quarta-feira, 18 de maio de 2016

Pseudofósseis

Certo dia, eu estava no sítio do meu pai observando algumas rochas, quando notei algo diferente. Em uma delas eu podia identificar nitidamente algo que parecia ser uma alga ou planta fossilizada. Fiquei muito feliz, pois pensei ter descoberto um fóssil!
No alto da empolgação tirei uma foto da rocha e imediatamente enviei aos meus amigos paleontólogos. Foi ai que veio a decepção. Não se tratava de um fóssil de planta e sim de um PSEUDOFÓSSIL. Aproveitando essa minha descoberta, venho até vocês por meio desta postagem para explicar o que é um pseudofóssil e entender as diferenças entre estes e os fósseis verdadeiros.
O que é um pseudofóssil?

Os chamados ''pseudofósseis'' (do grego pseudós = falso), como o próprio nome diz, não são fósseis verdadeiros. Essas estruturas de origem inorgânica enganam muita gente e recebem esse nome apenas porque sua aparência assemelha-se muito à de estruturas orgânicas fossilizadas. O exemplo de pseudofóssil mais comum são os chamados "dendritos".

Dendritos - Fonte: http://dept.sfcollege.edu/
Dendrito é uma palavra de origem grega, em que "Dendron" significa árvore. "Dendrito" refere-se a formas semelhantes à ramificações de uma árvore (veja a imagem ao lado), que podem estar presentes em vários tipos de rochas. Porém, apesar da aparência, nada mais são do que minerais.
Dendritos ocorrem principalmente em fraturas de algumas rochas ou entre camadas de rochas, daí a grande ocorrência em rochas sedimentares (rochas em que normalmente ocorrem os fósseis).

Mas como os dendritos são formados?

Dendritos de manganês (pseudofóssil)
A água que normalmente penetra nos espaços vazios da rocha pode trazer dissolvida vários tipos de íons. Quando essa água cheia de sais encontra uma fenda ou um espaço horizontal nos pacotes rochosos, ela normalmente perde velocidade e então passa a escoar nesse plano. A perda de velocidade favorece o acúmulo de íons, que se precipitam e formam estruturas complexas de aspecto ramificado, ou melhor dizendo: dendríticas. Os dendritos, portanto, não se formam junto com a rocha e sim, desenvolvem-se depois que ela já existia!

Dendritos de manganês são muito comuns em rochas sedimentares. Estes possuem uma coloração de cinza escura a preta. Nos depósitos sedimentares brasileiros, dendritos de manganês têm destacada ocorrência nas lajes calcárias do Araripe, sendo facilmente confundidos com "samambaias fósseis" e também no famoso arenito Botucatu.

Qual a diferença entre um fóssil e um pseudofóssil? 
Bem, para começar  a entender a diferença entre fóssil e pseudofóssil vamos primeiramente conceituar o que é um fóssil:

Fósseis são restos ou vestígios de organismos que viveram há milhares ou milhões de anos e foram preservados nas rochas.

Por "restos", entende-se a preservação direta de partes do corpo de organismos, como ossos, dentes, troncos ou conchas. E por "vestígios" entende-se a preservação de evidências indiretas da existência do organismo, como a impressão ou molde da sua superfície corporal, ou o resultado de sua atividade no substrato ou comportamento, como pegadas, escavações ou fezes fossilizadas.

Verdadeira planta fossilizada. Foto: Howard Falcon

Em contraposição, pseudofósseis, como os dendritos, não são de origem orgânica. Eles não representam organismos extintos e nem partes deles. Muito menos são o resultado de sua atividade no substrato. Pseudofósseis são simplesmente estruturas que se assemelham muito à formas orgânicas, porém não passam de resultados de precipitação química


Presenciando um Engano                                                                         

No museu de Bocaiuva (MG) há vários artefatos históricos que relembram a cultura dos antigos cidadãos dessa cidade.  Além disso, esse museu conta com um grande acervo de rochas e minerais.
Na foto podemos ver o erro; A dendrite classificada como
se fosse o fóssil de alguma alga
Ano passado, ao visitar este museu  para coletar informações que me ajudariam em um trabalho de geologia do meu curso, notei algo curioso. Estava andando pelos corredores do museu, quando cheguei a ala das rochas e minerais. Observando aquela incrível variedade de formas e cores, notei a presença do uma peça bem peculiar. Ela estava classificada como um fóssil de alga. Porém, não me deixei enganar. Eu estava bem informado.

Observando melhor, pude perceber que aquilo não era um fóssil. Já havia me confundido antes e aprendido a diferenciar! Aquilo era um pseudofóssil. Um dendrito, para melhor classificar.

Fotografei o dendrito e mandei para quem realmente entende do assunto. O resultado foi como esperado, era realmente um pseudofóssil.

Confesso que até hoje não avisei ao museu sobre este erro de classificação. Entretanto, mandei uma mensagem para a página do museu no facebook avisando sobre o engano. Diante de acontecimentos como este que é notamos o quanto a divulgação científica deve ser valorizada e chegar ao máximo de pessoas possível.
Referências:
http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Dendritos%3A-belos,-mas-falsos-fosseis-2563.html

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