Laika, a cadela sacrificada em nome da corrida espacial há 60 anos
Moscou,
3 nov (EFE). - Laika, a cachorrinha retirada das ruas de Moscou, se
transformou há 60 anos no primeiro ser vivo a orbitar a Terra num voo
histórico e sem volta na tentativa de abrir as portas do espaço à
humanidade.
Havia
passado apenas um mês desde o lançamento do Sputnik 1, o primeiro
satélite artificial da Terra, e os cientistas soviéticos estavam
ansiosos para saber como um animal se comportaria, por exemplo, com a
falta de gravidade, já que o objetivo era enviar o homem ao espaço.
Aquela,
no entanto, não seria a primeira experiência com bichos. Os Estados
Unidos já tinham usado um macaco e a própria União Soviética, um
cachorro, só que em voos suborbitais.
Devido
ao desenho do Sputnik 2, o cachorro deveria pesar de seis a sete
quilos, ter não mais do que 35 centímetros altura, ser vira-lata - os de
raça teriam menos resistência -, e de pelo claro, já que os
especialistas acreditavam que assim seria mais fácil enxergá-lo no
monitor.
Por questões de dimensão e higiene era preferível que fosse uma fêmea para facilitar a colocação do sistema sanitário.
Mas
aquele era um voo sem retorno. O aparelho projetado tinha um deposito
de comida, mas o sistema de circulação de ar tinha sido programado para
funcionar por sete dias e não permitia o retorno à Terra.
Ao
todo, três cachorrinhas eram candidatas ao posto: Albina, que tinha
dois voos suborbitais na carreira, a novata Muja e a também principiante
Laika. Albina foi poupada em virtude dos serviços já prestados à
ciência. Muja tinha as patas dianteiras ligeiramente arqueadas e isso
não favorecia as imagens. Laika foi a escolhida.
"Era
importante fazer de tudo para o futuro voo do homem ao espaço. Era
preciso um ensaio, eram necessários sacrifícios, mas, antes de Laika
partir, até eu chorei. Todos sabíamos que ela morreria e pedimos
perdão", lembrou a médica Adilia Kotovskaya, em entrevista ao jornal
"Rossiyskaya Gazeta".
Laika
foi operada para receber dois sensores, um na costela, para controlar a
respiração; e o outro nas artérias carótidas, para acompanhar a
pulsação. Durante os primeiros minutos de voo os cientistas já
detectaram uma brusca aceleração nos batimentos e nos movimentos
respiratórios.
Poucas
horas depois do lançamento, por causa de erros de cálculo, a
temperatura no interior da cápsula ultrapassou os 40 graus Celsius,
causando a morte de Laika, depois de quatro voltas na Terra.
Durante
semanas, as autoridades soviéticas preferiram esconder esse fato e
informavam que a cadela, que tinha se tornado uma celebridade, estava
bem, como se tudo transcorresse sem problemas, até que comunicaram que
ela teve que ser sacrificada.
O Sputnik 2 continuou orbitando por mais seis meses, até que perdeu altura e se desintegrou nas camadas mais altas da atmosfera.
Laika
foi o último cachorro soviético a ser enviado ao espaço e, uma nave sem
sistema de retorno, mas não o último a morrer na corrida pela conquista
do espaço. Em 28 de julho de 1960, as cadelas Chayka e Lisichka
morreram na explosão do foguete portador do Korabl-Sputnik-5, já dotado
de sistema de retorno, segundos depois do lançamento.
Apesar
do fracasso que representou, o caso estimulou os especialistas
soviéticos a projetar um sistema de ejeção de emergência durante a fase
inicial do voo, que mais tarde salvaria a vida de quatro astronautas.
EFE
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