Conteúdo de carbono em sistemas aquáticos
Pesquisadores da Unesp de Presidente Prudente usaram sensor OLI do Landsat-8, da Nasa
Elton Alisson | Agência FAPESP
06/03/2017
Pesquisadores
dos Departamentos de Cartografia e de Matemática e Ciência da
Computação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de
Presidente Prudente, demonstraram que satélites de observação da Terra
podem ajudar a estimar o conteúdo de carbono nas águas interiores
(como lagos, rios e reservatórios). E, dessa forma, contribuir para
aumentar a compreensão do ciclo de carbono – as etapas que o elemento
químico percorre – em ambientes aquáticos.
Os resultados da pesquisa, realizada com apoio
da FAPESP e coordenada pelo professor Enner Herênio de Alcântara, foram
publicados em um artigo na revista Remote Sensing Letters e
apresentados no congresso da American Geophysical Union (AGU), realizado
em dezembro na Califórnia, nos Estados Unidos.
O estudo foi destacado pela Nasa, a agência espacial norte-americana.
Os pesquisadores utilizaram o satélite Landsat-8 – o oitavo da série de satélites do Programa Landsat,
da Nasa, e o sétimo a alcançar com sucesso a órbita terrestre – para
mapear a distribuição do coeficiente de absorção da matéria orgânica
dissolvida colorida no reservatório de Barra Bonita, no interior de São
Paulo.
“Foi a primeira vez que foram utilizadas
imagens do sensor OLI do Landsat-8 para mapear o coeficiente de
absorção da matéria orgânica dissolvida colorida em águas interiores no
Brasil”, disse Alcântara à Agência FAPESP.
Também conhecida como substância amarela, a
matéria orgânica dissolvida colorida é um componente fotoativo da
matéria orgânica dissolvida que absorve fortemente a luz ultravioleta e
a visível e tem uma função importante no ciclo do carbono. Além disso,
pode ser utilizada para estimar o carbono orgânico dissolvido em
sistemas aquáticos.
Essa porção da matéria orgânica, que afeta
a qualidade da água, dificulta a penetração da luz solar e altera as
propriedades térmicas de um sistema aquático, é chamada de colorida
porque possui uma alta concentração de ácidos húmicos e fúlvicos –
compostos escuros originados da decomposição química e biológica de um
material vivo – que conferem cor marrom à água.
Os sensores ópticos acoplados em
satélites, como o Operational Land Imager (OLI) do Landsat-8, conseguem
registrar a radiância (a quantidade de energia que emerge de um objeto
por unidade de área e por ângulo sólido) por essa matéria orgânica
colorida dissolvida ao interagir com a radiação eletromagnética do Sol,
explicou Alcântara.
“A radiação eletromagnética do Sol só
consegue interagir com a matéria orgânica dissolvida colorida porque
durante a interação essa fração da matéria orgânica absorve os menores
comprimentos de onda”, afirmou.
Com base nessa constatação, os
pesquisadores decidiram avaliar se o Landsat-8 era capaz de estimar com
uma acurácia aceitável o coeficiente de absorção da matéria orgânica
dissolvida colorida a 440 nanômetros (nm) em águas interiores, que é o
primeiro passo para estabelecer uma relação com o conteúdo de carbono
em um ambiente aquático.
Para isso, eles aplicaram um modelo
empírico que desenvolveram para estimar em escala regional o
coeficiente de absorção de matéria orgânica dissolvida colorida na
fração de 440 nm, baseado em dados de sensoriamento remoto e de
amostras de água, a uma série de imagens do reservatório de Barra
Bonita feitas pelo sensor OLI do Landsat-8.
A aplicação do modelo sobre as imagens
possibilitou obter mapas de distribuição espacial do coeficiente de
absorção da matéria orgânica dissolvida colorida em 440 nm no
reservatório de Barra Bonita com baixo erro, afirmou Alcântara.
“O coeficiente de absorção da matéria
orgânica dissolvida colorida é considerado um indicador para estimar a
concentração de matéria orgânica dissolvida. Por isso, espera-se que a
curto prazo seja possível estimar o conteúdo de carbono em águas
interiores do Brasil via imagens de satélite e, com isso, abrir a
perspectiva de entender melhor o balanço de carbono em ambientes
aquáticos”, estimou Alcântara.
Séries históricas
De acordo com o pesquisador, uma vez que o
programa Landsat vem registrando imagens da superfície da Terra desde a
década de 1970, é possível traçar séries históricas da concentração de
carbono dissolvido em águas interiores até a atualidade.
“Essa foi uma das razões que nos motivou a
usar o Landsat, porque com isso temos condições de reconstituir a
história de um ambiente e verificar se aumentou a concentração de
carbono nele e avaliar qual o possível fator causador dessa mudança”,
disse.
Geralmente o aumento da concentração de
carbono em águas interiores é causado por mudanças no uso e cobertura
da terra no entorno do sistema aquático, explicou.
O artigo “Estimating the CDOM absorption
coefficient in tropical inland waters using OLI/Landsat-8 images” (doi:
10.1080/2150704X.2016.1177242), de Alcântara e outros, pode ser lido na
revista Remote Sensing Letters em http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/2150704X.2016.1177242.
Pesquisadores da Unesp de Presidente
Prudente usaram sensor OLI do Landsat-8, da Nasa, para mapear a
distribuição do coeficiente de absorção da matéria orgânica dissolvida
colorida no reservatório de Barra Bonita (magem: Nasa)
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