quinta-feira, 16 de abril de 2015

O Brontossauro está de volta

Novas pesquisas encontram fortes indícios da existência do dinossauro 

Charles Q. Choi
 
SHUTTERSTOCK

Alguns dos maiores animais que já perambularam pela Terra foram os grandes dinossauros de pescoço e cauda longos, conhecidos como saurópodes.

O mais famoso desses gigantes provavelmente foi o brontossauro, ou “lagarto trovão”.

Mas, por mais enraizado que esse titã esteja no imaginário popular, cientistas acreditaram por mais de um século que ele de fato jamais existiu.

O primeiro exemplar do gênero Brontosaurus foi batizado em 1879 pelo renomado paleontólogo Othniel Charles Marsh e esse espécime ainda está em exibição no Grande Salão do Museu Peabody de História Natural da Yale University, em New Haven, Connecticut.

Em 1903, porém, Elmer Riggs, outro paleontólogo, julgou que o Brontossauro aparentemente era do mesmo gênero que o Apatossauro (Apatosaurus), que Marsh havia descrito originalmente em 1877.

Nesses casos, as regras da nomenclatura científica determinam que o nome mais antigo deve ter prioridade, condenando o Brontossauro, portanto, a mais uma extinção.

Não mais. Um novo estudo sugere ressuscitar a colossal criatura.

Depois de muitas análises, cientistas chegaram à conclusão que os fósseis originais de brontossauros e apatossauros parecem suficientemente diferentes para pertencerem a grupos distintos.

“Em geral, um brontossauro pode ser mais facilmente distinguido de um apatossauro por seu pescoço mais longo e mais estreito”, explica o principal autor do estudo Emanuel Tschopp, um paleontólogo de vertebrados na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.

“Portanto, embora os dois sejam animais tremendamente massivos e robustos, apatossauros são ainda mais extremos que brontossauros”.

O estudo, de quase 300 páginas, analisou 477 características físicas diferentes em 81 espécimes de saurópodes; uma empreitada que envolveu cinco anos de pesquisa e numerosas visitas a coleções de museus na Europa e nos Estados Unidos.

O objetivo inicial da pesquisa era esclarecer as relações entre as espécies que compõem a família dos saurópodes, conhecidas como diplodocídeos, ou membros da família Diplodocidae, que inclui diplodocos, apatossauros e agora brontossauros.

Os cientistas concluíram que existem três espécies conhecidas de brontossauros: Brontosaurus excelsus, o primeiro a ser descoberto, B. parvus e B. yahnahpin.

Tschopp e seus colegas Octávio Mateus e Roger Benson detalharam suas descobertas on-line em 7 de abril no megaperiódico científico revisado por pares e de acesso aberto PeerJ.

“Estamos muito felizes com a volta de Brontosaurus”, festejou Jacques Gauthier, curador de paleontologia de vertebrados e zoologia de vertebrados no museu Peabody, que não participou do estudo.

“Cresci sabendo [tudo] sobre brontossauros, e que nome imponente lhe deram ‘lagarto trovão’. Nunca gostei que tivesse sido rebaixado e fundido em apatossauros”.

Para Mike Taylor, paleontólogo de vertebrados na University of Bristol, na Inglaterra, que não participou dessa pesquisa, a coisa mais empolgante sobre o novo estudo é “a magnífica abrangência do trabalho que o grupo realizou, as ilustrações lindamente detalhadas e informativas, e o extremo cuidado para tornar todo o trabalho reproduzível e verificável. Ele realmente estabelece um novo padrão. Sinto uma profunda admiração pelos autores”, elogiou.

Outro paleontólogo de vertebrados, Mathew Wedel da Western University of Health Sciences, em Pomona, na Califórnia, que também não colaborou no artigo, concorda e vai além: “a incrível quantidade de trabalho envolvida aqui é a base na qual outras pesquisas se fundamentarão durante décadas futuras”.

Tschopp salienta que há uns 15 anos ou mais a pesquisa do grupo teria sido impossível nesse nível de detalhe.

Foi só graças a muitas descobertas recentes de dinossauros similares a apatossauros e brontossauros que pudemos reexaminar o quanto essas criaturas de fato eram diferentes, e insuflar nova vida no brontossauro, observa ele.

Embora Kenneth Carpenter, diretor e curador de paleontologia no Eastern Prehistoric Museum da Utah State University (USU), considere o estudo impressionante, ele ressalta que o fóssil no qual o apatossauro se baseia nunca foi descrito em detalhes, e sugere que os pesquisadores deveriam ter feito isso, se quisessem compará-lo a brontossauros.

“Afinal, o brontossauros é válido?”, pergunta ele e acrescenta: “Talvez. Mas acho que o veredito ainda não é final”.

Considerando-se tudo, as novas conclusões enfatizam que “saurópodes eram muito mais diversificados e fascinantes que imaginávamos”, opina Taylor.

De fato, reconhecer o brontossauro separadamente de apatossauros só é “a ponta do iceberg”, prevê ele.

“O imenso apatossauro montado no Museu Americano de História Natural provavelmente também é algo diferente, ou novo, que ainda tem de ser classificado e batizado. E é possível que outro apatossauro muito completo, exposto em um museu em Tóquio, seja mais um dinossauro inédito e distinto”.

Essa recém-descoberta diversidade de saurópodes enfatiza “que o [período] Jurássico na América do Norte em que esses animais viviam pode ter sido um tempo bem esquisito”, analisa Wedel.

“Você basicamente teve uma explosão dessas ‘coisas’ em ambientes que poderiam ter sido muito rigorosos e inclementes, o que leva à pergunta como eles poderiam ter encontrado alimentos suficientes para sustentar todos eles”.

Em outras palavras: a pesquisa que ajudou a ressuscitar o brontossauro também pode ter originado novos mistérios.

 Publicado em Scientific American em 7 de abril de 2015.

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