Geologia e Fotografia
Roberto Linsker - 18/02/2011
A minha formação acadêmica é na área de Geociências. Quando entrei na Geologia em 1982 éramos uma turma de cinquenta, quarenta seis rapazes e apenas quatro moças.
Na Geologia as viagens eram frequentes e tínhamos até ônibus próprio, inveja das outras faculdades cujos alunos ficavam ancorados durante 4 ou 5 anos no campus. Nas atividades de campo, víamos com os próprios olhos os resultados dos processos geológicos que aprendíamos nas salas de aula (ao menos era isso que se pretendia). Munidos de fotos aéreas e bússolas, mapeávamos áreas diversas em regiões mais ou menos inóspitas. Vadeávamos riachos e - cruzando pastos e matas na tentativa de não perder a direção pré-estabelecida - voltávamos no final do dia exaustos, famintos e muitas vezes, infestados de carrapatos ou pior, os minúsculos micuins. Talvez seja em parte por isso que ao sair da USP, em 1986, éramos vinte e cinco formandos. Ao longo desses cinco anos metade da turma mudou de ideia e abandonou o curso.
Nas praias de Itacaré, distante desses desconfortos do passado, alguns processos geológicos são facilmente observáveis. Foi assim que produzi, dez dias atrás nas minhas férias, as imagens deste curto ensaio.
Erosão de escarpas, camadas sedimentares com litologias diferenciadas, marcas de onda, marcas de chuva, micro-canions erodidos pelas águas da maré vazante. Baixo os meus pés as areias claras de quartzo se "misturam" com as lâminas de biotita preta. Mas não tem nada não, na próxima enchente as águas do mar as irão separar, e esse ciclo se repetirá de forma incessante, ao menos na escala do nosso tempo humano.
Como fotógrafo vejo uma manifestação estética que me instiga e agrada, por outro lado, a minha pessoa geológica se satisfaz no entendimento. Imagino que isso aconteça com todos nós, quando olhamos o mundo e o deciframos de acordo com as nossas referências culturais ou afetivas.
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