terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 

O que são os ciclos de Milankovitch e como afetam o clima da Terra

Em 1920 um cientista chamado Milutin Milankovitch formulou hipóteses de que variações na órbita da Terra podiam resultar em variações cíclicas da energia solar que atingia o planeta, e isso influenciaria os padrões climáticos da Terra.

Desde então evidências têm corroborado com a hipótese de Milankovitch. Tais evidências são observadas estudando rochas e gases presos em bolhas de ar sob o gelo. Uma das mais recentes foi a confirmação da existência de um ciclo de 405.000 anos que, nesse caso, é causado por interações gravitacionais da Terra com Júpiter e Vênus.

As variações do ciclo de Milankovitch

  • Excentricidade: É a variação da órbita da Terra com o Sol. Ela pode variar em uma órbita mais elíptica (oval) ou menos elíptica. A excentricidade da Terra tem um período de cerca de 100 mil anos.
  • Obliquidade: É o movimento de inclinação do eixo de rotação em relação ao Sol. Sendo mais claro, imagine um sino de uma igreja. Quando esse sino esta parado ele está na vertical, quando o balançamos ele se inclina de um lado para o outro. Com o efeito de Obliquidade da terra o mesmo acontece. entretanto a variação dessa inclinação no planeta é entre 22,5° e 24,5º e acontece a cada 41 mil anos.
  • Precessão: A precessão também é uma variação dos ciclos. Enquanto na rotação a Terra gira no próprio eixo e na translação ela gira em torno de sua estrela, na precessão ela faz um giro no eixo de forma inclinada, é como se misturássemos o efeito de obliquidade com a rotação da terra. Esse movimento leva cerca de 25 mil anos.
ciclos de milankovitch edit

Mudanças Climáticas

Os ciclos acima são conhecidos por causar variações na insolação, ou seja, por afetar o nível de radiação recebido do Sol.

A diferença da energia que o planeta recebe pode causar eras com climas mais intensos ou mais amenos. Além da insolação, as variações das orbitas também alteram a distribuição da radiação no globo.

Se, por exemplo, pensarmos em um modelo onde os ciclos combinam em seus extremos – a Terra longe do sol, o ângulo do eixo no máximo de 24,5° – teríamos estações de inverno extremamente frias e verões muito quentes.

Quando se compara variações orbitais dos ciclos com as antigas eras glaciais e interglaciais, é possível ver uma relação entre os dois fatores.

E o aquecimento global?

É comum observar a negação do aquecimento global antropogênico (causado por humanos) com o argumento de que na Terra é normal haverem eras quentes e frias. Entretanto, uma das características do método científico é eliminar variáveis.

Os ciclos de Milankovitch são conhecidos há pelo menos 100 anos, e quando a comunidade científica afirma que as mudanças atuais são causadas por nós, podemos ter certeza que a possibilidade de ser apenas um ciclo já foi uma variável descartada.

Atualmente as mudanças têm ocorrido em um período extremamente curto, ainda mais quando comparamos com os ciclos naturais da Terra que duram milhares de anos.

Evidências geológicas confirmam a existência do ciclo de Milankovitch de 405.000 anos

por Viviane Callier
sexta-feira, 11 de maio de 2018

Amostras de rocha extraídas da Formação Triássica Chinle no Parque Nacional da Floresta Petrificada no Arizona foram datadas e correlacionadas com rochas triássicas da Bacia de Newark para determinar as idades e o tempo dos ciclos climáticos registrados nas rochas. A nova pesquisa confirma a existência de um ciclo previsto de Milankovitch de 405.000 anos governado por Júpiter e Vênus. Crédito: Kevin Krajick/Lamont-Doherty Earth Observatory

O registro rochoso da Terra preserva evidências de numerosos processos naturais, desde evolução e extinção até catástrofes e mudanças climáticas, e às vezes até configurações planetárias.

Em um novo estudo, uma sequência bem preservada de sedimentos do lago Triássico com evidências de padrões cíclicos de mudança climática na Bacia de Newark confirma a existência de um ciclo de Milankovitch - uma mudança periódica na forma da órbita da Terra causada, neste caso, Interações gravitacionais da Terra com Júpiter e Vênus. A descoberta pode ser usada para datar com precisão outros eventos no registro geológico e informar modelos climáticos e astronômicos.

Os geólogos sugeriram anteriormente que os padrões encontrados na Bacia de Newark, uma antiga bacia de fenda que cobre o norte de Nova Jersey, sudeste da Pensilvânia e sul de Nova York, poderiam refletir os efeitos climáticos de um ciclo Milankovitch previsto de 405.000 anos, mas os sedimentos da Bacia de Newark não puderam ser datado com precisão suficiente para confirmar o link.

Outros ciclos de Milankovitch - um ciclo de 23.000 anos relacionado à oscilação do eixo da Terra, um ciclo de 41.000 anos relacionado à inclinação do eixo e um ciclo de 100.000 anos relacionado à excentricidade orbital - estão relativamente bem estabelecidos com base em dados glaciológicos e sedimentares. registros. Esses ciclos astronômicos influenciam a quantidade de energia solar que o planeta recebe e, assim, alteram o clima, por exemplo, produzindo períodos úmidos e secos, que deixam sua marca no registro rochoso.

Nas rochas do Parque Nacional da Floresta Petrificada do Arizona, os cientistas identificaram sinais de um hipotético ciclo de Milankovitch, uma variação regular na órbita da Terra, que parece ter influenciado o clima do planeta desde o período Triássico. Crédito: Kevin Krajick/Lamont-Doherty Earth Observatory

No estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, o geólogo Dennis Kent , do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia e da Universidade Rutgers, e colegas atribuíram datas ao registro rochoso da Bacia de Newark, correlacionando-o com rochas extraídas da Formação Chinle do Triássico Superior. no Parque Nacional da Floresta Petrificada no Arizona. A datação com chumbo de urânio de zircões encontrados em camadas de cinzas vulcânicas produziu idades precisas para as rochas do Arizona, que a equipe então correlacionou com as rochas da Bacia de Newark, combinando o padrão das inversões do campo magnético da Terra registradas em ambos os lugares. A chave é que “o núcleo de Newark tem os ciclos [climáticos]. O núcleo do Arizona tem as datas”, diz Kent.

Os pesquisadores descobriram que as datas dos ciclos climáticos registrados no registro rochoso da Bacia de Newark correspondem ao ciclo de 405.000 anos previsto pelos modelos astronômicos, fornecendo a primeira evidência empírica da existência e estabilidade do ciclo nos últimos 215 milhões de anos.

“Esta é a primeira vez que podemos realmente confirmar a descrição teórica do ciclo de 405.000 anos”, diz a geóloga Linda Hinnov , da George Mason University, que não participou do estudo. “Os astrônomos nos deram este modelo, mas nunca fomos capazes de estabelecer se ele é realmente preciso até agora.”

No entanto, uma preocupação levantada por Spencer Lucas , curador de paleontologia do Museu de História Natural e Ciência do Novo México, é que enquanto o registro de Newark foi depositado em um lago antigo, a sequência do Arizona foi depositada por um rio, o que torna mais provável ter lacunas na história do campo magnético que ele registra. “Se você deseja um registro completo da polaridade magnética, precisa ter uma pilha completa de sedimentos. Se você não tiver isso, não terá um registro completo”, diz Lucas.

Essas lacunas são esperadas e são pequenas em comparação com o período total de tempo registrado na seção, o que sugere que o padrão geral das inversões do campo magnético ainda pode ter sido registrado com precisão, diz o coautor Paul Olsen, paleontólogo . no Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia. Além disso, as lacunas não afetam a precisão da datação do zircão, acrescenta.

A confirmação da existência do ciclo astronômico constante e regular que opera da mesma maneira há mais de 200 milhões de anos fornece aos astrônomos que reconstroem a história do sistema solar um marcador previsível, muito parecido com a batida de um metrônomo, para calibrar seus modelos .

Os modelos astronômicos atuais aplicam as leis da dinâmica newtoniana e da relatividade geral para reconstruir as configurações passadas do sistema solar, mas as previsões dos modelos falham após cerca de 50 milhões de anos. Isso porque é difícil prever o movimento de mais de dois corpos em movimento no espaço durante períodos de tempo muito longos. Os astrônomos estão limitados a calcular as posições dos planetas de forma incremental e, a cada incremento, os erros se acumulam.

“Além disso, a física do sistema solar é caótica”, diz Olsen, o que significa que os modelos astronômicos modernos são altamente sensíveis às condições iniciais e, portanto, a imagem das posições planetárias centenas de milhões de anos atrás pode variar amplamente, dependendo das condições iniciais. suposições e condições de entrada para um modelo.

No entanto, como os astrônomos conhecem a configuração da Terra, Vênus e Júpiter quando o ciclo de 405.000 anos está em seu mínimo e máximo, e porque esses eventos são evidentes no registro da rocha e agora foram bem datados, os astrônomos têm dados mais sólidos sobre que basear as estimativas de configurações planetárias que remontam a mais de 200 milhões de anos.

A descoberta representa um pivô em uma hipótese que Olsen e seus colegas vêm desenvolvendo há décadas, chamada de “Geological Orrery”, em homenagem aos modelos mecânicos do sistema solar do século XVIII. Ele sustenta que a mudança climática registrada no registro geológico poderia ser usada para inferir as posições anteriores e o movimento dos planetas no sistema solar que remontam a centenas de milhões de anos.

Olsen sugere que um exame cuidadoso do registro geológico pode ajudar a refinar e apontar lacunas nos modelos astronômicos. O registro geológico “é um novo mundo de dados empíricos que permite testes da teoria do sistema solar em larga escala”, diz ele.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

 

XVI Simpósio Brasileiro de Paleobotânica e Palinologia

- Primeira Circular -

Já está disponível a Primeira Circular do 
XVI Simpósio Brasileiro de Paleobotânica e Palinologia que será realizado na cidade de São Leopoldo, no estado do Rio Grande do Sul, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), entre os dias 17 e 20 de outubro de 2023

Para acessar o site do evento.
Para acessar a Primeira Circular.
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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

 

Uma expedição à serra do Imeri, montanha inexplorada na Amazônia brasileira

Pesquisadores identificaram animais e plantas isolados pela altitude, o que pode ajudar a elucidar parentescos entre espécies de áreas altas do norte da América do Sul


Vista do acampamento da expedição de novembro: o mais alto é o pico do Imeri, com 2.362 metros, norte do estado do Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela

Herton Escobar / USP Imagens


É difícil chegar à serra do Imeri, no norte do Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela. Com altitude de até 2.450 metros (m) e ocupadas por campos com bromélias, paredões rochosos e árvores cercadas por neblina, essas montanhas aparentemente nunca tinham sido visitadas por pessoas e devem abrigar espécies desconhecidas de animais e plantas. Foi lá que os pesquisadores (ver box) – 12 do Brasil, um da Espanha e outro da França – passaram 11 dias em novembro, em uma expedição científica realizada em conjunto com o Exército brasileiro.

Os biólogos coletaram centenas de exemplares, parte deles representantes de espécies aparentemente nunca descritas, e reuniram informações com as quais pretendem ver os parentescos entre os animais e plantas dessa e de outras áreas altas do Brasil.

“Em quase 40 anos de viagens de campo, nunca encontrei uma proporção tão grande de prováveis espécies novas”, conta o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues, da Universidade de São Paulo (USP) e líder da expedição. Em seu laboratório, uma semana depois de voltar da viagem, ele mostrou à reportagem de Pesquisa FAPESP dezenas de potes de vidro, com lagartos e pererecas. Dois lagartos são semelhantes a exemplares do gênero Riolama coletados em 2017 em uma expedição que ele liderou ao pico da Neblina, 90 quilômetros (km) ao sudeste.


As botânicas Rafaela Forzza (camiseta branca) e Lúcia Lohmann (blusa azul), auxiliadas pelo cabo Marcio Junior da Silva Garcia, descem por cordas em direção aos locais de coletaHerton Escobar / USP Imagens
A serra do Imeri e o pico da Neblina integravam um extenso planalto formado por rochas areníticas que ocupava boa parte do chamado escudo das Guianas antes do soerguimento dos Andes. Sua erosão, ao longo de milhões de anos, ajudou a formar os solos das florestas de regiões baixas adjacentes, deixando muitas espécies de animais e plantas ilhados nos picos, montanhas aplainadas ou tabulares, os chamados tepuis, como o da Neblina, e serras isoladas. O zoólogo Taran Grant, da USP, coletou no Imeri uma espécie de perereca do gênero Myersiohyla e viu semelhanças com as do gênero Hyloscirtus, que vivem nos ambientes montanhosos distantes mais de mil quilômetros nos Andes da Colômbia.

Os lagartos eram capturados durante o dia, em armadilhas ou à mão, geralmente entre pedras ou nas árvores à noite, enquanto dormiam, e os sapos à noite. Grant, com sua equipe, saía à noite, seguindo as pererecas pelas vocalizações até vê-las às margens de riachos. “Quatro pererecas e uma cecília, um tipo de anfíbio, talvez sejam espécies novas”, avalia Grant.

Ambiente inóspito
Poucas espécies se adaptaram ao solo pobre e pedregoso e às variações diárias médias de 20 graus Celsius (°C) do alto da serra do Imeri. Por isso, a diversidade lá é bem menor que na floresta baixa vizinha. São espécies endêmicas, ou seja, aquelas isoladas que, em muitos casos, só existem naquela região.


“Encontramos poucas espécies para a maior parte das famílias de plantas coletadas, indicando que essas linhagens se diversificaram pouco na serra ou deram origem a espécies já extintas”, comenta a botânica Lúcia Lohmann, da USP, especializada em cipós da família das Bignoniáceas. “Por outro lado, a serra parece representar o berço de muitos grupos botânicos.” Segundo ela, é possível que diferentes famílias de plantas com flores e frutos, as angiospermas, tenham surgido ali e depois chegado à Mata Atlântica e a porções mais baixas da Amazônia, onde se diversificaram bastante.





Um exemplo é Brocchinia hechtioides, uma bromélia que cobre os solos encharcados da serra do Imeri, identificada por Rafaela Forzza, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e participante da expedição. “É uma espécie de bromélia carnívora, com apenas dois registros no país”, diz ela. “Apesar de termos encontrado uma única espécie do gênero Brocchinia, é uma espécie abundante nos campos de altitude da serra e constitui uma das linhagens mais antigas de Bromeliaceae, família de plantas particularmente diversa na Mata Atlântica.” As 1.200 amostras de 220 espécies de plantas coletadas serão distribuídas entre especialistas do Brasil e de outros países que irão colaborar na identificação desse material.

“Por serem um grupo que entrou na América do Sul mais tardiamente que outros de animais e plantas, considerando o tempo geológico, os pequenos mamíferos foram provavelmente os últimos grupos de animais a ficar isolados no topo da serra e ali se especializarem”, conta o zoólogo Alexandre Reis Percequillo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. Em uma avaliação preliminar, o marsupial, as três espécies de roedores e as três de morcegos que ele e a bióloga Ana Paula Carmignotto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coletaram são parecidos com os do pico da Neblina.


Além de coletar plantas e animais, alguns pesquisadores fizeram experimentos. O zoólogo Agustin Guerrero, também da USP, colocava répteis e anfíbios em uma caixa acoplada a resistências térmicas e os aquecia até eles saírem. A temperatura de saída indicava locais quentes demais para a sobrevivência dessas espécies.

“Os répteis e anfíbios do Imeri têm baixa tolerância a temperaturas altas, já que todos saíram da caixa a menos de 34 °C”, observou Guerrero. “Eles estariam em perigo se seus refúgios aquecessem até essa temperatura.”

Chuva e lama
Antes da expedição, os pesquisadores treinaram embarque e desembarque do helicóptero por içamento, para eventuais emergências — que não aconteceram. Um grupo de 22 militares acompanhou a expedição e transportou biólogos e equipamento em oito viagens de helicóptero.


A expedição desembarcou em uma área de solo bastante úmido a 1.900 m de altitude. Por essa razão, o helicóptero que os havia transportado apoiava de leve no solo para não afundar na lama. A equipe militar tentou em vão descobrir um acesso por terra, mas nem os indígenas Yanomami, originários da região, sabiam como chegar ao alto da serra, por causa do relevo íngreme.

No primeiro dia no acampamento, o grupo abriu três trilhas com cerca de 1 km cada uma, algumas tão íngremes que só se caminhava com o apoio de uma corda. Três pesquisadores machucaram costelas, olhos e ombros e foram tratados pela equipe médica do Exército. A água das chuvas incessantes e a lama invadiam as barracas. A vida só melhorava um pouco quando o sol aparecia.

Patógenos
O general Sinclair Mayer, chefe do escritório de Campinas do Sistema Defesa Indústria e Academia de Inovação (Sisdia), órgão do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, um dos organizadores da expedição, ressaltou a importância de conhecer novas áreas do território brasileiro por meio de expedições como essa. Em uma reunião no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, em 16 de dezembro, ele destacou os estudos sobre patógenos feitos pelo parasitologista Bruno Fermino, da USP, que coletou amostras de sangue de anfíbios, lagartos, aves, mamíferos e insetos hematófagos e afirma ter encontrado novas espécies de protozoários do gênero Trypanosoma.


Esses protozoários existem há mais de 100 milhões de anos, podem ter infectado os dinossauros e hoje vivem em todas as classes de vertebrados, de peixes a mamíferos. “Espécies coletadas no pico da Neblina e outras na Venezuela podem ser aparentadas, parecidas com os ancestrais de milhões de anos atrás”, diz Fermino. Em seres humanos, T. cruzi causa a doença de Chagas e T. brucei, a doença do sono.

Colaboração
“A expedição não teria sido possível sem o Exército. Todos foram muito cuidadosos com nossa segurança e interessados no que fazíamos”, reconhece Rodrigues. O físico Paulo Muzy, do IEA, contou no encontro de dezembro que a parceria entre a USP e o Exército começou em 2015, para viabilizar a viagem ao pico da Neblina. Especialista em aves, o biólogo Luís Fábio Silveira, do Museu de Zoologia da USP, gostou da parceria: “Os militares foram muito prestativos, até saíam à noite para nos ajudar a descer uma escarpa por corda e fazer coletas”. Silveira coletou 56 exemplares de aves aparentemente exclusivas da região. A maioria é pequena, com penas marrons, e vive em uma região com poucos recursos alimentares.

O próximo objetivo de Rodrigues, aos 69 anos, é fazer coletas na serra de Tulu-Tuloi, cerca de 200 km ao nordeste do Imeri, também no estado do Amazonas. “Existe ali outro conjunto de serras, isoladas do Imeri pelo vale do rio Padauari, que constituem outro experimento evolutivo natural”, diz ele. “Como populações da mesma espécie, quando isoladas, se modificam e podem originar espécies novas, perguntamo-nos se ali não haveria outro núcleo de endemismos [espécies únicas] com parentesco no Imeri.”

Os 14 pesquisadores que participaram da expedição
IB-USP: Miguel Trefaut Rodrigues, Taran Grant, Agustin Camacho Guerrero, Lúcia Garcez Lohmann, Renato Sousa Recoder, Leandro João Carneiro de Lima Moraes; do ICB-USP: Bruno Rafael Fermino; Esalq-USP: Alexandre Reis Percequillo; UFSCar: Ana Paula Carmignotto; MZ-USP: Luís Fábio Silveira, Igor Ferreira de Alvarenga; JBRJ: Rafaela Campostrine Forzza; CNRS, França: Antoine Fouquet; Sem filiação acadêmica: José Mario Beloti Ghellere.

Projeto
Filogeografia comparada, filogenia, modelagem paleoclimática e taxonomia de répteis e anfíbios neotropicais (nº 11/50146-6); Modalidade Programa Biota; Pesquisador responsável: Miguel Trefaut Rodrigues; Investimento R$ 6.183.134,96.