domingo, 27 de março de 2016

Por que a cor do mar varia tanto?

Por: Marcus V. Cabral

A cor depende de quais sedimentos, detritos e organismos vivos estão dissolvidos na água. Fatores como a areia das praias também influenciam. "Se a areia for clara, acaba refletindo mais a luz do Sol, causando a impressão de que a água é mais clara no raso do que em áreas mais profundas", diz Flávia Saldanha-Corrêa, bióloga e pesquisadora do Instituto Oceanográfico da USP.

Tom sobre tom
Micro-organismos e sedimentos dão diferentes cores ao oceano
 
Azul
Devido a características físicas próprias de suas moléculas, a água absorve mais as cores com comprimento de onda maior, como o vermelho e o laranja. Por isso, ao receber a luz do Sol, ela reflete mais o azul, que, próximo ao violeta, é uma das cores com menor comprimento de onda do espectro de luz visível a nossos olhos

Verde
O tom esverdeado pode ser fruto da presença de muita matéria orgânica dissolvida ou do fitoplâncton, conjunto de algas microscópicas que vivem dispersas na água e constituem a base da cadeia alimentar marítima. Esses organismos possuem clorofila, o pigmento responsável pela fotossíntese, que apresenta cor verde

Marrom
Essa cor é comum em áreas próximas à desembocadura de rios, em que há uma grande quantidade de sedimentos minerais ricos em ferro, que dão uma cor lamacenta. Esses sedimentos se desprendem das rochas quando elas são lavadas pela água e, ao se acumularem no mar, acabam dando à água vários tons de marrom

Preto
Comum em mangues, a água preta ocorre pela presença abundante de ácido húmico, resultado da biodegradação de outros materiais orgânicos, como vegetais e animais. O mar Negro, no sudeste da Europa, também tem água de coloração escura - a explicação está no excesso de sedimentos minerais com coloração escura

Vermelho
Organismos do plâncton, como algumas cianobactérias, o dinoflagelado Gymnodinium sanguineum e o ciliado Mesodinium rubrum, têm um pigmento chamado ficoeritrina. Em grande densidade, esses organismos podem deixar a água avermelhada. Provavelmente, o mar Vermelho recebeu esse nome por causa desse fenômen

segunda-feira, 21 de março de 2016

Genoma do amendoim é sequenciado

Mapeamento foi feito com duas espécies silvestres ancestrais; informações podem auxiliar na busca de variedades mais resistentes
RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 13:08 22 de fevereiro de 2016
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© DAVID BERTIOLI / UNB
Espécies silvestres deram origem ao amendoim comercial
A. duranensis (esquerda) e A. ipaensis: espécies silvestres deram origem ao amendoim comercial há cerca de 10 mil anos

Um grupo internacional de pesquisadores deu um passo para, no futuro, obter variedades de amendoins resistentes a fungos que causam doenças e comprometem a qualidade da planta. Eles concluíram o sequenciamento do genoma de duas espécies silvestres ancestrais, parentes próximas do amendoim hoje cultivado nos cerca de 24 milhões de hectares espalhados pelo mundo. O amendoim consumido atualmente é resultado de um cruzamento entre a Arachis duranensis e a Arachis ipaensis, ocorrido naturalmente há cerca de 10 mil anos, possivelmente no norte da Argentina. Por ser fruto do cruzamento de duas espécies distintas, o amendoim comercial tem dois genomas, chamados subgenomas A e B – cada célula dessa espécie abriga quatro cópias de cada cromossomo, em vez das duas habituais, ou seja, é uma espécie tetraploide. Esses subgenomas são bastante semelhantes entre si, o que dificulta o mapeamento de cada um deles separadamente.

Em um estudo publicado nesta segunda-feira, 22, na revista Nature Genetics, os pesquisadores, entre eles o botânico inglês David John Bertioli, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), resolveram o problema sequenciando o genoma das duas espécies silvestres, coletadas há décadas por botânicos nas encostas dos Andes, na Bolívia e na Argentina. Cada um dos dois genomas tem mais de 1 bilhão de pares de bases — o genoma humano, para se ter uma ideia, tem 3 bilhões de pares. No estudo, os pesquisadores analisaram as similaridades entre os DNAs das espécies silvestres e o do amendoim cultivado (híbrido). Fazendo isso, conseguiram inferir a estrutura do genoma do amendoim cultivado. “Isso nos fornece dados moleculares importante do amendoim que poderá nos ajudar a produzir variedades tolerantes à seca, resistentes a doenças, mais produtivas e que demandam menos defensivos para sua produção”, diz Bertioli.

Os pesquisadores identificaram regiões genômicas que conferem resistências contra doenças e pragas, como ferrugem e nematoide da galha. A primeira causa pontos amarelados visíveis na superfície dos folíolos causados por fungos e que podem dizimar até 70% da produção; o segundo é um verme que se instala nas raízes das plantas e reduz a absorção e o transporte de água e de nutrientes para ela, comprometendo ou até mesmo inviabilizando a cultura.

O que realmente chamou a atenção é que o genoma da outra espécie silvestre, A. ipaensis, apresentou-se como um tipo de relíquia viva, praticamente idêntico ao subgenoma B do amendoim moderno. A comparação entre as sequências de DNA silvestre e do subgenoma B do amendoim cultivado indicou que elas são 99,96% idênticas, uma semelhança sem precedentes. “É quase como se o DNA tivesse sido amostrado da mesma planta que deu origem ao amendoim cultivado, mantida em um jardim pré-histórico”, comenta. Segundo Bertioli, os genomas das duas espécies parentais proporcionam excelentes modelos para o estudo do genoma do amendoim cultivado, A. duranensis servindo como um modelo para o subgenoma A, e A. ipaensis, para o subgenoma B.

O estudo faz parte de um projeto mais amplo, chamado Peanut Genome Initiative, envolvendo pesquisadores de Estados Unidos, China, Índia, Israel e Brasil, com o objetivo de sequenciar o genoma do amendoim, caracterizar sua variação genética e fenotípica e seus parentes silvestres, ou mesmo desenvolver ferramentas genômicas para a obtenção de variedades melhoradas. Além da alimentação, o amendoim é uma fonte potencial para a produção de biodiesel – algumas variedades chegam a produzir até 50% de óleo para a mesma. O sequenciamento do genoma das espécies silvestres, e sua comparação com os subgenomas do amendoim que conhecemos, foi o primeiro passo do projeto. Os pesquisadores agora pretendem sequenciar o genoma completo do amendoim cultivado.

Artigo científico

BERTIOLI, D. J. et al. The genome sequences of Arachis duranensis and Arachis ipaensis, the diploid ancestors of cultivated peanut. Nature Genetics. fev. 2016.

A maior diversidade de plantas do mundo

Botânicos registram 46 mil espécies e identificam em média 250 por ano no Brasil
CARLOS FIORAVANTI | ED. 241 | MARÇO 2016
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© CLAUDIO NICOLETTI FRAGA / JBRJ
Bromélias Encholirium fragae crescem sobre um afloramento de rocha calcária do município de São Desidério, Bahia
Bromélias Encholirium fragae crescem sobre um afloramento de rocha calcária do município de São Desidério, Bahia.

Depois de sete anos de trabalho, um grupo de 575 botânicos do Brasil e de outros 14 países concluiu a versão mais recente de um amplo levantamento sobre a diversidade de plantas, algas e fungos do Brasil, agora calculada em 46.097 espécies. Quase metade, 43%, é exclusiva (endêmica) do território nacional. O total coloca o Brasil como o país com a maior riqueza de plantas no mundo – a primeira versão do levantamento, publicada em 2010, listava 40.989 espécies. Esse número não vai parar de crescer tão cedo porque novas espécies são identificadas e descritas continuamente em revistas científicas. Em média, os botânicos apresentam cerca de 250 novas espécies por ano.

Os cinco artigos detalhando a segunda versão da Lista de espécies da flora do Brasil foram publicados em dezembro do ano passado na Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), como forma de prestigiar a revista, que completou 80 anos em 2015. Dali também brota um alerta para as perdas contínuas de variedades únicas de plantas. Enquanto o levantamento era feito, um grupo de botânicos identificou uma espécie nova de bromélia com uma inflorescência vermelha, a Aechmea xinguana, em uma área de mata já coberta pela água do reservatório da usina de Belo Monte, em construção no norte do Pará. “Alguns exemplares dessa espécie foram resgatados e estavam na casa de vegetação do reservatório, mas as populações naturais se perderam na área alagada”, disse Rafaela Campostrini Forzza, pesquisadora do JBRJ e coordenadora do levantamento.

O trabalho não terminou. Neste mês de março os especialistas em cada grupo de plantas devem começar a incluir as descrições, distribuição geográfica detalhada e outras características de cada espécie no banco de dados on-line Flora do Brasil (floradobrasil.jbrj.gov.br) para servir de base para o Flora do Brasil Online, que deve estar concluído até 2020 para integrar o World Flora Online, com informações sobre todas as plantas conhecidas do mundo. Na trilha dos botânicos, os zoólogos se organizaram e apresentaram também em dezembro de 2015 a primeira versão do Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (CTFB), resultado do trabalho de cerca de 500 especialistas, que começaram a detalhar as informações sobre 116.092 espécies, a maioria artrópodes, com quase 94 mil espécies ou 85% do total (fauna.jbrj.gov.br/fauna/listaBrasil).
© DENISE SASAKI/PROGRAMA FLORA CRISTALINO
Planta feminina de Gnetum leyboldii do Parque Estadual Cristalino, no Mato Grosso, uma das seis espécies de Gnetum  da Amazônia: o que parece frutos são na verdade sementes
Planta feminina de Gnetum leyboldii do Parque Estadual Cristalino, no Mato Grosso, uma das seis espécies de Gnetum da Amazônia: o que parece frutos são na verdade sementes.

Elaborado a pedido do Ministério do Meio Ambiente, com financiamento do governo federal, instituições privadas e fundações estaduais como a FAPESP, o Flora do Brasil indica que a Amazônia abriga a maior diversidade do grupo das plantas sem frutos e com sementes expostas, as gimnospermas, que predominaram de 300 milhões até 60 milhões de anos atrás, quando os dinossauros circulavam pela Terra. Seus representantes mais conhecidos são árvores em formato de cone típicas do clima frio do sul do país, como a araucária, com uma única espécie no Brasil, e quatro espécies de Podocarpus. Dispersas nas matas da região Norte, porém, vivem seis espécies de cipós de folhas largas do gênero Gnetum, que crescem sob o clima quente e úmido ao redor de árvores. Suas sementes vermelhas ou lilases são tão parecidas com frutos que já confundiram até os botânicos.
© GERARDUS OOLSTROM
Rhipsalis flagelliformis, espécie de cacto exclusiva do Rio de Janeiro
Rhipsalis flagelliformis, espécie de cacto exclusiva do Rio de Janeiro.

Os quase 50 mil exemplares de espécies nativas colocam o Brasil como o país con-tinental com maior diversidade de espécies do mundo, seguido por China, Indonésia, México e África do Sul. Em número de espécies endêmicas, perde apenas para grandes ilhas como Austrália, Madagascar e Papua Nova Guiné, cujo isolamento favorece a formação de variedades únicas, e para apenas uma área continental, o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. O total de espécies não chega aos 60 mil das estimativas mais otimistas, mas é maior que o da Colômbia, antes vista como o país da América do Sul com maior diversidade, e é mais que o dobro das 22.767 espécies descritas na monumental Flora brasiliensis, coleção de 15 volumes e 10.367 páginas escrita por 65 botânicos de vários países sob a coordenação de Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban, e publicada de 1840 a 1906.

Na Flora brasiliensis, o grupo predominante, com 32.813 espécies, são as plantas com sementes protegidas por frutos carnosos ou secos, as chamadas angiospermas. Nesse grupo estão as árvores como o ipê e o jacarandá, a roseira e outras espécies ornamentais, o feijão, o amendoim, o milho e a maioria dos vegetais usados na alimentação. Somente de feijões, pertencentes aos gêneros Vigna, Canavalia e Phaseolus, a flora brasileira registra cerca de 30 espécies nativas e naturalizadas, “a maioria delas com um potencial para a alimentação humana ainda pouco investigado”, comentou Vinicius Souza, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) que participou da produção e organização das informações desse trabalho.
042-047_Botanica_241As angiospermas se espalharam quando o clima se tornou quente e úmido, depois da extinção dos dinossauros. As mudanças do clima eliminaram a maioria das gimnospermas, hoje raras em todo o mundo: os botânicos encontraram apenas 30 espécies, sendo 23 nativas, desse grupo no Brasil. Por sua vez, as samambaias e as licófitas – plantas sem sementes e sem flores, que se reproduzem por esporos, também com origem antiga – estão representad​as por 1.253 espécies no Brasil​; algumas ​delas ​atingem 20 metros de altura, lembrando as variedades gigantes que marcavam a paisagem terrestre há 300 milhões de anos.

Alegria e inquietação
 
Os botânicos agora convivem com a satisfação de ver mais uma etapa do projeto concluída e, ao mesmo tempo, uma desagradável inquietação, porque eles sabem que a distribuição geográfica das coletas de amostras de plantas, sobre as quais o trabalho foi feito, não era equilibrada: havia muito mais informações sobre as regiões Sul e Sudeste, onde se concentram as coletas, os grupos de especialistas e as instituições de pesquisa, do que nas outras partes do país. Enquanto no Rio de Janeiro havia 5,8 coletas por quilômetro quadrado (km2) e no Espírito Santo, 3,9 por km2, no Pará e no Amazonas essa relação era de 0,10 e 0,17 por km2.

Provavelmente por causa do número de coletas aquém do desejado pelos botânicos, o estado do Amazonas aparece em terceiro lugar entre os estados com maior diversidade, seguindo Minas Gerais, em primeiro, e Bahia. Os botânicos não estão satisfeitos com esse resultado. “No Amazonas poderia haver pelo menos mais 20 mil espécies ainda não amostradas”, disse Souza.
São Paulo encontra-se em quarto lugar de diversidade. Além de ser um espaço bastante percorrido por expedições botânicas, o estado apresenta uma variedade de relevos, com planícies a oeste e montanhas a leste, e de tipos de vegetação que favorecem a formação de novas espécies. “Tanto as formações vegetais de clima frio que vêm do sul quanto as de clima quente, como o Cerrado, param em São Paulo”, disse José Rubens Pirani, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP (ver tabela).

“Infelizmente, mantivemos a distorção do trabalho de Von Martius, que coletou principalmente na Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado e andou pouco pela Amazônia”, comentou Rafaela. “Precisamos de um plano nacional de mapeamento das espécies de plantas da Floresta Amazônica para resolver o problema da subamostragem do maior bioma brasileiro, que representa metade do território nacional.”
© EDUARDO CESAR
Em aclimatação na capital paulista: flor e fruto de Euphorbia attastoma, cacto endêmico da serra de Grão Mogol, MG, com látex fosforescente
Em aclimatação na capital paulista: flor e fruto de Euphorbia attastoma, cacto endêmico da serra de Grão Mogol, MG, com látex fosforescente.

Elaborado com informações mantidas em herbários e em bases on-line como o Reflora, atualmente com 1.390.218 registros de plantas nativas (ver Pesquisa FAPESP nº 229), o levantamento apontou a Mata Atlântica como o bioma com maior diversidade de angiospermas, samambaias, licófitas e fungos, em razão de coletas mais numerosas e da variedade de altitudes, climas e latitudes. Em segundo lugar está a Amazônia e em terceiro, o Cerrado.

“Ainda estamos longe dos prováveis números reais”, observou Souza. “Quanto maior o número de coletas por região ou estado, maior o número de espécies.” Uma evidência de sua afirmação é que, por causa das coletas mais numerosas, a diversidade de plantas do Tocantins aumentou 70% e a do Piauí, 40%, em relação ao registrado na primeira versão da Flora, de 2010. “Não estávamos trabalhando lá e as plantas não apareciam”, comentou Pirani. Em 2013, com sua equipe, ele identificou uma espécie nova de arbusto, Simaba tocantina, em uma área de Cerrado pouco conhecida no interior e nas proximidades do parque do Jalapão, leste do Tocantins, marcada por vastos areais como os descritos no livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

Na região Norte, as áreas menos estudadas são as mais propícias ao avanço das novas plantações de soja e cana-de-açúcar. “O desmatamento é muito mais rápido do que nossa capacidade de conhecer a floresta”, queixou-se a botânica paulista Daniela Zappi, pesquisadora do Kew Gardens, de Londres. “É um desespero. Parece que não vai dar tempo de chegar nessas áreas, principalmente no Arco do Desmatamento, entre o norte do Mato Grosso e o sul do Pará.”
As cactáceas, um dos grupos em que ela é especialista, apresentam uma elevada diversidade no Brasil – em Minas vivem 103 espécies e na Bahia, 98 –, mas 32% das 260 espécies desse grupo encontram-se em grau variável de risco de extinção. As áreas que ocupam são continuamente substituídas por plantações de eucalipto, agricultura ou mineração. Os cactos são explorados como plantas ornamentais e colhidos para servir como alimento para o gado ou para pessoas, que também os usam como fonte de medicamentos, geralmente sem se preocupar em repor as populações originais. Outro problema é que muitas espécies crescem apenas em áreas específicas. É o caso do Arrojadoa marylaniae, um cacto colunar com anéis de flores vermelhas que cresce apenas sobre uma jazida de quartzo branco de valor comercial no interior da Bahia.
© EDUARDO CESAR
Flor de japaranduba (Erythrochiton brasiliensis), arvoreta do interior de trechos inalterados da Mata Atlântica úmida
Flor de japaranduba (Erythrochiton brasiliensis), arvoreta do interior de trechos inalterados da Mata Atlântica úmida.

O trabalho de identificação e estudo da distribuição geográfica de cada espécie está atrelado a um plano de ação, de modo a estudar e favorecer a polinização e germinação de espécies em maior risco de extinção. As ações de preservação incluem a participação de pesquisadores não acadêmicos. Gerardus Oolstrom, um criador de cactos comerciais em Holambra, interior paulista, trabalhou com botânicos acadêmicos na identificação de uma espécie nova, a Rhipsalis flagelliformis, que ele viu pela primeira vez cultivada em um sítio que havia sido do paisagista Roberto Burle Marx no bairro de Guaratiba, na cidade do Rio de Janeiro. “Os colecionadores, quando integrados com os grupos de pesquisa, podem ajudar muito no trabalho de localização e preservação das espécies”, observou Daniela.

Rafaela também trabalha com o advogado Elton Leme, um botânico não profissional, na caracterização de três novas espécies do gênero Encholirium, que vivem entre rochas em morros da Bahia e de Minas Gerais. Por sua vez, pesquisadores da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte espalharam cartazes com o título “Procura-se” e fotos e informações sobre o faveiro-de-wilson, uma árvore rara, e conseguiram localizar muitos exemplares com a ajuda de moradores do interior de Minas (ver Pesquisa Fapesp no 235).
“Não precisamos plantar apenas rosas e azaleias”, propôs Pirani enquanto caminhava pelos corredores amplos e ensolarados do herbário do IB-USP no início de janeiro. “Cultivar plantas ornamentais nativas em nossas casas, nas ruas e nas margens de estradas é uma forma de preservar a diversidade.” Em seguida ele apresentou um arbusto de flores azuis, a canela-de-ema, duas bromélias, o gravatá e a macambira, e outras plantas coletadas na serra de Grão Mogol, norte de Minas Gerais, que ele procura adaptar ao clima da capital. “Aqui chove mais do que em Minas, mas, mesmo assim, algumas delas florescem todo ano.”

Artigos científicos
 
COSTA, D. P. e PERALTA, D. F. Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1063-71. 2015.

MAIA, L. C. et al. Diversity of Brazilian Fungi. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1033-45. 2015.

MENEZES, M. et al. Update of the Brazilian floristic list of Algae and Cyanobacteria. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1047-62. 2015.

PRADO, J. et al. Diversity of ferns and lycophytes in Brazil. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1073-83. 2015.

THE BRAZIL FLORA GROUP. Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia. v. 66, n. 4, p. 1085-113. 2015.

Os antigos vulcões de Minas

Há 600 milhões de anos erupções vulcânicas banhavam de lava o que hoje é a bacia do rio Doce
IGOR ZOLNERKEVIC | ED. 241 | MARÇO 2016
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© LEONARDO GONÇALVES / UFOP 
Pão de açúcar no interior de Minas: hoje exposto, bloco rochoso foi parte da raiz do Arco Rio Doce
Pão de açúcar no interior de Minas: hoje exposto, bloco rochoso foi parte da raiz do Arco Rio Doce.

Quem observa a paisagem montanhosa do Sudeste brasileiro não tem como desconfiar de que nessa região, há cerca de 600 milhões de anos, havia uma longa e alta cadeia de vulcões ativos. Naquela época, a forma e a posição dos continentes eram distintas das atuais e essa cordilheira ficava à beira de um golfo, no extremo de um mar estreito, e se estendia por quase 550 quilômetros, indo de onde hoje fica Teófilo Otoni, em Minas Gerais, até quase o Paraná. No auge de sua existência, seus picos podem ter sido tão impressionantes quanto os dos Andes.

Mas talvez nunca se saiba ao certo suas dimensões. Assim como o mar estreito e o antigo continente, essa cordilheira desapareceu, consumida pela erosão. O que resta são fragmentos do leito desse mar e das rochas que formavam a raiz profunda da cadeia de vulcões e hoje afloram em Minas. Esses registros estão ajudando os geólogos a entender a origem e a história evolutiva do chamado Arco Vulcânico do Rio Doce. “Nosso trabalho buscou reconstituir a história e o relevo desse conjunto de montanhas”, conta o geólogo Antônio Carlos Pedrosa Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele e outros 14 pesquisadores descrevem como surgiu e se moldou o Arco Rio Doce em um artigo publicado em novembro no Journal of South American Earth Sciences.

Nesse trabalho, Soares e seus colaboradores coletaram rochas que afloram nos arredores dos municípios mineiros de Governador Valadares e Teófilo Otoni, próximos à divisa com o Espírito Santo, analisaram a sua composição química e a idade dos minerais que as formam. A esses dados, eles uniram informações de estudos anteriores sobre a geologia dos blocos remanescentes dessa cadeia vulcânica para recompor a região, cujos primeiros indícios foram identificados nos anos 1960 pelo geólogo Fernando de Almeida, da Universidade de São Paulo (USP).

Os dados compilados agora confirmam que existe uma variação na idade das rochas do arco: as rochas mais a leste, próximo à divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo, são mais antigas que as mais a oeste, na região entre Teófilo Otoni e Governador Valadares. Essas idades foram determinadas por análises do decaimento de elementos químicos radioativos do mineral zircão feitas em laboratórios da UFMG, da USP, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “É um conjunto de dados muito consistente”, afirma o geólogo. “Análises de laboratórios diferentes, usando métodos diferentes, chegaram às mesmas conclusões.”
060-061_Geologia_240Da determinação das idades das rochas, aliada ao estudo da composição química e da estrutura de seus minerais, emergiu uma história dividida em três capítulos. O Arco Rio Doce teria começado a se formar há 630 milhões de anos, quando os pedaços de continentes que existiam estavam reunidos em um supercontinente próximo ao polo Sul.

De acordo com as análises, em um desses continentes havia uma longa península, formada por um embrião continental muito antigo, envolvendo partes do que hoje é o leste do Brasil e o oeste da África. No interior dessa região, que os geólogos chamam de cráton São Francisco-Congo, havia um mar estreito chamado oceano Adamastor, que era semelhante ao mar Vermelho e se estendia de onde hoje é o estado de São Paulo até a Bahia.

Entre 630 milhões e 605 milhões de anos atrás, o movimento das placas tectônicas teria feito a crosta oceânica na região do Adamastor mergulhar sob o cráton do Congo e iniciar a formação dos vulcões, fenômeno semelhante ao que hoje contribui para a formação dos Andes e a ativação de vulcões no Chile (ver infográfico). Nos 20 milhões de anos seguintes, à medida que o Adamastor fechava, novas montanhas se formavam e o vulcanismo se expandia em direção ao litoral daquele oceano primitivo. Por fim, entre 585 milhões e 575 milhões de anos atrás, quando esse oceano havia praticamente desaparecido, um grande bloco da crosta oceânica que afundava sob a placa continental teria se desprendido e afundado no manto terrestre. Como provável consequência, houve um aquecimento maior da crosta continental e um último episódio de vulcanismo, mais intenso que os anteriores. “Esse teria sido o momento derradeiro da evolução do Arco Rio Doce ”, explica Pedrosa Soares, “quando o mar se fechou e as margens dos crátons de São Francisco e do Congo Ocidental se tocaram”.

Outros grupos já identificaram remanescentes de cadeias vulcânicas do mesmo período no Brasil e em outros países. Nenhuma delas, porém, apresentava história tão fascinante como a do Arco Rio Doce, formado entre dois continentes, à margem de um mar interior. Por causa dessa configuração única, as rochas no extremo norte do arco têm uma composição incomum. Essas rochas são formadas a partir de magma contendo mais crosta continental derretida do que crosta oceânica e foram descritas pelo geólogo Leonardo Gonçalves, da Ufop, um dos colaboradores de Soares, em um artigo recente na revista Gondwana Research.

Segundo a geóloga Mahyra Tedeschi, aluna de doutorado de Pedrosa Soares e primeira autora do artigo no Journal of South American Earth Sciences, falta esclarecer muitos detalhes da história do Arco Rio Doce. “Existem várias formações rochosas que podem integrar o arco, mas ainda precisam ser mais bem estudadas”, ela diz.

Artigos científicos
 
GONÇALVES, L. et al. Granites of the intracontinental termination of a magmatic arc: An example from the Ediacaran Araçuaí orogen, southeastern Brazil. Gondwana Research. 29 ago. 2015.

TEDESCHI, M. et alThe Ediacaran Rio Doce magmatic arc revisited (Araçuaí-Ribeira orogenic system, SE Brazil. Journal of South American Earth Sciences. 26 nov. 2015.

Campo magnético primitivo teria permitido vida na Terra

Estrutura foi fundamental para preservar a atmosfera do planeta e evitar a destruição de moléculas biológicas
RICARDO ZORZETTO | Edição Online 14:38 16 de março de 2016
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© M. WEISS / CFA
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Reconstrução artística da estrela Kappa 1 Ceti, com atividade semelhante à que o Sol deve ter tido quando muito jovem (500 milhões de anos): sem a proteção de um campo magnético, a Terra teria sua atmosfera destruída e se tornaria inabitável.

Consulte um pesquisador que investiga a origem da vida na Terra e provavelmente ouvirá que duas condições foram necessárias para que ela surgisse: a existência de água líquida e de uma atmosfera capaz de reter um pouco de calor e gerar, a partir de moléculas muito simples, outras mais complexas que formam os seres vivos. Esses fatores, porém, parecem não ter sido suficientes. Um estudo publicado nesta quarta-feira (11/3) na revista Astrophysical Journal Letters sugere que a vida no planeta poderia ter sido fulminada bem no início caso bilhões de anos atrás não existisse um escudo magnético como o que o atualmente protege a Terra das partículas e do excesso de radiação emitidos pelo Sol.

Uma equipe internacional coordenada pelo astrofísico brasileiro José-Dias do Nascimento Júnior, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), chegou a essa conclusão depois de investigar ao longo dos últimos anos a atividade da estrela Kappa 1 Ceti, uma espécie de Sol bem jovem. Visível no céu à direita da constelação de Órion, a Kappa 1 Ceti é a décima estrela mais brilhante da constelação da Baleia e, em quase tudo, é semelhante ao Sol: tem praticamente as mesmas massa, temperatura e composição química. Por causa dessas características, os astrofísicos dizem que ela é uma análoga solar (ver Pesquisa FAPESP nº 175). A principal diferença está na idade. A Kappa 1 Ceti tem algo entre 400 milhões e 600 milhões de anos, enquanto o Sol já chegou aos 4,6 bilhões. Como não é possível voltar no tempo, os pesquisadores se baseiam no comportamento das análogas do Sol atrás de pistas de como teria sido o ambiente do Sistema Solar no passado e como pode vir a ser no futuro. Distante apenas 30 anos-luz do Sistema Solar – bem próximo em termos astronômicos –, a estrela chamou a atenção por ter a idade que o Sol teria quando a vida surgiu na Terra, por volta de 3,8 bilhões de anos atrás.
© CFA
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Kappa 1 Ceti, estrela semelhante ao Sol quando jovem, localiza-se no céu próximo à constelação de Órion
Em colaboração com astrofísicos do Observatório do Pic du Midi, nos Pireneus franceses, Nascimento registrou ao longo de meses o comportamento do campo magnético da estrela, que oscila à medida que ela completa, a cada nove dias, uma volta em torno de seu próprio eixo. Nascimento usou essas informações para alimentar um programa de computador que simulou a atividade do campo magnético da Kappa 1 Ceti e calculou a concentração de partículas que ela lança para o espaço. Os resultados mostraram que o campo magnético da estrela é, em média, 50 vezes mais intenso que o do Sol hoje. Também revelaram que os ventos que emanam dela são 50 vezes mais vigorosos do que o vento solar atual e jogam no meio interestelar cerca de 1 quatrilhão de toneladas de matéria por ano.

“Um planeta que estivesse tão distante de Kappa 1 Ceti quando a Terra está do Sol seria bombardeado por uma quantidade de radiação e partículas energéticas suficiente para varrer sua atmosfera e destruir moléculas necessárias à vida, como os aminoácidos”, afirma Nascimento, que também é pesquisador-visitante do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, nos Estados Unidos.

Nascimento, então, simulou o que ocorreria se o hipotético planeta – ainda não se sabe se há planetas orbitando Kappa 1 Ceti – tivesse um campo magnético tão intenso quanto era o da Terra nos primórdios do Sistema Solar. No ano passado o geofísico John Tarduno, da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, conseguiu medir o campo magnético de amostras de zircão com idades variando de 3,3 bilhões a 4,2 bilhões de anos extraídas de uma região no oeste da Austrália e reconstituir o campo magnético terrestre primitivo. Naquele período, quando as primeiras formas de vida provavelmente começaram se formar nos oceanos, o campo magnético do planeta era semelhante ao atual ou apenas um pouco mais fraco.
© ALINE VIDOTTO / OBSERVATÓRIO DE GENEBRA E TRINITY COLLEGE, DUBLIN
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Simulação feita por computador das linhas de campo magnético (cinza) da Kappa 1 Ceti: a atividade magnética da estrela gera um vento de partículas 50 vezes mais intenso do que o vento solar.

Nas novas simulações, Nascimento constatou que aquele campo magnético já seria suficiente para proteger o planeta da fúria de um sol jovem semelhante a Kappa 1 Ceti. Como o vento solar era mais intenso e a quantidade de radiação maior, a chamada magnetopausa – região do espaço em que o campo magnético da Terra forma uma barreira às partículas vindas do Sol – estaria bem mais próxima do planeta. “Hoje a magnetopausa está a cerca de 60 mil quilômetros da Terra, aproximadamente um sexto da distância até a Lua”, explica Nascimento. “No início da existência do Sistema Solar, deve ter ficado a metade ou até um terço dessa distância.” Segundo Nascimento, a radiação vinda do Sol foi importante para a formação das moléculas complexas que deram origem à vida, mas, em excesso, ela poderia ter destruído completamente essas moléculas.

“Naquelas condições, a vida seria extinta em qualquer planeta que estivesse àquela distância do Sol sem a proteção de um campo magnético”, diz o astrofísico. O abrandamento da radiação e do vento solares teria permitido posteriormente a expansão do campo magnético terrestre e a magnetopausa ocupar sua posição atual. “Quem estuda a química da vida terá de passar a levar o efeito do campo magnético em consideração”, conclui Nascimento.

“O trabalho permite ter uma ideia de como era a atividade magnética do Sol quando os primeiros sinais de vida começaram a surgir na Terra”, comenta o astrofísico Jorge Meléndez, da Universidade de São Paulo, que também estuda estrelas semelhantes ao Sol. “A radiação altamente energética naquela época poderia dificultar o surgimento da vida na Terra sem a proteção de um campo magnético.” Enquanto a vida florescia por aqui, o oposto pode ter ocorrido com Marte, planeta que também se encontra na zona considerada habitável do Sistema Solar. “Marte é um caso extremo”, explica Meléndez. O vento solar, especialmente quando o Sol era mais jovem, pode ter varrido a atmosfera marciana porque o planeta não tinha um campo magnético. Além disso, Marte tem uma massa considerada baixa, cerca dez vezes menor que a da Terra, que não foi suficiente para segurar sua atmosfera.

Artigo científico
 
DO NASCIMENTO JR, JD. et al. Magnetic field and wind of Kappa Ceti: towards the planetary habitability of the young Sun when life arose on Earth. Astrophysical Journal Letters. 11 mar. 2016.

Diversidade de dinossauros do Cretáceo brasileiro

Nosso país apresenta uma notável escassez de sedimentos provenientes do período Triássico e também a quase inexistência de fósseis de dinossauros do Jurássico. Porém, um dos maiores tesouros paleontológicos relacionados à dinossauros do Brasil está presente no Cretáceo das Bacias Bauru, São Luís-Grajaú e do Araripe
Iremos conhecer algumas das últimas e principais espécies de dinossauros que aqui, em nossa terra, caminharam.

A Bacia Bauru, o espetáculo dos saurópodes

Os Estados Unidos se destacam por terem possuído uma grande quantidade e diversidade de dinossauros herbívoros ornitísquios, já o Brasil chama a atenção por sua destacada diversidades de dinossauros saurópodes. Durante o final do Cretáceo, grande parte destes gigantes - da família dos titanosauros -, vagavam pelos atuais estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul (atual área coberta pelas rochas da Bacia Bauru).

Os saurópodes titanossaurídeos provavelmente tiveram origem no continente indiano ou africano e acabaram migrando para a América do Sul, aonde encontraram um ambiente propício e evoluíram para diversas novas espécies e gêneros. Acredita-se que grande maioria dos saurópodes que viviam aqui no Brasil eram propensos ao nanismo, ou seja, possuíam um tamanho reduzido em comparação com outras espécies de titanossauros conhecidas, como as da Argentina, por exemplo. O Trigonosaurus pricei, o Aeolosaurus e o Baurutitan britoi são as menores espécies de saurópodess encontradas no Brasil, com um comprimento variando entre 9 à 14 metros. Alguns pesquisadores acreditam que o tamanho reduzido fora decorrente da limitada existência de comida e fontes naturais para a subsistência destes animais.

Reconstrução do esqueleto de um Uberabatitan ribeiroi. Tal espécie
vivera onde atualmente se situa-se a Bacia Bauru, no Brasil.
Porém a Bacia Bauru não abrigou apenas saurópodes, mas também terópodes! Apesar de até o momento haver poucas espécies descritas e nomeadas. 
Como em qualquer ecossistema, se há herbívoros, com certeza haverá carnívoros. O que abrigava a Bacia Bauru era o avantajado abelissaurídeo Pycnonemosaurus nevesi, um terópode de 7 m de comprimento, que provavelmente caçava pequenos saurópodes ou animais de médio e pequeno porte.
Há também a existência de um provável maniraptora na Bacia Bauru, com o registro de uma garra isolada, alguns ossos desarticulados e diversos dentes; além de uma vértebra associada a um tipo de megaraptorídeo. Nesses dois casos a pouca quantidade de material impossibilita a descrição desses terópodes em si.

A Bacia Bauru em seu estado "natural". Na imagem o temível Pcynonemosaurus e o saurópode Maxakalisaurus.
Paleoarte por Maurílio Oliveira.

Já pensou futuramente anunciarem nos jornais que o resto do esqueleto deste maniraptor ou desse megaraptora foram encontrados?!
Espécies da Bacia Bauru conhecidas atualmente:
Saurópodes: Gondwanatitan faustoi, Antarctosaurus brasiliensis, Aeolosaurus maximus, Baurutitan britoi, Trigonosaurus pricei, Maxakalisaurus topai, Adamantisaurus mezzalirai, Uberabatitan ribeiroi e Brasilotitan nemophagus.
Terópodes: Pycnonemosaurus nevesi, pelo menos um tipo de terópode maniraptor, um possível carcharodontosaurídeo e um terópode megaraptorídeo.
A Bacia do Araripe, o espetáculo dos carnívoros

Mundialmente conhecida como um dos sítios fossilíferos mais importantes do mundo, a Bacia do Araripe, localizada na Chapada do Araripe, possui um importante e imenso registro fóssil para a comunidade brasileira. E não é para menos: grandes espécies de dinossauros carnívoros habitaram a região da chapada (onde se situam-se os estados de Pernambuco, Piauí e Ceará) há 110 milhões de anos.
A chapada do Araripe, durante o início do Cretáceo, era uma depressão com um contato restrito com o mar, formando uma imensa laguna na qual se depositavam sedimentos. Atualmente a Chapada do Araripe possuí importantes fósseis que estão presentes em uma camada geológica chamada Grupo Santana (ou Fm. Santana, dependendo da proposta estratigráfica), que abriga uma infinidade de espécies fósseis de plantas, crocodilos, répteis, peixes, pterossauros e é claro... dinossauros!
Em relação à dinossauros, a bacia possui uma importante variedade de carnívoros, como dito anteriormente; principalmente os da família dos SPINOSAURIDAE! Sim, aqueles dinossauros carnívoros com um crânio semelhante ao de um crocodilos, cujo dorso de alguns apresentava uma incrível vela dorsal parecida como um leque.
Para você comparar, das quatro espécies de dinossauros conhecidas da Bacia do Araripe, duas são espinossaurídeos: o famoso Angaturama limai e o Irritator challengeri. Esses animais provavelmente viviam próximo à laguna 'pescando' peixes ou até mesmo capturando indefesos pterossauros que se alimentavam as proximidades desta.

Irritator challengeri, o famoso espinossaurídeo brasileiro.
Paleoarte por Maurílio Oliveira.
Além dos espinossaurídeos, a região do Araripe abrigava  também dois terópodes distintos. Um deles era pequeno, semelhante ao famoso Compsognathus da Alemanha: o Mirischia asymmetrica, um compsognatídeo de até 2 m de comprimento, que se abrigava nos arredores da laguna alimentando-se provavelmente de insetos e pequenos répteis.

Vista da Chapada do Araripe no sertão brasileiro. Autor desconhecido.
Por fim temos o mais famoso dinossauro da bacia, o Santanaraptor placidus, um terópode de pequeno porte pertencente a família Tyrannosauroidea.
O Santanaraptor foi uma descoberta extraordinária, até porque seus únicos restos isolados foram encontrados com tecidos moles - uma rara e incrível preservação de cartilagens que ocorrem apenas quando existem preservações excepcionais. Tal descoberta possibilita que os paleontólogos não parem de estudar a bacia, à procura de novas descobertas... 


A Bacia São Luís-Grajaú, o "mundo perdido", por assim dizer


Quem diria que o estado do Maranhão possuiria um dos mais importantes sítios fossilíferos do Brasil, onde a cada metro quadrado você pode acabar encontrando um fóssil? Pois é! As rochas cretácicas dessa bacia de São Luís-Grajaú  datam dentre 113 e 97 milhões de anos (meio do Cretáceo), e sua origem está atrelada a  fragmentação do antigo continente Gondwana, quando houve a separação da América do Sul e da África.

A bacia em si, abrigava um ecossistema completo, com répteis, vegetais, pterossauros, peixes, anfíbios e é claro dinossauros! Até o momento, para as duas unidades cretácicas da bacia são conhecidas pelo menos duas espécies de dinossauros saurópodes, o Amazonsaurus maranhensis e Rayosaurus;duas espécies de grandes dinossauros terópodes, um da família do Carcharodontosaurus, identificado por meio de dentes, e o famoso espinossaurídeo gigante, Oxalaia quilombensis, além de uma atribuição de um dente isolado ao terópode do gênero Masiakasaurus, um animal de aspecto bizarro encontrado também na África.
Espero que tenham gostado de viajar no tempo para conhecer o Brasil da era dos dinossauros!

REFERÊNCIAS

Anelli, Luiz E.
O guia completo dos dinossauros do Brasil / Luiz E. Anelli; ilustrações de Felipe Elias. -- São Paulo: Peirópolis, 2010.

First Brazilian carcharodontosaurid and other new theropod dinosaur fossils from the Campanian–Maastrichtian Presidente Prudente Formation, São Paulo State, southeastern Brazil:
Rodrigo P. Fernandes de Azevedo  Felipe Medeiros Simbras  Miguel Rodrigues Furtado  Carlos Roberto A. Candeiro  Lílian Paglarelli Bergqvist

sábado, 19 de março de 2016

[Paleontology • 2016] 

Timurlengia euotica • New Tyrannosaur from the mid-Cretaceous of Uzbekistan clarifies Evolution of Giant Body Sizes and Advanced Senses in Tyrant Dinosaurs

Timurlengia euotica 
 Brusatte, Averianov, Sues, Muir & Butler, 2016
DOI:   
10.1073/pnas.1600140113 
Significance
Tyrannosaurs — the iconic group of dinosaurian carnivores that includes Tyrannosaurus rex —dominated latest Cretaceous ecosystems with their colossal sizes and sophisticated senses. A gap in the mid-Cretaceous fossil record between these giant apex predators and their older, smaller relatives makes it difficult to understand how the characteristic body size and ecological habits of T. rex and kin developed. A new species from Uzbekistan fills this gap. This horse-sized animal shows that tyrannosaurs had yet to achieve huge size at this time but had already evolved key brain and sensory features of the gigantic latest Cretaceous species. Tyrannosaurs apparently developed giant body size rapidly, late in the Cretaceous, and their success may have been enabled by their early-evolving keen senses.
Abstract
Tyrannosaurids — the familiar group of carnivorous dinosaurs including Tyrannosaurus and Albertosaurus — were the apex predators in continental ecosystems in Asia and North America during the latest Cretaceous (ca. 80–66 million years ago). Their colossal sizes and keen senses are considered key to their evolutionary and ecological success, but little is known about how these features developed as tyrannosaurids evolved from smaller basal tyrannosauroids that first appeared in the fossil record in the Middle Jurassic (ca. 170 million years ago). This is largely because of a frustrating 20+ million-year gap in the mid-Cretaceous fossil record, when tyrannosauroids transitioned from small-bodied hunters to gigantic apex predators but from which no diagnostic specimens are known. We describe the first distinct tyrannosauroid species from this gap, based on a highly derived braincase and a variety of other skeletal elements from the Turonian (ca. 90–92 million years ago) of Uzbekistan. This taxon is phylogenetically intermediate between the oldest basal tyrannosauroids and the latest Cretaceous forms. It had yet to develop the giant size and extensive cranial pneumaticity of T. rex and kin but does possess the highly derived brain and inner ear characteristic of the latest Cretaceous species. Tyrannosauroids apparently developed huge size rapidly during the latest Cretaceous, and their success in the top predator role may have been enabled by their brain and keen senses that first evolved at smaller body size.
Keywords: dinosaur, Tyrannosauroidea, Uzbekistan, phylogenetics, evolution

Fig. 1. Skeletal reconstruction of Timurlengia euotica, with known bones colored in red. Individual bones come from different individuals, as they were surfacecollected as isolated specimens in the Bissekty Formation of Uzbekistan. The proportions of the skeleton are based on an intermediate body type between Xiongguanlong and Tyrannosaurus but should be considered provisional until associated material is found.
Bones are as follows: A, left frontal, ZIN PH 2330/ 16; B, holotypic braincase, ZIN PH 1146/16; C, cervical vertebra, ZIN PH 671/16; D, cervical vertebra, USNM (National Museum of Natural History) 538131; E, dorsal neural arch, USNM 538132; F, dorsal vertebra, CCMGE (Chernyshev’s Central Museum of Geological Exploration) 432/12457; G, anterior caudal vertebra, ZIN PH 951/16; H, middle caudal vertebra, ZIN PH 120/16; I, distal caudal vertebra, ZIN PH 507/16; J, pedal ungual, USNM 538167; K, manual ungual, ZIN PH 619/16; L, right articular and surangular (reversed), ZIN PH 1239/16; M, left quadrate, ZIN PH 2296/16; N, right dentary, ZIN PH 15/16; and O, right maxilla (reversed), ZIN PH 676/16. (Individual scale bars, 2 cm.)
Skeletal drawing courtesy of Todd Marshall.

A fossil tooth (front and back) of the newly discovered dinosaur. The blade-like teeth, says Hans Sues, were well-suited for "slicing through meat."

Systematic Paleontology
Dinosauria Owen, 1842; Theropoda Marsh, 1881;
Coelurosauria Huene, 1914; Tyrannosauroidea Osborn, 1905;

Timurlengia euotica  gen. et sp. nov.

Holotype: ZIN PH (Paleoherpetological Collection, Zoological Institute, Russian Academy of Sciences, Saint Petersburg, Russia) 1146/16, a well-preserved braincase missing only the paroccipital processes and much of the parabasisphenoid (Figs. 1 and 2 and Figs. S1−S3).

Etymology Timurlengia, in reference to the fourteenth-century Central Asian ruler Timurleng (English: Tamerlane), and euotica, meaning “well eared” in reference to the large inner ear of the holotype.

Horizon and Locality: Dzharakuduk, central Kyzylkum Desert, Navoi Viloyat, Uzbekistan. Bissekty Formation, Upper Cretaceous, Middle-Upper Turonian (ca. 90–92 million years ago)
A reconstruction of the horse-sized tyrannosaur Timurlengia euotica, named for the charismatic Central Asian ruler Tamerlane, shows the species' long, slender legs, large head and teeth built sharp like a steak knife.
NMNH, Original painting by Todd Marshall 
Fig. 3. Phylogenetic relationships of Timurlengia euotica among theropod dinosaurs. Strict consensus of 99,999 most parsimonious trees (length = 3,367, consistency index = 0.322, retention index = 0.777) recovered from cladistic analysis in which T. euotica is scored based on the holotypic braincase and series of referred specimens. Numbers next to nodes are Bremer/jackknife support values, thick lines next to each taxon depict temporal range (which in most cases is age uncertainty and not true range), colors of lines denote geographic areas, and silhouettes are in relative proportion and scaled to total body length (T. rex = 13 m).
Geographic silhouettes are from Loewen et al. (3), and taxon silhouettes are courtesy of phylopic.org (Kileskus, T. M. Keesey; Guanlong, S. Hartman; Juratyrant, S. Hartman, T. M. Keesey; Eotyrannus, S. Hartman; Dryptosaurus, T. M. Keesey; Albertosaurus, C. Dylke; Daspletosaurus, S. O’Connor, T. M. Keesey; Tyrannosaurus, S. Hartman).

Conclusions
Timurlengia is a long-awaited diagnostic tyrannosauroid from the middle part of the Cretaceous. It indicates that these predators were still far from giants during this time, but had already evolved signature brain and sensory features that may have been tied to the extraordinary success of the last-surviving, latest Cretaceous species like Tyrannosaurus. However, Timurlengia remains a single data point from a still murky interval in dinosaur history, and future discoveries from this gap will undoubtedly lead to a better understanding of how tyrannosauroids rose from marginal creatures into some of the largest terrestrial predators in Earth history.
 Stephen L. Brusatte, Alexander Averianov, Hans-Dieter Sues, Amy Muir and Ian B. Butler. 2016. New Tyrannosaur from the mid-Cretaceous of Uzbekistan clarifies Evolution of Giant Body Sizes and Advanced Senses in Tyrant Dinosaurs. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. in press. DOI:   10.1073/pnas.1600140113
The discovery of a tiny Tyrant set the stage for the evolution of T. rex
http://po.st/TSbHav via @SmithsonianMag 
@NMNH #PreRex
 Behold Timurlengia—the Elusive Missing Link in Tyrannosaur Evolution
http://gizmodo.com/behold-timurlengia-the-elusive-missing-link-in-tyrannos-1764749916
Timurlengia euotica: Distant relative of T-rex shows how dinosaur became giant
  http://ibt.uk/A6V4r  via @IBTimesUK #dinosaurevolution

quarta-feira, 16 de março de 2016

Fóssil de 250 milhões de anos é encontrado nos Pampas

Réptil primitivo apresentava traços típicos de grupo que deu origem aos dinossauros, às aves e aos crocodilos
MARCOS PIVETTA | Edição Online 14:21 11 de março de 2016
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© VOLTAIRE NETO
Representação artística do animal em seu ambiente
Representação artística do animal em seu ambiente

Há cerca de 252 milhões de anos, 90% das formas de vida da Terra extinguiram-se. Causada provavelmente por um aumento exagerado do efeito estufa devido a erupções vulcânicas, a catástrofe foi a maior das cinco extinções em massa conhecidas e marcou o fim do período Permiano e da era Paleozoica e o início da era Mesozoica e do período Triássico.

Um crânio e quatro vértebras cervicais fossilizadas de uma nova espécie de réptil que surgiu logo depois do  cataclismo e viveu cerca de 250 milhões de anos atrás foram encontrados no início do ano passado no oeste do Rio Grande do Sul por paleontólogos da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e hoje (11/03) são descritos em detalhes em um artigo publicado na revista Scientific Reports. Batizada de Teyujagua paradoxa (em guarani, a palavra teyujagua significa lagarto feroz), a espécie era uma forma de vida com características intermediárias entre os répteis mais primitivos e os arcossauriformes, grupo bastante diversificado e de origem misteriosa do qual descendem os extintos dinossauros e pterossauros e as linhagens atuais de  crocodilos, jacarés e aves.

A análise das características anatômicas do material, em especial do bem conservado crânio de 11,5 centímetros de diâmetro, indica que, em termos evolutivos, o Teyujagua paradoxa já apresentava alguns traços que se acreditava terem surgido apenas com os arcossauriformes. A espécie, cuja aparência deveria lembrar à de um pequeno jacaré, tinha dentes curvados e serrilhados (traço típico de carnívoros) e uma abertura na região da mandíbula, duas marcas registradas desse grupo de animais. No entanto, ainda não exibia uma abertura entre os olhos e a narina, outra feição-chave dos arcossauriformes. “O Teyujagua paradoxa estava no meio do caminho entre os répteis mais primitivos e esse grupo”, afirma o paleontólogo Felipe Pinheiro, da Unipampa, principal autor do estudo. “Forma um táxon irmão dos arcossauriformes e pode ser muito importante para entendermos o surgimento de certos traços anatômicos dessa importante linhagem de vertebrados.”
Figura 1 - MapaDe acordo com os pesquisadores que assinam o estudo, o T. paradoxa deveria medir 1,5 metro de comprimento.  Suas narinas se localizavam na parte de cima do focinho, traço típico de seres aquáticos ou semiaquáticos, como os jacarés atuais. Os exemplares da espécie provavelmente habitavam as margens de rios e lagos, onde caçavam anfíbios e pequenos animais parecidos com lagartos.

Répteis primitivos tão antigos e similares ao fóssil gaúcho, encontrado na formação geológica Sanga do Cabral, no município de São Francisco de Assis, são raros. Há alguns poucos registros de vestígios de animais com essas características na África do Sul, China e Rússia. “Mas nenhum desses fósseis tem traços tão primitivos como o Teyujagua e dispõe de um crânio tão  bem preservado”, afirma o paleontólogo Cesar Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), outro autor do artigo. Pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e da Universidade de de Birmingham (Inglaterra) também assinam o paper. No Brasil, o estudo foi  financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Artigo científico

PINHEIRO, F.L. et al. An exceptional fossil skull from South America and the origins of the archosauriform radiationScientific Reports, n. 6. 11 mar. 2015

Origem evolutiva

Fóssil de réptil primitivo encontrado no Rio Grande do Sul pode ajudar a explicar a evolução de dinossauros, aves e jacarés. O animal combina características que nunca haviam sido observadas em uma mesma espécie. 
 
Por: João Paulo Rossini
Publicado em 14/03/2016 | Atualizado em 14/03/2016
Origem evolutiva
A posição do focinho e o formato dos dentes levam a crer que 'Teyujagua paradoxa' vivia em ambientes aquáticos ou semiaquáticos e se alimentava de peixes e pequenos répteis. (ilustração: Voltaire Neto.
 
Um fóssil com apenas 11 centímetros de comprimento e 250 milhões de anos pode ajudar a explicar a origem evolutiva de diversos grupos animais, como dinossauros, pterossauros (répteis voadores), aves e jacarés. O exemplar foi encontrado no município de São Francisco de Assis (RS) por uma equipe de cientistas de três universidades brasileiras: Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade do Vale do São Francisco. Os resultados de estudos sobre o material foram publicados na última semana no periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature.

De acordo com os autores da pesquisa, o pequeno crânio, descoberto no início de 2015, revela um tipo de réptil primitivo com traços muito peculiares. A partir da análise do fóssil e de comparações com outras espécies parecidas, foram estabelecidas características físicas e alimentares do animal, batizado de Teyujagua paradoxa. Teyujagua significa “réptil feroz” em Guarani, em referência ao personagem mitológico indígena Teyú Yaguá, um lagarto com cabeça de cachorro.

A combinação de características pouco usuais do animal, que mistura feições morfológicas que até então nunca haviam sido encontradas juntas em uma mesma espécie, motivou o restante da nomenclatura: paradoxa vem do grego, significando “paradoxal”, “inesperado”.
“Tinha entre um e 1,5 metro de comprimento. Não era muito grande, seguindo a tendência dos outros animais da época"
 
“Tinha entre um e 1,5 metro de comprimento. Não era muito grande, seguindo a tendência dos outros animais da época, e as narinas se localizavam acima do focinho, indicando que era um animal aquático ou semiaquático”, explica o paleontólogo Felipe Pinheiro, coautor do trabalho e professor da Unipampa. O fóssil também apresenta dentes pontiagudos, curvados e serrilhados, característica que pode ter sido transmitida evolutivamente para crocodilos e dinossauros. O formato dos dentes evidencia os hábitos carnívoros do animal – segundo os pesquisadores, é bem provável que a alimentação deste lagarto consistisse em peixes e pequenos répteis.

Renascimento das cinzas

Os estudos realizados no Sul do Brasil tinham como objetivo inicial analisar a fauna dos pampas gaúchos na transição do período Permiano para o Triássico Inferior, aproximadamente 250 milhões de anos atrás, quando ocorreu uma extinção em massa dos seres vivos da Terra. Ao descobrir Teyujagua paradoxa, os pesquisadores acreditam ter localizado um intermediário entre os répteis primitivos e os chamados arcossauriformes (grupo que inclui, entre outros, os dinossauros, répteis e aves). A novidade pode ajudar a explicar a origem evolutiva desse grupo. “Os arcossauriformes têm uma origem nebulosa, mas Teyujagua paradoxa está nos dando novas pistas sobre seu surgimento”, ressalta Pinheiro.
Para o geólogo Cesar Schultz, professor da UFRGS e coautor do estudo, o fato de que a nova espécie viveu neste período turbulento da história terrestre aponta para novos horizontes de pesquisa sobre o que se passou e sobre as espécies que vieram a seguir. “Teyujagua paradoxa pode ser um dos precursores de vários dos seres vivos que existem hoje, porque viveu nesse período de renascimento da vida na Terra”, afirma.

João Paulo RossiniCiência Hoje Online