Influência da inundação na absorção de carbono em florestas
Pesquisa é orientada por professor da Unesp de Rio Claro
Fonte: Instituto Mamirauá
19/04/2017
Uma
pesquisa, desenvolvida no Instituto Mamirauá, busca estimar o papel
das florestas alagáveis da Amazônia na absorção de carbono do bioma,
diante de um cenário de mudanças climáticas. Integrando diferentes
metodologias de análise, o projeto propõe esclarecer a variação da
produtividade vegetal da floresta em diferentes níveis de inundação no
ambiente de várzea amazônica.
“Hoje, há uma grande discussão sobre
mudanças climáticas e sabemos que a Amazônia é, de um modo geral, um
sumidouro de carbono atmosférico. Ela sequestra e armazena parte
significativa do carbono da atmosfera, que está causando uma mudança no
clima. Mas os dados são da Amazônia como um todo. Se formos considerar
as florestas alagáveis, temos apenas uma aproximação, uma suposição.
Então, queremos refinar esses números”, explicou Jefferson
Ferreira-Ferreira, autor da pesquisa e técnico do Instituto Mamirauá –
que atua como uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O professor doutor do Instituto de
Geociências e Ciência Exatas (IGCE) da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), Thiago Sanna Freire, orienta Jefferson na pesquisa. Ele afirma
que as mudanças causadas pelo clima na Amazônia “podem levar a uma
reorganização e redistribuição significativa das comunidades vegetais
das várzeas, com efeitos diretos sobre a biodiversidade e a
biogequímica desses ecossistemas”. Segundo o professor, a “análise dos
registros históricos de dados hidrológicos para os grandes rios
amazônicos já sugere uma intensificação do ciclo hidrológico nas
últimas décadas, e predições usando modelos hidrológicos indicam que
pode haver uma intensificação e aumento na frequência e recorrência de
eventos extremos de seca e cheia, aos quais a vegetação não se encontra
adaptada”.
Monitorando o ambiente
Para realizar uma parte do trabalho, foram
instaladas seis parcelas florestais – áreas delimitadas que funcionam
como “amostras” de florestas na pesquisa – em diferentes tipos
florestais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá: várzea
baixa, várzea alta e chavascal, que passam por níveis diferentes de
alagação. As áreas estão sendo monitoradas regularmente. São coletadas
amostras de serrapilheira, que é a matéria orgânica depositada na
floresta, composta por folhas, galhos, flores, frutos e outros. A ideia
dessa etapa, como explica Jefferson, é compreender como a floresta
devolve, ao ambiente, o carbono absorvido em forma de gás da atmosfera.
A pesquisa também conta com a análise de
imagens de satélite, visando extrapolar as estimativas para áreas
maiores dentro da Reserva. “A ideia é compreender como diferentes
regimes de inundação influenciam a produtividade de um mesmo tipo
florestal e captar essa heterogeneidade da paisagem. Então, uma vez que
conseguimos mapear a duração da inundação e as fitofisionomias para
áreas maiores, conseguimos expandir este dado, que a gente está olhando
só localmente e em campo, para áreas maiores”, comentou Jefferson, que
é geógrafo e também trabalha com Geotecnologias no Instituto Mamirauá.
Previsão da Inundação
Os eventos extremos de cheia e seca
costumam ser características conhecidas das mudanças climáticas. De
acordo com Jefferson, uma contribuição importante da pesquisa será o
desenvolvimento de uma modelagem da inundação na região contemplada
pelo projeto. A partir disto, seria possível prever o período e o nível
de inundação das áreas, o que contribuiria para o desenvolvimento de
medidas para conter prejuízos ou para o planejamento das atividades
econômicas praticadas pelas comunidades ribeirinhas.
Isso será possível com base em análises
estatísticas dos dados de monitoramento do nível da água realizado,
desde 1999, pelo Instituto Mamirauá na unidade de conservação. O modelo
poderia demonstrar espacialmente a duração anual da inundação, de
acordo com o autor. “Se este modelo de inundação evoluir como estamos
esperando, ele pode ser usado para muitas coisas como, por exemplo, o
manejo madeireiro ou para saber se os lagos estão conectados ou
acessíveis num determinado momento do ano e planejar a pesca”, contou
Jefferson.
Anéis de crescimento
Outra metodologia utilizada pela pesquisa
será a dendroecologia, que é a análise das informações ecológicas
contidas nos anéis de crescimento de algumas espécies de árvores.
Jefferson comenta que, com as amostras da madeira, é possível
reconstruir a história do crescimento das árvores e também obter
informações sobre o ambiente, em cada ano de vida daquele indivíduo.
“Na literatura, temos uma lista de mais ou menos oitenta espécies cujos
anéis de crescimento são marcados pela inundação. Vamos selecionar as
espécies que ocorrem ao redor das parcelas que instalamos, para
amostrar os anéis de crescimento”, disse.
O geógrafo acredita que a pesquisa pode
melhorar as estimativas globais sobre o sequestro de carbono e para
apoiar iniciativas como políticas de mitigação de efeitos climáticos
causados pela emissão de carbono a partir da degradação ambiental.
“Queremos refinar esses números e dar um retorno para a comunidade científica do que acontece, afinal, nesses ambientes de florestas
alagáveis”, completou.
A pesquisa é realizada no Instituto
Mamirauá, como o projeto de doutorado de Jefferson na Universidade
Estadual Paulista (Unesp) – campus Rio Claro, e conta com a colaboração
de pesquisadores do Instituto Mamirauá, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Escola de Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” na Universidade de São Paulo, da University of
California Santa Barbara e da Jet Propulsion Laboratory da National
Aeronautics and Space Administration (NASA). O estudo é realizado com o
financiamento da National Geographic Society e da NASA.
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