segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Por que uma lei suíça quer proibir chefs de cozinhar lagostas vivas no país

13 Jan 2018
(atualizado 15/Jan 10h10)

Medida passa a vigorar a partir de março e também vale para outros crustáceos como caranguejos; país segue a Itália que também proibiu armazenamento do animal vivo em gel.

Foto: Tim Wimborne/Reuters
Lagosta
Lagostas não poderão ser mantidas em gelo para serem cozinhadas vivas
 A Suíça passou na quarta-feira (10) lei que proíbe restaurantes de preparar lagostas e outros crustáceos usando como técnica o cozimento em água fervente enquanto os animais ainda estão vivos. De acordo com a nova regra do país europeu, crustáceos deverão ser atordoados antes de ir para a panela.

A legislação ainda vai além e proíbe o transporte dos animais em gelo. “Espécies aquáticas devem sempre ser mantidas em seus ambientes naturais”, diz a lei que passa a valer a partir de março deste ano.

Essa última medida acompanha determinação da justiça italiana, de julho de 2017, que decidiu a favor de um grupo de proteção aos animais local contra um restaurante de Florença que mantinha lagostas vivas no gelo até o momento de serem cozinhadas.

“Enquanto o particular método de cozimento possa ser considerado legal por ser reconhecido como um costume, o sofrimento causado pelo armazenamento dos animais enquanto eles esperam para ser cozinhados não pode ser justificado da mesma forma”, apontou o juiz italiano. Como alternativa, aponta práticas já adotadas por restaurantes e supermercados de manter os animais em tanques de água oxigenados em temperatura ambiente.

Quanto à Suíça, de acordo com informações da rede pública local RTS, a nova lei exige que o atordoamento do animal seja feito por meio de choques ou “destruição mecânica” do cérebro do crustáceo.

Entre as razões apontadas para a prática de se cozinhar crustáceos vivos, há explicações que recaem sobre a textura e o sabor da carne do animal. Para o professor titular do departamento de zoologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Adilson Fransozo, a explicação seria apenas um costume culinário motivado pela intenção de restaurantes em mostrar ao cliente que o produto preparado se trata de um animal fresco.

“Cozinhar o animal vivo é pura crueldade. Não tem razão para isso. Tanto é que a lagosta que o Brasil exporta, vai a parte do abdômen no gelo. O resto é jogado fora porque é tudo víscera. A prática da água quente é puro costume e ignorância”, diz ao Nexo.

Pacote animal

A lei suíça sobre os crustáceos vem acompanhada de um “pacote” que envolve outras leis que fortalecem a proteção animal no país. Além dela, o governo proibiu também a venda e uso de coleiras que soltam choque em cachorros visando condicioná-los a não latir, ou ainda regulações contra fazendas de criação de filhotes de cães e endurecimento de regras contra quem faz uso de animais em eventos públicos, como circos.

Contra sofrimento

Medidas contra o sofrimento de crustáceos são uma demanda de grupos de defesa de animais, como a Peta (People for the Ethical Treatment of Animals). Entre os argumentos, está o de que existem regulamentações que protegem outros animais como pássaros, mamíferos e répteis, mas não para crustáceos como lagostas e caranguejos.
“A pergunta que fica é: qual a diferença?”, disse o professor Robert Elwood, da Queens University, da Irlanda do Norte, à CNN. “Com todas as informações que temos, é muito certo que esses animais também sentem dor”. Elwood é um dos responsáveis por uma pesquisa, publicada em 2013 pelo periódico científico Journal of Experimental Biology que apontava para essa possibilidade.
Em um experimento, pesquisadores constataram que caranguejos-verde optavam repetidamente por abandonar abrigos escuros – ambiente preferido pela espécie – para não sofrerem choques dados pela equipe de Elwood.

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