Tamanduá-bandeira pode acabar no Cerrado do Estado de SP
Estudo inédito da Unesp avalia quantidade e ameaça de extinção
Maristela Garmes
28/08/2017
Ttamanduá-bandeira no Cerrado paulista.
Sabe
o tamanduá-bandeira, aquele bicho com cara
de simpático, que tem uma língua grande, e que
se alimenta de formigas e
cupins? No Estado de São Paulo ele é
“vulnerável” à ameaça de extinção, ou seja, ao
menos 30% da população deste mamífero foi
perdida nos últimos dez anos. Os motivos?
Perda e alteração do seu habitat,
atropelamentos, caça, queimada, conflitos com
cães e uso de agrotóxico.
“Os impactos da
ação humana aumentam a vulnerabilidade da
espécie e elevam o nível de ameaça”, diz a
bióloga Alessandra Bertassoni, que realizou
uma pesquisa na Estação Ecológica de Santa
Bárbara (EESB), próxima à cidade de
Avaré, interior de São Paulo. Segundo ela, no
pior dos cenários, com a
continuação dos casos de atropelamento, de
caça e de queimada na mata, “a possibilidade
da população sobreviver cai para 20 anos. Se o
fogo utilizado nas queimadas for suprimido, a
viabilidade será de 30 anos”.
Esta estimativa só foi possível
porque a bióloga trabalhou com o
reconhecimento individual de oito
tamanduás-bandeira e avaliou a quantidade destes animais
existente na EESB, uma vez que não
havia nenhuma estimativa do tamanho
populacional para a espécie no Estado de São
Paulo. A Estação é uma das maiores unidades
de conservação do Cerrado paulista.
A tese de
doutorado foi apresentada no Programa de
Pós-Graduação em Biologia Animal do Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas
(Ibilce), Câmpus da Unesp em São José do Rio
Preto, em junho deste ano.
Para fazer o
monitoramento dos tamanduás-bandeiras,
Alessandra utilizou o GPS (Global Positioning
System), em oito animais, por aproximadamente
91 dias. O aparelho possibilitou o controle em
vida livre destes mamíferos, revelando o
tamanho da área utilizada por eles; o
compartilhamento do espaço
geográfico; a forma como interagem; e as áreas
preferencialmente usadas ou até mesmo
subutilizadas pela espécie.
Alessandra conta
que as fêmeas monitoradas pelo GPS
apresentaram um comportamento mais restrito,
com áreas de mobilidade
menores que as dos machos, utilizando somente
os habitats dentro dos limites da área
protegida.
Já os machos,
tiveram um comportamento mais exploratório,
atravessaram estradas e passaram dias fora da
Estação, principalmente na área de reserva
legal das propriedades vizinhas, em meio ao
cultivo de cana-de-açúcar e pastagens. “Este
comportamento pode ser positivo do ponto de
vista genético, porém aumenta a probabilidade
de atropelamento, conflito com
seres humanos e cães, além de expor os animais
a intoxicações, dado o uso de
agrotóxico nos cultivos vizinhos”, explica.
Se os machos têm
predisposição para explorar, apenas uma das
fêmeas monitoradas apresentou localizações
fora da área protegida. Porém, em 10 dias de
acompanhamento, ela sumiu, indicando um
episódio de caça dentro da Estação, o que
mostra a vulnerabilidade tanto da área
protegida quanto das populações de animais
silvestres residentes na região.
Outro ponto
revelado pela pesquisa foi que os animais
selecionaram as áreas de savana (habitat
típico de Cerrado) para suas andanças e
moradia, muito mais do que o esperado,
subutilizando os plantios de pinus e
eucaliptos. “Possivelmente estes animais são
incapazes de persistir em habitats
compostos só por ambientes alterados pelo
homem como plantio madeireiro,
pastagens e monoculturas, dado à dependência
por áreas nativas (savanas) e a
subutilização de áreas de plantios”.
Selfies no Cerrado
Uma outra forma de trabalho utilizada por Alessandra para descobrir se era possível identificar tamanduás-bandeira por padrões de pelagem foi por meio do uso de armadilhas fotográficas. O reconhecimento individual desses mamíferos é tido como extremamente difícil, uma vez que, a primeira vista, todos os animais parecem idênticos.
Uma outra forma de trabalho utilizada por Alessandra para descobrir se era possível identificar tamanduás-bandeira por padrões de pelagem foi por meio do uso de armadilhas fotográficas. O reconhecimento individual desses mamíferos é tido como extremamente difícil, uma vez que, a primeira vista, todos os animais parecem idênticos.
Segundo a
pesquisadora, “as capturas são especialmente
úteis quando é possível a identificação dos
indivíduos fotografados”. Ela selecionou um
conjunto de características do padrão de
pelagem e apresentou variação individual para
os nove tamanduás fotografados.
“Apesar de alguns cientistas se referirem à
possibilidade de identificação
individual, nenhum estudo havia se utilizado
deste padrão para acessar informações
populacionais.
Para avaliar a
proximidade entre os tamanduás, Alessandra
utilizou, além do GPS, recursos das armadilhas
fotográficas. De acordo com ela, dois pares
de macho e de fêmea estiveram próximos
em várias ocasiões, indicando um possível
comportamento reprodutivo. Nenhuma
fêmea monitorada com GPS apresentou prenhez,
mas os registros das armadilhas mostraram
fêmeas com filhotes, apontando reprodução na
região. A coleta de dados foi realizada pela
pesquisadora em quase dois anos de campo.
Alessandra é
bióloga e mestre pela Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. Trabalha atualmente no
Instituto de Pesquisa e Conservação de
Tamanduás do Brasil, ONG conhecida como
Projeto Tamanduá. Em janeiro deste ano, ela
publicou, com outros autores, o artigo Movement
patterns and space use of the first
giant anteater (Myrmecophaga tridactyla)
monitored in São Paulo State, Brazil,
na revista científica Studies on Neotropical
Fauna and Environment, do grupo
Taylor & Francis, da Inglaterra.
Também é assinada por ela e outros pesquisadores a matéria intitulada Tamanduás, Tatus e Preguiças são parentes?, publicada em novembro de 2016, pela revista Ciência Hoje das Crianças.
A tese teve
financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado (Fapesp) e integra um projeto que
conta com outros objetivos como, avaliação do
perfil genético, toxicológico e parasitológico
da espécie na área de estudo.
Mais informações
http://agencia.fapesp.br/tamanduabandeira_em_risco_de_extincao_no_cerrado_de_sao_paulo/25995/
http://agencia.fapesp.br/tamanduabandeira_em_risco_de_extincao_no_cerrado_de_sao_paulo/25995/
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