Quarta-Feira, 26 de setembro de
2012
Brasileiros vão decifrar genomas do
papagaio e do sabiá-laranjeira
Não é todo dia que uma imagem de
Zé Carioca ilustra uma apresentação sobre genômica, mas o malandro arquetípico
da Disney tinha um bom motivo para figurar no Powerpoint de Francisco
Prosdocimi, da Universidade Federal de Minas (UFMG): o tema era o genoma
"dele".
Ou melhor, o do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva),
que está entre as espécies mais comuns do bicho em cativeiro. O objetivo de
Prosdocimi e seus colegas é vasculhar o DNA da ave em busca de pistas que
ajudem a explicar sua proverbial tagarelice.
Para atingir esse objetivo, o
papagaio-verdadeiro não é o único alvo. O grupo de cientistas, batizado de Sisbioaves, pretende sequenciar (grosso
modo, "soletrar") o genoma de outras espécies tipicamente
brasileiras, como o sabiá-laranjeira
e o bem-te-vi. Em comum, esses
bichos possuem o chamado aprendizado vocal - a capacidade, similar à dos seres
humanos, de aprender padrões de vocalização ao longo da vida.
Detalhes sobre o projeto foram
apresentados durante o 58º Congresso Brasileiro de Genética, em Foz do Iguaçu.
"A gente sabe que o aprendizado vocal é polifilético [ou seja, evoluiu
mais de uma vez em linhagens sem parentesco próximo]", explica Claudio
Mello, brasileiro que trabalha na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon
(Estados Unidos).
"Portanto, se a gente
encontrar genes relevantes para esse comportamento que são compartilhados entre
os vários grupos de aves e os humanos, provavelmente isso quer dizer que eles
representam a base do aprendizado vocal", diz Mello.
Na maioria das aves, afirma
Mello, existe o chamado período crítico de aprendizado -- uma fase da
"infância" do bicho na qual ele precisa ser exposto ao canto de outro
animal para que ele aprenda a cantar de forma apropriada, coisa que também se
verifica no caso da fala humana. Já os papagaios parecem ser mais versáteis,
sendo capazes de aprender a imitar sons humanos em praticamente qualquer fase
de sua vida.
A estimativa de Prosdocimi e de
sua colega Maria Paula Schneider, da Universidade Federal do Pará (UFPA), é que
a leitura dos genomas do papagaio e do sabiá-laranjeira esteja concluída em
meados do ano que vem. Segundo o pesquisador da UFMG, que é bioinformata (especialista
na análise computacional de dados biológicos), espera-se que os bichos tenham
genomas relativamente compactos, com menos da metade do tamanho do genoma
humano.
Os pesquisadores ainda não
encontraram, nos papagaios, o equivalente ao gene FOXP2, hoje um dos grandes
candidatos a influenciar a capacidade humana para a fala. Mas não é só o lado
vocal que interessa aos cientistas. Prosdocimi destaca que os papagaios são
inteligentes de modo geral. E vivem muito, passando dos 70 anos, o que traria
pistas sobre as bases genéticas da longevidade.
(Folha de São Paulo)
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