia, Báltica e Sibéria ocorreram diversas orogenias: Apalachiana (480-460 milhões de anos), Taconiana (460-440 Ma), Caledoniana (450-430 Ma), Acadiana (410-380 Ma), Uraliana (380 - 300), Herciniana (350-245 Ma) e Alegueniana (320-220 Ma) (Pan Terra Inc., 1998).
No bloco Gondwana, chega ao fim o Ciclo Orogênico (ou Evento Termo-tectônico)  Brasiliano - Panafricano. (830 - 480 milhões de anos). A partir de então, grande parte desse continente passava por um período de calmaria tectônica, representado no Brasil pelas extensas bacias sedimentares do Amazonas, Paraná e Parnaíba.
Essas bacias se iniciam com uma fase de sedimentação marinha (Ordoviciano - Devoniano), passando para uma sedimentação mista (Carbonífero) e depois continental (Permiano ao Jurássico) (Schobbenhaus et al. 1984).
Já a margem oeste do Gondwana, não experimentava as mesmas condições de calmaria, e a acreção de vários blocos crustais resultou nas orogenias Oclóica (480-440 Ma), Eo-Hercínica e Chânica (350 - 280 Ma) (Brito Neves, 1999).
 
A Era Paleozóica se divide em seis períodos: Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero e Permiano
 

Bibliografia:
BRASIER, M.; COWIE, J. , TAYLOR, M. Decisions on the Precambrian-Cambrian boundary stratotype. Episodes,  Ottawa, v. 17, p. 3-8. 1994.
 
BRITO NEVES, B.B. América do Sul: quatro fusões, quatro fissões e o processo acrescionário Andino. Rev. Bras. Geociências, São Paulo. v. 29, n. 3, p. 379-392. 1999.
 
CORRELATED History of Earth. 2. ed. Hill City :  Pan Terra Inc., 1998.
 
SCHOPF, J.W. Microfossils of the early Archaean Apex chert; new evidence of the antiquity of life. Science, Washington, DC, v. 260, p. 640-646. 1993.

terça-feira, 22 de março de 2011

Antes e depois do tsunami

22/3/2011
Agência FAPESP – Imagens obtidas por meio de satélites têm sido importantes para fornecer um retrato exato da extensão da destruição causada pelo terremoto seguido por tsunami que atingiu o Japão em 11 de março.

O International Charter Space and Major Disasters, que distribui dados orbitais para auxiliar países afetados por desastres naturais, foi acionado pelo governo japonês no mesmo dia em que o desastre ocorreu. Como resultado, imagens feitas por diversos satélites estão sendo utilizadas para mapear as áreas afetadas.

Em janeiro, após deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro, o International Charter Space and Major Disasters foi acionado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para fornecer imagens e dados para serem utilizados nos trabalhos de recuperação e prevenção.

Fundada na Europa em 2000, a iniciativa combina dados de satélites de várias agências e operadores espaciais de modo a fornecer informações gratuitas que possam ajudar na coordenação de respostas mais rápidas a grandes desastres naturais, como os esforços de auxílio nas áreas atingidas.

A partir dos dados reunidos, especialistas têm podido avaliar a extensão da devastação causada pelo terremoto e tsunami que até o momento soma mais de 8 mil mortes confirmadas, com outras 12 mil pessoas desaparecidas e 360 mil evacuadas e acomodadas em abrigos temporários.

A comparação de imagens feitas antes e depois do desastre permite verificar onde havia estradas, prédios e outras construções e estimar o que foi destruído.

Antes e depois do tsunami
Iniciativa internacional reúne imagens de diversos satélites para avaliar extensão da destruição no Japão e auxiliar no processo de reconstrução das áreas afetadas (divulgação)

O trabalho de análise dos dados está sendo coordenado pela Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (Jaxa) e pelo Instituto de Tecnologia da Ásia. Entre os satélites utilizados estão o TerraSAR-X, da Alemanha, o SPOT-5, da França, o Envisat, da Agência Espacial Europeia (ESA), e unidades dos Estados Unidos.

Segundo a ESA, a análise dos dados ajudará não apenas no processo de avaliação e reconstrução no Japão, mas no aumento da compreensão de como desastres naturais podem atingir áreas habitadas, conhecimento essencial para o desenvolvimento de melhores sistemas de alerta.

Uma divisão do International Charter Space and Major Disasters está analisando 20 anos de dados de satélites de observação para ajudar a entender melhor o impacto dos riscos geológicos.
Mais informações: www.disasterscharter.org

segunda-feira, 21 de março de 2011

Os dinossauros gigantes!!!
  

Os Saurópodes




    Os Saurópodes foram um dos dois grandes grupos de dinossauros saurísquios  ou dinossauros com bacia de réptil. Os seus corpos eram enormes, com um pescoço muito comprido que terminava em um cabeça muito pequena. A cauda, também muito comprida, junto com uma grande unha que a maioria dos saurópodes possuíam na pata dianteira eram suas únicas armas de defesa além de seu tamanho. Eram quadrúpedes, com patas altas, retas como colunas, terminadas em pés dotados de dedos curtos e bastante parecidas com as dos elefantes. A sua dieta alimentar era vegetariana. Muitos deles não dispunham de mandíbulas e dentes apropriados para mastigar, de modo que engoliam grandes quantidades de matéria vegetal que, em seguida, eram " trituradas " no estômago por pedras ingeridas para facilitar a fermentação e a digestão do alimento.

Fonte: avph.com.br


sexta-feira, 18 de março de 2011

Livro

"The Paleobiological Revolution: Essays on the Growth of Modern Paleontology" 
De: David Sepkoski, Michael Ruse

Resumo: Paleontology has long had a troubled relationship with evolutionary biology. Suffering from a reputation as a second-tier science and conjuring images of fossil collectors and amateurs who dig up bones, paleontology was marginalized even by Darwin himself, who worried that incompleteness in the fossil record would be used against his theory of evolution. But with the establishment of the modern synthesis in the 1940s and the pioneering work of George Gaylord Simpson, Ernst Mayr, and Theodosius Dobzhansky, as well as the subsequent efforts of Stephen Jay Gould, David Raup, and James Valentine, paleontology became embedded in biology and emerged as paleobiology, a first-rate discipline central to evolutionary studies.

This incredible ascendance of this once-maligned science to the vanguard of a field is chronicled in The Paleobiological Revolution. Pairing contributions from some of the leading actors of the transformation with overviews from historians and philosophers of science, the essays here capture the excitement of the seismic changes in the discipline. In so doing, David Sepkoski and Michael Ruse harness the energy of the past to call for further study of the conceptual development of modern paleobiology.

Link: http://www.megaupload.com/?d=19ABCRD4

 
Livro
Paleontology: The Record of Life -  de Colin W. Stearn, Robert L. Carroll

Link pra baixar: http://www.megaupload.com/?d=HKUWFODJ

É fácil!!!...copie e cole na barra de endereços de seu navegado!!!

Sinopse:

A comprehensive, one-term paleontology text. Its unified approach presents animal, plant, and invertebrate history and interaction. Emphasis is on how life evolved and shows how paleontology reveals earth history. Presents an integrated picture of paleontology, rather than detailed classification schemes. Publicdo em 2008.

A caminho de uma extinção em massa?

Com base em dados fósseis e atuais sobre o desaparecimento de espécies, pesquisadores sugerem que, nos próximos séculos, vivenciaremos a sexta grande extinção no nosso planeta, caso medidas de conservação não sejam adotadas. O tema é abordado por Alexander Kellner. 
 
Por: Alexander Kellner
Publicado em 15/03/2011 | Atualizado em 15/03/2011
A caminho de uma extinção em massa?
Desde o seu surgimento, a Terra já passou por cinco eventos de extinção em massa, em que mais de 75% de sua diversidade biológica desapareceram. (foto: Julia Starr/ Sxc.hu) 
 
Um dos assuntos mais discutidos pela sociedade e que têm muito espaço na mídia é a questão das extinções causadas pela ação do homem no meio ambiente. Aquecimento global, poluição e desmatamento são alguns dos fatores que, segundo especialistas, estão levando ao desaparecimento de muitas espécies do nosso planeta. E o pior: grande parte dessa biodiversidade nem chega a ser conhecida, pois se extingue antes mesmo de ser documentada.

Mas qual é a gravidade desse problema? Estaríamos nos dirigindo para mais uma extinção em massa? Em busca de respostas para essas perguntas, um grupo de doze pesquisadores liderado por Anthony Barnosky, da Universidade da Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos), procurou estabelecer parâmetros e fornecer dados mais concretos acerca desse tema que causa bastante controvérsia.

Com base em fósseis e dados sobre a biodiversidade disponíveis na União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), eles realizaram inferências e comparações de taxas de extinção de espécies atuais e do passado. O estudo acaba de ser publicado pela prestigiosa Nature e mostra que o assunto requer atenção imediata dos nossos governantes.

Os cinco grandes eventos de extinção

Pode parecer estranho aos leitores, mas extinções são processos naturais. Desde o surgimento da vida no nosso planeta – ocorrido em torno de 3,8 bilhões de anos atrás –, existe uma documentação extensa proveniente dos fósseis que demonstra que organismos surgem e desaparecem com o passar do tempo geológico.

O que chama a atenção é quando os eventos de surgimento de novas espécies (especiação) e extinção das já existentes estão em desequilíbrio. Nesses casos, durante um curto intervalo de tempo geológico (no máximo alguns milhões de anos), o número de espécies extintas é bem superior ao de espécies que surgem.
Nos últimos 540 milhões de anos, período cujo registro fóssil é mais bem conhecido, houve apenas cinco episódios em que mais de 75% de toda a diversidade biológica da Terra desapareceram. Por sua magnitude, esses eventos são chamados de extinção em massa.

O primeiro desses eventos ocorreu no final do Ordoviciano, mais especificamente há cerca de 443 milhões de anos. Nesse tempo geológico, a vida se confinava nos mares, que abrigavam diversas espécies de artrópodes, como os trilobitas. Entre os vertebrados, predominavam peixes denominados ostracodermas, que possuíam uma extensa armadura óssea. Segundo a pesquisa de Barnosky e colaboradores, em menos de 2 milhões de anos, 86% de todas as espécies foram extintas.
Trilobitas
O primeiro grande evento de extinção no nosso planeta ocorreu há cerca de 443 milhões de anos. Naquela época, a vida se confinava nos mares, que abrigavam diversas espécies de artrópodes, como os trilobitas. (ilustração: Heinrich Harder/ The Wonderful Paleo Art of Heinrich Harder/ Wikimedia Commons)
Outra grande extinção ocorreu ao final do Devoniano, aproximadamente 359 milhões de anos atrás. Apesar do amplo predomínio de formas marinhas, durante esse período geológico estava ocorrendo a conquista da terra firme – não apenas por plantas, mas também por vertebrados como o Tiktaalik roseae. Estima-se que 75% das espécies tenham sido extintas em cerca de 27 milhões de anos.


O maior episódio de extinção de todos os tempos terminou em torno de 251 milhões de anos atrás. Trata-se do evento Permiano, no qual 96% (!) das espécies desapareceram. Durante esse tempo, o planeta abrigava répteis marinhos, como os mesossauros, e as plantas já dominavam a terra firme. Vertebrados terrestres, como Dimetrodon (carnívoro) e Edaphosaurus (herbívoro), também habitavam a Terra, mas não sobreviveram a esse evento de extinção em massa que durou quase 8 milhões de anos.

A quarta ‘megaextinção’ ocorreu após um espaço de tempo menor: no fim do período Triássico, aproximadamente 200 milhões de anos atrás. Cerca de 80% das espécies foram extintas, incluindo diversas plantas e os rincossauros – répteis herbívoros de aparência bizarra. Isso tudo em menos de 8 milhões de anos.
O último desses grandes eventos de extinção em massa – e também o mais famoso – ocorreu no final do Cretáceo, há cerca de 65 milhões de anos. Foi nesse episódio que desapareceram a maioria dos dinossauros (apenas as aves sobreviveram) e outros animais populares como os pterossauros. Em menos de 2,5 milhões de anos, 76% das espécies se extinguiram.
Dinossauros e pterossauros
Os dinossauros e os pterossauros desapareceram da Terra há cerca de 65 milhões de anos, no último e mais famoso episódio de extinção em massa. (foto: Wikimedia Commons)

Técnicas de comparação

Após analisar e compilar dados sobre os cinco eventos de extinção em massa, Barnosky e colaboradores se dedicaram a uma forma de comparar o que está ocorrendo nos dias de hoje com o que ocorreu há milhões de anos. Como todos podem imaginar, essa não é uma tarefa fácil, devido às limitações impostas particularmente pelos dados paleontológicos.
Primeiro, o registro fóssil é muito incompleto, tanto do ponto de vista do material encontrado como da diversidade de organismos preservados. Fósseis de animais voadores, por exemplo, tendem a ser raros. O mesmo ocorre com formas que vivem em áreas montanhosas, que não reúnem boas condições para fossilização.

Há também questões relacionadas à taxonomia. Em paleontologia, a identificação de uma espécie está diretamente vinculada a sua morfologia, diferentemente do que ocorre com os estudos genéticos, que, por vezes, são a base para a separação de espécies que têm forma semelhante. Isso significa que a diversidade apontada pelos fósseis pode ser maior do que a reconhecida pelos cientistas.

Existem ainda problemas com relação aos dados disponíveis sobre a biodiversidade atual. Na lista da IUCN, de 1,9 milhão de espécies conhecidas, menos de 3% foram avaliadas com relação ao seu risco de extinção.
Lobo-da-tasmânia
Entre as espécies consideradas extintas na lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza está o lobo-da-tasmânia (‘Thylacinus cynocephalus’), marsupial nativo da Austrália e Nova Guiné. O último exemplar morreu em um zoológico australiano em 1936. (foto: E.J. Keller/ Smithsonian Institution archives)
Mas o principal obstáculo está ligado ao tempo. Hoje em dia falamos em uma escala de séculos ou de alguns milhares de anos. Já na paleontologia as dimensões são muito diferentes – fala-se em milhões de anos, que podem ser considerados “um piscar de olhos” em termos de tempo geológico.
Mesmo ciente dessas limitações, a equipe de Barnosky procurou realizar inferências sobre taxas de extinção com base em grupos de organismos que têm tanto formas fósseis como recentes. Entre os dados utilizados, os pesquisadores se valeram muito das informações existentes sobre mamíferos e procuraram extrapolá-las para supor o que ocorreria daqui a alguns milhões de anos.

Claro que existem erros que podem ser introduzidos nesse procedimento, já que ninguém sabe se as taxas de extinção são constantes ao longo do tempo (muito provavelmente, não).

Como fonte de dados das espécies recentes, eles usaram a lista apresentada pela IUCN, em que as espécies estão divididas em: extintas, extintas na natureza, em perigo crítico, em perigo, vulneráveis, quase ameaçadas, pouco preocupantes ou com dados insuficientes para classificação.
O resultado desse estudo publicado na Nature aponta que, apesar do que se apresenta, ainda não estamos com taxas de extinção semelhantes às dos cinco eventos de extinção em massa conhecidos, em que pelo menos 75% das espécies do planeta foram extintas.

Mas, se forem consideradas todas as espécies classificadas como ‘ameaçadas’ na lista da IUCN, em alguns séculos poderemos estar caminhando a passos largos para o sexto evento de extinção em massa na Terra. Ou seja, segundo os autores, ainda existe tempo para a introdução de medidas de conservação efetivas que possam evitar essa tragédia.

Alexander Kellner
Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências