Fósseis apontam que mar cobria o interior de SP
Pesquisadores de universidades brasileiras e portuguesas reuniram dados em inventário
Por Jornal da EPTV 2ª edição
24/04/2017
Mar de Irati se estendia por 1 milhão de quilômetros quadrados em cinco estados, além de Uruguai, Paraguai e Argentina
Um levantamento realizado por
pesquisadores de sete universidades brasileiras e portuguesas apontou
que há 260 milhões de anos o interior de São Paulo era coberto por
água. O chamado “mar de Irati” tinha 1 milhão de quilômetros quadrados e
acabou secando após uma série de mudanças geológicas.
Entretanto, fósseis de animais marinhos e
vestígios de algas ainda podem ser encontrados em algumas regiões, como
no município de Santa Rosa de Viterbo (SP), a 300 quilômetros da
capital paulista, onde ficava uma das praias de água salgada, limpa,
clara, rasa e quente, como descreve o estudo.
As primeiras descobertas ocorreram na
década de 1970, durante os trabalhos de escavação em uma mina de
calcário que, mais tarde, se tornou um sítio arqueológico. Agora, as
informações foram reunidas em um inventário geológico, publicado na
revista científica GeoHeritage.
O documento é assinado por geocientistas
da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp),
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de São
Carlos (UFScar), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instituto
Florestal e Instituto Geológico de São Paulo.
Segundo os pesquisadores, os elementos que
comprovam a existência do mar de Irati estão embaixo da terra, a até
25 metros de profundidade: os estromatólitos são rochas que se formam
no fundo de mares rasos a partir de microrganismos solidificados, que
se acumulam como um tapete de limo.
Em Santa Rosa, com a retirada do calcário
pela mineração, foram descobertos estromatólitos gigantes, que só
haviam sido encontrados na Namíbia. O engenheiro de minas Marco Antônio
Cornetti explica que esse tipo de rocha geralmente é pequeno, mas no
interior de São Paulo há alguns com até três metros.
“Uma infinidade de algas morreu e o
calcário começa a sedimentar em cima delas. Ninguém sabe por que essas
algas não sedimentavam de forma plana, elas formam uma estrutura. Por
que elas assumiram essa forma, ninguém sabe o motivo”, diz.
Cornetti trabalhou na pedreira em 1972,
quando os primeiros indícios de vida marinha foram descobertos, e
também atuou ao lado dos pesquisadores entre 2012 e 2015, na elaboração
do inventário atual. Ele conta que o grupo também achou coprólitos,
fezes fossilizadas de peixes e tartarugas.
“Elas têm formas diferentes: uma mais
cilíndrica e outra mais redonda. Isso vai mostrar a origem de um e de
outro [animal]. Esses coprólitos e os restos de conchas estão nessa
camada [de rocha], o que comprova ambiente marinho nesse local”,
afirma.
Nas áreas de mineração, os geocientistas
ainda identificaram fragmentos de ossos de um vertebrado que antecedeu
os dinossauros, o Mesosaurus brasiliensis. O animal vivia no mar de
Irati e era parecido com um lagarto com um metro de comprimento,
segundo Cornetti.
“Ele ficava em cima do estromatólito,
morria e caía entre dois estromatólitos. A onda ficava balançando e,
por isso, você não encontra o corpo do Mesosaurus completo, porque a
água do mar ficava balançando e separava todos os pedacinhos”, explica.
Extinção
O mar de Irati se estendia pelos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e até partes do Uruguai, Paraguai e Argentina. Segundo os pesquisadores, movimentos geológicos fizeram quase toda água escoar para o oceano Atlântico.
O mar de Irati se estendia pelos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e até partes do Uruguai, Paraguai e Argentina. Segundo os pesquisadores, movimentos geológicos fizeram quase toda água escoar para o oceano Atlântico.
“Na região de Uberlândia o solo foi
levantando e foi expulsando o mar em direção à foz do Rio Paraná. Em
Santa Rosa, ficou um mar fechado, com mais ou menos 3 mil hectares. Não
entrou mais água, esse mar secou e na hora que foi secando, foi
depositando calcário”, diz Cornetti.
O engenheiro explica que o Irati era um
mar raso, com aproximadamente 200 metros de profundidade, e levou cerca
de 20 milhões de anos para secar. Logo depois, a região virou um
deserto e, lentamente, a vegetação foi se recompondo. As rochas
existentes no local ajudaram a formar o maior reservatório de água do
mundo: o Aquífero Guarani.
“Depois do mar, se formou um lago com lama
argilosa. Aí, aparecem os derrames basálticos e a formação do que,
todo mundo conhece, os aquífero Guarani, Botucatu e Piramboia, que estão
muito acima topograficamente dessa formação, são bem mais recentes”,
diz.
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