Função das asas dos dinossauros pode não ter sido o voo, diz estudo
Utilizando laser de alta potência,
cientistas conseguiram observar tecidos raríssimos em fósseis e
reconstruir aparência externa de espécimes de Anchiornis.
O Estado de S. Paulo
02 Março 2017 | 16h09
A descoberta, publicada na revista Nature Communications, foi possível graças ao uso de uma técnica inovadora que utiliza raios laser de alta potência para detectar traços raros de tecidos moles fossilizados em nove exemplares de Anchiornis - um dinossauro de quatro asas que viveu no fim do período Jurássico.
Os fósseis são um elemento fundamental para que os paleontólogos possam estudar animais extintos da pré-história. Mas, como a preservação dos tecidos moles é raríssima, boa parte dos traços externos do animal são reconstruídos a partir de inferências baseadas na estrutura óssea, ou em comparações com animais que existem atualmente. Usando a nova técnica, porém, os cientistas conseguiram reconstruir o formato de um animal diretamente a partir do tecido mole.
Para os cientistas, o novo estudo "oferece novas perspectivas sobre a origem das aves e sobre o desenvolvimento do voo", mas a própria aplicação da técnica também é um importante resultado da pesquisa.
Segundo Pittman, os delicados contornos do tecido mole dos espécimes estudados revelam que esses Anchiornis, que viveram há cerca de 160 milhões de anos, já tinham diversas características das aves modernas, incluindo o formato das pernas.
"O LSF é uma técnica revolucionária que usa raios laser de alta potência, revelando os tecidos moles invisíveis que ficaram preservados ao longo dos ossos. Esses tecidos literalmente brilham no escuro, por fluorescência", disse Pitman.
"A técnica escaneia o fóssil com um laser violeta em uma sala escura. O laser excita os poucos átomos da pele deixados no fóssil, fazendo-os brilhar e revelando o formato original do dinossauro", explicou.
De acordo com Pittman, a técnica de LSF já havia sido utilizada antes para reconstruir os padrões de cores dos dinossauros do grupo dos Psittacossauros, do período Cretáceo, e também para discernir o formato de plantas pré-históricas. O novo estudo é o primeiro a fazer isso com dinossauros alados.
O estudo dos dinossauros alados - com seus corpos de formatos únicos, com penas e aparente aerodinâmica - têm contribuído para o conhecimento da origem das aves e da origem do voo entre as espécies de lagartos, segundo os autores do estudo. Todas as aves modernas existentes têm parentesco com dinossauros, que foram os primeiros animais a conquistar os céus.
Os cientistas afirmam ter escolhido o Anchiornis por conta do rico registro paleontológico: há pelo menos 229 espécimes fósseis conhecidos desses animais, o que aumenta a chance dos pesquisadores descobrirem tecidos moles preservados.
Com o LSF, os cientistas conseguiram desvendar o contorno externo dos braços, pernas e cauda dos animais - embora não tenham chegado a conclusões sobre os formatos da cabeça, pescoço e tórax. Os traços de tecido mole encontrados mostraram que o Anchiornis tinha diversas características das aves modernas, incluindo o formato das pernas e pés e a cauda delgada.
Apesar de todas essas características, os cientistas acreditam que o Anchiornis não podia de fato voar. Segundo eles, é mais provável que o animal conseguisse usar as asas para produzir grandes saltos e, eventualmente, planar ao partir de um local alto.
"As asas do Anchiornis são reminiscências das asas de aves capazes de planar, mas é preciso realizar mais estudos biomecânicos para descobrir como ele de fato se movia. No momento não temos dados suficientes para comprovar nenhuma das hipóteses", disse Pittman. "Acreditamos que ele provavelmente tinha algum tipo de capacidade aerodinâmica", completou Wang.
Segundo os cientistas, além de penas, o Anchiornis tinha também dentes pequenos e afiados como os das primeiras aves, o que é uma pista sobre sua alimentação: provavelmente ele comia pequenos animais como lagartos.
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