sábado, 10 de dezembro de 2011

Peixes exóticos de origem marinha: espécies invasoras

Os peixes são o grupo de vertebrados em maior número, estando representados por no mínimo, 30.000 espécies, sendo que destas cerca de 60% ocorrem nos ambientes costeiros e marinhos de todo o mundo. Há uma estimativa que 160 espécies sejam descritas ao ano, considerando-se água doce e salgada. No Brasil, segundo Menezes, et al. (2003) há pelo menos 1.297 espécies. Os peixes são um grupo antigo e muito bem adaptado aos mais variados ambientes. Encontram-se peixes desde as zonas mais rasas, as de arrebentação, que são supersaturadas de oxigênio, em poças de maré, nas águas poluídas ou não dos estuários, nos ambientes recifais, com condições físicas bastante constantes, nos entornos dos costões, sob as plataformas continentais, ao longo dos taludes, nas planícies abissais até as fossas abissais com 8.372 m. Ocorrem em ambientes tropicais até os polares, em sistemas de alta e baixa energia. Para os peixes serem tão bem sucedidos é preciso que apresentem adaptações morfológicas, fisiológicas e comportamentais tais que praticamente inexiste ambiente aquático no mundo que sejam incapazes de ocupar. A variação de tamanho dos peixes é ímpar, havendo organismos adultos de gobídeos (figura 1) de 8 mm de comprimento total e tubarões-baleia (figura 2) chegando a atingir 15 m. Muitas espécies de peixes são exclusivamente marinhas, mas algumas podem fazer incursões nos ambientes dulcícolas ocasionalmente e outras espécies são diádromas, além daquelas dulcícolas.
Os peixes podem também ser classificados quanto à região onde vivem em pelágicos e demersais, estes vivendo em grande dependência com o substrato consolidado ou não, onde procuram alimento e abrigo. Muitos pelágicos, em função da inexistência de abrigo na coluna
d água, formam cardumes bastante coesos, principalmente como estratégia de proteção.






Figura 1. Peixe gobídeo Deltentosteus quadrimaculatus (fonte: www.corbis.com)












Figura 2. Tubarão-baleia Rhincodon typus (fonte: www.corbis.com)

Quanto ao hábito alimentar podem ser planctófagos, como sardinhas, predadores detritívoras como tainhas e comensais como rêmoras. Por sua vez os peixes são predados por inúmeros animais desde invertebrados aos vertebrados. A maioria dos peixes é dióica, i. e., possui sexos separados, mas há alguns hermafroditas como as garoupas e os peixes-palhaços (figura 3).
Muitos peixes são ovíparos e não possuem cuidados parentais. Grande parte dos peixes passa por metamorfose durante sua ontogenia, sendo que, geralmente os ovos são diminutos, mas podem atingir vários centímetros de diâmetro (ovos de celacantos atingem 9 cm), assim como as larvas. Os peixes crescem ininterruptamente até a morte e há registro de animais com até
205 anos como os peixes-pedra no Alasca.










Figura 3. Peixe-palhaço Amphiprion frenatus (fonte: www.corbis.com)


Se por um lado os peixes são os vertebrados com maior número de espécies, há quase 1.319 espécies incluídas na Lista Vermelha da IUCN (2008), sendo que até mesmo as carismáticas como cavalo-marinho e tubarão-baleia estão citadas nessa lista. Em verdade não existe um grupo denominado “Peixes”, mas sim um conjunto de quatro categorias de animais que assim são chamados. Aqui no Brasil foram registradas quatro espécies de Myxini, 139 de Chondrichthyes, os cartilaginosos - tubarões, raias e quimeras e 1.155 de Actinopterygii, os ósseos nos ambientes costeiros e marinhos do Brasil.
A importância dos peixes desde épocas pré-históricas deve-se ao fato principalmente por serem utilizados como alimento. Atualmente, mesmo sendo bastante prezados como fonte de proteína animal verifica-se que muitos dos estoques se encontram explotados ao nível máximo ou superexplotados e essa é uma atividade que vem ameaçando, juntamente com a poluição dos ecossistemas, destruição dos habitats e a introdução de espécies exóticas a biodiversidade íctica em escala mundial, sem falar também das mudanças climáticas globais. Os peixes figuram desde os primórdios da civilização, presentes nas pinturas das cavernas e sumamente importantes nas principais religiões do mundo simbolicamente e em rituais. Os peixes são um recurso importante tanto para pesca tradicional, quer seja comercial quer de subsistência, bem como para recreativa gerando divisas consideráveis. Estima-se que haja 38 milhões de pescadores no mundo e 200 milhões de pessoas ligadas ao processo de pesca, sendo que essa atividade produz valores da ordem de 144 milhões de toneladas/ano das quais progressivamente os montantes gerados pela aquicultura já ultrapassam dos 36%. Somente a China é responsável pela captura de cerca de 52 milhões de toneladas/ano das quais 34 são oriundas da aquicultura. Os peixes marinhos ornamentais correspondem a menos de 10% daqueles criados em cativeiro e das 8.000 comercializadas, sendo que, menos de 25 advém de piscicultura.
Um exemplo da erradicação da ictiofauna nativa pode ser verificada no Lago Vitória na África, onde a perca-do-Nilo (figura 4) ao ser introduzida exterminou 500 espécies de ciclídeos endêmicos.
A introdução, intencional ou não, de espécies exóticas de peixes no mundo e nas águas do Brasil deve ser avaliada com muita atenção e precaução, pois há hipóteses dos impactos poderem ser irreversíveis.













Figura 4. Perca-do-Nilo Lates niloticus (fonte: www.corbis.com)

Síntese dos resultados

O número de espécies exóticas de peixes marinhos foi baixo, com apenas quatro espécies (Tabelas 1.1 e 1.2), todas com registros relativamente pontuais, porém apontando para uma dispersão mais acentuada da família Bleniidae. Destas quatro espécies da ictiofauna, três foram caracterizadas como detectadas e uma estabelecida (Tabelas 1.1 e 1.2). Destas, três são originárias do Indo-Pacífico e uma do Atlântico Oriental. Os vetores comprovados de dispersão são desconhecidos para todas as espécies. Quanto aos vetores potenciais, a água de lastro aparece somente para uma espécie, enquanto que para as demais são desconhecidos (Tabela 1.3).
Dentre os supostos locais de origem, 4 espécies são do Indo-Pacífico e somente uma do Atlântico Oriental (Tabela 1.4). A espécie Butis koilomatodon (figura 5) tem como suposto local de origem, além do Indo-Pacífico, o Leste da África (Tabela 1.4).








Figura 5. Butis koilomatodon
Tabela 1.1: Situação populacional dos táxons de peixes marinhos com espécies exóticas reportadas para o Brasil.
Tabela 1.2: Espécies exóticas de peixes marinhos reportadas para o Brasil e sua situação populacional.
Tabela 1.3: Vetores potenciais de dispersão das espécies exóticas marinhas de peixes reportadas para o Brasil.
Tabela 1.4: Supostos locais de origem das espécies exóticas marinhas de peixes reportadas
para o Brasil.
Referências Bibliográficas

MENDONÇA, H.S.; NUNAN, G W.; SANTOS, S.R.; BANDEIRA, W.D.; SANTOS, A.C. Ocorrência de Omobranchus punctatus (Valenciennes, 1836) (Teleostei, Blenniidae) na Baía de Todos os Santos, Bahia: primeiro registro da invasão de uma espécie exótica de peixe marinho em águas brasileiras. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA, 16., 2005, João Pessoa, Paraíba. Resumo.

MOURA, R.L.; MENEZES N.A. Família Acanthuridae. In: MENEZES, N.A.; BUCKUP, P.A.; FIGUEIREDO, J.L.; MOURA, R.L. (Eds). Catálogo das espécies de peixes marinhos do Brasil. São Paulo: Museu da Universidade de São Paulo, 2003.


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