quinta-feira, 28 de abril de 2016

COMO ACONTECEU A EVOLUÇÃO HUMANA

“Chegamos a nossa desordem atual por meio de nossa inteligência e inventividade. O processo pode ter começado até 100 mil anos atrás, quando começados a atear fogo às florestas como uma forma preguiçosa de caça. Havíamos deixado de ser apenas mais um animal e começado a demolição da Terra.” 

James Lovelock, 2006

1. A EVOLUÇÃO HUMANA
Antes de tudo, vale lembrar que através da mutação genética, ocorreu a evolução de todos os seres. Será ressaltada neste presente texto, em especial, a evolução humana. Vale lembrar que a mutação genética acontece em caso de sobrevivência da espécie e que o indivíduo, ao sofrer mutação, herda uma ou mais características radicalmente diferentes daquelas do organismo original. Na maioria dos casos, o ser mutante é capaz de fazer coisas muito melhores do que seus predecessores, ou até coisas que eles não eram capazes de fazer.
Evolução
Este presente post tem como objetivo descrever uma das teorias da evolução humana, contida na obra A Aurora da Humanidade (1993) da Editora Abril. Também usou-se de base a obra A Vingança de Gaia (2006) de James Lovelock.
1.1. MACACOS
Cumpre assinalar que há trinta milhões de anos, em uma floresta tropical africana, os macacos lá existentes foram a raiz da evolução humana. Eles viviam nas copas da árvores e usavam sua cauda para se equilibrarem quando estavam usando seus quatro membros ou quando saltavam de um galho ao outro em busca de alimento. Nesta época, um macaco mutante tirou vantagem dos outros por ter braços maiores descobrindo uma nova técnica de recolhimento de frutos, que consistia em balançar um galho com uma das mãos e lançar-se na direção correta para agarrar o frutos que antes eram inacessíveis. Estes macacos que se beneficiaram com este tipo de colheita, sofreram uma nova mutação, desevolvendo punhos mais móveis e braços ainda mais longos ao passarem do balanço ao salto, deseparecendo assim a cauda por não ser mais um meio de equilibrio. Sem a cauda, não foram mais classificados como macacos e sim como símios.
Macacos
1.2 . SÍMIOS
Ao passar dos anos, o estilo de vida dos símios apresentou novas mudanças, como um novo tipo de dieta, que requeria uma maior mastigação. Diante de tais razões, os símios passaram a ter molares mais fortes com cinco cúspides (pontas) ao invés de quatro como os macacos. Sua postura, gradualmente, tornou-se cada vez mais ereta, criando a capacidade de sentar-se ao invés de agachar-se, e tendo as mãos livres, facilitou algumas tarefas como empurrar, segurar, bater, examinar, entre outras. Em relação aos macacos, eles tinham mais vantagens agora com as mãos livres: os macacos, se estiverem segurando algum alimento com as mãos e precisarem correr por causa de algum predador, precisam das quatro patas para correr, deixando cair o alimento. Os símios, por sua vez, se tornavam cada vez mais inteligentes com o uso das mãos. Passaram, portanto, a fazer cada vez mais tarefas manuais que estimulou o crescimento do cérebro, deixando-os cada vez mais inteligentes para fazerem tarefas mais difíceis.
Convém ponderar que através de várias mutações genéticas, os símios ficaram superiores as demais espécies de macacos em relação à inteligência. Por volta de quinze milhões de anos a.C., o clima de todo o mundo sofreu algumas modificações, deixando a região africana mais árida. As florestas tropicais africanas, em várias regiões, viraram savanas, e os animais que ali viviam, tiveram que adaptar-se as novas circunstâncias ou procurar um novo lugar parecido com aquele que viviam.
Ramapithecus
O primeiro símio que se adaptou a um novo lugar fora da região africana foi o Ramapithecus, conhecido como“símio Rama”, que foi denomidado assim em homenagem ao deus hindu, Rama. Seus fósseis foram encontrados com abundância na região do Himalaia, mas também em lugares tão distantes como a China e Espanha. Vale ratificar que o que diferencia este símios dos outros são seus dentes, que deixaram de ser afiados e ficaram tão longos quanto os incisos, podendo movimentar a mandíbula de um lado para o outro. Essa característica é de um animal que triturava grãos e sementes, sendo um símio que havia descido das árvores em caráter definitivo.
1.3.  AUSTRALOPITHECOS
Australopithecus africanus
Foram encontrados fósseis do Australopithecus africanus, também conhecido como “símio do sul da África”, no sul e no leste na África. Eles mediam aproximadamente 1,25 m de altura e seu cérebro era um pouco maior do que os dos chimpanzés. Tenha-se presente que sua característica mais relevante era que estes tinham a postura ereta. Os primeiros australopitecos viveram por volta de cinco milhões anos a.C. e o último desapareceu por volta de um milhão a.C. Foram encontradas várias mudanças anatômicas através dos fósseis em relação aos seus ancestrais: o orifício na base do crânio através do qual passa a medula espinhal localizava-se em posição quase diretamente inferior, já nos símios dava para o exterior, na região posterior do crânio. Como nos outros primatras da época, a espinha não formava mais um arco acentuado, e sim mostrava-se em forma de S, ereto no centro e curvando – se ligeiramente na altura do pescoço e na parte mais estreita das costas. A pélvis tornou-se mais curta, mais ampla e mais bojuda, sustentado o peso do torso. As juntas das cadeiras modificaram-se, de forma que as pernas se alinharam com a espinha e os joelhos de juntaram, suportando com mais eficácia o peso do corpo. Assinale, ainda, que os tornozelos ficaram mais fortes e mais flexíveis do que os dos símios, as solas dos pés mais arqueadas que chatas, e o maior artelho alinhou-se com os outros, perdendo assim sua capacidade de agarrar, mas adquirindo a de suportar todo o peso do corpo.
Australopithecus Africanus, símio do sul da África
As duas espécies posteriores de australopitecos foi a A.robustos e a A.boisei, que viveram por volta de 2 000 000 e 1000 000 a.C. , encontrados na África do Sul em 1938. Vale ressaltar que na espécie A.boisei sua característira mais significava eram suas mandíbulas grandes, que deixaram a espécie conhecida como “homem quebra-nozes”.
Australopithecus afarensis
Outra espécie de australopiteco é o A.afarensis, que viveu por volta de 3,5 milhões de anos atrás. Vale dizer que foi descoberta pelo antropólogo Don Johanson em Hadar, na Etiópia em 1974. Ao descobrir que era uma fêmea, denomiram-na de “Lucy” devido à música “Lucy in the sky with diamonds” dos Beatles que estava tocando no momento em que comemoravam a nova descoberta.
Astralopithecus Afarensis, a famosa Lucy
Cumpre observar que os australopitecos possuíam cérebros bem menores que a de um homem moderno, mas eram maiores que o de um chimpanzé. A capacidade média do crânio de um australopiteco adulto media aproximadamente 450 centímetros cúbicos, 65 a mais que o de um chimpanzé, mas cerca de mil centímetros cúbicos menor do que o de um homem moderno.
Os australopitecos adultos das menores espécies mediam cerca de 1,20 metros de altura e não pesavam mais de 30 quilos. Já os das maiores espécies mediam 1,55 metros de altura e pesavam cerca de 70 quilos.
Vale lembrar que eram herbívoros por possuírem grandes molares, ideais para triturar plantas e vegetais duros.
Em termos biológicos e biomecânicos, caminhar sobre os membros inferiores com o corpo na vertical exige um equilíbrio difícil, sendo uma das desvantagens de andar ereto. Outra desvantagem está relacionada à velocidade: andar com dois membros é um modo de locomoção ineficiente. Já os símios e os macacos, que precisam dos quatros membros para andar, são bem mais rápidos que os humanos. Por outro lado, os bípedes tem um nível de resistência mais elevado que o dos quadrúpedes. A maioria dos humanos consegue correr uma maratona de 42 quilômetros, enquanto um quadrúpede como a zebra, por exemplo, não consegue correr mais do que 800 metros por ficar exausta.
Registra-se ainda que um dos fatores que deve ter influenciado na questão dos australopitecos ficarem com a postura ereta, foi andar sob o sol tropical. Com a postura ereta, ficavam menos queimados, recebendo apenas dois terços da quantidade do sol recebida pelos quadrúpedes e ainda menos quando o sol está a pino. Outro fator foi o uso das mãos cada vez mais frequente: eles se comunicavam por um meio primitivo de sistema vocal, usando as mãos para carregar objetos, deixando a boca livre para a comunicação. Com as mãos livres podiam executar tarefas manuais e levar alimentos para seus companheiros. Nos grupos familiares dos símios, cada indivíduo vai em busca de seu próprio alimento, e já os australopitecos compartilham os alimentos com seus familiares, usando as mãos para carregar alimentos. Essa técnica os benefiaram muito em relação à sobrevivência.
1.4. HOMEM
1.4.1. HOMO HABILIS
Homo habilis
Cumpre assinalar que não se sabe como e quando ocorreu a transformação do australopitecos para o homem, mas há relatos que o Australopithecus e o Homo viveram lado a lado na África durante aproximadamente 800 mil anos. Os australopitecos que não evoluíram para humanos extinguiram-se devido à ineficácia adaptação nas savanas africanas, por estarem cercados por uma quantidade grande de herbívoros, e depois por um número cada vez maior de outras espécies, incluindo o primitivo Homo, que passou a incluir a carne em sua dieta. Vale dizer que com um número cada vez superior de herbívoros e onívoros mais eficientes, o australopiteco foi desaparecendo cada vez mais, sendo que o último morreu por volta de 1 milhão de anos a.C.
O Homo, o ser humano, surgiu na Terra por volta de 2 300 000 a.C., enquanto os australopitecos declinavam em sua escala evolutiva. O Homo era carnívero e herbívoro e seu cérebro era 50 % maior do que o dos australopitecos. Sua característica mais relevante era sua habilidade de criar utensílios de pedra, coisa que nenhum outro australopiteco era capaz de fazer.
Esse era o Homo habilis, o “homem hábil”. Seus fósseis foram encotrados na mesma região do Australopithecus boisei, em Olduvai, na África oriental. Media apenas 1,25 metros e pesava cerca de 50 quilos. Convém ressaltar que seu cérebro media 800 centímetros cúbicos e possuia uma nova habilidade que os australopitecos não possuíam: quebravam pedras para construir ferramentas cortantes. Devem ter feito o mesmo com a madeira, porém não ficou nenhum vestígio deste porque a madeira apodrece.
Vale lembrar que pela diminuição do vegetal disponível devido as oscilações climáticas, o homem passou a incluir a carne em sua dieta. O homem não conseguia a carne através de combates com outros animais, mas achava carniças que outros animais deixavam. Utilizava os utensílios cortantes para retalhar cadáveres de animais com couro mais espesso, que os outros animais não conseguiam perfurar. Assim, conseguiam a carcaça antes dos outros predadores.
Ao passarem a incluir a carne em sua dieta, os hominídeos adquiriram benefícios não só nutritivos como também sociais. Como uma carcaça era muito alimento para apenas uma pessoa, sempre que um indivíduo a encontrava, dividia com seus companheiros, criando um sentido primitivo de companheirismo.
Ocorreu também a expansão das fronteiras geográficas ao passarem a comer carne. Enquanto as plantas necessitam de condições específicas de luminosidades e clima, os animais em geral são menos sensíveis às variações da luz e temperatura, encontrando-se mais espalhados e por maiores distâncias, atraindo os hominídeos.
A frequente exposição dos hominídeos sob o sol tropical durante o dia, ao preferirem buscar a carniça nesse período por ser quando os outros carnívoros descansam, contribuiu com a queda dos pêlos do corpo. Ao repetir essa atividade por milhares de anos, gradualmente ocorreu a eliminação dos pelos e a dependência da transpiração foi tornando-se cada vez maior. O suor, por diminuir a temperatura corporal até nas horas mais quentes, foi a melhor solução evolutiva em relação aos problemas da vida em regiões com clima bem quente. Por outro lado, os hominídeos tinham  que ao caçar, limitar-se a regiões que tivessem água disponível, ao perderem grande quantidade de água corporal durante tal atividade. Sendo assim, a água tornou-se essencial para os hominídeos que dedicavam-se a caça.
Essas novas atividades e os desafios que tinham que enfrentar ao fazê-las, estimulou a inteligência nos hominídeos. Durante três milhões de anos, o cérebro de um australopiteco médio permaneceu tão grande quanto de um chimpanzé. Já o do homem, depois de um processo lento de aumento, ficou três vezes maior que de um australopiteco.
Homo habilis
Diversos fatores contribuíram para o crescimento do cérebro do homem. Entre eles, a caça e a procura da carniça foram os mais significativos. Esses dois exigiam mais inteligência do que o simples consumos de ervas, principalmente em uma espécie que não possuia um físico próprio para tal tipo de atividade. Convém ponderar que a proteína da carne foi a fonte essencial de energia para o desenvolvimento de um cérebro maior.
Outra atividade que estimulou o crescimento do cérebro foi a fabricação de ferrementas, sendo que já comprovou-se que animais que possuem um certo grau de habilidade manual como os chimpanzés, são mais inteligentes que os outros. O simples ato de lascar uma pedra com o objetivo de transformá-la em um ferramenta, deve ter ampliado a mente do Homo habilis, sendo que através das ferramentas forneceu-lhes capacidade de fazer tarefas ainda mais dificeis, estimulando ainda mais o crescimento do cérebro.
O Homo habilis passou a ter um novo nível de imaginação e percepção ao enxergar uma ponta afiada em uma pedra arredondada, indo além do simples conhecimento de como fazer um instrumento. Enquanto o australopiteco apenas precisava saber onde encontrar alimento, o Homo precisava saber também onde encontrar a matéria prima para fabricar suas ferramentas. Atividades como esta requeria previsão, memória e planejamento, coisa que a colheita de frutas não exigia.
Homo habilis fabricando suas ferramentas
A postura ereta no caminhar limitava a expansão da pélvis humana, sendo que se ela aumentasse, as pernas iriam ficar mais afastadas e ineficientes, e o homem voltaria à condição de quadrúpede. A pélvis se limitando, limitou a largura do canal de parto da fêmea, restringindo a 350 centímetros cúbicos a capacidade craniana máxima do recém-nascido que iria passar por este canal ao nascer. Ao passar dos anos, os seres humanos passaram a criar um novo padrão de desenvolvimento: ao nascer, o cérebro do indivíduo conheceria a maior parte de seu crescimento fora do ventre materno. Hoje, quando um indivíduo nasce, possui um cérebro de 25 por cento do tamanho que atingirá quando for adulto. No chimpanzé, por sua vez, essa proporção é de 65 %. A vantagem dos seres humanos de nascerem com o cérebro com tal tamanho, é que ele pode se quadruplicar durante a vida. Por outro lado, nos primeiros anos de vida do hominídeo, no qual o crescimento cerebral é mais intenso, o crescimento do corpo é mais lento.
Homo habilis – postura ereta
Cumpre examinarmos neste passo que enquanto um cavalo recém-nascido é capaz de levantar e caminhar sozinho duas horas depois de nascer, e um babuíno cuida de si próprio aos doze meses, os bebês humanos neste momento da evolução passam a ser totalmente dependentes de suas mães pelo menos nos seis primeiros anos de vida, exigindo uma estrutura social totalmente nova. Antes, as fêmeas dos primatas, após o acasalamento, tinham seus filhos sozinhas. Todavia, diante dessa nova situação, os dois sexos começam a cooperar na criação de seus bebês indefesos, necessitando uma relação mais estável e complexa entre os indivíduos. Algumas características humanas foram se desenvolvendo diante dessas interações sociais, como o ciclo reprodutivo da fêmea, que mantém as mulheres sexualmente receptivas durante a maior parte do tempo e não apenas no período do acasalamento, que pode ter surgido da necessidade comunitária de ligações estáveis entre os pais, bem como da maior intimidade pessoal entre o macho e a fêmea, provocada por esta estabilidade. O mesmo deve ter acontecido com a capacidade da fêmea humana de chegar ao orgasmo, o que não acontece em outras espécies. Vale ressaltar que a fidelidade sexual entre o homem e a mulher surgiu pelo fato de a postura ereta permitir uma relação frente a frente, e o contato entre os olhos produzir um efeito conectador, desconhecido pelos outros animais, obrigados a cobrir a fêmea por trás.
1.4.2. HOMO ERECTUS
Homo erectus
Pode-se supor que pelos locais onde foram encontrados fósseis do Homo habilis, ele não foi além dos limites da África oriental. Todavia, a evolução prosseguiu. Surgiu o hominídeo mais avançado, o Homo erectus. Este, era descendente direto do Homo habilis, porém sua constituição física era mais avançada. Vale dizer, que os maiores representantes devem ter tido até 50 cm a mais que seus antecessores, pesando 20 Kg a mais que o Homo habilis. O aumento do corpo deve ser conseqüência da escassez de alimentos. Ponderando o assunto, quanto maior é o animal, menor é a exigência de energia em relação ao tamanho de seu corpo. Por exemplo, um sagüi precisa, proporcionalmente, de três vezes mais energia que um ser humano, e, portanto, necessita de alimentos muito energéticos – como nozes ou carne – ou precisará passar o dia todo ingerindo alimentos de baixa energia, como folhas. Nessa linha de análise, diante de um ambiente onde encontrava-se em maior abundância os alimentos de baixa energia, pode-se dizer que os hominídeos desenvolveram um físico mais avantajado para compensar esse desequilíbrio.
Homo erectus fossil from Zhoukoudian caves. Credit: Copyright Russell L. Ciochon, Univ. of Iowa
Tenha-se presente que o cérebro do Homo erectus media aproximadamente 950 cm³, em oposição aos 800 cm³ do Homo habilis. Com um cérebro maior, o Homo erectus passou a fabricar utensílios simétricos, em forma de pêra, conhecidos como machados de mão. Com estes novos instrumentos, fabricados a partir de um pedaço de pedra, o Homo erectus podia esquartejar com mais facilidade as carcaças de animais. Também aprenderam a confeccionar raspadores de pedras, para utilizá-los em tarefas como tirar animais de seus esconderijos, fazendo saltar pedaços menores de um bloco maior.
Homo erectus
1.5. FOGO
Convém ressaltar que, a certa altura, descobriram como usar o fogo. Foram achados pedaços de argila queimada datados de 1.400.000 a.C. em Chesowanja, na África oriental. Ossos de animais e utensílios de pedra encontrados nas proximidades mostram que o Homo erectus estivera ali. Foram realizados testes com a argila que indicam que ela foi aquecida a 400°C – temperatura específica de uma fogueira. Todavia, a argila pode ter sido queimada por um incêndio da vegetação.
Não há evidências definitivas que comprovem o uso controlado do fogo pelos humanos no milhão de anos seguinte. Vale dizer, portanto, que a data exata em que o Homo erectus conheceu o uso do fogo permaneceu desconhecida. No entanto, o Homo erectus viveu não apenas no clima quente da África, como o Homo habilis, mas também nas regiões mais frias da Europa e da China. Conclui-se que, para sobreviver nos continentes mais frios, o fogo deve ter sido essencial.
Homo erectus e o uso do fogo
A parte inicial do período Quartenário, de 2.000.000 a 8.000 a.C., tampouco foi particularmente hospitaleira em qualquer parte do mundo. O Homo erectus sobreviveu obstinadamente a essa alternância de climas, sofrendo poucas mudanças notáveis, físicas ou mentais, durante um período de cerca de 1,5 milhões de anos. Vale dizer que ele aprendeu a fazer ferramentas um pouco melhores e conseguiu construir cabanas de gravetos, mas seu maior progresso foi na caça. Por volta de 300.000 a.C., bandos de caçadores nômades do gênero Homo erectus atacavam e matavam animais tão grandes quanto o elefante e utilizavam o fogo para levar grandes animais a áreas fechadas, onde podiam ser mortos mais facilmente.
Eles andavam em bandos de vinte a trinta indivíduos. a África, a Ásia e a Europa juntas deve ter abrigado 40 mil desses grupos – e havia menos de um milhão deles em todo o mundo.
Provavelmente, as mais complexas articulações vocais dos homens modernos não existiam, mas a coordenação de um bando de caçadores para abater grandes presas pode ser conseguida pela gesticulação ou pela força de exemplo – os lobos fazem isso com muita eficiência.
1.6. Homo sapiens; Homo sapiens sapiens e Homo sapiens neanderthalensis
Homo sapiens encontrado na Ethiopia
Assim, o Homo erectus trilhava sem espalhafato o caminho da evolução. Entretanto, logo após 300.000 a.C., parece ter havido um desvio. Sabe-se disso pelos restos encontrados em toda a África, Ásia e Europa, que por essa época começam a exibir uma mistura de características físicas: possuem os cérebros maiores e os crânios mais delgados tal como o Homo moderno, mas conservam os ossos pesados e a fronte achatada de um homem mais primitivo. Estes restos encontrados pertenceram a hominídeos que foram classificados como Homo sapiens “arcaico”. Alguns deles paracem ter evoluído naturalmente até o homem anatomicamente moderno, ou Homo sapiens sapiens. Outros – particularmente os que foram encontrados na Europa e no Levante – conheceram um tipo bastante diferente de transição. Por volta de 100.000 a.C., transformaram-se no homem de Neaderthal, uma criatura que se tornou – muito injustamente – sinônimo de irracionalidade primitiva.
Neanderthal
Convém dizer que os cientistas costumavam classificar esse hominídeo, Homo neanderthalensis, como uma espécie totalmente à parte, porém nos dias atuais ele é reconhecido como nosso parente mais próximo, o Homo sapiens neanderthalensis.
Homo sapiens arcaico
Comparando com seus predecessores, o neandertalense ocupava um território muito limitado, pois havia desaparecido inteiramente por volta de 30.000 a.C. Enquanto o Homo erectus sobreviveu por mais de um milhão de anos, realizando poucas inovações notáveis, o neandertalense desapareceu depois de apenas 70 mil anos, período em que, entre muitas outras realizações, revolucionou a arte da fabricação de ferramentas a tal ponto que até poderíamos classificá-la como produção em série.
Neanderthal
1.7. Homo sapiens sapiens
Homo sapiens sapiens
Os hominídeos que os substituíram tinham uma aparência bem dirente do neandertalense. Embora não ultrapassassem a altura dos neandertalense em mais de 20 cm, eram infinitamente mais esbeltas e ágeis, pesando entre 30 a 45 quilos menos do que ele. Também apresentavam traços diferentes: acima dos seus olhos erguia-se uma testa alta e elegante – não interrompida pelos pesados supercílios do neandertalense – que primeiro se elevava para depois se inclinar, assim formando o crânio abobadado que abrigava o cérebro. Esse hominídeo era o Homo sapiens sapiens, o “homem duplamente sábio”, um ser humano que não se distinguia anatomicamente de nós. Ele surgiu no sul da África por volta de 100.000 a.C., e nos 70 mil anos seguintes substituiu todas as espécies anteriores de hominídeos do mundo.
Homo sapiens sapiens
É indiscutível que o Homo sapiens sapiens conseguiu dominar o resto do mundo com sua tecnologia e cultura, mas ninguém sabe como ele fez isso em um período de tempo tão pequeno, em termos biológicos.
1.8. A linguagem humana
Possivelmente foi por dispor de uma ferramenta que se comprovou mais útil do que qualquer agulha de costura feita de osso, uma arma mais poderosa do que qualquer de suas pontas de lança de pedra – a linguagem.
Homo sapiens sapiens
Através da linguagem o Homo sapiens sapiens pôde passar o conhecimento tecnológico. Com a linguagem, pôde lançar-se à complexas aventuras em conjunto, tais como a que parece ter sido uma migração organizada para a Austrália por volta de 50.000 a.C. E por meio da linguagem ele podia expressar pensamentos e conceitos abstratos que manisfestou na grande produção de pinturas, desenhos e entalhes que começaram a aparecer na Europa por volta de 30.000 a.C.
Pintura pelo Homo sapiens sapiens
Indiscutivelmente, ele possuía o equipamento vocal necessário: sua faringe havia se tornado proporcionalmente muito mais longa do que a dos primeiros hominídeos e a língua possuía maior flexibilidade, o que lhe permitia formar e emitir maior variedade de sons em rápida sucessão.
A capacidade de falar do Homo sapiens sapiens também deve ter provocado algum efeito em sua aparência externa. Conclui-se isso ao observar os bebês humanos dos dias atuais, que nascem sem a faringe totalmente desenvolvida. Com três meses, à medida que seu aparelho fonador começa a tomar forma, a laringe coloca-se em posição mais baixa. Nesse ponto, a base do crânio começa a se arquear, formando uma parede acima da faringe. É possível que ao longo de milhares de anos esse arqueamento da base do crânio tenha tido o efeito de empurrar a face saliente do Homo erectus para dentro. Essa pressão deve ter forçado o cérebro para trás e para cima, dando o crânio do Homo sapiens sapiens a forma mais arredondada que possui hoje.
Embora ainda não comprovada, essa teoria explicaria a grande velocidade das mudanças biológicas que transformaram o Homo erectus e seus descendentes no homem anatomicamente moderno. As inúmeras vantagens que um falante possuía em relação a um não-falante transformaram-se em mais uma poderosa razão evolutiva para essas rápidas mudanças.
Os não falantes ou possuidores de uma linguagem muito restrita, acabariam por transformar-se em virtuais cidadãos de segunda classe, relegados aos confins do mundo habitável, condenados a viver apenas onde a população falante não quisesse viver e a comer apenas o que esta última desprezasse. Muito em breve, suas condições inferiores de vida fariam com que seu número começasse a cair, enquanto aumentava o da população falante. É claro que boa parte disso não passa de especulação, baseada em achados arqueológicos no Oriente Próximo, África e Europa. Praticamente não existem evidências do que acontecia por essa época na Arábia, na Ásia central ou Índia; ninguém pode garantir a possível existência de fósseis a espera de uma inundação, ou da explosão de uma pedreira, para lançar mais luz sobre o mistério: um Neanderthal ainda vivo em 10.000 a.C. ou um Homo sapiens sapiens vitorioso, talvez com a ajuda da linguagem, o que implica um golpe de estado evolutivo. Por volta de 30.000 a.C., os seres humanos anatomicamente modernos já haviam alcançado a supremacia sobre todas as outras espécies da Terra. A partir desse momento, o desenvolvimento da história da humanidade deixou de ser o da natureza moldando seres humanos e começou a ser o dos seres humanos moldando a natureza.

“Como predadores inteligentes, estávamos equipados com cérebros e mãos úteis e conseguíamos alterar os limites de nosso nicho de formas impossíveis aos outros animais. Conseguíamos atirar pedras, empregar ferramentas simples de pedra e madeira, e fazíamos tudo isso melhor que os outros primatas.
Muitos animais, até insetos como abelhas e formigas, conseguem comunicar-se. Usam alarmes e gritos de acasalamentos e comunicam informações detalhadas sobre tamanho, direção e distância de fontes de alimento. Nós, seres humanos, tivemos a sorte de adquirir, através da mutação, a capacidade de modular nossas vozes para a linguagem falada primitiva. Essa mudança foi tão profunda para o homem primitivo como a invenção do computador ou telefone celular para o homem moderno. Os membros da tribo podiam compartilhar experiências: podiam fazer planos para se proteger das secas e fomes e se defender de predadores. Éramos então o Homo sapiens emergente, e talvez fôssemos os primeiros animais a modificar conscientemente o meio ambiente em seu próprio benefício. E o mais notável foi que aproveitamos incêndios naturais provocados por raios para cozinhar, desmatar a terra e caçar.” James Lovelock (2006)
James Lovelock (2009)

Referências Bibliográficas:
– A Aurora da Humanidade. História em Revista. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1993.
Lovelock, James. A Vingança de Gaia. Intrínseca. Rio de Janeiro. 2006.

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