sábado, 28 de abril de 2012

Parque Estadual da Serra do Aracá

É difícil descrever a Serra do Aracá. Poucos já estiveram no seu topo ou sequer no seu entorno. Na verdade, a maioria das pessoas nem sabe da sua existência. Porém, qualquer um que veja as fotos e vídeos desse lugar não tem como negar: trata-se de um dos locais mais lindos não apenas do Brasil, mas do mundo.  
Formações rochosas que atingem mais de 1.000 metros de altura cobertas por uma densa floresta e rodeadas por diversas cachoeiras com pelo menos 200 metros de queda livre formam esta paisagem que é única em toda a Amazônia brasileira.
A Serra do Aracá faz parte do Planalto das Guianas, um imenso escudo rochoso que se inicia no sul da Venezuela e invade o extremo norte do Brasil. Seus representantes mais famosos são os tepuis, incluindo o místico Monte Roraima. A Serra do Aracá é também um tepui, o único localizado abaixo da linha do Equador. Elevando-se a mais de 1.300 metros de altura, a serra surge como uma imensa mesa no meio da floresta amazônica.
Este pedaço da Amazônia esconde inúmeras belezas naturais. A mais impressionante de todas é, sem dúvida, a Cachoeira do El Dorado (ou do Aracá), considerada a maior queda d'água livre do Brasil. Localizada bem no meio de um estreito vale, a água despenca em linha reta de uma altura superior a 360 metros, o equivalente a um prédio de 126 andares. Ao atingir o solo, boa parte do colossal jato de água já se desfez com o vento, o que não impede que uma paradisíaca piscina natural se forme no local, rodeada por imensos paredões rochosos revestidos pelo verde da floresta.
No alto da serra também estão localizadas as cabeceiras de alguns rios. Um deles, em alusão à grande altitude do platô, foi inclusive batizado de Pai Nosso. Esse berço de nascentes leva ao surgimento de várias outras cachoeiras, a maioria com mais de 200 metros de altura. Algumas ficam inacreditavelmente posicionadas uma ao lado da outra, formando um cenário que até então poderia ser visto somente nos mais poéticos filmes de fantasia. Para completar, do topo da serra, a imensidão da floresta amazônica é vista como  um infinito e imaculado tapete verde, que se estende até ultrapassar  a linha do horizonte.
Não bastasse toda a sua deslumbrante beleza cênica, a Serra do Aracá ainda está envolta em diversas lendas e mistérios locais. Em determinado ponto no entorno do parque, a floresta amazônica dá espaço a uma grande planície alagada. Há quem diga que esse local corresponde ao lendário Lago Parime, cuja busca foi relatada em diversas crônicas dos conquistadores espanhóis do século XVI. Segundo contam, nas margens do lago estava localizada Manoa, cidade indígena de grandes riquezas que entrou para a história com o nome de El Dorado. O lago, dizem alguns especialistas, secou há séculos atrás, mas as ruínas da cidade de ouro ainda estariam por lá, encobertas pela floresta. Há até mesmo quem afirme que Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas, significa em idioma indígena "a segunda", e que "a primeira" ainda está escondida entre as montanhas do Aracá.

Beleza escondida, mas não protegida

Apesar de todos esses atrativos, o Parque Estadual só existe no papel. Não há qualquer tipo de infra-estrutura ou fiscalização no local, nem sequer placas indicando os limites do seu território.
O principal motivo é o seu acesso, extremamente complicado. Para chegarmos até a serra é preciso subir o Rio Aracá. Esse afluente do Rio Negro apresenta-se no formato de uma serpente, fazendo inúmeras curvas em seu percurso. Assim, o trajeto fica pelo menos duas vezes mais longo do que seria caso o rio fosse uma linha reta. Entretanto, vale a pena destacar, o acesso difícil não mantém a todos distantes.
Nas décadas de 80 e 90 a Serra do Aracá era bastante frequentada por mineradores que se embrenhavam na floresta em busca de tantalita, um precioso metal utilizado na indústria de telefonia celular. A extração era tão forte que havia pistas de pouso e até mesmo tratores no topo da serra. Em 2001, a Polícia Federal conseguiu fechar as minas clandestinas. Porém, até hoje ainda há relatos de diversas pessoas que conseguem burlar a "fiscalização" e continuam extraindo o minério.
Assim, temos na Serra do Aracá um exemplo bem elucidativo do que acontece em quase toda a Amazônia: a preservação “passiva” da floresta, que depende pura e simplesmente  do isolamento geográfico, sem que de fato sejam criadas políticas e mecanismos de conservação e fiscalização. Esse tipo de proteção é ilusório, pois mantém distantes apenas turistas bem intencionados que gostariam de conhecer e admirar essa paisagem. Em compensação, aqueles cujo interesse na floresta é comercial e extrativista aproveitam a falta de monitoramento das autoridades e exploram de forma predatória as riquezas naturais da região. Quem é movido pela ganância, sempre encontra uma forma de superar os obstáculos geográficos. E assim, ao apenas isolar a Amazônia, as autoridades acabam por facilitar a sua depredação.

Resumindo...

Distância de Barcelos: 200 km em linha reta, e 393 km por via fluvial.
Como chegar (duração):
  • De voadeira a partir de Barcelos (18h)
Não deixe de ver/fazer:
  • Subir no topo da serra e simplesmente admirar a imensidão da Amazônia do alto;
  • Visitar o topo da Cachoeira do El Dorado, a maior do Brasil, bem como a piscina natural que se forma na sua base;
  • Ver a Cachoeira do Desabamento, do Anta, do Boto, da Surpresa e do Cuieiras, todas com mais de 200 metros de altura.
- A melhor época para ir é de abril a setembro, quando os rios ainda estão cheios.
- Não há qualquer tipo de infra-estrutura no parque, nem mesmo comunidades ribeirinhas ou indígenas, o que a torna uma área completamente selvagem e perigosa.
- Diante desse cenário, poucas agências de turismo se arriscam a organizar expedições até o local. A principal delas é a Katerre, operadora com sede em Novo Airão e com larga experiência em viagens de barco pelo Médio e Alto Rio Negro. O preço, entretanto, torna a excursão praticamente proibitiva: R$4.695 por pessoa!

- A Viagem e Expedições El Dorado, operadora sediada em Barcelos, também organizava excursões até a serra. Porém, diante da precária situação do Parque em que não há infra-estrutura alguma de apoio, eles preferiram suspender os pacotes para não arriscar a segurança dos visitantes. 
- Aqui você pode ver um excelente documentário que mostra grande parte das belezas naturais da Serra do Aracá, bem como as dificuldades para chegar até este paraíso.
Para ver fotos do Parque Estadual da Serra do Aracá, clique aqui.

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