As florestas tropicais do futuro
Se
as florestas tropicais primárias são mais essenciais para a conservação
da biodiversidade no planeta, por que deveria ser dada importância para
as florestas em regeneração?
Primeiramente, as florestas em
regeneração são o tipo mais comum nos trópicos em todo o planeta.
Somente 19 das 106 nações tropicais (18%) que forneceram dados para a Global Forest Resources Assessment (FRA de 2010) declararam ter mais área de floresta primária do que em regeneração.
Para 51 países (48%), as florestas em
regeneração ocupavam uma área maior do que as primárias, enquanto 36
países (34%) declararam que as únicas florestas que restam em seu
território são aquelas em regeneração.
Por mais grosseiros e inconsistentes que
sejam, esses relatos realçam a importância das florestas em regeneração
para mais de 80% das nações tropicais. Sem elas nas paisagens
tropicais, corre-se o risco de perder a maioria dos estoques globais de
carbono e uma fração significativa das espécies e serviços
ecossistêmicos do planeta. Há muita coisa em jogo.
Décadas de pesquisa meticulosa revelaram
muito sobre a regeneração das florestas tropicais. O entendimento das
trajetórias da regeneração florestal é essencial para manejar e
restaurar florestas e para prever as mudanças florestais decorrentes das
alterações climáticas. Estudos de regeneração florestal informam como
diferentes tipos e intensidades de uso do solo influenciam a estrutura, a
composição de espécies e a acumulação de carbono e nutrientes nas
trajetórias sucessionais dos ecossistemas florestais.
As florestas em regeneração fornecem
habitat para uma vasta gama de espécies animais que dispersam sementes,
polinizam flores e realizam interações tróficas. Ao entender as
trajetórias sucessionais, pode-se diagnosticar melhor as causas da
sucessão estagnada e prescrever ações para superar as barreiras que
impedem a regeneração natural.
É possível aprender com agricultores
tradicionais de roçado como enriquecer florestas em regeneração com
produtos para uso doméstico ou comercial. Por fim, pode-se aprender como
fatores geográficos e socioeconômicos influenciam o desmatamento e a
regeneração florestal nas mais diversas escalas espaciais e temporais.
Ao entender a regeneração florestal,
aprende-se também sobre os impactos das atividades humanas nos
ecossistemas florestais, hoje e no passado. Baseando-se nas
características da vegetação em sucessão, é possível identificar
períodos de intervenção humana seguidos por regeneração em florestas
tropicais nos últimos 2.000-45.000 anos.
As florestas primárias de hoje já foram
florestas secundárias, e, se tiverem uma segunda chance, as florestas
secundárias de hoje serão as florestas primárias do futuro.
Tudo a ver
Esta matéria foi retirada do próximo lançamento da Oficina de Textos “Renascimento de Florestas: regeneração na era do desmatamento”,
uma obra essencial para o manejo e a restauração de florestas e para
compreender os impactos de fatores geográficos e socioeconômicos no
desmatamento e na regeneração florestal.
O livro aborda usos do solo,
perturbações em florestas tropicais, trajetórias sucessionais,
regeneração florestal, diversidade da fauna durante a regeneração,
funções ecossistêmicas, restauração e reflorestamento, entre outros
temas.
Ao longo de 15 capítulos, apresenta a
profunda compreensão das florestas em regeneração, o que proporciona
ainda subsídios para ações de restauração ecológica.
Fruto de mais de 25 anos de pesquisa, em
diferentes regiões e com diferentes colaboradores, e um rico trabalho
bibliográfico, Renascimento de florestas é uma obra essencial para o
manejo e a restauração de florestas tropicais e para compreender os
impactos de fatores geográficos e socioeconômicos no desmatamento e na
regeneração florestal.
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