sábado, 4 de novembro de 2017

Laika, a cadela sacrificada em nome da corrida espacial há 60 anos



Moscou, 3 nov (EFE). - Laika, a cachorrinha retirada das ruas de Moscou, se transformou há 60 anos no primeiro ser vivo a orbitar a Terra num voo histórico e sem volta na tentativa de abrir as portas do espaço à humanidade.

Havia passado apenas um mês desde o lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da Terra, e os cientistas soviéticos estavam ansiosos para saber como um animal se comportaria, por exemplo, com a falta de gravidade, já que o objetivo era enviar o homem ao espaço.
Aquela, no entanto, não seria a primeira experiência com bichos. Os Estados Unidos já tinham usado um macaco e a própria União Soviética, um cachorro, só que em voos suborbitais.

Devido ao desenho do Sputnik 2, o cachorro deveria pesar de seis a sete quilos, ter não mais do que 35 centímetros altura, ser vira-lata - os de raça teriam menos resistência -, e de pelo claro, já que os especialistas acreditavam que assim seria mais fácil enxergá-lo no monitor.
Por questões de dimensão e higiene era preferível que fosse uma fêmea para facilitar a colocação do sistema sanitário.

Mas aquele era um voo sem retorno. O aparelho projetado tinha um deposito de comida, mas o sistema de circulação de ar tinha sido programado para funcionar por sete dias e não permitia o retorno à Terra.
Ao todo, três cachorrinhas eram candidatas ao posto: Albina, que tinha dois voos suborbitais na carreira, a novata Muja e a também principiante Laika. Albina foi poupada em virtude dos serviços já prestados à ciência. Muja tinha as patas dianteiras ligeiramente arqueadas e isso não favorecia as imagens. Laika foi a escolhida.
"Era importante fazer de tudo para o futuro voo do homem ao espaço. Era preciso um ensaio, eram necessários sacrifícios, mas, antes de Laika partir, até eu chorei. Todos sabíamos que ela morreria e pedimos perdão", lembrou a médica Adilia Kotovskaya, em entrevista ao jornal "Rossiyskaya Gazeta".

Laika foi operada para receber dois sensores, um na costela, para controlar a respiração; e o outro nas artérias carótidas, para acompanhar a pulsação. Durante os primeiros minutos de voo os cientistas já detectaram uma brusca aceleração nos batimentos e nos movimentos respiratórios.
Poucas horas depois do lançamento, por causa de erros de cálculo, a temperatura no interior da cápsula ultrapassou os 40 graus Celsius, causando a morte de Laika, depois de quatro voltas na Terra.
Durante semanas, as autoridades soviéticas preferiram esconder esse fato e informavam que a cadela, que tinha se tornado uma celebridade, estava bem, como se tudo transcorresse sem problemas, até que comunicaram que ela teve que ser sacrificada.

O Sputnik 2 continuou orbitando por mais seis meses, até que perdeu altura e se desintegrou nas camadas mais altas da atmosfera.

Laika foi o último cachorro soviético a ser enviado ao espaço e, uma nave sem sistema de retorno, mas não o último a morrer na corrida pela conquista do espaço. Em 28 de julho de 1960, as cadelas Chayka e Lisichka morreram na explosão do foguete portador do Korabl-Sputnik-5, já dotado de sistema de retorno, segundos depois do lançamento.

Apesar do fracasso que representou, o caso estimulou os especialistas soviéticos a projetar um sistema de ejeção de emergência durante a fase inicial do voo, que mais tarde salvaria a vida de quatro astronautas. EFE

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