terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Professor da Unesp publica com colegas de Polônia e Austrália

Artigo aponta adaptações que permitiram à planta carnívora ser polinizada por aves

21/01/2019 por: ACI Unesp
Pesquisadores examinaram adaptações da Utricularia menziesii. Imagem: Divulgação.
 
As utriculárias são um gênero de plantas carnívoras (Utricularia) que compreende aproximadamente 250 espécies distribuídas pelo mundo. As espécies ocorrem geralmente em locais ensolarados e úmidos, em brejos, pântanos, lagoas e rios. A maior parte das espécies pode ser encontrada nas Américas, África e também na Austrália.

Um artigo publicado no ano passado pelo professor Vitor Fernandes Oliveira de Miranda, do câmpus de Jaboticabal, em parceria com pesquisadores da Polônia e da Austrália, examinou a micromorfologia de uma das espécies de utriculária para avaliar características que possam estar ligadas à sua estratégia de polinização.

O artigo foi publicado no periódico Annals of Botany em parceria com pesquisadores da Jagiellonian University, da Cracóvia, Universidade de Varsóvia, University of Silesia, de Katovice, todas na Polônia, da University of Western Austrália, Universiadde de Adelaide, ambas na Austrália.

As utriculárias são plantas que apresentam pequenas vesículas chamadas de utrículos. Essas bolsas são, na verdade, folhas modificadas, as quais são empregadas para a captura de pequenos animais. Os utrículos, que medem geralmente entre 0,2 e 1,5 cm, são pequenas bolsas que agem por sucção, abaixo da água, capturando desde protozoários, insetos aquáticos e até mesmo alevinos e girinos.
O docente explica que, apesar de todas as características inusitadas dessas plantas, ainda sabemos pouco sobre a sua biologia. Poucos são os estudos sobre a biologia da polinização das espécies de utriculária. Dentre as espécies das quais se conhecem os polinizadores, nós sabemos que eles são geralmente abelhas, moscas e pequenas borboletas. Como as espécies de utriculária apresentam flores geralmente bastante semelhantes, com cores basicamente amarelas, lilases, brancas ou vermelhas, acredita-se que os polinizadores devam ser os mesmos grupos de insetos.

“A exceção são as espécies de flores vermelhas, uma vez que essa cor está muito associada à polinização pelas aves. Dos trabalhos publicados sobre a biologia da polinização das espécies de utriculária, esse é o primeiro de uma espécie com flores vermelhas: a Utricularia menziesii”, aponta.
Em Jaboticabal, Miranda coordena um grupo de pesquisa voltado para estudos da sistemática, genômica e evolução de plantas carnívoras. O docente explica que a evolução é um processo que basicamente aproveita formas pré-existentes, permitindo a adaptação dos seres vivos às mudanças no ambiente, por exemplo.

No caso das utriculárias, aponta o docente, sabe-se que houve uma linhagem ancestral comum há aproximadamente 30 milhões de anos atrás que deu origem a todas as demais espécies. A partir de uma linhagem ancestral que era terrestre, surgiram todas as espécies aquáticas (que vivem em rios, riachos e lagoas), epífitas (que vivem sobre troncos de árvores), litófitas (que vivem sobre afloramentos rochosos) e reófitas (que vivem próximas à água, estando assim ora fora d’água ou submersas).

“Da mesma forma, possivelmente as primeiras utriculárias eram polinizadas por abelhas, moscas ou borboletas, sendo que algumas espécies se adaptaram para a polinização por aves. Muitas espécies de plantas polinizadas por aves apresentam cores vermelhas e produzem quantidade de néctar suficientemente atrativas para esses animais”, aponta Miranda. “O nosso trabalho concluiu que esse é o caso da australiana Utricularia menziesii. O polinizador dessa espécie de carnívora é a ave Acanthorhynchus superciliosus”.
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Ave Acanthorhynchus superciliosus, polinizadora da espécie de planta carnívora Utricularia menziesii (Crédito: Wikipedia)

Miranda lembra que já existem relatos na literatura da visita da ave Acanthorhynchus superciliosus às flores em U. menziesii, entretanto sem nenhuma descrição da anatomia floral. Como a planta é de pequeno porte, com inflorescências que medem entre 3 e 7 cm, não é possível que a ave polinizadora se apoie na planta. Entretanto, suas flores são bastante rígidas, o que permite que o polinizador enfie o seu bico e possa lamber o néctar. “Outra adaptação bastante interessante é o cálcar presente nas flores.

Nas utriculárias, as flores apresentam um tubo, que são pétalas modificadas, que produz e armazena o néctar. No caso de U. menziesii, o cálcar é alongado e levemente curvado, adaptado ao bico também com essa forma das aves”.

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