Pesquisadora identifica mel da abelha Tiúba
Estudo da Unesp ajudará a garantir a qualidade do produto e a ampliar o mercado
Maristela Garmes
09/08/2017
Melipina fasciculata, SMITH, 1854 (Hymenoptera, Apidae)
No
Maranhão, o mel da abelha nativa Tiúba, que oferece um
gosto ácido e menor teor de açúcar é um produto muito
apreciado no mercado local e regional e recebe uma atenção ainda
maior por não ser produzido em grande escala: “a
produção sofre entraves à comercialização por falta de uma
legislação que regulamente estes méis”, diz a pesquisadora
Rachel Torquato Fernandes.
A abelha que elabora esse mel ocorre
em todos os ecossistemas do Estado, atingindo ainda o Pará,
Piauí e Tocantins, regiões de fronteira com o Maranhão.
Rachel explica que “as dificuldades na comercialização e na
ampliação do mercado do mel da abelha Tiúba e de outras
abelhas nativas são em razão da falta de uma legislação
que estabelece os requisitos de identidade e qualidade do
produto", diz.
Rachel defendeu tese de doutorado
que determinou as características de qualidade do mel de Tiúba
(Melipona fasciculata) produzido em duas Bacias
Hidrográficas do Estado do Maranhão (Munim e Pericumã), tendo
como referência as características do mel de Apis Mellifera L. O
estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em
Engenharia e Ciência de Alimentos da Unesp de São José
do Rio Preto, interior de São Paulo.
Uma das características da abelha
Tiúba é não possuir ferrão, ao contrário da abelha mais
conhecida nos criatórios do Brasil, a Apis Mellifera,
que tem ferrão, e é amplamente difundida no mundo na produção
de mel. “Por ser a mais comercializada, são os padrões
físico-químicos do mel da Apis que estão presentes na normativa
internacional e brasileira”, diz a pesquisadora, que é
engenheira agrônoma.
Segundo ela, como não existe uma
normatização nacional para o mel das abelhas nativas – que se dá
pela carência de conhecimento do produto - a
identificação de suas características pode auxiliar as
iniciativas de regulamentação. “Com identidade e normatizado, a
comercialização do mel pode ser ampliada, fica mais fácil
controlar as falsificações e, ainda, garantir ao consumidor
que o produto é de fato o mel declarado no rótulo”.
Perfil da Tiúba
Para determinar as características da qualidade do mel de Tiúba, a engenheira agrônoma avaliou a qualidade microbiológica (condição sanitária do produto); a variação físico-química (umidade, açúcares, acidez, pH, sólidos, cinzas, entre outras); sensoriais (cor, viscosidade, aroma, sabor); e as interações com o meio ambiente (temperatura, umidade, luz).
Para determinar as características da qualidade do mel de Tiúba, a engenheira agrônoma avaliou a qualidade microbiológica (condição sanitária do produto); a variação físico-química (umidade, açúcares, acidez, pH, sólidos, cinzas, entre outras); sensoriais (cor, viscosidade, aroma, sabor); e as interações com o meio ambiente (temperatura, umidade, luz).
No quesito integridade
microbiológica, o mel pode apresentar na origem, zero
contaminação microbiológica, confirmando o hábito
higiênico de coleta das abelhas; baixo teor de açúcar (o que
pode ser vantagem para a saúde do consumidor); mediano teor de
umidade; moderada acidez; de médio a alto teor de
minerais; baixa viscosidade (que o torna mais fluido); e cor
variável tendendo para as mais escuras.
Com relação ao sabor também é
variável: “este fator que depende das fontes florais visitadas
pela abelha na coleta de néctar”, diz Rachel. Ele pode
oferecer sensações bucais de leve ardência e gosto levemente
ácido.
“O mel tem características que
muitas pessoas nas regiões de produção valorizam porque percebem
o produto mais palatável e menos enjoativo, e
tradicionalmente acreditam nas suas propriedades medicinais”.
Obstáculos na legislação
De acordo com a engenheira, vários estudos confirmam as diferenças físicas e químicas entre o mel da abelha Apis mellifera com o mel de outras abelhas nativas. O mel da Apis tem viscosidade e teores de açúcares bem maior e a umidade menor, sendo menos fluida e menos aquosa.
De acordo com a engenheira, vários estudos confirmam as diferenças físicas e químicas entre o mel da abelha Apis mellifera com o mel de outras abelhas nativas. O mel da Apis tem viscosidade e teores de açúcares bem maior e a umidade menor, sendo menos fluida e menos aquosa.
“Por essa razão, avaliar a qualidade
do mel de abelhas nativas considerando os valores dos
parâmetros estabelecidos na legislação nacional é
problemático, pois haverá divergência”, explica Rachel. Eles
podem ser inseridos no mercado aproveitando nichos especiais
como produto nobre e raro da biodiversidade brasileira.
“Não há como enquadrar as
características do mel de abelhas nativas em um padrão que não
seja próprio delas. As abelhas têm seu padrão natural.
Cabe a nós conhecermos, buscarmos identificá-lo de modo a
permitir basear uma normativa para o mel de meliponíneos
(abelhas nativas)”, ressalta.
A professora Ana Carolina Conti e
Silva, orientadora do estudo, complementa que o trabalho de
Rachel é de fundamental importância por oferecer suporte
às futuras ações de desenvolvimento da cadeia produtiva
do mel no Estado do Maranhão, garantindo a qualidade do mel de
Tiúba e expandindo sua comercialização para fora do Estado.
Atualmente o Brasil é um dos maiores
produtores e exportadores de mel (Apis), com uma produção
aproximada de 38 mil toneladas e oitava posição no
ranking mundial de exportadores, segundo os dados de 2015, os
mais atuais.
A pesquisa faz parte do projeto
interinstitucional, coordenado pela Unesp, Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e Instituto Federal do Maranhão
(IFMA), financiado parcialmente pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Maranhão (Fapema).
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