Curiosity encontra evidências de água doce em Marte
A sonda americana Curiosity encontrou pela primeira vez na superfície de Marte evidências diretas da existência, no passado, de um lago de água doce no planeta vermelho, anunciaram cientistas da missão "Mars Science Laboratory (MSL)", da NASA, com a ajuda de um pesquisador do Colégio Imperial de Londres.
O grupo analisou uma caixa com afloramentos de rochas sedimentares de uma área chamada Yellowknife Bay, na cratera Gale.
Região fotografada pelo Curiosity: depósito sedimentar contém rochas típicas de rios e lagosFoto: NASA/JPL-Caltech/MSSS / AFP
Já não há água atualmente no local, mas os testes de perfurações e análises químicas realizadas pelo robô Curiosity em rochas sólidas sugerem que houve condições para que houvesse vida microbiana neste lago há 3,6 bilhões de anos.
As rochas analisadas contêm traços de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre, e teriam "proporcionado condições ideais para uma vida microbiana básica", informaram os cientistas em um estudo publicado na revista Science e analisado em uma reunião da União Geofísica Americana (AGU, na sigla em inglês), em San Francisco, Califórnia.
Formas microscópicas de vida bacteriana, conhecidas como quimiolitoautótrofas, prosperam em condições similares na Terra e no geral são encontradas em cavernas ou debaixo do mar em fontes hidrotérmicas.
- Esta é a primeira vez que encontramos realmente rochas em Marte que proporcionam evidência da existência de lagos - diz Sanjeev Gupta, professor do Imperial College de Londres e co-autor da pesquisa.
- É fantástico porque os lagos são um ambiente ideal para que uma vida microbiana elementar possa se desenvolver e preservar - afirma.
Embora não tenha sido detectada nenhuma forma de vida nas rochas, o cientista explicou que o Curiosity executou perfurações em fragmentos de pedra arenisca e barro e encontrou minerais argilosos que sugerem uma interação com a água.
Confiança no futuro da missão
A pedra arenínitca encontrada parece similar à existente nos rios da Terra, o que sugere, segundo cientistas, que um rio desaguava neste lago, que se encontra aos pés de uma pequena montanha.Os cientistas já encontraram provas da existência de água em Marte em outro local da superfície do planeta vermelho e pesquisas feitas por sondas anteriores levam a crer fortemente na existência de lagos no passado.
O Curiosity, que chegou à cratera Gale no equador marciano em 6 de agosto de 2012 e é o veículo mais sofisticado enviado até agora a outro planeta, já constatou que o planeta vermelho foi propício para a vida microbiana em um passado distante, objetivo principal de sua missão de dois anos.
O professor Sanjeev Gupta, membro da missão e co-autor do estudo, reforça que não foram encontrados sinais de vida antiga no planeta. "A conclusão a que chegamos é a de que a cratera Gale foi capaz de sustentar um lago em sua superfície, e que isso pode ter sido favorável para a existência de vida microbiana há bilhões de anos atrás. Este é um passo muito positivo para a exploração de Marte", avalia.
Estes últimos resultados oferecem "a prova mais eloquente de que Marte teve em algum momento as condições necessárias para o desenvolvimento da vida", destacou o estudo.
A Nasa, agência espacial americana, escolheu a cratera Gale em particular por suas diferentes camadas sedimentares, que poderiam permitir datar os períodos em que Marte foi apto a abrigar vida.
A próxima etapa consistirá em analisar amostras de uma grossa pilha de rochas na superfície da cratera para reunir mais provas de um entorno habitável, disse o professor Gupta.
Estes novos resultados "nos dão confiança no futuro desta missão e no fato de que devemos continuar explorando" o planeta vermelho, prosseguiu.
A próxima fase do estudo, informa o professor, vai explorar afloramentos mais rochosos na superfície da cratera. Nessa etapa, haverá mais condições para se concluir se houve ou não vida no planeta vermelho.
Em estudos anteriores, a equipe já havia encontrado evidências de água na superfície do planeta. No entanto, o novo estudo oferece a mais forte evidência até agora de que pode ter havido vida no planeta.
O robô Curiosity, com custo total de US$ 2,5 bilhões, é operado pela Nasa do laboratório de Pasadena, na Califórnia.
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