'Marmota dos pampas', tuco-tuco vive no litoral e nos campos do RS
Roedor habita tocas nas dunas ou em terrenos arenosos do Pampa. Ameaçada, espécie é de interesse para estudos sobre evolução.
Das oitos espécies de tuco-tuco do Brasil, cinco ocorrem no RS
(Foto: Tatiane Noviski/Arquivo Pessoal)
Esse pequeno mamífero é assim conhecido popularmente por causa do som que os machos emitem quando sentem-se ameaçados. Para a ciência, eles são roedores pertencentes ao gênero Ctenomys. Vivem em galerias subterrâneas cavadas por eles mesmos rentes à superfície, que chegam a medir 15 metros de comprimento.
Os tuco-tucos lembram as marmotas do hemisfério Norte, mas na verdade são parentes das capivaras, ratões-do-banhado, preás e outros roedores encontrados só na América do Sul. Eles estão distribuídos do sul do Peru até a Terra do Fogo, ocorrendo no Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile, Uruguai e Brasil.
Tuco-tuco da espécie C. flamarioni é um rato de praia: vive nas dunas próximas do mar
(Foto: Tatiane Noviski/Arquivo Pessoal)
(Foto: Tatiane Noviski/Arquivo Pessoal)
Pesquisador do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Thales é o que se pode chamar de um “tucólogo”. Ele estuda esses roedores desde 1979 e há cerca de 13 anos coordena o Projeto Tuco-Tuco, vinculado à UFRGS. O objetivo do programa é estudar a evolução da espécie e ajudar na conservação dela.
A descoberta mais recente do grupo de pesquisadores foi feita no ano passado, quando foi descrita uma nova espécie de tuco-tuco, a Ctenomys ibiquensis, que habita uma área de cerca de 500 quilômetros quadrados no Oeste do estado. As outras espécies encontradas em solo gaúcho são a C. flamarioni, C. lami, C. minutus e C. torquatus.
De acordo com Thales, os tuco-tucos possuem hábitos curiosos. Além de serem animais solitários, passam a maior parte da vida no subsolo. Nascem, crescem, se alimentam e se reproduzem dentro das tocas. Daí a dificuldade de serem vistos. “Nos finais de tarde eles sempre aparecem limpando as tocas. Não são ariscos e nem agressivos, mas não devem ser manipulados, pois aí se defendem”, diz ele.
De acordo com os pesquisadores, essa diferença no número de cromossomos pode ser resultado de um processo de especiação, que é a formação de uma nova espécie. Isso teria ocorrido em função do isolamento geográfico entre as diferentes populações do animal.
Ao mesmo tempo, os pesquisadores também constataram que diferentes espécies de tuco-tuco estão cruzando entre si, após anos de isolamento, o que resultou em uma espécie híbrida. Barreiras naturais que antes separavam esses animais já não existem mais. “Todas as variações encontradas estão relacionadas às mudanças que vêm ocorrendo na Planície Costeira do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina por mais de 20 mil anos”, diz Thales.
As alterações no habitat pela ação do homem, aliás, são as principais ameaças ao tuco-tuco. A construção de áreas de lazer ou de moradias nas dunas do litoral e as mudanças na vegetação nativa do Pampa, destruída para dar lugar a plantações de soja ou florestas de pinus e eucaliptos, são responsáveis por colocar a espécie na lista da fauna ameaçada no estado.
Roedores passam quase a vida toda dentro das tocas feitas por eles (Foto: Tatiane Noviski/Arquivo Pessoal)
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