quarta-feira, 12 de junho de 2013

O desastre do Mar de Aral

12/06/2013 17:29

Por: Marcus V. Cabral
 
O encolhimento do mar de Aral (que apenas trata-se de um lago gigante) é resultado de um projeto de transferência de água em grande escala em uma área da antiga União Soviética onde o clima é o mais seco da Ásia Central. Desde 1960, enormes quantidades de água de irrigação foram desviadas do mar de Aral, no interior, e dos dois rios que o alimentam para criar uma das maiores áreas irrigadas do mundo para plantações de arroz e algodão. O canal de irrigação, que é o mais extenso do planeta, alonga-se por mais de 1.300 km.

Esse projeto de desvio de água, aliado às secas e às altas taxas de evaporação em virtude do clima quente e seco da região, causou um desastre ecológico, econômico e de saúde. Desde 1960, a salinidade do mar triplicou, sua área superficial diminuiu em 58% e ele perdeu 83% de seu volume de água. A retirada da água para a agricultura reduziu a meras gotas os rios de abastecimento do mar.
                                                                                                                          Mar-de-Aral
O mar virou sertão: imagem do Mar de Aral em seus dias de maior seca (Foto: Aral Sea Foundation)
Cerca de 85% das áreas úmidas da região foram eliminadas e aproximadamente metade das espécies locais de aves e mamíferos desapareceram. Além disso, uma grande área, que antes era o fundo de um lago, foi transformada em um deserto feito pelo homem, coberto de sal branco e brilhante. Presume-se que o aumento na concentração de sal tenha provocado a extinção de 20 das 24 espécies de peixes nativas da região. Isso devastou a indústria de pesca local, que já chegou a fornecer trabalho a mais de 60 mil pessoas. Os vilarejos e barcos de pescadores que ficavam ao longo da costa do lago agora estão abandonados no meio de um deserto de sal.

O vento arrasta o pó salgado incrustado no leito agora exposto do lago e o leva para os campos a uma distância de até 300 km. Conforme o sal se espalha, polui a água e mata animais selvagens, plantações e outros vegetais. O pó do mar de Aral depositado nas geleiras do Himalaia está fazendo que elas derretam a uma velocidade mais rápida que o normal - um exemplo de conexões e consequências não intencionais.
Para fazer crescer a produção, os agricultores aumentaram o uso de herbicidas, inseticidas, fertilizantes e água de irrigação em algumas plantações. Muitos desses produtos químicos infiltraram-se na terra e se acumularam em níveis perigosos na água subterrânea - fonte de boa parte da água potável da região.

A diminuição do mar de Aral alterou o clima da região. O grande mar de antes atuava como um isolador térmico que moderava o calor do verão e o extremo frio do inverno. Agora há menos chuva, os verões são mais quentes e secos, os invernos são mais frios e a temporada de cultivo é mais curta. A combinação de tal mudança climática e da grave salinização reduziu a produção de grãos de 20% a 50% em quase um terço das terras de cultivo da região.
Por fim, muitas das 58 milhões de pessoas que vivem na área da bacia vertente do mar de Aral passaram a ter cada vez mais problemas de saúde em virtude da combinação de poeira tóxica, sal e água contaminada.

O mar de Aral pode ser salvo e os graves problemas ecológicos e de saúde podem ser revertidos? Desde 1999 as Nações Unidas e o Banco Mundial gastaram cerca de US$ 600 milhões para purificar a água potável e modernizar os sistemas de irrigação e drenagem, o que melhora a eficiência de irrigação e enxagua o sal das terras de cultivo. Além disso, algumas áreas úmidas e lagos artificiais foram construídos para ajudar a restaurar viveiros de peixe, animais selvagens e vegetação aquática.
Mar-de-Aral-pescador
Esperança renovada: pescador do Mar do Aral do Norte posa em agosto de 2005 (Foto: Nick Micklin - National Geographic)
Os cinco países que cercam o lago e os dois rios que o abastecem trabalharam para melhorar a eficiência da irrigação e substituir parcialmente culturas como de arroz e algodão, que exigem muita água, por culturas que exigem menos água. Como resultado, o volume total anual de água na bacia do mar de Aral estabilizou-se. Entretanto, especialistas preveem que a maior parte do mar de Aral ao sul continuará a encolher.
                                                                                                                             
MILLER JR., G.T. Ciência Ambiental. São Paulo: Cengage Learning, 2011.



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