sábado, 21 de janeiro de 2012

Pampaphoneus biccai: um recém anunciado predador
Posted: 18 Jan 2012 12:50 PM PST
Pampaphoneus caçando um Pareiasaurus
© Voltaire Neto

O Brasil não para de nos surpreender e até mesmo aos paleontólogos com uma gama enorme de répteis primitivos parecidos com os crocodilos. A cada ano pelo menos duas ou três espécies diferentes de carnívoros são descobertos, um mais incrível que outro. Mas desta vez, o animal descoberto nada tem a ver com um crocodilo, além de ter sido um réptil e de longe se assemelhar a alguns outros animais do grupo. Na verdade, o Pampaphoneus biccai, predador recém descrito e anunciado, encontrado no Rio Grande do Sul, é mais aparentado aos mamíferos do que aos crocodilos. Sua linhagem pertence ao grupo chamado Terápsidos, que posteriormente originous os primeiros mamíferos. Leia mais sobre isso no resto do artigo.

©Voltaire Neto

O Pampaphoneus viveu no período Permiano, há 260 milhões de anos atrás, antes mesmo do primeiro dinossauro surgir. O fóssil foi achado na fazendo do seu José Bicca, em São Gabriel, a 330 km de Porto Alegre. O nome do animal quer dizer "Matador dos Pampas do Bicca", sendo biccai uma homenagem ao seu José.

O crânio do animal mede 35 centímetros de comprimento e está bem preservado mostrando dois enormes caninos que o animal possuía. Com cerca de 3 metros de comprimento o Pampaphoneus era um dos maiores predadores da região.
Crânio fóssil e reconstrução
© Voltaire Neto

Juan Carlos Cisneros, especialista que ajudou na descoberta afirma que dá para saber que era um predador apenas olhando nos dentes caninos enomes. “Eles prendiam melhor a presa que os caninos de um leão, hoje.” Segundo Cisneros “A descoberta desse fóssil mostra que havia um corredor biológico que ligava o Brasil ao que hoje conhecemos como Rússia e África do Sul”, pois foram encontrados nesses países alguns animais muito parecidos com estes que recentemente vem surgindo no Brasil. Provavelmente durante o Permiano estas regiões estavam conectadas.
© Juan Cisneros
© Voltaire Neto

Fonte
  • O Estadão

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Supersoldado em potencial

Pesquisadores induzem a criação de subcasta de formigas gigantes em espécie que, apesar da capacidade genética de gerá-las, não o fazem naturalmente. O estudo reforça a importância do ambiente para a adaptação das espécies – não só de formigas.
Por: Paula Padilha
Publicado em 11/01/2012 | Atualizado em 11/01/2012
Supersoldado em potencial
Uma formiga supersoldado se comunica com uma operária menor do gênero 'Pheidole'. Supersoldados são muito raras na natureza e sua existência é vista como um ‘beco sem saída’ evolucionário. (foto: Alex Wild/ alexanderwild.com)
Mesmo sob óticas totalmente distintas, Lamarck e Darwin afirmavam que o meio ambiente tinha importância fundamental para o desenvolvimento das espécies. Um artigo publicado em edição recente da revista Science parece reforçar essa ideia.
Pesquisadores do Canadá conseguiram induzir, em laboratório, o desenvolvimento de supersoldados de uma espécie de formiga – Pheidole morrisi – em que esse tipo de subcasta ainda não havia sido observado na natureza, provavelmente por falta de estímulos ambientais.
Normalmente, em um formigueiro, encontram-se castas de formigas rainhas e de operárias. Estas, por sua vez, podem se dividir em outras subcastas. No gênero Pheidole, ao qual pertencem as formigas em questão, as operárias se dividem em duas subcastas: as operárias menores e as soldados.
No entanto, algumas espécies do gênero apresentam ainda uma terceira subcasta, a das supersoldados. Elas são muito maiores que suas companheiras e, assim como as soldados, têm a função de defender a colônia.
Formigueiro
Normalmente, em um formigueiro, encontram-se castas de formigas rainhas e de operárias. Estas, por sua vez, podem se dividir em outras subcastas. Uma das mais raras é a subcasta das supersoldados, formigas gigantes e grandes defensoras. (foto: Subhadip Mukherjee/ Sxc.hu)
Acostumados a coletar formigas P. morrisi, a equipe liderada pelo biólogo Ehab Abouheif, da Universidade McGill, no Canadá, se deparou com indivíduos anômalos, maiores do que todos os outros e semelhantes às formigas supersoldados. O fato de a espécie nunca ter apresentado fenótipos dessa subcasta intrigou o grupo.
Partindo do pressuposto de que essas características teriam a mesma origem genética das compartilhadas por supersoldados, os pesquisadores decidiram comparar o desenvolvimento de formigas P. morrisi com outras duas espécies que expressam supersoldados, P. rhea e P. obtusospinosa.

A transformação de uma larva em supersoldado ocorre durante o seu estágio final de desenvolvimento e é altamente influenciada pela nutrição e mediada pelo hormônio juvenil, que participa de diversas funções do ciclo de vida de insetos. Cientes disso, Abouheif e equipe aplicaram um análogo desse hormônio em larvas de P. morrisi, identificando características parecidas com as das larvas das outras duas espécies.
Os cientistas concluíram que, provavelmente, a habilidade genética de gerar supersoldados é uma característica presente no ancestral comum de todas as Pheidole. Esse potencial de expressão teria se mantido nos indivíduos até hoje, podendo ser silenciado ou estimulado por fatores ambientais.

Combustível para a evolução

Na avaliação de Abouheif, as implicações do estudo vão muito além das formigas. O biólogo destaca a importância do trabalho ao conferir uma nova função para o ambiente na interação com os genes, abrindo as portas para a identificação de uma maior diversidade fenotípica entre indivíduos geneticamente semelhantes.
“Tende-se a desqualificar o papel do ambiente no processo evolutivo”, afirma Abouheif. “Todos sabemos que as mutações aleatórias são a maior causa de variabilidade genética. No entanto, queremos demonstrar que características ancestrais silenciosas podem ser desencadeadas por variações do meio e ser um grande combustível para a evolução.”

le afirma que essas características ancestrais silenciosas são muitas vezes desprezadas pela comunidade científica, sendo consideradas ‘aberrações’ e ‘deslizes do desenvolvimento’.
“As formigas supersoldados são muito raras na natureza e sua existência é vista como um ‘beco sem saída’ evolucionário, mas não se pode ignorar o fato de que esse traço é recorrentemente invocado na natureza”, defende o biólogo. “Enxergamos o processo evolutivo como algo totalmente aleatório, e a ideia de que uma característica ancestral possa direcioná-lo de alguma maneira parece deixar as pessoas nervosas”, reforça.

domingo, 15 de janeiro de 2012

New Fossil Primate Suggests Common Asian Ancestor, Challenges Primates Such As 'Ida'

New Fossil Primate Suggests Common Asian Ancestor, Challenges Primates Such As 'Ida'

New Theory On the Origin of Primates

ScienceDaily (Jan. 19, 2010) — A new model for primate origins is presented in Zoologica Scripta, published by the Norwegian Academy of Science and Letters and The Royal Swedish Academy of Sciences. The paper argues that the distributions of the major primate groups are correlated with Mesozoic tectonic features and that their respective ranges are congruent with each evolving locally from a widespread ancestor on the supercontinent of Pangea about 185 million years ago.

Michael Heads, a Research Associate of the Buffalo Museum of Science, arrived at these conclusions by incorporating, for the first time, spatial patterns of primate diversity and distribution as historical evidence for primate evolution. Models had previously been limited to interpretations of the fossil record and molecular clocks.
"According to prevailing theories, primates are supposed to have originated in a geographically small area (center of origin) from where they dispersed to other regions and continents" said Heads, who also noted that widespread misrepresentation of fossil molecular clocks estimates as maximum or actual dates of origin has led to a popular theory that primates somehow crossed the globe and even rafted across oceans to reach America and Madagascar.

In this new approach to molecular phylogenetics, vicariance, and plate tectonics, Heads shows that the distribution ranges of primates and their nearest relatives, the tree shrews and the flying lemurs, conforms to a pattern that would be expected from their having evolved from a widespread ancestor. This ancestor could have evolved into the extinct Plesiadapiformes in north America and Eurasia, the primates in central-South America, Africa, India and south East Asia, and the tree shrews and flying lemurs in South East Asia.
Divergence between strepsirrhines (lemurs and lorises) and haplorhines (tarsiers and anthropoids) is correlated with intense volcanic activity on the Lebombo Monocline in Africa about 180 million years ago. The lemurs of Madagascar diverged from their African relatives with the opening of the Mozambique Channel (160 million years ago), while New and Old World monkeys diverged with the opening of the Atlantic about 120 million years ago.

"This model avoids the confusion created by the center of origin theories and the assumption of a recent origin for major primate groups due to a misrepresentation of the fossil record and molecular clock divergence estimates" said Michael from his New Zealand office. "These models have resulted in all sorts of contradictory centers of origin and imaginary migrations for primates that are biogeographically unnecessary and incompatible with ecological evidence."
The tectonic model also addresses the otherwise insoluble problem of dispersal theories that enable primates to cross the Atlantic to America, and the Mozambique Channel to Madagascar although they have not been able to cross 25 km from Sulawesi to Moluccan islands and from there travel to New Guinea and Australia.
Heads acknowledged that the phylogenetic relationships of some groups such as tarsiers, are controversial, but the various alternatives do not obscure the patterns of diversity and distribution identified in this study.
Biogeographic evidence for the Jurassic origin for primates, and the pre-Cretaceous origin of major primate groups considerably extends their divergence before the fossil record, but Heads notes that fossils only provide minimal dates for the existence of particular groups, and there are many examples of the fossil record being extended for tens of millions of years through new fossil discoveries.

The article notes that increasing numbers of primatologists and paleontologists recognize that the fossil record cannot be used to impose strict limits on primate origins, and that some molecular clock estimates also predict divergence dates pre-dating the earliest fossils. These considerations indicate that there is no necessary objection to the biogeographic evidence for divergence of primates beginning in the Jurassic with the origin of all major groups being correlated with plate tectonics.



New biogeographic reconstruction of primates, flying lemurs, and tree shrews about 185 millions of years in the early Jurassic. (Credit: Image courtesy of Buffalo Museum of Science)
 
Fonte: http://www.sciencedaily.com/releases/2010/01/100119154710.htm


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Biologia matemática é tema de escola

12/01/2012
Agência FAPESP – O Southern-Summer School on Mathematical Biology será realizado de 16 a 28 de janeiro na sede do prédio do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Paulo.
A iniciativa é do ICTP South American Institute for Fundamental Research, centro criado em colaboração entre a Unesp e o Centro Internacional de Física Teórica (ICTP), centro de pesquisas vinculado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e que conta com financiamento da FAPESP.
Voltado para alunos de pós-graduação em Física, Matemática, Ecologia e Epidemiologia que tenham conhecimentos básicos de cálculo e equações diferenciais, o curso terá a participação de 63 estudantes do Brasil, Argentina, Canadá, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Inglaterra, Paraguai, Portugal, Uruguai e Venezuela. O prazo para inscrições está encerrado.
Na primeira semana será realizado um curso básico de biologia das populações que inclui exercícios de modelagem. “A segunda semana terá uma escola avançada em tópicos atualizados de ecologia e epidemiologia”, disse Roberto Kraenkel, professor do IFT e um dos organizadores do curso ao lado de Marcel Clerc, da Universidade de Chile, e Paulo Inácio Prado, da Universidade de São Paulo.
Segundo Kraenkel, o uso de métodos matemáticos na biologia é um assunto em expansão que vem incorporando técnicas de modelagem matemática. Biólogos, porém, geralmente não têm treinamento em matemática, e matemáticos e físicos têm dificuldade de entender completamente alguns princípios biológicos. “Isso cria uma lacuna entre as duas culturas científicas”, disse.

Escolas de verão são oportunidades para que estudantes de várias áreas trabalhem juntos e assistam a seminários de cientistas de renome internacional, ampliando assim seus interesses acadêmicos. “A iniciativa deste curso é a única na América do Sul e uma das poucas no mundo com uma verdadeira abordagem interdisciplinar”, afirmou.

Em novembro de 2010, a Unesp, por meio do IFT, assinou acordo de cooperação com o ICTP, com apoio da FAPESP. Foi a primeira parceria do ICTP com uma universidade latino-americana. A partir dessa ação, o ICTP pretende influenciar a criação de outros centros de excelência em pesquisa no continente americano, fora dos Estados Unidos e do Canadá.
Mais informações: www.ictp-saifr.org.
Uma planta enganadora
Estudo questiona a origem de árvore do grupo dos pinheiros 
Qualquer paisagem com dinossauros não fica completa sem as cicas. No mesmo período em que esses répteis se agigantaram e se espalharam pela Terra, essas plantas – fisicamente semelhantes às palmeiras, mas aparentadas dos pinheiros – dominaram a paisagem do planeta. Registros fósseis mostram que as cicas surgiram há cerca de 270 milhões de anos e existem até hoje. Como a aparência delas quase não mudou ao longo do tempo, as cicas são tidas como fósseis vivos. Ou melhor, eram. Um estudo de uma equipe internacional que contou com a participação de um pesquisador brasileiro acaba de mudar radicalmente o rumo dessa história.

Nada como uma análise de DNA para trazer nova luz ao estudo da evolução da vida. Com base na morfologia – ou seja, no aspecto visível das plantas –, os biólogos não enxergavam muitas diferenças significativas entre os fósseis com dezenas de milhões de anos e suas contrapartes vivas. A única grande diferença era a quantidade de espécies. Aparentemente, em tempos antigos, a variedade era bem maior (o auge foi durante o Jurássico, entre 201 milhões e 146 milhões de anos atrás), o que fez muitos pesquisadores suporem até que foi o sumiço dos dinossauros que levou à redução na biodiversidade das cicas.

 
Cicas: espécies atuais descendem de ancestrais que viveram 12 milhões de anos atrás 
O novo estudo, liderado por Sarah Matthews e Nathalie Nagalingum, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, partiu das espécies que estão por aí (cerca de 300, um número bem modesto) para traçar sua filogenia – uma espécie de árvore genealógica reconstruída a partir do DNA. Para isso, analisaram um gene específico, o fitocromo P (PHYP). A ideia era usar as variações encontradas nesse gene, associadas às datações do registro fóssil, para especificar quando viveu o ancestral comum das espécies.

O conceito de datar com base nas diferenças genéticas parte de um pressuposto muito simples: mutações aleatórias acontecem no DNA num ritmo mais ou menos homogêneo – com variações maiores ou menores entre grupos distintos, que são também levadas em conta pelos cientistas. Criando uma correlação entre a quantidade de diferenças e o tempo que levaria para essa divergência, é possível estimar quando viveu o ancestral comum. É assim, por exemplo, que conseguimos confirmar nosso parentesco mais próximo com os chimpanzés (que têm 96% do DNA igual ao nosso) que com os camundongos (90%).

Pois bem. Ao analisar o gene PHYP em 199 espécies (dois terços das existentes hoje), além de outros dois genes (rbcL e matK) em um número menor de plantas, eles descobriram que o ancestral comum de cada um dos gêneros que agrupam as espécies atuais viveu 12 milhões de anos atrás. É um bocado de tempo, mas nada tão radical a ponto de sugerir que essas espécies estejam aí mais ou menos imutáveis por 200 milhões de anos.

Esse resultado mostra que as espécies vivas hoje surgiram nos últimos 10 milhões de anos, o que no tempo geológico é muito recente”, afirma Tiago Quental, biólogo da Universidade de São Paulo (USP) que participou do estudo, publicado no periódico científico americano Science. “Isso indica que essas espécies não podem ser consideradas fósseis vivos e que as espécies hoje vivas certamente não estavam presentes na época dos dinossauros, extintos 65 milhões de anos atrás.”
Novo com cara de velhoMesmo que indiretamente, esse resultado projeta uma sombra sobre todo o conceito de fóssil vivo. Uma vez que os paleontólogos só podem avaliar a morfologia nos fósseis – e se descobriu que essa não é uma técnica completamente segura para identificar o surgimento de novas espécies (fenômeno chamado especiação) e de modificações genéticas importantes – quem diz que outros fósseis vivos não são apenas novas espécies com cara de velhas?

Mais do que dizer o que as atuais cicas não são, a análise também ajuda a reconstruir sua narrativa evolutiva. As cicas são plantas gimnospérmicas, o que quer dizer que apresentam as sementes nuas, sem flores. No tempo dos dinossauros, os gigantes herbívoros as comiam e dispersavam as sementes em outros lugares. Mas aquelas que co-habitaram com esses répteis, agora se sabe por meio da análise filogenética, não são as espécies hoje viventes.

Na verdade, em vez de serem sobreviventes bem adaptadas desde o passado distante, as cicas quase sumiram de uma vez por todas no meio do caminho até o presente. Seu ressurgimento, documentado agora pela análise filogenética, aconteceu cerca de 10 milhões de anos atrás. “E o curioso é que esse ressurgimento ocorreu de forma sincronizada em todo o nosso planeta, o que sugere que um efeito global poderia ter causado esse padrão”, diz Quental.

Os pesquisadores sabem disso porque analisaram espécies de diversas partes do mundo. A maior variedade de espécies encontra-se na Austrália, mas também existem cicas em regiões quentes e temperadas da África, da Ásia e da América Central. E nessas diferentes regiões a variedade local de espécies parece ter aumentado de modo importante mais ou menos na mesma data.

Por essa razão, os cientistas especulam que foi algo que aconteceu em toda a Terra para dar essa nova chance às cicas – possivelmente uma mudança climática. Na ocasião, o que acontecia era um esfriamento global.

Não é à toa, portanto, que vivemos hoje uma época não muito boa para essas plantas. E o crescente aumento das temperaturas médias da Terra, em parte consequência das atividades antropogênicas, não deve ajudá-las a prosperar. “A atual diversificação das cicas parece estar diminuindo, e sua recente evolução provavelmente não é garantia contra a próxima onda de extinções”, avalia Susanne Renner, bióloga da Universidade de Munique, na Alemanha, que não participou da pesquisa e foi convidada pela revista Science para comentá-la.

Artigo científico

NAGALINGUM, N.S. et al. Recent synchronous radiation of a living fossil. Science. v. 334.
Uma estrada, muitas florestas
Construção de rodoanel na Grande São Paulo aciona operação de replantio de matas
Edição Impressa 191 - Janeiro 2012

Pelo menos uma vez por semana o biólogo sul-mato-grossense Paulo Ortiz chega por volta das sete da manhã, uma hora e meia antes do habitual, ao Instituto de Botânica, ao lado do Zoológico da cidade de São Paulo. Põe as botas pretas e logo sai, com outros biólogos, para percorrer a periferia da capital e municípios vizinhos e ver como estão crescendo as matas que devem repor a vegetação nativa perdida com a construção do trecho sul do rodoanel Mário Covas, uma estrada de 57 quilômetros que contorna a capital paulista e outros seis municípios da Grande São Paulo, interligando as estradas do interior paulista ao litoral.

O trabalho de recomposição de mata atlântica, ainda que pouco visível para quem circula pelas ruas da metrópole, mas importante para amenizar o calor e as inundações, representa a maior experiência de restauração de florestas realizada em conjunto por órgãos públicos, institutos de pesquisa e  empresas privadas na história paulista. Os 1.016 hectares (cada hectare equivale a 10 mil metros quadrados) que devem ser reocupados com espécies nativas de mata atlântica estão espalhados por 147 áreas públicas de tamanhos variáveis – de 70 metros quadrados, o equivalente a um apartamento, a 100 hectares, ou 100 campos de futebol juntos – em São Paulo e outros 13 municípios próximos (Biritiba Mirim, Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Nazaré Paulista, Ribeirão Pires, Salesópolis, Santo André,  São Bernardo do Campo e Piracaia; veja o mapa com a localização das áreas de replantio).

Essa experiência atesta a habilidade de trabalho conjunto entre pesquisadores de diferentes instituições, que se mobilizam para enfrentar problemas urgentes e resistências naturais ou humanas ao crescimento das florestas urbanas. Em um terço da área plantada, cerca de 300 hectares, as árvores morreram ou não cresceram como se esperava, por causa de imprevistos como alagamentos, incêndios provocados, geadas, invasão de gado e oposição de alguns moradores vizinhos, que preferiam continuar ocupando as terras públicas com pastagens clandestinas para o gado que criavam. Uma equipe da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) ajudou a restaurar 8.500 hectares, uma área bem maior que a do trecho sul do rodoanel, mas sem tantos conflitos porque as novas matas cresceram em terras particulares, cujos donos desejavam a certificação ambiental da produção de açúcar e álcool (ver Pesquisa Fapesp nº 144, de fevereiro de 2008).

À medida que avança, a ocupação com vegetação nativa de uma área equivalente a 25% da floresta da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, evidencia a capacidade de botânicos e engenheiros agrônomos e florestais contribuírem efetivamente para a formulação e implantação de políticas públicas. Prova disso é que, como resultado de pesquisas que se transformaram em argumentos para aprimorar a legislação ambiental do estado de São Paulo, cada hectare deve conter cerca de 2 mil árvores de pelo menos 80 espécies diferentes. Desse modo, procura-se fazer com que as novas florestas sejam duradouras e pelo menos similares às removidas para a construção da estrada.

Não houve reflorestamento compensatório para o trecho anterior do rodoanel, o oeste, mas as leis e os métodos aplicados na restauração da mata atlântica do trecho sul devem ser aproveitados na construção dos próximos trechos, o norte e o leste, para compensar a perda de vegetação nativa próxima ao Parque da Serra da Cantareira, a maior floresta urbana do mundo, com 7.900 hectares, o dobro da área da floresta da Tijuca. Outra exigência ambiental do trecho sul que deve ser adotada nos próximos trechos é o sistema de monitoramento da dinâmica demográfica e das transformações do uso do solo e da cobertura vegetal nativa, desenvolvido e gerenciado em conjunto pelas equipes da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa) e Instituto Florestal.

O chamado

Em 2007, como condição para a aprovação do projeto de construção do trecho sul do rodoanel, órgãos ambientais estaduais e federais determinaram que a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), a empresa pública responsável pela construção da estrada, replantasse 1.016 hectares de florestas, em áreas próximas à futura rodovia, para compensar a perda de 200 hectares de mata atlântica que cerca a Grande São Paulo.
O primeiro problema emergiu assim que Luiz Mauro Barbosa, então diretor do Instituto de Botânica, soube que sua instituição tinha sido designada para orientar o resgate de plantas vivas e o reflorestamento compensatório com espécies nativas: “Mal conhecíamos aquela área, do ponto de vista botânico”, lembra-se Barbosa, atualmente diretor de um dos centros de pesquisa do instituto. Ele foi um dos líderes de uma equipe de 80 pesquisadores que lo--go entraram na mata para identificar as plantas e retirar o que fosse possível, antes que chegassem os tratores rasgando a floresta para abrir a estrada.

 Os pesquisadores estavam preocupados com o tempo, que era escasso, e com o tamanho da mata que teriam de percorrer. A mata a ser cortada pela estrada ocupava uma área quatro vezes maior que a de outra experiência pioneira de que haviam participado em 1985: a recuperação da vegetação nativa da encosta da serra do Mar, corroída pela poluição então sem controle das empresas químicas de Cubatão. Hoje Barbosa acredita que, a despeito das pressões, conseguiram salvar 80% de plantas herbáceas e epífitas da área de mata cortada pelo trecho sul do rodoanel.

No total, resgataram 22 mil plantas – principalmente samambaias, palmeiras, bromélias e orquídeas –, que foram transferidas para o Jardim Botânico de São Paulo e praças públicas da Grande São Paulo ou reinstaladas nas imediações de onde saíram e nas áreas de reflorestamento. Na mata atlântica que cerca a represa de Guarapiranga, uma das principais fontes de água dos moradores da Região Metropolitana, os botânicos encontraram raridades como uma bromélia de flores lilases, a Tillandsia linearis, já considerada extinta, e a Zygopetalum maxillare, uma orquídea ameaçada de extinção.

Uma das novas áreas de mata atlântica em Parelheiros, extremo sul de São Paulo: diversidade de árvores já é visível 

Pisoteios e despachosDois anos depois, o trecho sul do rodoanel está funcionando, conectado ao trecho anterior, o oeste, e muitas áreas já parecem uma floresta jovem, com boas perspectivas de crescimento, principalmente quando cercadas por remanescentes de matas nativas.

Em um dos novos fragmentos de floresta em Parelheiros, um bairro distante na zona sul da cidade de São Paulo, as coisas estão correndo bem. “Veja, a floresta está começando a funcionar”, observa o engenheiro agrônomo Maycon de Oliveira, da Verdycon, uma das três empresas contratadas pela Dersa para cuidar do replantio das árvores nas 147 áreas selecionadas.

Oliveira mostra uma das árvores, um fumo-bravo, que ele e sua equipe plantaram em novembro de 2009. Nesse tempo, a árvore cresceu – está com quase 2,5 metros –, floresceu, frutificou e lançou sementes que germinaram e formaram descendentes já com 30 centímetros de altura que estão perto da árvore principal. O fumo-bravo, o ingá e o timburi que vicejam neste lote são espécies de árvores pioneiras, que crescem rapidamente, fazendo sombra para as espécies de árvores de crescimento mais lento, mas de vida mais longa. Ao lado, um dedaleiro, uma árvore que deve viver ali muitos anos, já está com 1,5 metro de altura – e floresce.

Ali, como fazem há dois anos nas 147 áreas selecionadas para o reflorestamento, Paulo Ortiz e outro biólogo, Carlos Yoshiyuki Agena, examinam a mata emergente – sempre que podem, a bióloga Regina Tomoko Shirasuna e a engenheira Renata Ruiz Silva também participam das inspeções. Ali, a diversidade de espécies é visível, não há plantas rasteiras competindo por nutrientes e a mortalidade das árvores é de apenas 12%. É um resultado bom, eles ponderam, já que no início esta área foi invadida por cavalos que pisotearam as mudas recém-plantadas.

Hoje cercadas para barrar a entrada de animais, as árvores crescem em terras antes ocupadas por uma horta desapropriada pela prefeitura. Ao redor deste lote as árvores são mais antigas e mais altas. Karina Cavalheiro Barbosa, bióloga da Dersa que acompanha as equipes que orientam ou executam o plantio, conta que o conjunto de lotes plantados em Parelheiros faz parte de quatro unidades de conservação que devem ser entregues à prefeitura nos próximos meses.

Em Piracaia e Mairiporã, dois municípios que abrigam áreas destinadas ao replantio, os problemas são piores. Acredita-se que alguns moradores vizinhos cortem a cerca das áreas selecionadas para recolocar bois e vacas que haviam sido expulsos dali. Houve também incêndios de origem possivelmente criminosa nas florestas em crescimento; latões de combustível encontrados nas terras queimadas alimentam essa possibilidade. Karina e sua equipe persistem, replantando o que foi perdido e colocando placas alertando que se trata de uma área pública que não deveria ser invadida. “Não faça despacho”, implora uma placa anônima cravada na terra de uma área de reflorestamento em Mairiporã. É uma forma de evitar os incêndios provocados pelas velas usadas em rituais religiosos. 
Às vezes os moradores vizinhos das áreas selecionadas para reflorestamento são mais diretos e avisam aos primeiros que chegam que não querem nenhuma mudança desse tipo por ali, porque uma mata tiraria a visibilidade de suas casas e deixaria a comunidade mais isolada. E ameaçam: se avançarem, haverá represálias. O que fazer? Algumas vezes se opta por refazer o planejamento para não se perder o trabalho: a reposição de florestas é um trabalho caro, que custa de R$ 20 mil a R$ 25 mil por hectare.

Ninguém previa essas reações opostas, do mesmo modo que ninguém previa a geada que em uma só noite de julho de 2011 destruiu quase metade das árvores plantadas no município de Cotia pelas equipes da Verdycon e do consórcio Jardiplan/Biotech. Em áreas de solo ruim – uma delas, ao lado do rodoanel, era pátio de caminhões e depósito de entulho – a mortalidade das árvores é de 40%, mas estão surgindo soluções. Oliveira, da Verdycon, está avaliando a eficiência de um resíduo das usinas de açúcar e etanol para melhorar a qualidade do solo. A equipe da Corpus, outra empresa que cuida do plantio, cobriu a terra ruim com resíduos da produção de cogumelos e verificou que as árvores estão crescendo melhor. 
Florestas de vida curtaBarbosa, do Instituto de Botânica, acredita que contribuiu bastante para a definição legal dos critérios de reflorestamento adotados, reforçando a necessidade de utilização da alta diversidade de espécies nativas para aumentar as chances de sucesso dos planos de restauração. Por meio de dois projetos de políticas públicas apoiados pela FAPESP em 2001 e 2003, ele avaliou 98 áreas reflorestadas nos 10 anos anteriores em todo o estado de São Paulo.

“Quando vi o resultado, levei um susto”, ele conta. Na maioria das áreas havia no máximo 30 espécies de árvores por hectare, bem abaixo do que é encontrado em trechos originais de mata atlântica. Dessas 30, predominavam as pioneiras, que têm ciclo de vida curto e morrem em poucos anos. “Em dois anos havia uma pequena mata”, ele diz, “mas depois de 10 anos não havia quase nada”. Apenas duas das 98 áreas examinadas apresentavam uma densidade de árvores e uma diversidade de espécies aceitáveis.

Barbosa fez barulho. Procurou os dirigentes da Secretaria do Meio Ambiente do estado e das conversas, ele conta, resultou a Resolução SMA-21, publicada em 2001, definindo o plantio mínimo obrigatório de 30 a 80 espécies por hectare, dependendo do tamanho da área (quanto maior, mais espécies diferentes deveriam ser plantadas) e da proximidade com remanescentes de florestas, que poderiam ampliar a diversidade de espécies. Outra resolução, a SMA-47, de 2003, determinou que cada hectare deveria conter pelo menos 80 espécies nativas diferentes, sendo pelo menos 40% de pioneiras, de vida curta, e 40% de não pioneiras, de vida longa.

A legislação fez os viveiros de mudas ampliarem o número de espécies e a produção de mudas de árvores nativas. Barbosa, outra vez, foi atrás dos números e verificou que 55 viveiros cadastrados produziam 13 milhões de mudas de 277 espécies nativas em 2001. Seu levantamento indica que hoje 208 viveiros produzem 41 milhões de mudas de mais de 600 espécies nativas do estado de São Paulo (o site do instituto remete aos viveiros cadastrados e à lista das 700 espécies de árvores já reconhecidas como nativas do estado). Com esse avanço, ele acredita que a tarefa de reflorestar os 1,3 milhão de hectares do estado devem agora levar 63 anos, não mais 200, como há 10 anos.

Desse modo tomou forma uma legislação e uma estrutura de suporte de produção de mudas que põem o estado de São Paulo à frente dos outros. “Meus amigos biólogos de Mato Grosso do Sul não acreditam que em São Paulo fazemos restauração com uma diversidade de espécies tão alta, que por enquanto é inviável por lá”, comenta Ortiz.

Os conceitos amadureceram bastante. Em 1985, uma das estratégias adotadas para reocupar a encosta da serra do Mar com vegetação nativa foi jogar de helicóptero sementes dentro de cápsulas de gelatina; depois se verificou que apenas 30% das sementes germinaram. Usou-se braquiária, uma espécie exótica de capim de crescimento rápido, para segurar o solo da encosta. “Hoje não faríamos desse modo”, conta Barbosa. Se necessário, ele diz, usariam a orelha-de-onça (Tibouchina clavata), um arbusto nativo, com  a mesma função. Antes se pensava que as sementes poderiam ser guardadas apenas por semanas, hoje se sabe que podem durar anos. E agora há várias técnicas de restauração florestal, que podem ser combinadas se necessário.


Três anos depois: a floresta ganha corpo em um dos parques criados pela Dersa; acima, a estrada atravessa uma das represas da capital

Além das árvoresAinda há problemas, claro. Uma pesquisa da Esalq indicou que trepadeiras e epífitas como as bromélias e as orquídeas constituem 42% da biomassa de uma floresta e são muito importantes para a reconstrução do ambiente, enquanto as árvores participam com 35% da biomassa.

“Só árvores não é a solução”, reiterou Paulo Kageyama, professor da Esalq, em um simpósio sobre restauração ecológica realizado em novembro de 2011 no Instituto de Botânica. O problema é que os viveiros por enquanto só oferecem mudas de árvores. Uma regulamentação recente da Secretaria do Meio Ambiente recomenda, mas ainda não obriga, que não se plantem apenas árvores.

As técnicas de restauração estão relativamente maduras para a mata atlântica, mas ainda pouco claras para outros ambientes naturais do estado de São Paulo como cerrado, manguezais e restingas. “Novas pesquisas vão indicar novos caminhos”, acredita Kageyama.

As novas matas que crescem em torno do rodoanel já estão servindo como base para pesquisas que compararam o crescimento das plantas em áreas diferentes ou sob diferentes tipos de pressões naturais ou urbanas. Uma das perguntas que só serão respondidas daqui a muitos anos é se os fragmentos de florestas encravados no ambiente urbano vão se comportar do mesmo modo que os fragmentos de florestas em meio a pastagens na Amazônia, por exemplo.

Além disso, a reposição de florestas ainda não supera as perdas. De 1995 a 2003 o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) promoveu a restauração da floresta amazônica, mas não a ponto de repor o que era continuamente perdido – os relatórios desse trabalho, que contou com financiamento do Japão, indicam que a recuperação de paisagens naturais só avança efetivamente quando está associada a políticas públicas mais amplas. Em um estudo publicado na revista PNAS em 2008, pesquisadores dos Estados Unidos estimaram que o Brasil perdeu 2,6 milhões de hectares por ano por causa do desmatamento de florestas úmidas de 2000 a 2005, enquanto na Indonésia, o segundo país com a maior perda de vegetação nativa, o desmatamento deve atingir 700 mil hectares por ano.

Por fim, para desconforto dos paulistas mais apresssados, os resultados são lentos. “A restauração demora”, reconhece Ortiz. “Só saberemos daqui a 10 ou 20 anos se essas florestas em torno do rodoanel realmente vingarão."

Os projetos

1. Modelos de repovoamento vegetal para proteção de sistemas hídricos
em áreas degradadas dos diversos biomas do estado de São Paulo
nº 2000/02020-9

2. Estabelecimento de parâmetros de avaliação e monitoramento para reflorestamento induzidos visando ao licenciamento ambiental  nº 2003/06423-9

Modalidade


Programa Políticas Públicas
Co­or­de­na­dor1 e 2. Luiz Mauro Barbosa – IBt
Cão se originou ao sul do rio Yangtzé
Edição Impressa 190 - Dezembro 2011

As origens do cachorro parecem ser mesmo a região da China meridional. Uma análise das sequências genéticas presentes no cromossomo Y, trecho de DNA herdado apenas da linhagem paterna, obtidas de uma amostra de 151 cães de todas as partes do mundo, indica que esse animal deve ter surgido a partir do processo de domesticação do lobo ocorrida na região asiática ao sul do rio Yangtzé, às vezes também chamado de rio Azul. Segundo o estudo, feito por pesquisadores chineses, europeus e americanos, praticamente toda a diversidade genética encontrada nos cachorros seria derivada de uma população ancestral de 13 a 24 lobos que foram domesticados nessa região asiática (Heredity, 23 de novembro).


A contribuição de eventuais cruzamentos entre lobos e cachorros que possam ter ocorrido em outras partes do globo foi mínima para a diversidade genética dos cães. Os resultados são similares aos dados produzidos por trabalhos semelhantes que analisaram o DNA mitocondrial, material genético originário da linhagem materna, dos cachorros. Ambas as abordagens indicam que cerca de 50% de toda a diversidade genética dos cachorros é partilhada por animais encontrados em qualquer parte do planeta. No entanto, os cachorros ao sul do rio Yangtzé são os únicos que concentram todas as linhagens de DNA da espécie, dado que corrobora a hipótese defendida no novo trabalho. A evidência arqueológica e alguns estudos genéticos apontam a Europa ou o sudoeste da Ásia como o berço do cão, mas esses trabalhos nem sempre levam em conta dados da região ao sul do Yangtzé, o que pode ter enviesado suas conclusões. 

Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=71818&bd=2&pg=1&lg=

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tartarugas dos tempos de Darwin são redescobertas em Galápagos

10/01/2012

 

 Um exemplar híbrido (cruzamento das espécies G. Becky e C. elephantopus) que vive na Ilha Floreana, em Galápagos. …


 
RIO - Dezenas de tartarugas gigantes de uma espécie que se achava estar extinta há 150 anos foram encontradas em uma ilha remota do Arquipélago de Galápagos. Análise genética feita por pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, revela que pelo menos 38 exemplares de Chelonoidis elephantopus vivem nas encostas vulcânicas da Ilha de Isabela, mais de 320 quilômetros ao Norte de seu antigo lar na Ilha Floreana, de onde desapareceram caçadas por baleeiros.


"Isto não é apenas um exercício acadêmico", diz Gisella Caccone, pesquisadora do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da universidade e principal autora de artigo sobre a descoberta, publicado na edição desta semana no periódico científico "Current Biology". "Se pudermos encontrar estes indivíduos, podemos repovoar a ilha de origem. Isso é importante porque estes animais são uma espécie chave na manutenção da integridade ecológica das comunidades nas ilhas".

Em sua viagem histórica a Galápagos em 1835, Charles Darwin observou que os cascos das tartarugas que viviam em ilhas diferentes do arquipélago tinham formatos diferentes - uma das observações que o inspiraram na sua teoria da seleção natural. Os cascos das tartarugas de Floreana, por exemplo, tinham forma de selas, enquanto os de tartarugas de outras ilhas tinham forma de domos. Em Floreana, no entanto, as tartarugas desapareceram após serem caçadas por baleeiros e trabalhadores de uma fábrica de óleo que se estabeleceu na ilha.