sábado, 27 de abril de 2013

MATANÇA DE RINOCERONTES

Animais estarão extintos em 20 anos

Cientistas propõem legalizar o comércio de chifres de rinocerontes para conter a matança desses bichos. A ideia é promover o corte ‘humanizado’ em animais vivos ou mortos por causas naturais, conta Cássio Leite Vieira na revista CH de abril. 
 
Por: Cássio Leite Vieira
Publicado em 23/04/2013 | Atualizado em 23/04/2013
Corte legal! Legal?
O mercado negro de chifres de rinocerontes cresce e a matança desses animais aumentou assustadoramente: sete animais em 2000; 668, no ano passado. Nessa taxa, em duas décadas, talvez, os rinocerontes estejam extintos. (foto: Geoff York) 
 
Escolha a melhor opção, segundo suas convicções éticas:

i) matar um rinoceronte para arrancar-lhe o chifre;
ii) mantê-lo vivo e cortar-lhe o chifre, que volta a crescer.

Ambas eticamente repugnantes? Bem, a fêmea de rinoceronte branco da imagem provavelmente só está cuidando do filhote porque alguém optou pela segunda alternativa.

A proposta de legalizar o comércio de chifres de rinocerontes é de quatro renomados cientistas. Justificativa: o embargo global de produtos vindos desses animais falhou. E o mercado negro de chifres cresce – 1 kg de chifre chega a R$ 130 mil (1 kg de ouro é R$ 100 mil).

E a matança desses bichos magníficos aumentou assustadoramente: sete animais em 2000; 668, ano passado. Motivo principal: a medicina chinesa, que atribui ‘poderes’ a esses pelos compactados (e não osso). Nessa taxa, em duas décadas, talvez, os rinocerontes estejam extintos.
Cerca de 5 mil rinocerontes, em áreas de conservação, dariam conta da demanda global. E os lucros iriam para a proteção desses animais
 
A demanda global, dizem os autores, pode ser suprida com o corte ‘humanizado’ do chifre de animais vivos ou mortos por causas naturais – um adulto produz quase 1 kg de chifre por ano. Cerca de 5 mil deles, em áreas de conservação, dariam conta. E os lucros iriam para a proteção desses animais.
Essa oferta diminuiria (muito) o preço do produto ilegal, tornando o mercado negro não atrativo. Uma Organização Central de Vendas supervisionaria o comércio, legitimando o produto vindo do corte legal.
Em 1965, em artigo no The Sunday Times, a escritora e ativista britânica Brigid Brophy (1929-1995) disse que, de hoje, parece incrível que os filósofos gregos não tenham notado a imoralidade da escravidão. “Talvez, daqui a 3 mil anos, pareça igualmente incrível que nós não tenhamos notado a imoralidade de nossa opressão contra os animais.” Essas ideias de Brophy foram fundamentais para desencadear o movimento de proteção aos animais na Inglaterra.

Jacarés são criados em fazendas. E isso impediu que eles fossem extintos por causa da pele. Há vários outros exemplos semelhantes de bichos que estão entre nós porque algo parecido foi feito em relação a eles.
Jacarés são criados em fazendas. E isso impediu que eles fossem extintos por causa da pele
Alguns militantes ecológicos defendem que bastaria os humanos serem vegetarianos, não usarem produtos de couro – e não acreditarem em bobagens sem fundamentação científica que envolvem a morte dos animais. Nas palavras (duras, porém realistas) de Brophy: “Nós empregamos o trabalho deles; nós os comemos e os vestimos. Nós os exploramos para que sirvam a nossas superstições”.
Neste momento, autoridades estão discutindo a proposta em Bangcoc (Tailândia). E, talvez, o destino dos rinocerontes neste século. Com ou sem chifres. A proposta está na revista Science.

Cássio Leite VieiraCiência Hoje/ RJ

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