quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Planta carnívora tem genoma mitocondrial sequenciado

29 de agosto de 2017

Peter Moon | Agência FAPESP – Há aproximadamente 130 espécies de plantas carnívoras no Brasil presentes em praticamente todos os biomas. Para compreender como se desenrolou a dinâmica evolutiva desse grupo tão fascinante de plantas, uma condição necessária é o estudo de seu DNA. Mas nenhuma dessas espécies brasileiras tinha tido o seu genoma completo sequenciado.
Isso começa a mudar a partir do trabalho de um grupo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que está elaborando o primeiro sequenciamento genômico total (cloroplasto, mitocôndria e nuclear) de uma planta carnívora brasileira, a Utricularia reniformis, endêmica do Brasil.

Planta carnívora tem genoma mitocondrial sequenciado Pesquisadores da Unesp completam o primeiro sequenciamento do mtDNA de uma das mais de 120 espécies de plantas carnívoras do Brasil (foto: Utrículo de Utricularia reniformis A.St.-Hil. com larva de artrópode capturada)


Os primeiros resultados, com a publicação do plastoma – o genoma presente nas organelas chamadas cloroplastos (cpDNA) – foram publicados em 2016. Um segundo estudo, com o genoma mitocondrial (mtDNA), acaba de sair na mesma revista PLOS ONE. O próximo passo é a publicação do genoma nuclear (nDNA), em andamento.

A pesquisa é liderada pelo bioinformata Alessandro de Mello Varani e pelo biólogo Vitor Fernandes Oliveira Miranda, ambos da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Unesp de Jaboticabal, e conta com apoio da FAPESP.

As mais de 120 espécies de plantas carnívoras identificadas até o momento no Brasil não descendem de um ancestral comum. A carnivoria nas plantas evoluiu de forma independente em mais ou menos nove ocasiões diferentes, em cinco ordens diferentes de angiospermas.

A ordem com o maior número de plantas carnívoras é Lamiales, a mesma de plantas como lavanda, lilás, jasmim e boca-de-leão, além de outras de uso culinário como oliveira, gergelim, menta, manjericão, sálvia e alecrim.

Dentro da ordem Lamiales, a família com mais espécies carnívoras (370) é a das lentibulariáceas, sendo que cerca de 230 espécies pertencem ao gênero Utricularia, que reúne plantas aquáticas e terrestres. A Utricularia reniformis é uma planta terrestre, que cresce em locais úmidos da Mata Atlântica.

O método utilizado pela U. reniformis para capturar suas presas é uma bolsinha chamada utrículo. Em seu interior há um fluido que serve para digerir os microcrustáceos que porventura por ela sejam sugados. Uma vez presos, não há escapatória. A presa morre e seus tecidos são digeridos e absorvidos pela planta carnívora.
Só que tudo isso ocorre em uma dimensão invisível ao olho humano. “Os utrículos são muito pequenos e só é possível analisá-los em detalhe no microscópio”, disse Varani.
“Estima-se que os menores genomas de plantas sejam os de algumas espécies de lentibulariáceas. O genoma nuclear (nDNA) dos animais são mais conservados, isto é, variam muito pouco entre espécies de um mesmo gênero, ou de uma mesma família, quando comparados a genomas de plantas”, disse.

Humanos e chimpanzés, por exemplo, têm diferença em apenas 1,5% do genoma nuclear. No caso do DNA nuclear das plantas de uma mesma espécie, porém provenientes de diferentes populações, a diferença pode ser muito grande.

“Eles variam enormemente dentro de um mesmo gênero e até mesmo entre diferentes indivíduos de uma mesma espécie. Entre as lentibulariáceas, por exemplo, o tamanho do DNA nuclear pode variar de 61 milhões a 1.600 milhões de bases (nucleotídeos) dentro da mesma família. Há espécies de lentibulariáceas com genomas 25 vezes menores do que outras. Portanto, as lentibulariáceas são excelentes candidatas para estudos de contração e expansão genômica”, disse Varani.

Além do genoma de plantas de um mesmo gênero ou espécie variar em tamanho, a ordem em que os genes estão dispostos nas cadeias helicoidais de DNA também muda. É como pegar os milhões de nucleotídeos do DNA nuclear de uma planta, colocar em um liquidificador, misturar em uma nova sequência e o DNA resultante permanecer funcional, e da mesma espécie.
“Genoma de planta flutua no tamanho e na ordem de disposição das bases nos cromossomos. Devido a este fato, trabalhar com genoma nuclear de plantas, do ponto de vista bioinformático, é uma tarefa desafiadora”, disse Varani.

Complicado mas possível graças ao avanço das técnicas de sequenciamento e, principalmente, da bioinformática, a ferramenta computacional usada para classificar e comparar as dezenas de bases de cada genoma. O desafio é determinar quais porções do genoma correspondem a genes funcionais.
“É preciso determinar onde começa a sequência de bases de um determinado gene e onde ela termina e descobrir, entre cadeias de DNA diferentes extraídas de membros de uma mesma espécie, quais são os genes inerentes àquela espécie. No caso específico, é preciso descobrir quais genes são os que determinam a planta carnívora U. reniformis", disse Varani.

DNA do cloroplasto

Um fator que diferencia sobremaneira a carga hereditária completa das plantas é que, além do DNA nuclear e do DNA mitocondrial (mtDNA), aquele que existe dentro das mitocôndrias (nos animais e nas plantas), essas últimas têm um terceiro reservatório genético que não existe nos animais. Trata-se do DNA do cloroplasto (cpDNA), ou plastoma, a organela responsável pela fotossíntese.
A teoria simbiótica diz que organelas como mitocôndria e cloroplasto são herança de antigos microrganismos que há bilhões de anos, na era Proterozoica, invadiram ou foram absorvidos por bactérias maiores. Em vez de uma destruir a outra, ou vice-versa, estabeleceu-se uma relação simbiótica onde o ancestral bacteriano de mitocôndrias e o de cloroplastos passaram a desenvolver no metabolismo do hospedeiro o papel fundamental da geração de energia. Energia dos alimentos, no caso da mitocôndria, e energia solar, no caso dos cloroplastos.

Como, em um passado longínquo, mitocôndrias e cloroplastos foram seres microscópicos independentes, essas organelas preservam em seu interior sequências de DNA que descendem diretamente do DNA daqueles pequenos invasores proterozoicos.
Quando se fala em obter o genoma completo de uma planta, o que se pretende é sequenciar três DNAs: o DNA nuclear (nDNA) com dezenas de milhões de bases, o DNA mitocondrial (mtDNA) e o DNA do cloroplasto (cpDNA), com apenas alguns milhares de bases cada um.
“Em termos de dificuldade, sequenciar o DNA do cloroplasto foi mais fácil. Descobrimos muitos pontos interessantes, como o fato de que muitos dos genes do cloroplasto em U. reniformis, que regulam a fotossíntese, estavam deletados. Haviam sido apagados do cpDNA. Um achado interessante, uma vez que esses mesmos genes encontram-se intactos em espécies de habitat aquático”, disse Varani.

“Plantas carnívoras fazem fotossíntese. Porém, a carnivoria também é uma forma de obtenção de nutrientes. A perda daqueles genes talvez tenha a ver com a adaptação à carnivoria e ao habitat terrestre da planta, mas é algo que ainda não sabemos”, disse. A novidade que veio do sequenciamento do DNA mitocondrial foi descobrir que parte daqueles genes apagados no cloroplasto foi transferida e religada na mitocôndria. Porém esses genes aparentemente não se  encontram funcionais no mtDNA.

“Estamos agora estudando a transferência gênica entre estas organelas e tentando entender esse processo sob o ponto de vista evolutivo. Comparamos o cpDNA e o mtDNA de U. reniformis com os genomas das organelas de outras espécies de habitat terrestre do gênero e constatamos a tendência de perda dos genes do cpDNA e transferência dos mesmos para o mtDNA em todas elas. O interessante é que essa tendência aparentemente não ocorre em espécies de habitat aquático, sugerindo que as lentibulariáceas também possam ser utilizadas como modelo para o estudo sobre como plantas adaptaram-se a habitats aquáticos”, disse Varani.

O artigo The mitochondrial genome of the terrestrial carnivorous plant Utricularia reniformis (Lentibulariaceae): Structure, comparative analysis and evolutionary landmarks, de Saura R. Silva, Danillo O. Alvarenga, Yani Aranguren, Helen A. Penha, Camila C. Fernandes, Daniel G. Pinheiro, Marcos T. Oliveira, Todd P. Michael, Vitor F. O. Miranda e Alessandro M. Varani, pode ser lido em https://doi.org/10.1371/journal.pone.0180484).

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Tamanduá-bandeira pode acabar no Cerrado do Estado de SP
Estudo inédito da Unesp avalia quantidade e ameaça de extinção
Maristela Garmes
28/08/2017
Ttamanduá-bandeira no Cerrado paulista.
 
Sabe o tamanduá-bandeira, aquele bicho com cara de simpático, que tem uma língua grande, e que se alimenta de formigas e cupins?  No Estado de São Paulo ele é “vulnerável” à ameaça de extinção, ou seja, ao menos 30% da população deste mamífero foi perdida nos últimos dez anos. Os motivos? Perda e alteração do seu habitat, atropelamentos, caça, queimada, conflitos com cães e uso de agrotóxico.

Os impactos da ação humana aumentam a vulnerabilidade da espécie e elevam o nível de ameaça”, diz a bióloga Alessandra Bertassoni, que realizou uma pesquisa na Estação Ecológica de Santa Bárbara (EESB), próxima à cidade de Avaré, interior de São Paulo. Segundo ela, no pior dos cenários, com a continuação dos casos de atropelamento, de caça e de queimada na mata, “a possibilidade da população sobreviver cai para 20 anos. Se o fogo utilizado nas queimadas for suprimido, a viabilidade será de 30 anos”.  

Esta estimativa só foi possível porque a bióloga trabalhou com o reconhecimento individual de oito tamanduás-bandeira e avaliou a quantidade destes animais existente na EESB, uma vez que não havia nenhuma estimativa do tamanho populacional para a espécie no Estado de São Paulo. A Estação é uma das maiores unidades de conservação do Cerrado paulista.

A tese de doutorado foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), Câmpus da Unesp em São José do Rio Preto, em junho deste ano.    

Para fazer o monitoramento dos tamanduás-bandeiras, Alessandra utilizou o GPS (Global Positioning System), em oito animais, por aproximadamente 91 dias. O aparelho possibilitou o controle em vida livre destes mamíferos, revelando o tamanho da área utilizada por eles; o compartilhamento do espaço geográfico; a forma como interagem; e as áreas preferencialmente usadas ou até mesmo subutilizadas pela espécie.  

Alessandra conta que as fêmeas monitoradas pelo GPS apresentaram um comportamento mais restrito, com áreas de mobilidade menores que as dos machos, utilizando somente os habitats dentro dos limites da área protegida.

Já os machos, tiveram um comportamento mais exploratório, atravessaram estradas e passaram dias fora da Estação, principalmente na área de reserva legal das propriedades vizinhas, em meio ao cultivo de cana-de-açúcar e pastagens. “Este comportamento pode ser positivo do ponto de vista genético, porém aumenta a probabilidade de atropelamento, conflito com seres humanos e cães, além de expor os animais a intoxicações, dado o uso de agrotóxico nos cultivos vizinhos”, explica.

Se os machos têm predisposição para explorar, apenas uma das fêmeas monitoradas apresentou localizações fora da área protegida. Porém, em 10 dias de acompanhamento, ela sumiu, indicando um episódio de caça dentro da Estação, o que mostra a vulnerabilidade tanto da área protegida quanto das populações de animais silvestres residentes na região.   

Outro ponto revelado pela pesquisa foi que os animais selecionaram as áreas de savana (habitat típico de Cerrado) para suas andanças e moradia, muito mais do que o esperado, subutilizando os plantios de pinus e eucaliptos. “Possivelmente estes animais são incapazes de persistir em habitats compostos só por ambientes alterados pelo homem como plantio madeireiro, pastagens e monoculturas, dado à dependência por áreas nativas (savanas) e a subutilização de áreas de plantios”.

Selfies no Cerrado
Uma outra forma de trabalho utilizada por Alessandra para descobrir se era possível identificar tamanduás-bandeira por padrões de pelagem foi por meio do uso de armadilhas fotográficas. O reconhecimento individual desses mamíferos é tido como extremamente difícil, uma vez que, a primeira vista, todos os animais parecem idênticos.  

Segundo a pesquisadora, “as capturas são especialmente úteis quando é possível a identificação dos indivíduos fotografados”. Ela selecionou um conjunto de características do padrão de pelagem e apresentou variação individual para os nove tamanduás fotografados. “Apesar de alguns cientistas se referirem à possibilidade de identificação individual, nenhum estudo havia se utilizado deste padrão para acessar informações populacionais.

Para avaliar a proximidade entre os tamanduás, Alessandra utilizou, além do GPS, recursos das armadilhas fotográficas. De acordo com ela, dois pares de macho e de fêmea estiveram próximos em várias ocasiões, indicando um possível comportamento reprodutivo. Nenhuma fêmea monitorada com GPS apresentou prenhez, mas os registros das armadilhas mostraram fêmeas com filhotes, apontando reprodução na região. A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora em quase dois anos de campo.

Alessandra é bióloga e mestre pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Trabalha atualmente no Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil, ONG conhecida como Projeto Tamanduá. Em janeiro deste ano, ela publicou, com outros autores, o artigo Movement patterns and space use of the first giant anteater (Myrmecophaga tridactyla) monitored in São Paulo State, Brazil, na revista científica Studies on Neotropical Fauna and Environment, do grupo Taylor & Francis, da Inglaterra.

Também é assinada por ela e outros pesquisadores a matéria intitulada Tamanduás, Tatus e Preguiças são parentes?, publicada em novembro de 2016, pela revista Ciência Hoje das Crianças.  

A tese teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e integra um projeto que conta com outros objetivos como, avaliação do perfil genético, toxicológico e parasitológico da espécie na área de estudo.


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Edição de DNA pode tratar doença de Huntington

//Edição de DNA pode tratar doença de Huntington



Você já ouviu falar na doença de Huntington?

Essa condição neurodegenerativa e hereditária, que atinge até dez de cada 100 mil pessoas, ganhou as páginas dos jornais recentemente, quando o Papa Francisco recebeu pacientes para incentivar a luta contra o preconceito e também pesquisas que busquem a cura de patologias raras. Agora, a enfermidade que leva o nome do médico que a descobriu, o norte-americano George Huntington, em 1872, é novamente notícia por conta de resultados animadores conquistados com uma terapia de “edição de DNA” conhecida como CRISPR-Cas9.

A CRISPR é uma sequência de DNA que pode ser repetida diversas vezes, com sequências únicas entre as repetições. Sempre convenientemente localizado perto dessas sequências, está o gene que expressa a enzima Cas9, que tem a capacidade de cortar o DNA de forma precisa. A dupla CRISPR-Cas9 funciona da seguinte maneira: a Cas9 corta o DNA e a CRISPR diz à enzima exatamente onde cortar. O mais interessante é que os cientistas descobriram como informar à Cas9 a sequência a ser editada (por meio de uma cadeia-guia de RNA), retirando um pedaço do DNA e substituindo-o por outro.

Desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), e publicada no Journal of Clinical Investigation, o estudo revela uma melhora significativa em camundongos doentes que foram tratados com essa técnica de edição genômica. A equipe de pesquisadores usou a técnica CRISPR para trocar os genes associados à doença e, em três semanas, os animais apresentaram significativa melhora.

A doença de Huntington é causada pela deficiência em um único gene do cromossomo 4. Seus sintomas surgem em decorrência da perda progressiva de células nervosas e incluem a perda da capacidade cognitiva (memória e pensamento ordenado), de movimentos e do equilíbrio emocional.

Embora seus sinais possam surgir em qualquer idade, é mais frequente entre os 30 e 40 anos, em ambos os sexos. Filhos de indivíduos com Huntington têm 50% de chance herdar o gene, o que torna essa a doença neurodegenerativa mais comum transmitida pelos pais.

Em várias áreas da ciência, a técnica CRISPR-Cas9 é vista com grande entusiasmo, por conta de sua precisão e eficiência. Segundo o principal autor do estudo, o chinês Xiao-Jiang Li, os bons resultados alcançados abrem uma nova frente para o tratamento da doença de Huntington e de outras enfermidades semelhantes, embora ainda sejam necessários novos testes. Atualmente, não há planos para pesquisas em seres humanos com distúrbios neurodegenerativos, apesar de ensaios com células humanas para combater o câncer já estarem em andamento nos EUA e na China.

Fonte: The Journal of Clinical Investigation e IFL Science, junho de 2017.

Edição genética corrige gene humano causador de doença

//Edição genética corrige gene humano causador de doença


Imagine se pudéssemos evitar o desenvolvimento de doenças hereditárias antes mesmo de um bebê vir ao mundo? O que parecia pertencer a um futuro muito distante está perto de se tornar realidade, graças ao uso da técnica que está revolucionando a biologia molecular em todo o mundo: a CRISPR-Cas9.

Um grupo de cientistas dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e da China conseguiu eliminar de embriões humanos cópias mutantes do c, responsável pela miocardiopatia hipertrófica, doença cardíaca que provoca morte súbita e afeta uma a cada 500 pessoas. O estudo foi realizado na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (EUA) e liderado pelos pesquisadores Hong Ma e Shoukhrat Mitalipov.

Os cientistas não “curaram” pessoas com a doença. Eles fertilizaram óvulos de 12 mulheres usando esperma de um homem com cardiomiopatia hipertrófica. Em seguida, utilizaram a técnica CRISPR para substituir a sequência de DNA com mutação pela saudável. Dos 58 embriões resultantes, 42 se desenvolveram sem o gene que causa a enfermidade, uma taxa de sucesso de 72%.
Embora ainda esteja em fase preliminar, o feito, pulicado neste mês pela revista científica Nature, abre caminho para que a mesma técnica seja empregada para correção de aproximadamente 10 mil doenças genéticas associadas a copias mutantes de genes.

CRISPR
A CRISPR é uma sequência de DNA que pode ser repetida diversas vezes, com sequências únicas entre as repetições. Sempre convenientemente localizado perto dessas sequências, está o gene que expressa a enzima Cas9, que tem a capacidade de cortar precisamente o DNA. A dupla CRISPR-Cas9 funciona da seguinte maneira: a Cas9 corta o DNA e a CRISPR diz à enzima exatamente onde cortá-lo. O mais interessante é que os cientistas descobriram como informar à Cas9 a sequência a ser editada (por meio de uma cadeia-guia de RNA), retirando um pedaço do DNA e substituindo-o por outro.

Fonte: Nature, agosto de 2017.

Tamanduá-bandeira em risco de extinção no Cerrado de São Paulo

28 de agosto de 2017


Agência FAPESP – O tamanduá-bandeira é um animal “vulnerável” que, no Estado de São Paulo, está ameaçado de extinção: ao menos 30% da população deste mamífero foi perdida nos últimos 10 anos, em função da perda e alteração do seu habitat, atropelamentos, caça, queimada, conflitos com cães e uso de agrotóxicos.

Essa foi a conclusão da tese de doutorado da bióloga Alessandra Bertassoni, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em São José do Rio Preto, com apoio da FAPESP.
“Os impactos da ação humana aumentam a vulnerabilidade da espécie e elevam o nível de ameaça”, disse Bertassoni à Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp. O estudo foi realizado na Estação Ecológica de Santa Bárbara (EESB), próxima à cidade de Avaré, interior de São Paulo, uma das maiores unidades de conservação do Cerrado paulista.

Tamanduá-bandeira em risco de extinção no Cerrado de São Paulo Pelo menos 30% da população desse mamífero se perdeu nos últimos 10 anos em razão de mudanças de habitat, atropelamento, caça, entre outras (foto:Fêmea capturada na EESB, sedada para procedimentos e monitoramento de sinais vitais/Ale Bertassoni) 
 
 
 Segundo a pesquisadora, no pior dos cenários, com a continuação dos casos de atropelamento, de caça e de queimada na mata, “a possibilidade de a população sobreviver cai para 20 anos. Se o fogo utilizado nas queimadas for suprimido, a viabilidade será de 30 anos”.

Essa estimativa foi possível porque a bióloga trabalhou com o reconhecimento individual de oito tamanduás-bandeira e avaliou a quantidade destes animais existente na EESB. Até então não havia nenhuma estimativa do tamanho populacional para a espécie no Estado de São Paulo.
Para fazer o monitoramento dos tamanduás-bandeira, Bertassoni utilizou o GPS (Global Positioning System) em oito animais por aproximadamente 91 dias. O aparelho possibilitou o controle em vida livre desses mamíferos, revelando o tamanho da área utilizada por eles; o compartilhamento do espaço geográfico; a forma como interagem; e as áreas preferencialmente usadas ou até mesmo subutilizadas pela espécie.

Ela conta que as fêmeas monitoradas pelo GPS apresentaram um comportamento mais restrito, com áreas de mobilidade menores que as dos machos, utilizando somente os habitats dentro dos limites da área protegida.

Os machos tiveram um comportamento mais exploratório: atravessaram estradas e passaram dias fora da Estação, principalmente na área de reserva legal das propriedades vizinhas, em meio ao cultivo de cana-de-açúcar e pastagens. “Este comportamento pode ser positivo do ponto de vista genético, porém aumenta a probabilidade de atropelamento, conflito com seres humanos e cães, além de expor os animais a intoxicações, dado o uso de agrotóxicos nos cultivos vizinhos”, explica.
Se os machos têm predisposição para explorar, apenas uma das fêmeas monitoradas se aventurou para fora da área protegida. Em 10 dias de acompanhamento, ela desapareceu, indicando um episódio de caça dentro da Estação, o que mostra a vulnerabilidade tanto da área protegida quanto das populações de animais silvestres residentes na região.

Outro ponto revelado pela pesquisa foi que os animais selecionaram as áreas de savana (habitat típico de Cerrado) para suas andanças e moradia, muito mais do que o esperado, subutilizando os plantios de pinus e eucaliptos. “Possivelmente estes animais são incapazes de persistir em habitats compostos só por ambientes alterados pelo homem, como plantio madeireiro, pastagens e monoculturas, dado a dependência por áreas nativas (savanas) e a subutilização de áreas de plantios.”

Uma outra forma de trabalho utilizada por Bertassoni para descobrir se era possível identificar tamanduás-bandeira por padrões de pelagem foi por meio do uso de armadilhas fotográficas. O reconhecimento individual desses mamíferos é tido como extremamente difícil, uma vez que, à primeira vista, todos os animais parecem idênticos.

Segundo a pesquisadora, “as capturas são especialmente úteis quando é possível a identificação dos indivíduos fotografados”. Ela selecionou um conjunto de características do padrão de pelagem e apresentou variação individual para os nove tamanduás fotografados. “Apesar de alguns cientistas se referirem à possibilidade de identificação individual, nenhum estudo havia utilizado este padrão para acessar informações populacionais.”

Para avaliar a proximidade entre os tamanduás, a pesquisadora utilizou, além do GPS, recursos das armadilhas fotográficas. Dois pares de macho e de fêmea estiveram próximos em várias ocasiões, indicando um possível comportamento reprodutivo. Nenhuma fêmea monitorada com GPS apresentou prenhez, mas os registros das armadilhas mostraram fêmeas com filhotes, apontando reprodução na região. A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora em quase dois anos de campo.

Bertassoni é mestre pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Trabalha atualmente no Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil, ONG conhecida como Projeto Tamanduá. Em janeiro deste ano, ela assinou, com outros autores, o artigo Movement patterns and space use of the first giant anteater (Myrmecophaga tridactyla) monitored in São Paulo State, Brazil, publicado na revista científica Studies on Neotropical Fauna and Environment, do grupo Taylor & Francis, da Inglaterra.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Insolação é mais importante do que chuva na produção de folhas na Amazônia

25 de agosto de 2017

Peter Moon  |  Agência FAPESP – Um aspecto da floresta amazônica que foi por muitas décadas dado como certo é que, com a chegada do período de chuvas, as árvores produzem novas folhas e a mata fica mais verde. Nas florestas temperadas, a maioria dos modelos usados em estudos mostra um decréscimo da fotossíntese na estação seca e cientistas estimavam que o mesmo ocorreria em regiões tropicais.

Mas em 2006 entrou em cena a hipótese de que na Amazônia a produção de novas folhas não seguiria o padrão das florestas temperadas. Argumentou-se que o fator que levaria ao “verdejamento” (greening em inglês) da mata na maior parte da Amazônia não seria a chegada do período das chuvas, mas o aumento da radiação solar.
A hipótese acaba de ser comprovada, como resultado de um estudo feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em colaboração com colegas da França, Camarões, Reino Unido, Finlândia e Estados Unidos.

A pesquisa, detalhada em artigo publicado na PLOS ONE, parte da análise de imagens feitas por satélite e de dados de campo para comprovar que na maior parte da Amazônia é o aumento da radiação solar – e não a falta ou fartura de água – o fator determinante para o verdejamento da floresta, como explicam os principais autores, o francês Fabien Hubert Wagner e o carioca Luiz Eduardo Aragão, ambos do Inpe.

O objetivo foi comprovar a possibilidade do uso de dados de satélites para verificar o verdejamento da Amazônia. O estudo foi realizado com apoio da FAPESP e do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Wagner atualmente recebe apoio da FAPESP por meio de auxílio e bolsa no âmbito do programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
“Enquanto os ciclos tropicais são geralmente definidos em termos das estações seca e úmida, conseguimos demonstrar que a variação sazonal na produção visível de folhas é, em grande medida, desencadeada pelo aumento da insolação. Identificamos isso em 70,4% da área estudada”, disse Wagner.

O estudo envolveu os estados do Amazonas, Roraima e Amapá, a parte oeste do Pará, a porção norte da Amazônia peruana, as Amazônias equatoriana, colombiana e venezuelana, Guiana, Guiana Francesa e Suriname.

“Nossa hipótese atual para explicar tal fenômeno é que na maior parte da Amazônia as plantas nunca sofrem de estresse hídrico, pois sempre existe água suficiente, mesmo na estação seca. Logo, na ausência da limitação de água, é o aumento da insolação o fator determinante para o crescimento das folhas”, disse Wagner.

Em compensação, o estudo também apontou que em 29,6% da área analisada é o regime de chuvas que determina a produção de uma nova geração de folhas pelas árvores da floresta. Ou seja, na estação seca as plantas sofrem com o estresse hídrico e param de produzir novas folhas, o que só voltam a fazer com a chegada da estação úmida.
Aí se incluem a porção sul da Amazônia peruana, o norte da Bolívia, os estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso, além da porção centro-leste do Pará. “Até hoje ninguém conseguiu fazer esta modelização”, disse Wagner.

Áreas com limitação solar e hídrica

Os resultados foram obtidos estabelecendo-se uma correlação entre os dados mensais de insolação e de precipitação da Amazônia e a expansão ou a retração da mancha verde de floresta que se observa desde o espaço a partir de dois satélites de sensoriamento remoto da Nasa, o Terra e o Aqua, que orbitam o planeta a 705 quilômetros de altitude.

Foram usadas as imagens do índice de vegetação ampliado obtidas pelo sensor Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), a bordo do Terra e do Aqua.
Os instrumentos mapeiam todo o planeta a cada dois dias, fornecendo dados em escala da dinâmica global, o que inclui, por exemplo, mapas da vegetação global e mudanças na cobertura de nuvens sobre os oceanos e os continentes ou na baixa atmosfera.
As imagens utilizadas cobrem a área compreendida entre as latitudes 10 ºN e 20 ºS, e as longitudes 80 ºO e 40 ºO. Foram analisados dados produzidos entre 2000 e 2012, com uma resolução espacial de 1 km.

As medidas de precipitação, por sua vez, foram fornecidas mensalmente pela missão Tropical Rainfall Measuring (TRMM), um satélite da Nasa e da agência espacial japonesa Jaxa. A TRMM produz estimativas mensais de precipitação para as regiões tropicais e subtropicais do planeta, com resolução de 0,25 grau. Foram analisados dados entre 2000 e 2013.
As temperaturas máximas da Amazônia foram levantadas em uma base de dados do clima global, disponível para o período entre 1901 e 2012. Foram usados ainda os dados mensais de radiação solar na superfície, cobrindo o período entre 2000 e 2012 e com uma resolução espacial de 0,5 graus, estimados pelo sistema Ceres, um instrumento dos satélites Terra e Aqua. Os dados dos satélites Terra e Aqua, bem como da missão TRMM, estão disponíveis numa base de dados on-line de livre acesso.
“Uma importante contribuição do estudo foi conseguir separar as áreas com limitação solar e hídrica”, disse Aragão. Na Amazônia, a estação seca vai de julho a outubro, dependendo da região que se observa.

“Do meio para o fim da estação seca, as plantas já começam a produzir folhas, de modo que atinjam a maior cobertura folicular quando chegam as chuvas, maximizando a fotossíntese. Mas para produzir folhas na estação seca, as plantas precisam ter acesso à água. É o que ocorre em 70% da Amazônia, onde os solos possuem maior capacidade de retenção de água”, disse.
Segundo Aragão, que também é professor associado na University of Exeter, no Reino Unido, o valor da pesquisa é muito maior do que apenas o de estabelecer uma relação estática entre os efeitos da insolação e da chuva no verdejamento da Amazônia.
“A pesquisa permite identificar de que forma o bioma amazônico está reagindo às variações climáticas globais. Os próximos passos incluem tentar replicar esta modelagem para outras áreas de vegetação tropical”, disse.

O artigo Climate drivers of the Amazon forest greening, de Fabien Hubert Wagner, Bruno Hérault, Vivien Rossi, Thomas Hilker, Eduardo Eiji Maeda, Alber Sanchez, Alexei I. Lyapustin, Lênio Soares Galvão, Yujie Wang e Luiz E. O. C. Aragão, pode ser lido em https://doi.org/10.1371/journal.pone.0180932.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Veneno de vespa na guerra contra superbactérias
Pesquisadoras da Unesp assinam artigo em revista internacional
Assessoria de Comunicação e Imprensa
22/08/2017

Vespa Polybia dimorpha, que produz a molécula que pode vir a ser um poderoso antibiótico

Cientistas brasileiros estão olhando com carinho para a vespa Polybia dimorpha, que habita o cerrado brasileiro. Na receita do veneno do inseto há um ingrediente que pode estar parte da resposta para um dos problemas mais importantes de saúde global: a guerra contra as superbactérias.

Quando entra em contato com a célula bacteriana, esse ingrediente –um peptídeo, molécula que pode ser sintetizada quimicamente– fura a parede celular, causando dano estrutural grande o suficiente para matar os micróbios.

Sabendo desse potencial, pesquisadores do Instituto Butantan, da UnB e da Unesp resolveram investigar se o peptídeo –batizadao de polydim-1, em homenagem à vespa– seria eficaz contra bactérias resistentes a múltiplos antibióticos.

Cientistas brasileiros estão olhando com carinho para a vespa Polybia dimorpha, que habita o cerrado brasileiro. Na receita do veneno do inseto há um ingrediente que pode estar parte da resposta para um dos problemas mais importantes de saúde global: a guerra contra as superbactérias.
Quando entra em contato com a célula bacteriana, esse ingrediente –um peptídeo, molécula que pode ser sintetizada quimicamente– fura a parede celular, causando dano estrutural grande o suficiente para matar os micróbios.

Sabendo desse potencial, pesquisadores do Instituto Butantan, da UnB e da Unesp resolveram investigar se o peptídeo –batizadao de polydim-1, em homenagem à vespa– seria eficaz contra bactérias resistentes a múltiplos antibióticos.

O mais provável é que a razão evolutiva para uma vespa desenvolver esse tipo de molécula não é o de matar as bactérias de sua presa, e sim destruir as próprias células da vítima. Felizmente, ao menos no caso da P. dimorpha, esse peptídeo parece não ser tão nocivo para mamíferos.
Para testar o potencial antissuperbactéria do polydim-1, foram usadas amostras provenientes de pacientes que tiveram infecções severas e que estavam armazenadas na biblioteca de microbiologia do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). O resultado é animador, diz Marisa Rangel, do Butantan.
"Sem dúvida foi a molécula mais promissora com a qual eu trabalhei até agora. Observamos uma atividade especialmente grande em bactérias que apresentam mecanismos de resistência. "
Mesmo com o ótimo desempenho in vitro (e bons indicativos de testes anteriores in vivo), ainda não dá para comemorar. Até a molécula virar remédio, se isso realmente acontecer, outros fatores entrarão em jogo, como o interesse de indústria farmacêutica em bancar testes em seres humanos.
E há motivos para que isso não ocorra. Um deles é o custo para sintetizar uma molécula dessas, muito maior que aquele dos antibióticos clássicos –ou seja, uma única dose para humanos poderia custar milhares de reais.

Uma alternativa seria tentar simplificar a molécula, tirando alguns dos seus 22 aminoácidos, o que baratearia a síntese. Outra opção é mudar o processo de fabricação e usar fungos modificados geneticamente na produção.
Apesar das dificuldades, é uma briga que vale a pena, pelo menos de acordo com um apelo recente da Organização Mundial de Saúde. Em fevereiro, a entidade pediu que esse combate fosse uma prioridade.

Se um grupo de bactérias é exposto a um antibiótico, o esperado é que elas morram. Algumas, porém, encontram artifícios para sobreviver, apesar da condição desfavorável. Quando proliferam, as descendentes herdam essa característica, formando uma linhagem resistente.
O processo se repete com diferentes tipos de antibiótico e aparecem as bactérias multirresistentes. Daí a crítica ao uso indiscriminado e incorreto na criação de animais e em humanos, por exemplo.
"Perdi recentemente meu tio para uma infecção com duas bactérias multirresistentes. É uma história que se repete, você dá o coquetel de antibiótico, mas a pessoa não aguenta nem com o remédio nem com as bactérias –e a maioria morre e ninguém fala disso", diz a pesquisadora. "Nos últimos 40 anos só surgiram três novas classes de antibióticos. Estamos perdendo a guerra", lamenta.

HISTÓRIA
Uma das maiores descobertas da humanidade aconteceu na década de 1920, quando o escocês Alexander Fleming descobriu a penicilina, molécula produzida por fungos do gênero Penicillium.
Com esse conhecimento, passou a ser mais fácil tratar infecções bacterianas. Mas, conforme o uso de antibióticos crescia e outras moléculas eram adicionadas ao arsenal terapêutico, começaram a surgir linhagens de bactérias resistentes.

A penicilina foi disponibilizada comercialmente em 1943, mas desde 1940 já havia sido identificada uma linhagem de bactérias do gênero Staphylococcus resistente à droga. Mais de 70 anos depois, o panorama é mais ou menos o mesmo e, para cada antibiótico lançado, há pelo menos uma linhagem bacteriana resistente a ele.
O estudo de Marisa e colaboradores foi publicado na revista "Plos One".
-

ASSASSINO DE BACTÉRIAS

Cientistas estudam veneno de vespa que pode se tornar um poderoso antibiótico
ORIGEM
Ao estudar o veneno da vespa Polybia dimorpha, cientistas viram que ali poderia haver candidato a antibióticos. A 'culpada' é uma molécula batizada de polydim-I, em homenagem à vespa
FABRICAÇÃO
Como o veneno é composto por várias moléculas, os cientistas tiveram de produzi-la em pequena escala no laboratório em um processo de síntese química para fazer os testes
TESTE
Em laboratório, foram feitos testes com uma série de linhagens de bactérias resistentes a múltiplos antibióticos e a molécula teve performance superior a drogas convencionais
Vespa
EXPLICAÇÃO
Segundo os pesquisadores, a molécula formaria uma espécie de buraco na membrana das bactérias, impedindo que ela mantenha suas funções e prolifere
SEGURANÇA
Já foram feitos testes com camundongos, mostrando que a droga, além de tratar infecções, aparentemente não faz mal para as células de mamíferos
PERSPECTIVA
A ideia dos pesquisadores é aperfeiçoar a molécula e seu método de síntese para que ela possa ser testada em humanos e combata as infecções hospitalares por bactérias multirresistentes

Assinam o artigo pela Unesp as pesquisadoras do Laboratório de Estudos em Peptideos do Departamento de Química e Ciências Ambientais do Câmpus de São José do Rio Preto: a doutoranda Danubia Batista Martins e a professora Marcia Perez dos Santos Cabrera, responsável pelo Laboratório.



Contatos:
Marcia Perez dos Santos Cabrera
cabrera.marcia@gmail.com
marciap@ibilce.unesp.br


Laboratório de Estudos em Peptideos
Departamento de Química e Ciências Ambientais
Unesp de São José do Rio Preto
17-3221-2289

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A Evolução Biológica


Os Mecanismos da Evolução

Evolução: uma questão de adaptação

Os seres vivos da Terra atual estão adaptados ao meio em que vivem. Esta frase corriqueira revela que entre os seres vivos e o ambiente há um ajuste, uma harmonia fundamental para a sua sobrevivência. O flamingo rosa se alimenta de cabeça para baixo, adaptando-se à procura de alimento no lodo em que vive; os cactos suportam o meio desértico seco graças às adaptações nele existentes; os beija-flores, com seus longos bicos, estão adaptados à coleta do néctar contido nas flores tubulosas que visitam. Esses e numerosos outros exemplos são reveladores da perfeita sintonia que existe entre os seres e os seus ambientes de vida.

Adaptação: fixismo versus transformismo

Desde o tempo dos filósofos gregos, passando pelos pensadores do século passado, a adaptação dos seres vivos aos seus ambientes de vida é um fato incontestável. A origem da adaptação, porém, é que sempre foi discutida. Desde a Antiguidade se acreditava que essa harmonia seria o resultado de uma criação especial, a obra de um criador que teria planejado todas as espécies, adequando-as aos diferentes ambientes. Com o advento do cristianismo, ficou mais fácil admitir que as espécies, criadas por Deus, seriam fixas e imutáveis. Os defensores dessa ideia, chamados de fixistas ou criacionistas, propunham que a extinção de muitas espécies seria devida a eventos especiais como, por exemplo, muitas catástrofes que exterminaram grupos inteiros de seres vivos.
Lentamente, no entanto, a partir do século XIX, uma série de pensadores passou a admitir a ideia da substituição gradual de espécies por outras através de adaptações a ambientes em contínuo processo de mudança. Essa corrente de pensamento, transformista, que vagarosamente foi ganhando adeptos, explicava a adaptação como um processo dinâmico, ao contrário do que propunham os fixistas. Para o transformismo, a adaptação é conseguida através de mudanças. À medida que muda o meio, muda a espécie. Os adaptados ao ambiente em mudança sobrevivem. Essa ideia deu origem ao evolucionismo. Evolução biológica é a adaptação das espécies a meios continuamente em mudança. Essa mudança das espécies nem sempre implica aperfeiçoamento ou melhora. Muitas vezes leva a uma simplificação. É o caso das tênias, vermes achatados parasitas: embora nelas não exista tubo digestivo, estão perfeitamente adaptadas ao parasitismo no tubo digestivo do homem e de muitos outros vertebrados.

Adaptação: a espécie em mudança

Dentre os exemplos que ilustram a adaptação das espécies às mudanças do meio, três se destacam por seu caráter clássico: a) a resistência de insetos ao DDT; b) a resistência de bactérias aos antibióticos; c) a coloração protetora das mariposas da espécie Biston betularia. Vamos a eles.
a) A resistência de insetos ao DDT
Considere o seguinte problema. Um fazendeiro estando às voltas com grande quantidade de moscas que infestavam seus estábulos procurou alguma droga que as exterminasse. Como dispunha de DDT, passou a pulverizar o inseticida nos locais onde eram encontrados os insetos. Os resultados, de início, foram ótimos. Desapareceram por completo os invasores. Após certo tempo, porém, verificou-se o ressurgimento das moscas, de início em pequena quantidade, o que provocou novas pulverizações dos estábulos. Notou-se, entretanto, que as moscas aumentavam em número, a despeito de se estar utilizando quantidades crescentes do inseticida.
A análise do problema em questão evidencia um grupo de indivíduos de certa espécie, moscas, existindo em duas situações diferentes: estábulos sem e com DDT. Em ambas as situações, verificou-se a existência de uma população desses insetos.
Pode-se dizer que isso resultou da existência prévia de dois tipos de moscas: as sensíveis ao DDT, numerosas de início, e as resistentes, pouco abundantes. A aplicação do inseticida favoreceu as poucas moscas resistentes, que sobreviveram e se reproduziram, fazendo que ao longo de algumas gerações, novamente aumentasse a população desses insetos nos estábulos. Evidentemente, a “resistência ao inseticida” corresponde a um caráter determinado pela existência de genes que conferem a algumas moscas a capacidade de resistir a certa droga produzida pelo homem. As sensíveis, desprovidas de tais genes, acabam morrendo. As resistentes transmitem seus genes aos seus descendentes. E, assim, a população de moscas como um todo se adapta ao ambiente que foi pulverizado com DDT. Portanto, a persistência de moscas nos estábulos, a despeito de mudanças ocorridas no ambiente com a pulverização do inseticida, mostra um ajuste do grupo com o meio permitido pela existência prévia de indivíduos resistentes.
Tudo se passa como se os organismos em questão fossem capazes de se modificar em resposta a uma mudança ambiental. Na realidade, não houve modificação dos organismos em si. O que sofreu mudança foi o grupo de indivíduos. Em outras palavras, um grupo de indivíduos não resistentes foi substituído por outro grupo de indivíduos, agora resistentes. Os dois grupos pertencem à mesma espécie, e é nesse sentido que podemos dizer que houve “adaptação” (adequação, modificação da composição do grupo em resposta a uma mudança do ambiente).
b) A resistência de bactérias aos antibióticos
O problema da resistência bacteriana a antibióticos caracteriza um caso de adaptação de um grupo de organismos frente a mudanças ambientais. À medida que antibióticos são inadequadamente utilizados no combate a infecções causadas por bactérias, o que na realidade se está fazendo é uma seleção de indivíduos resistentes a determinado antibiótico. Sendo favorecidos, os indivíduos resistentes, pouco abundantes de início, proliferam, aumentando novamente a população de micro-organismos.
c) A coloração protetora das mariposas
Em meados do século passado, a população de certo tipo de mariposa nos arredores de Londres era constituída predominantemente por indivíduos de asas claras, embora entre elas se encontrassem algumas de asas escuras. A explicação para esse fato fica lógica se lembrarmos que nessa época os troncos das árvores eram recobertos por certo tipo de vegetais, os líquenes, que conferiam-lhes uma cor acinzentada. Na medida em que a industrialização provocou aumento de resíduos poluentes gasosos, os troncos das árvores passaram a ficar escurecidos, como consequência da morte dos líquenes e do excesso de fuligem. Nessa região, passou a haver predominância de mariposas de asas escuras, o que denota outro caso de adaptação de um grupo de indivíduos frente a uma mudança ambiental. Procure entender a semelhança existente entre esses dois exemplos de adaptação e o exemplo da resistência de insetos a inseticidas.

As evidências da evolução

Durante a fase polêmica da discussão evolucionista, muitos argumentos foram utilizados. Uma das evidências mais importantes da ocorrência de Evolução biológica é dada pelos fósseis, que podem ser conceituados como “restos ou vestígios de seres vivos de épocas remotas”. Por meio deles, verifica-se que havia organismos completamente diferentes dos atuais, argumento poderoso para os defensores do transformismo. Outras evidências evolutivas podem ser citadas: a semelhança embriológica e anatômica existente entre os componentes de alguns grupos animais, notadamente os vertebrados; a existência de estruturas vestigiais, como, por exemplo, o apêndice vermiforme humano, desprovido de função quando comparado aos apêndices funcionais de outros vertebrados. Modernamente, dá-se muito valor à semelhança bioquímica existente entre diferentes animais. É o caso de certas proteínas componentes do sangue do homem e dos macacos.

Leitura: fósseis, evidências da evolução

Fósseis são restos ou vestígios de seres vivos de épocas remotas e que ficaram preservados em rochas. Podem ser ossos, dentes, conchas ou até impressões, pegadas, pistas deixadas por animais e vegetais nos lugares em que viveram. Desde a antiguidade, muitas foram as explicações sobre a sua origem. Aristóteles acreditava que eram restos de seres vivos que nasciam e cresciam nas rochas. Algumas pessoas diziam que eram formas vivas colocadas nas pedras por espíritos malignos. Já o filósofo Heródoto, em 450 a.C, ao observar restos de conchas no deserto da Líbia, supôs que o Mediterrâneo banhara aquela região em tempos antigos.
A preservação de um fóssil depende da ocorrência de uma série de eventos. Normalmente, organismos mortos são prontamente atacados por vários tipos de seres vivos, entre eles bactérias e fungos que efetuam a decomposição da matéria orgânica. Em alguns casos, porém, a preservação de restos pode ocorrer. Se o animal morrer em leitos de água, a correnteza carrega sedimentos que podem cobri-lo, dificultando o ataque de outros organismos que poderiam destruí-lo, favorecendo, assim, a sua preservação. Do mesmo modo, substâncias minerais trazidas pela água impregnam os ossos, o que ajuda a conservação da sua forma. Esses processos ocorrem comumente em oceanos e mares rasos, duas fontes notáveis de fósseis. A erupção de um vulcão pode levar à fossilização ao soterrar com cinza os animais e vegetais que viviam nas proximidades. Protegidos do ar e de outros animais, esses organismos soterrados acabam sendo preservados. Com o tempo, formam-se camadas sucessivas de sedimentos, exercendo pressão sobre as camadas inferiores e deixando os fósseis incrustados no interior da rocha. De tempo em tempos, os fósseis podem voltar a se expor, principalmente em razão de movimentos da crosta terrestre. Isso favorece a ação de rios que, ao correr por novos leitos, acabam expondo camadas contendo fósseis. Igualmente, a atividade erosiva e modeladora do vento, chuva e gelo favorece a exposição dos fósseis incluídos em rochas.
Os fósseis são importantes em biologia por ilustrarem a ocorrência do processo de evolução biológica. Pode-se fazer uma avaliação da idade de um fóssil pela observação da camada em que está incluído. Como a sedimentação ocorre pela deposição sucessiva de camadas, aquelas que se situam mais inferiormente são mais velhas e devem conter os fósseis mais antigos. Se a evolução da vida ocorreu de modo contínuo, espera-se que os fósseis encontrados espelhem a ordem de evolução de plantas e animais. De maneira geral, fósseis de organismos mais simples são encontrados nas camadas mais inferiores, mais velhas, das rochas. Em camadas mais recentes são encontrados organismos mais complexos. Esse achado é uma evidência de que a vida evoluiu de forma simples para formas mais complexas e que ela vem se modificando vagarosamente há milhões de anos. Técnicas modernas têm auxiliado a datação da idade dos fósseis. Através delas e a partir da descoberta de um fóssil de animal parecido com um “fox-terrier” e de outros fósseis, foi possível determinar a sequência que originou o cavalo atual. Muitas vezes, porém, o registro fóssil é falho e apresenta muitas lacunas. É evidente que não foram reconhecidos ainda todos os estágios que possam esclarecer, por exemplo, a origem dos répteis a partir dos anfíbios. Essa situação é parecida com a de um livro que não tivesse algumas de suas páginas. Como explicar esse fato? Para muitos cientistas, o tempo permitirá a descoberta dos elos intermediários ainda desconhecidos. Para outros, como o americano Stephen Jay Gould, esses elos simplesmente não existem. A evolução, para esse autor, teria ocorrido “aos saltos”, com o surgimento explosivo de novos grupos de tempos em tempos. Essa evolução saltatória seria devida, principalmente, ao acúmulo de mutações gênicas que repentinamente levariam ao surgimento de novas espécies.

Os evolucionistas em ação: Lamarck e Darwin

A partir do século XIX, surgiram algumas tentativas de explicação para a Evolução biológica. Jean Baptiste Lamarck, francês, e Charles Darwin, inglês, foram os que mais coerentemente elaboraram teorias sobre o mecanismo evolutivo. Foi Darwin, no entanto, o autor do monumental trabalho científico que revolucionou a Biologia e que até hoje persiste como a Teoria da Seleção Natural das espécies.

Darwin e a seleção natural

A partir da ideia de adaptação de populações a seus ambientes, fica fácil entender as propostas de Charles Darwin (1809-1882), inglês, autor da teoria da Seleção Natural. Imaginando-se dois ratos, um cinzento e outro albino, é provável que em muitos tipos de ambientes o cinzento leve vantagem sobre o albino. Se isto realmente acontecer, é sinal de que o ambiente em questão favorece a sobrevivência de indivíduos cinzentos ao permitir que, por exemplo, eles fiquem camuflados entre as folhagens de uma mata. Os albinos, sendo mais visíveis, são mais atacados por predadores. Com o tempo, a população de ratos cinzentos, menos visada pelos atacantes, começa a aumentar, o que denota seu sucesso. É como se o ambiente tivesse escolhido, dentre os ratos, aqueles que dispunham de mais recursos para enfrentar os problemas oferecidos pelo meio. A esse processo de escolha, Darwin chamou Seleção Natural. Note que a escolha pressupõe a existência de uma variabilidade entre organismos da mesma espécie. Darwin reconhecia a existência dessa variabilidade. Sabia também que na natureza, a quantidade de indivíduos de certa espécie que nascem é maior que aquela que o ambiente pode suportar. Além disso, era conhecido o fato de que o número de indivíduos da população fica sempre em torno de uma certa quantidade ótima, estável, devido, principalmente, a altas taxas de mortalidade.
É óbvio que a mortalidade seria maior entre indivíduos menos adaptados a seu meio, pelo processo de escolha ou “seleção natural”. Perceba, então, que a ideia de Darwin parte do princípio importante de que existe variabilidade entre os indivíduos de uma mesma espécie e que essa variabilidade pode permitir que indivíduos se adaptem ao ambiente.
Assim, para Darwin, a adaptação é resultado de um processo de escolha dos que já possuem a adaptação. Essa escolha, efetuada pelo meio, é a Seleção Natural e pressupõe a existência prévia de uma diversidade específica. Então, muda o meio. Havendo o que escolher (variabilidade), a seleção natural entra em ação e promove a adaptação da espécie ao meio. Quem não se adapta, desaparece.
O Darwinismo, a conhecida teoria da “Evolução Biológica por adaptação das espécies aos meios em mudança através da Seleção Natural”, pode ser assim esquematizado:

Variabilidade
||
||
||
Seleção natural –=> || <=– Seleção natural
||
||
||
Adaptação
É claro que, em ambientes diferentes, variações distintas serão valorizadas. Isso explica por que duas populações da mesma espécie podem se adaptar de maneiras bastante diversificadas em ambientes diferentes.
Finalizando, vamos utilizar uma comparação que pode facilitar a compreensão da teoria darwiniana.
Analise o desenho abaixo. Ele representa um funil através do qual são jogadas bolinhas de diversos tamanhos. Somente as “ajustadas” ao tamanho do funil conseguem atravessá-lo. As outras são retidas. Com este modelo você entende a ação da Seleção Natural. O funil representa o meio ambiente, e as bolinhas correspondem às diversas formas existentes entre os seres vivos de determinada espécie. As bolinhas que passaram representam aquelas variedades dotadas de características que as ajustam ao meio e, então, permitem a adaptação da espécie ao ambiente.
variabilidade e seleção
variabilidade e seleção

Darwin: uma longa caminhada rumo à seleção natural

Desde sua infância, Darwin era fascinado por tudo o que se relacionava à natureza. Oriundo de uma família abastada, filho de médico, negava-se a seguir a carreira paterna. Acabou tendo de cursar uma faculdade destinada à formação de religiosos, porém, sempre se dedicou profundamente à história natural, acumulando conhecimentos de geologia, mineralogia, zoologia e botânica. A partir dessa formação, alguns fatos importantes da vida de Darwin facilitaram elaboração de sua teoria. Entre esses fatos, pode-se citar:
a) a viagem por ele empreendida ao redor do mundo como naturalista de bordo do navio Beagle, da armada inglesa. Entre outros aspectos que o fascinaram, como o achado de fósseis de tatus gigantes na América do Sul e conchas de moluscos em plena Cordilheira dos Andes, foi a comparação dos arquipélagos de Cabo Verde e Galápagos que o deixou convencido da ocorrência da transformação das espécies. Esses dois arquipélagos têm origem vulcânica, possuem praticamente a mesma idade geológica e situam-se quase na mesma latitude. Sendo semelhantes do ponto de vista ambiental, neles deveriam ser encontrados os mesmos tipos de seres vivos, segundo o pensamento fixista predominante na época. Mas Darwin verificou que as ilhas de cada arquipélago possuíam as suas próprias comunidades, e a maioria dos animais nelas existentes assemelhava-se aos animais que ele vira na África e na América do Sul. As espécies de pássaros fringilídeos que Darwin encontrou em Galápagos pareciam “descendentes modificados das espécies sul-americanas”.
b) as experiências de seleção artificial executadas por Darwin e por inúmeros outros criadores de plantas e animais. Há séculos o homem percebeu que a variabilidade existente entre os descendentes de animais e plantas que cria permite a seleção dos melhores, aprimorando e modificando as espécies. Se o homem pode fazer essa escolha e modificar os rumos de uma espécie em pouco tempo, o que não poderia fazer a natureza ao longo de milhões de anos e dispondo de uma ampla variabilidade entre as espécies?
c) a leitura de um livro do economista Thomas Malthus, que, em fins do século XVIII, escreveu um tratado sobre a preocupação com o tamanho da população humana, que crescia em progressão geométrica enquanto a produção de alimentos pelo homem ocorria num ritmo menor, em progressão aritmética. Haveria, assim, disputa por alimento, sobrevivendo apenas aqueles que tivessem acesso a ele. Então, pensava Darwin, se a população humana passa por um processo de seleção por causa do alimento, o mesmo deveria acontecer na natureza com os demais seres vivos.
d) Darwin conseguiu chegar a uma conclusão que o levou a elaborar a sua conhecida teoria; faltava-lhe, no entanto, a coragem necessária para enfrentar o sistema religioso e científico que, na época, era declaradamente antievolucionista. O impulso que o fez publicar sua teoria foi uma carta enviada pelo biólogo Alfred Russel Wallace, dizendo que em suas viagens chegara à conclusão de que deveria haver um processo de seleção natural das espécies que as faria adaptar-se aos seus ambientes. A partir disso, Darwin foi aconselhado por amigos a expor suas ideias, e em 1859 foi publicado o polêmico livro “The origin of species by means of natural selection”, que revolucionou a biologia.

O que Darwin não sabia: neodarwinismo

O trabalho de Darwin despertou muita atenção mas também suscitou críticas. A principal era relativa à origem da variabilidade existente entre os organismos de uma espécie. Darwin não teve recursos para entender por que os seres vivos apresentam diferenças individuais. Não chegou sequer a ter conhecimento dos trabalhos que um monge chamado Mendel realizava, cruzando plantas de ervilha. O problema só foi resolvido a partir do início do século XX, com o advento da ideia de gene. E só então ficou fácil entender que mutações e recombinação gênica são as duas importantes fontes de variabilidade entre as espécies. Assim, o darwinismo foi complementado, surgindo o que os evolucionistas modernos conhecem como Neodarwinismo ou Teoria Sintética da Evolução e que se apoia nas ideias básicas de Darwin. Veja o esquema abaixo:

Mutações genéticas –=> Variabilidade <=– Recombinação gênica
||
||
||
Seleção natural –=> || <=– Seleção natural
||
||
||
Adaptação
Fica fácil entender, agora, o mecanismo da resistência bacteriana aos antibióticos usados para o seu combate. Partindo do princípio da existência prévia de variabilidade, uma população bacteriana deve ser formada por dois tipos de indivíduos: os sensíveis e os resistentes. O uso inadequado de um antibiótico deve eliminar as bactérias sensíveis, favorecendo as resistentes, que são selecionadas. As bactérias resistentes proliferam e promovem a adaptação da espécie ao ambiente modificado. Qualquer outro problema de adaptação das espécies a ambientes em modificação pode ser explicado utilizando-se o raciocínio neodarwinista.

Leitura: evolução, trabalho de engenhoqueiro

autor: François Jaco
fonte: “O jogo dos possíveis”, 1981, Gradiva Publicações
“A evolução não tira do nada as suas novidades. Trabalha sobre o que já existe, quer transformando um sistema antigo para lhe dar uma nova função, quer combinando diversos sistemas para com eles arquitetar um outro mais ou menos complexo. O processo de seleção natural não se parece com nenhum aspecto do comportamento humano. Mas, se quisermos lançar mão de uma comparação, deverá afirmar-se que a seleção natural atua, não à maneira de um engenheiro mas como um engenhoqueiro. Um engenhoqueiro que ainda não sabe o que vai fazer, mas que recupera tudo o que lhe vem às mãos, pedaços de cordel, bocados de madeira, papelões velhos, tudo o que eventualmente lhe possa fornecer materiais; um engenhoqueiro que, em suma, aproveita aquilo que encontra à sua volta para tirar daí algum objeto utilizável. Como acentuou Claude Lévi-Strauss, os utensílios do engenhoqueiro, ao contrário dos do engenheiro, não pode ser definidos por nenhum programa. Os materiais de que dispõe não têm uma finalidade precisa. Cada um deles pode servir para mais de um fim. Nada têm em comum além do fato de uma pessoa deles poder dizer: …“isto pode ser sempre útil”. Para quê? Depende das circunstâncias. O processo da evolução parece-se em muitíssimos aspectos com essa maneira de agir. A evolução procede como um engenhoqueiro que, durante milhões e milhões de anos, arranjasse lentamente a sua obra, retocando-a sem cessar, cortando aqui, alongando acolá, agarrando todas as oportunidades para ajustar, transformar, criar”.

Lamarck e sua ideia cativante

Um dos primeiros adeptos do transformismo foi o biólogo francês Lamarck, que, como você verá, elaborou uma teoria da Evolução, embora totalmente desprovida de fundamento científico.
No mesmo ano em que nascia Darwin, Jean Baptiste Lamarck (1744-1829) propunha uma ideia elaborada e lógica. Segundo ele, uma grande mudança no ambiente provocaria numa espécie a necessidade de se modificar, o que a levaria a mudanças de hábitos.
Se o vento e as águas podem esculpir uma rocha, modificando consideravelmente sua forma, será que os seres vivos não poderiam ser também moldados pelo ambiente? Teria o ambiente o poder de provocar modificações adaptativas nos seres vivos?
Lamarck acreditava que sim. Considerava, por exemplo, que mudanças das circunstâncias do ambiente de um animal provocariam modificações suas necessidades, fazendo que ele passasse a adotar novos hábitos de vida para satisfazê-las. Com isso o animal passaria a utilizar mais frequentemente certas partes do corpo, que cresceriam e se desenvolveriam, enquanto outras partes não seriam solicitadas, ficando mais reduzidas, até se atrofiarem. Assim, o ambiente seria o responsável direto pelas modificações nos seres vivos, que transmitiriam essas mudanças aos seus descendentes, produzindo um aperfeiçoamento da espécie ao longo das gerações.
Com base nessa premissa, postulou duas leis. A primeira, chamada Lei do Uso e Desuso, afirmava que, se para viver em determinado ambiente fosse necessário certo órgão, os seres vivos dessa espécie tenderiam a valorizá-lo cada vez mais, utilizando-o com maior frequência, o que o levaria a hipertrofiar. Ao contrário, o não uso de determinado órgão levaria à sua atrofia e desaparecimento completo ao longo de algum tempo.
A segunda lei, Lamarck chamou de Lei da Herança dos Caracteres Adquiridos. Através dela postulou que qualquer aquisição benéfica durante a vida dos seres vivos seria transmitida aos descendentes, que passariam a tê-la, transmitindo-a, por sua vez, às gerações seguintes, até que ocorresse sua estabilização.
A partir dessas suas leis, Lamarck formulou sua teoria da evolução, apoiado apenas em alguns exemplos que observara na natureza. Por exemplo, as membranas existentes entre os dedos dos pés das aves nadadoras, ele as explicava como decorrentes da necessidade que elas tinham de nadar. Cornos e chifres teriam surgindo como consequência das cabeçadas que os animais davam em suas brigas. A forma do corpo de uma planta de deserto seria explicada pela necessidade de economizar água.

Por que não podemos aceitar as teses de Lamarck?

Na verdade não podemos simplesmente achar erradas as ideias de Lamarck sem dizer exatamente o porquê do erro. É preciso saber criticá-las com argumentos que evidenciam o erro nelas contido. Assim, pode-se dizer que a lei do uso e desuso só será válida se a alteração que ela propõe estiver relacionada a alterações em órgãos de natureza muscular e, ainda, alterações que não envolvam mudanças no material genético do indivíduo. A cauda de um macaco sul-americano não cresceu porque o animal manifestou o desejo de se prender aos galhos de uma árvore. Tal mudança deveria envolver antes uma alteração nos genes encarregados da confecção da cauda.
Com relação à lei da transmissão das características adquiridas, é preciso deixar bem claro que eventos que ocorrem durante a vida de um organismo, alterando alguma sua característica, não podem ser transmissíveis à geração seguinte. O que uma geração transmite à outra são genes. E os genes transmissíveis já existem em um indivíduo desde o momento em que ele foi um zigoto. E, fatos que ocorram durante sua vida não influenciarão exatamente aqueles genes que ele deseja que sejam alterados.

Lamarck e Darwin frente a frente: o tamanho do pescoço das girafas

Lamarckismo
  1. As girafas ancestrais provavelmente tinham pescoços curtos que eram submetidos a frequentes distensões para capacitá-las a alcançar a folhagem das árvores.
  2. Os descendentes apresentavam pescoços mais longos, que eram também esticados frequentemente na procura de alimentos.
  3. Finalmente o contínuo esticamento do pescoço deu origem às modernas girafas. Os fatos conhecidos não sustentam esta teoria.
Darwinismo
  1. As girafas ancestrais provavelmente apresentavam pescoços de comprimentos variáveis. As variações eram hereditárias (Darwin não conseguiu explicar a origem das variações).
  2. Competição e seleção natural levaram à sobrevivência dos descendentes de pescoços longos, em detrimento dos de pescoços curtos.
  3. Finalmente apenas as girafas de pescoços longos sobreviveram à competição. Fatos conhecidos sustentam esta teoria.

II

A Especiação

A especiação: o surgimento de novas espécies

Especiação é o nome dado ao processo de surgimento de novas espécies a partir de uma espécie ancestral. De modo geral, para que isso ocorra é imprescindível que grupos da espécie original se separem e deixem de se cruzar. Essa separação constitui o isolamento geográfico e pode ocorrer por migração de grupos de organismos para locais diferentes e distantes, ou pelo surgimento súbito de barreiras naturais intransponíveis, como rios, vales, montanhas, etc., que impeçam o encontro dos componentes da espécie original. O isolamento geográfico, então, é a separação física de organismos da mesma espécie por barreiras geográficas intransponíveis e que impedem o seu encontro e cruzamento.
A mudança de ambiente favorece a ação da seleção natural, o que pode levar a uma mudança inicial de composição dos grupos. A ocorrência de mutações casuais do material genético ao longo do tempo leva a um aumento da variabilidade e permite a continuidade da atuação da seleção natural. Se após certo tempo de isolamento geográfico os descendentes dos grupos originais voltarem a se encontrar, pode não haver mais a possibilidade de reprodução entre eles. Nesse caso, eles constituem novas espécies. Isso pode ser evidenciado através da observação de diferenças no comportamento reprodutor, da incompatibilidade na estrutura e tamanho dos órgãos reprodutores, da inexistência de descendentes ou, ainda, da esterilidade dos descendentes, no caso de eles existirem. Acontecendo alguma dessas possibilidades, as novas espécies assim formadas estarão em isolamento reprodutivo, confirmando, desse modo, o sucesso do processo de especiação.
Nem sempre, porém, acaba havendo isolamento reprodutivo entre grupos que se separam, isto é, nem sempre ocorre a formação de novas espécies. O que aconteceria se as barreiras geográficas fossem desfeitas precocemente? Ou, o que pode acontecer se o isolamento geográfico for interrompido? Nesse caso, é possível que os componentes dos dois grupos tenham acumulado diferenças que os distinguem entre si mas que não impedem a reprodução. Isto é, os dois grupos ainda pertencem à mesma espécie. Como denominar, então, essas variedades que não chegaram a transformar-se em novas espécies? Podemos chamá-las de RAÇAS. Uma mesma espécie poderá ser formada por diversas raças, intercruzantes entre si, mas que apresentam características morfológicas distintas. Pense nas diferentes raças de cães existentes atualmente e essa ideia ficará bem clara.
 (…)

Leitura: um caso real

Um caso interessante que ilustra o que foi dito é o da rã norte-americana Rana pipiens. A distribuição geográfica dessa espécie de animal ocorre do norte ao sul da América do Norte. As diferentes populações apresentam características morfológicas distintas. Só que dificilmente uma rã do Norte se acasala com uma do Sul. Se isso for feito artificialmente, notar-se-á uma grande quantidade de descendentes defeituosos. No entanto, se os cruzamentos ocorrem entre populações vizinhas, a porcentagem de indivíduos normais será de 100%. Esse fato mostra que em Rana pipiens ocorre o chamado fluxo gênico entre populações vizinhas, desde o Norte até o Sul, de modo que todas essas populações pertencem à mesma espécie. É provável que, se as populações intermediárias forem eliminadas, as que se encontram em extremos opostos venham a constituir duas novas espécies, incapazes de trocar genes.
(…)
(FCC) O esquema abaixo representa 4 populações. Os círculos que se tangenciam correspondem a populações que se intercruzam na natureza.
esquema
esquema
O número de espécies consideradas e o número de espécies que passaria a existir se 1 desaparecesse são, respectivamente: a) 1 e 2, b) 1 e 3, c) 3 e 2, d) 3 e 3 ou e) 4 e 3?
Através da análise do esquema, pode-se notar que I e II se intercruzam então pertencem à mesma espécie. O mesmo se pode dizer com relação às populações II e III. Embora III não se intercruze com I, pode-se dizer que III é da mesma espécie que I, já que III se intercuza com II, que, por sua vez, intercruza-se com I, pois ambas são intercruzantes. Com isso temos que, assim como foi feito no esquema, há apenas uma espécie. Nota-se que há um fluxo gênico entre as populações consideradas, mesmo que não haja contato entre todas elas. No caso de I desaparecer, o esquema ficaria:
esquema
esquema
…e, portanto, só passaria a haver cruzamento entre as populações II e III, que constituiriam uma espécie, ficando a população IV isolada das demais e constituindo uma outra espécie. Portanto a resposta é A.
Os tipos de isolamento reprodutivo
O isolamento reprodutivo corresponde a um mecanismo que bloqueia a troca de genes entre as populações das diferentes espécies existentes na natureza. Não se esqueça de que o conceito espécie se baseia justamente na possibilidade de trocas de genes entre os organismos, levando a uma descendência fértil. No caso de haver isolamento reprodutivo, ele se manifesta de dois modos: 1) através do impedimento da formação do híbrido, e nesse caso diz-se que estão atuando os mecanismos de isolamento reprodutivo pré-zigóticos, ou seja, que antecedem o zigoto, e b) através de alguma alteração que acontece após a formação do zigoto, e nesse caso fala-se na atuação de mecanismos de isolamento reprodutivos pós-zigóticos.
Os mecanismos pré-zigóticos mais usuais são:
  1. Diferenças comportamentais relativas aos processos de acasalamento entre animais, tais como cantos de aves, danças nupciais de mamíferos etc.
  2. Incompatibilidade de tamanho entre os órgãos genitais externos nos animais.
  3. Amadurecimento sexual em épocas diferentes, válido tanto para animais como vegetais.
  4. A utilização de locais de vida (habitats) diferentes de uma mesma área geográfica, o que impede o encontro de animais.
Os mecanismos pós-zigóticos mais usuais são:
  1. Inviabilidade do híbrido, com a ocorrência de morte nos estágios iniciais do desenvolvimento.
  2. Esterilidade dos híbridos. Embora nasçam, cresçam e sejam vigorosos, os híbridos são estéreis, o que revela incompatibilidade dos lotes cromossômicos herdados de pais de espécies diferentes, implicando a impossibilidade de ocorrência da meiose. Não havendo meiose, não há formação de gametas e, consequentemente, não há reprodução. É clássico o exemplo do burro ou da mula, consequência do cruzamento de égua com jumento, pertencentes a duas espécies próximas, porém diferentes. Nesse caso, burro e mula não constituem uma terceira espécie, sendo considerados apenas híbridos interespecíficos.
  3. Esterilidade e fraqueza da geração F2. Às vezes, híbridos interespecíficos acasalam-se com sucesso mas originam descendentes fracos, degenerados, que, se não morrem cedo, são totalmente estéreis.

Simpatria e alopatria

Quando duas populações vivem na mesma área geográfica elas são chamadas de simpátricas (Sin = união, pátricas = de pátria, local de vida). Necessariamente as duas populações deverão pertencer a espécies diferentes. É o caso das Zebras e Girafas encontradas em determinado local da Savana africana. Por outro lado, populações da mesma espécie, ou não, que habitem ambientes diferentes são considerados alopátricas (Aloios, do grego, significa diferente). Duas populações de lambaris que habitam represas diferentes são alopátricas. Girafas e pinguins são grupos alopátricos de organismos pertencentes a espécies diferentes.

Irradiação adaptativa

Há muitos indícios de que a evolução dos grandes grupos de seres vivos foi possível a partir de um grupo ancestral cujos componentes, através do processo de especiação, possibilitaram o surgimento de espécies relacionadas. Assim, a partir de uma espécie inicial, pequenos grupos iniciaram a conquista de novos ambientes, sofrendo uma adaptação que lhes possibilitou a sobrevivência nesses meios. Desse modo teriam surgido novas espécies que em muitas características apresentavam semelhanças com espécies relacionadas e com a ancestral. Esse fenômeno evolutivo é conhecido como Irradiação Adaptativa, e um dos melhores exemplos corresponde aos pássaros fringilídeos de Galápagos estudados por Darwin. Originários do continente sul-americano, irradiaram-se para diversas ilhas do arquipélago, cada grupo adaptando-se às condições peculiares de cada ilha e, consequentemente, originando as diferentes espécies hoje lá existentes.
Para que a irradiação possa ocorrer, é necessário em primeiro lugar que os organismos já possuam em seu equipamento genético as condições necessárias para a ocupação do novo meio. Este, por sua vez, constitui-se num segundo fator importante, já que a seleção natural adaptará a composição do grupo ao meio de vida.
Irradiação adaptativa
Irradiação adaptativa

Convergência adaptativa

A observação de um tubarão e um golfinho evidencia muitas semelhanças morfológicas, embora os dois animais pertençam a grupos distintos. O tubarão é peixe cartilaginoso, respira por brânquias, e suas nadadeiras são membranas carnosas. O golfinho é mamífero, respira ar por pulmões, e suas nadadeiras escondem ossos semelhantes aos dos nossos membros superiores. Portanto, a semelhança morfológica existente entre os dois não revela parentesco evolutivo. De que maneira, então, adquiriram essa grande semelhança externa? Foi a atuação da um mesmo meio, o aquático, que selecionou nas duas espécies a forma corporal ideal ajustada à água. Esse fenômeno é conhecido como convergência adaptativa ou evolução convergente.
Outro exemplo de evolução convergente é o da semelhança morfológica existente entre os caules de um cacto do sul dos Estados Unidos e uma outra planta da família das Euforbiáceas, habitante da África. Os dois vegetais habitam regiões áridas semelhantes e são muito parecidos. Pertencem, porém, a grupos diferentes, o que pode ser mostrado através da estrutura das flores, que não é a mesma.
Homologia e analogia
Agora que sabemos o que é irradiação adaptativa e convergência adaptativa, fica fácil entender o significado dos termos homologia e analogia. Ambos utilizados para comparar órgãos ou estruturas existentes nos seres vivos. A homologia designa a semelhança de origem entre dois órgãos pertencentes a dois seres vivos de espécies diferentes, enquanto a analogia se refere à semelhança de função executada por órgãos pertencentes a seres vivos de espécies diferentes. Dois órgãos homólogos poderão ser análogos caso executem a mesma função.
A cauda de um macaco sul-americano e a cauda de um cachorro são estruturas homólogas (os dois animais são mamíferos) e não desempenham a mesma função. Já as asas de um beija-flor (ave) e as de um morcego (mamífero) são homólogas por terem a mesma origem e análogas por desempenharem a mesma função.
Por outro lado, as asas de uma borboleta (um inseto, artrópode) são análogas às asas de um pardal (uma ave) por desempenharem a mesma função, porém não são homólogas, já que a origem destas estruturas é muito diferente.
Note que os casos de homologia revelam a atuação do processo de irradiação adaptativa e denotam um parentesco entre os animais comparados. Já os casos de analogia pura, não acompanhados de homologia, revelam a ocorrência de convergência adaptativa e não envolvem parentesco entre os animais exemplificados. Assim, as nadadeiras anteriores de um tubarão são análogas às de uma baleia e ambas são consequência de uma evolução convergente.
  • autor: Armênio Uzunian, Dan Edésio Pinseta, Sezar Sasson
  • fonte: Biologia; introdução à Biologia
  • pp. 78-85;88-95. (Livro 1). São Paulo: Gráfica e Editora Anglo, 1991.