sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Região de Piracicaba ganhará mapa de solos

12 de agosto de 2016

Elton Alisson | Agência FAPESP – Os agricultores da região de Piracicaba, no interior de São Paulo, poderão contar, nos próximos anos, com informações para auxiliá-los a estimar o potencial de produção de suas lavouras de acordo com o tipo da terra do local onde estão situadas.
Pesquisadores do Departamento de Ciência do Solo da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo um mapa digital de solos (pedológico) que compreenderá 240 mil hectares da região de Piracicaba.

Elaborado no âmbito de um Projeto Temático realizado com apoio da FAPESP e coordenado por José Alexandre Demattê, professor da Esalq-USP, o mapa de solos será disponibilizado gratuitamente na internet após ser concluído.

“Pretendemos desenvolver por meio de geotecnologias [tecnologias para coleta, processamento, análise e disponibilização de informação com referência geográfica] um mapa de solos detalhado de Piracicaba, importante região produtora de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo”, disse Demattê, à Agência FAPESP.
Região de Piracicaba ganhará mapa de solos
Caracterização dos tipos de solo por pesquisadores da Esalq-USP permitirá aos agricultores da região estimar com maior precisão qual a melhor época de plantio e colheita das culturas que produzem ( Imagens: mapas de teor de matéria orgânica (à esquerda) e da capacidade de troca catiônica do solo/Grupo Geotecnologias em Ciência do Solo da Esalq/USP) .

Elaborado no âmbito de um Projeto Temático realizado com apoio da FAPESP e coordenado por José Alexandre Demattê, professor da Esalq-USP, o mapa de solos será disponibilizado gratuitamente na internet após ser concluído.
“Pretendemos desenvolver por meio de geotecnologias [tecnologias para coleta, processamento, análise e disponibilização de informação com referência geográfica] um mapa de solos detalhado de Piracicaba, importante região produtora de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo”, disse Demattê, à Agência FAPESP.

De acordo com o pesquisador, o mapa pedológico visa identificar os tipos de solos existentes em uma determinada área em termos de profundidade, concentração de matéria orgânica, textura, composição química e física, entre outros dados.
Com base nessas informações, o agricultor poderá tomar decisões mais assertivas sobre qual a melhor época de plantio e colheita de uma cultura agrícola em função do tipo de solo, como um latossolo médio-arenoso, que seca rápido, ou argissolo, por exemplo, que, ao contrário do latossolo, armazena muita água.

Além disso, o agricultor pode ter indicações de locais onde se perde mais terra por erosão, por exemplo, explicou o pesquisador.
“O mapa de solos pode ajudar o agricultor a fazer um planejamento de qual cultura plantar, além de qual a melhor época de plantio e de colheita e, dessa forma, obter maiores ganhos de produtividade”, afirmou Demattê.
“Já para o gestor público, o mapa de solos possibilita avaliar se está subestimando ou superestimando o potencial de produção de uma cultura, como a cana-de-açúcar, em uma determinada região e fazer o manejo de microbacias hidrográficas”, disse.

Carência de informações

Os mapas de solos são utilizados no planejamento de produção de diferentes culturas em países que são grandes produtores agrícolas.
No Brasil, um dos maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo, essa ferramenta tem sido mais usada na plantação de cana-de-açúcar, contou o pesquisador.
“Há uma correlação entre o tipo de solo e a variedade de cana”, explicou. “Há variedades de cana rústica que podem ser plantadas em um solo fraco e tem outras que necessitam de um solo rico em nutrientes e água”, comparou.
Esse tipo de informação, contudo, está restrito hoje apenas às usinas produtoras de açúcar e álcool, afirmou o pesquisador.


“Há uma carência de informações sobre tipos de solo no Brasil, que geralmente são subestimadas pelos produtores agrícolas, mais preocupados hoje com a fertilidade do solo e com a quantidade de adubo que precisarão colocar para aumentar sua produtividade. Mas os tratos químicos e físicos do solo devem ser feitos apenas depois de se conhecer o tipo de solo”, ressaltou.
Segundo ele, a maioria dos agricultores costuma pular a fase do conhecimento do tipo do solo, o que os impede de atingir o máximo de produtividade local, mesmo que apliquem grandes quantidades de fertilizantes.
“Ao colocar uma planta em solo não adequado, o produtor pode usar o máximo de fertilizantes para aumentar sua produtividade que não conseguirá atingir esse objetivo”, afirmou.
“Hoje os produtores gastam muito com análises de solo e aplicação de fertilizantes e sistemas de agricultura de precisão sem saber o tipo de solo em que estão plantando”, ressaltou.

Construção do mapa

Para construir o mapa pedológico, os pesquisadores usarão sensores remotos instalados em satélites, aviões, veículos aéreos não tripulados (VANTs), em campo e em laboratório, para obter o melhor detalhamento da região.

Além disso, farão perfurações em diversos pontos da região a fim de obter dados e, dessa forma, classificar o tipo de solo correlacionando-o com o relevo do local.
Um software, baseado em uma tecnologia denominada “mapeamento digital de solos”, apontará outros lugares com solos semelhantes aos perfurados pelos pesquisadores em função do relevo.
“A ideia é produzir um mapa de solo da região de Piracicaba com nível detalhado [que permite diferenciar os elementos em uma paisagem e ajudar os produtores e gestores a tomar decisões que resultem em ganhos de produtividade]”, disse Demattê. “Apenas 0,1% dos mapas de solo disponíveis no Brasil hoje são detalhados”, comparou.
Além de Piracicaba, o mapa de solos contemplará áreas rurais dos municípios de Águas de São Pedro, Charqueada, Iracemápolis, Mombuca e Rio das Pedras, que unidas somam mais de 240 mil hectares.

A meta, contudo, é, no futuro, replicar as metodologias geotecnológicas para o Estado de São Paulo e, posteriormente, para o país.
“Estamos tentando viabilizar, por meio da Rede Brasileira de Mapeamento Digital de Solos do Brasil, grandes projetos como os que foram feitos na década de 1970, quando foram elaboradas cartas de solo de todo o país”, afirmou.

Os mapas de solos do Brasil elaborados naquela época, contudo, tinham como objetivo conhecer melhor a geologia do país para exploração de minérios e avaliar a aptidão agrícola das terras; são pouco detalhados e com baixa escala, contou o pesquisador.
“Precisamos ter agora mapas de solos voltados para aplicação na agricultura. Os estudos nessa área estão cada vez mais avançados em diversos países, como Israel, Alemanha, França, Estados Unidos, Austrália e China, entre outros”, listou.

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