Parque Estadual da Serra do Aracá
É
difícil descrever a Serra do Aracá. Poucos já estiveram no seu topo ou
sequer no seu entorno. Na verdade, a maioria das pessoas nem sabe da sua
existência. Porém, qualquer um que veja as fotos e vídeos desse lugar
não tem como negar: trata-se de um dos locais mais lindos não apenas do
Brasil, mas do mundo.
Formações rochosas que
atingem mais de 1.000 metros de altura cobertas por uma densa floresta e
rodeadas por diversas cachoeiras com pelo menos 200 metros de queda
livre formam esta paisagem que é única em toda a Amazônia brasileira.
A
Serra do Aracá faz parte do Planalto das Guianas, um imenso escudo
rochoso que se inicia no sul da Venezuela e invade o extremo norte do
Brasil. Seus representantes mais famosos são os tepuis, incluindo o
místico Monte Roraima. A Serra do Aracá é também um tepui, o único
localizado abaixo da linha do Equador. Elevando-se a mais de 1.300
metros de altura, a serra surge como uma imensa mesa no meio da floresta
amazônica.
Este
pedaço da Amazônia esconde inúmeras belezas naturais. A mais
impressionante de todas é, sem dúvida, a Cachoeira do El Dorado (ou do
Aracá), considerada a maior queda d'água livre do Brasil. Localizada bem
no meio de um estreito vale, a água despenca em linha reta de uma
altura superior a 360 metros, o equivalente a um prédio de 126 andares.
Ao atingir o solo, boa parte do colossal jato de água já se desfez com o
vento, o que não impede que uma paradisíaca piscina natural se forme no
local, rodeada por imensos paredões rochosos revestidos pelo verde da
floresta.
No alto da serra também estão
localizadas as cabeceiras de alguns rios. Um deles, em alusão à grande
altitude do platô, foi inclusive batizado de Pai Nosso. Esse berço de
nascentes leva ao surgimento de várias outras cachoeiras, a maioria com
mais de 200 metros de altura. Algumas ficam inacreditavelmente
posicionadas uma ao lado da outra, formando um cenário que até então
poderia ser visto somente nos mais poéticos filmes de fantasia. Para
completar, do topo da serra, a imensidão da floresta amazônica é vista
como um infinito e imaculado tapete verde, que se estende até
ultrapassar a linha do horizonte.
Não
bastasse toda a sua deslumbrante beleza cênica, a Serra do Aracá ainda
está envolta em diversas lendas e mistérios locais. Em determinado ponto
no entorno do parque, a floresta amazônica dá espaço a uma grande
planície alagada. Há quem diga que esse local corresponde ao lendário
Lago Parime, cuja busca foi relatada em diversas crônicas dos
conquistadores espanhóis do século XVI. Segundo contam, nas margens do
lago estava localizada Manoa, cidade indígena de grandes riquezas que
entrou para a história com o nome de El Dorado. O lago, dizem alguns
especialistas, secou há séculos atrás, mas as ruínas da cidade de ouro
ainda estariam por lá, encobertas pela floresta. Há até mesmo quem
afirme que Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas, significa em idioma
indígena "a segunda", e que "a primeira" ainda está escondida entre as
montanhas do Aracá.
Beleza escondida, mas não protegida
Apesar de todos esses
atrativos, o Parque Estadual só existe no papel. Não há qualquer tipo
de infra-estrutura ou fiscalização no local, nem sequer placas
indicando os limites do seu território.
O
principal motivo é o seu acesso, extremamente complicado. Para
chegarmos até a serra é preciso subir o Rio Aracá. Esse afluente do Rio
Negro apresenta-se no formato de uma serpente, fazendo inúmeras curvas
em seu percurso. Assim, o trajeto fica pelo menos duas vezes mais
longo do que seria caso o rio fosse uma linha reta. Entretanto, vale a
pena destacar, o acesso difícil não mantém a todos distantes.
Nas
décadas de 80 e 90 a Serra do Aracá era bastante frequentada por
mineradores que se embrenhavam na floresta em busca de tantalita, um
precioso metal utilizado na indústria de telefonia celular. A extração
era tão forte que havia pistas de pouso e até mesmo tratores no topo da
serra. Em 2001, a Polícia Federal conseguiu fechar as minas
clandestinas. Porém, até hoje ainda há relatos de diversas pessoas que
conseguem burlar a "fiscalização" e continuam extraindo o minério.
Assim,
temos na Serra do Aracá um exemplo bem elucidativo do que acontece em
quase toda a Amazônia: a preservação “passiva” da floresta, que depende
pura e simplesmente do isolamento geográfico, sem que de fato sejam
criadas políticas e mecanismos de conservação e fiscalização. Esse tipo
de proteção é ilusório, pois mantém distantes apenas turistas bem
intencionados que gostariam de conhecer e admirar essa paisagem. Em
compensação, aqueles cujo interesse na floresta é comercial e
extrativista aproveitam a falta de monitoramento das autoridades e
exploram de forma predatória as riquezas naturais da região. Quem é
movido pela ganância, sempre encontra uma forma de superar os
obstáculos geográficos. E assim, ao apenas isolar a Amazônia, as
autoridades acabam por facilitar a sua depredação.
Resumindo...
Distância de Barcelos: 200 km em linha reta, e 393 km por via fluvial.
Como chegar (duração):
- De voadeira a partir de Barcelos (18h)
Não deixe de ver/fazer:
- Subir no topo da serra e simplesmente admirar a imensidão da Amazônia do alto;
- Visitar o topo da Cachoeira do El Dorado, a maior do Brasil, bem como a piscina natural que se forma na sua base;
- Ver a Cachoeira do Desabamento, do Anta, do Boto, da Surpresa e do Cuieiras, todas com mais de 200 metros de altura.
- A melhor época para ir é de abril a setembro, quando os rios ainda estão cheios.
-
Não há qualquer tipo de infra-estrutura no parque, nem mesmo
comunidades ribeirinhas ou indígenas, o que a torna uma área
completamente selvagem e perigosa.
- Diante desse cenário, poucas agências de turismo se arriscam a organizar expedições até o local. A principal delas é a Katerre,
operadora com sede em Novo Airão e com larga experiência em viagens de
barco pelo Médio e Alto Rio Negro. O preço, entretanto, torna a excursão
praticamente proibitiva: R$4.695 por pessoa!
- A Viagem e Expedições El Dorado,
operadora sediada em Barcelos, também organizava excursões até a serra.
Porém, diante da precária situação do Parque em que não há
infra-estrutura alguma de apoio, eles preferiram suspender os pacotes
para não arriscar a segurança dos visitantes.
- Aqui
você pode ver um excelente documentário que mostra grande parte das
belezas naturais da Serra do Aracá, bem como as dificuldades para chegar
até este paraíso.
Para ver fotos do Parque Estadual da Serra do Aracá, clique aqui.
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