sexta-feira, 4 de novembro de 2016

As florestas tropicais do futuro

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Se as florestas tropicais primárias são mais essenciais para a conservação da biodiversidade no planeta, por que deveria ser dada importância para as florestas em regeneração?  

Primeiramente, as florestas em regeneração são o tipo mais comum nos trópicos em todo o planeta. Somente 19 das 106 nações tropicais (18%) que forneceram dados para a Global Forest Resources Assessment (FRA de 2010) declararam ter mais área de floresta primária do que em regeneração.

Para 51 países (48%), as florestas em regeneração ocupavam uma área maior do que as primárias, enquanto 36 países (34%) declararam que as únicas florestas que restam em seu território são aquelas em regeneração.

Por mais grosseiros e inconsistentes que sejam, esses relatos realçam a importância das florestas em regeneração para mais de 80% das nações tropicais. Sem elas nas paisagens tropicais, corre-se o risco de perder a maioria dos estoques globais de carbono e uma fração significativa das espécies e serviços ecossistêmicos do planeta. Há muita coisa em jogo.

Décadas de pesquisa meticulosa revelaram muito sobre a regeneração das florestas tropicais. O entendimento das trajetórias da regeneração florestal é essencial para manejar e restaurar florestas e para prever as mudanças florestais decorrentes das alterações climáticas. Estudos de regeneração florestal informam como diferentes tipos e intensidades de uso do solo influenciam a estrutura, a composição de espécies e a acumulação de carbono e nutrientes nas trajetórias sucessionais dos ecossistemas florestais.

As florestas em regeneração fornecem habitat para uma vasta gama de espécies animais que dispersam sementes, polinizam flores e realizam interações tróficas. Ao entender as trajetórias sucessionais, pode-se diagnosticar melhor as causas da sucessão estagnada e prescrever ações para superar as barreiras que impedem a regeneração natural.

É possível aprender com agricultores tradicionais de roçado como enriquecer florestas em regeneração com produtos para uso doméstico ou comercial. Por fim, pode-se aprender como fatores geográficos e socioeconômicos influenciam o desmatamento e a regeneração florestal nas mais diversas escalas espaciais e temporais.

Ao entender a regeneração florestal, aprende-se também sobre os impactos das atividades humanas nos ecossistemas florestais, hoje e no passado. Baseando-se nas características da vegetação em sucessão, é possível identificar períodos de intervenção humana seguidos por regeneração em florestas tropicais nos últimos 2.000-45.000 anos.

As florestas primárias de hoje já foram florestas secundárias, e, se tiverem uma segunda chance, as florestas secundárias de hoje serão as florestas primárias do futuro.
Tudo a ver
renascimento_de_florestasEsta matéria foi retirada do próximo lançamento da Oficina de Textos “Renascimento de Florestas: regeneração na era do desmatamento”, uma obra essencial para o manejo e a restauração de florestas e para compreender os impactos de fatores geográficos e socioeconômicos no desmatamento e na regeneração florestal.

O livro aborda usos do solo, perturbações em florestas tropicais, trajetórias sucessionais, regeneração florestal, diversidade da fauna durante a regeneração, funções ecossistêmicas, restauração e reflorestamento, entre outros temas.

Ao longo de 15 capítulos, apresenta a profunda compreensão das florestas em regeneração, o que proporciona ainda subsídios para ações de restauração ecológica.

Fruto de mais de 25 anos de pesquisa, em diferentes regiões e com diferentes colaboradores, e um rico trabalho bibliográfico, Renascimento de florestas é uma obra essencial para o manejo e a restauração de florestas tropicais e para compreender os impactos de fatores geográficos e socioeconômicos no desmatamento e na regeneração florestal.

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