Modelos de como funciona o manto da Terra poderão sofrer mudanças.
O manto
profundo , uma região que fica 670 a 2.900 quilômetros abaixo da
superfície terrestre, é improvável de se chegar e difícil de se "ver"
claramente com sinais sísmicos. Sabe-se sobre o manto mediante estudos
de ondas sísmicas, que aceleram e retardam, levando a uma base de
conhecimento de como elas viajam através de diferentes camadas no
interior da Terra. A parte mais profunda do manto tem "manchas
estranhas" e
zonas de sismicidade lenta que têm intrigado muitos cientistas.
zonas de sismicidade lenta que têm intrigado muitos cientistas.
Modelos de como funciona o manto da Terra poderão sofrer mudança graças a dois novos estudos que recriam as condições extremas acima do núcleo do planeta. Os dois novos estudos oferecem possíveis explicações para esse comportamento sísmico estranho.
Nos
estudos, os pesquisadores reproduziram as condições no interior do
manto profundo em experimentos de laboratório. A trabalhar de forma
independente e em continentes diferentes, as equipes deram tiros lasers
em minúsculas amostras de rocha espremidas entre bigornas de diamante.
Uma das
equipes de cientistas concluiu que a ideia de como certas rochas se
comportam no manto profundo, que responde por cerca de metade do volume
da Terra, era equivocada. A outra equipe encontrou evidências que
pequenas quantidades de rochas mais comuns na superfície terrestre, a
exemplo de o basalto, se agrupavam em forma líquida na fronteira
manto-núcleo.
Os resultados foram publicados no dia 22 de maio na revista Science.
"Estes
resultados são um novo passo frente a reprodução em laboratório do que
está ocorrendo no manto muito profundo", disse Denis Andrault, principal
autor de um dos estudos e cientista da Universidade Blaise Pascal, na
França.
« Mutações minerais no Manto »
O estudo
que examina rochas mantélicas descobriu que um mineral chamado
perovskita, que compõe cerca de 80% do manto profundo, se comporta de
maneira diferente em profundidades superiores a 2.200 km do que acima
desse nível.
Ocorre que, na parte mais baixa do manto inferior, a perovskita tem duas
fases - diferentes formas de organização de seus átomos. Uma fase,
H-phase ou fase H, contém ferro e uma estrutura hexagonal, enquanto a
outra forma é isenta de ferro.
Segundo o
principal autor desse estudo, Li Zhang - cientista do Centro de
Pesquisa de Ciência de Alta Pressão e Tecnologias Avançadas em Xangai, a
fase H é mais estável a temperaturas e pressões encontradas perto do
núcleo, e é provavelmente mais comum do que a forma de perovskita livre
de ferro.
Sabe-se que mudanças litológicas possuem relação direta na
classificação das camadas do interior da Terra, e muitas vezes são
indicadas por mudanças bruscas na velocidade das ondas sísmicas.
Os
pesquisadores acreditam que a descoberta citada irá desencadear mais
pesquisas do interior da Terra nos locais onde a perovskita muda até a
fase H. Isso porque descobrindo a nova fase H, também abre
possibilidades para melhorar os modelos de interior da Terra , conforme
conta Quentin Williams, professor da Universidade da Califórnia, Santa
Cruz, que não esteve envolvido no estudo.
Pesquisadores
agora podem explorar melhor como a transição de uma fase mineral para
outro ciclo de convecção influencia no sistema de tectônicas de placas
do planeta, e se existe um sinal sísmico da mudança.
"A
idéia de que, 1.000 km acima do núcleo da Terra, o material pode ser
separado em minerais ricos em ferro e pobre em ferro, é muito nova",
disse Williams.
« Da crosta ao núcleo »
O
segundo estudo, pela equipe da Universidade Blaise Pascal, indica que
fragmentos de crosta oceânica podem derreter no limite manto-núcleo.
Esta não é uma simples conclusão; basalto pode derreter facilmente
debaixo de vulcões em erupção, mas no manto profundo as rochas podem se
comportar estranhamente devido a pressões submetidas que podem ser
chegar até um milhão de vezes maior do que na superfície da Terra, e
temperaturas no manto profundo são escaldantes: estimatima-se em 1.530
ºC a 3.700 ºC.
Os
resultados vão influenciar o debate sobre fundição de fragmentos da
crosta perto do núcleo e como as novas evidências podem influenciar as
teorias sobre as plumas mantélicas que alimentam hotspots e
transferência de calor dentro da terra.
Ilustração do arranjo experimental utilizado para reproduzir a intensa pressão nas profundezas da Terra |
Crê-se
que o manto profundo é como um armário de armazenamento da Terra. Alguns
pesquisadores acreditam que esses "bolsões de rocha derretida" por cima
do núcleo poderiam existir lá desde quando o planeta se formou a 4,5
bilhões de anos. Outros cientistas também acreditam que o ciclo de
convecção que move as placas tectônicas regularmente traz material
antigo até a superfície, fazendo com que "os líquidos" do manto profundo
estejam mais para tanques de armazenamento de curto prazo do que um
ponto de acumulação.
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