Formação ferrífera e principais províncias no Brasil
Formações Ferríferas Bandadas (Figura 01) são rochas sedimentares
químicas, precipitadas sob condições oxidantes ou sub-oxidantes associadas à
atividade microbiana (KONHAUSER et al., 2002), diretamente da água do mar
fertilizada por emanações vulcânicas submarinas ricas em Ferro (Fe). O teor em
Fe varia entre ca. 20 e 40%, em SiO2 entre 40 e 60%, em CaO e MgO <10 p="">
Formações ferríferas ocorrem em sucessões marinhas (SIMONSON, 1985;
BEUKES, 1983; KLEIN; BEUKES, 1989), associadas frequentemente a rochas
pelíticas e carbonáticas, localmente com rochas vulcânicas e
invariavelmente com folhelhos negros que registram a presença de matéria
orgânica (atividade microbiana) e o ambiente redutor em que o Fe se
encontrava solubilizado na forma do cátion Fe2+. A característica
primária mais proeminente das formações ferríferas é a alternância de
finas camadas de minerais de ferro e chert ou quartzo desenvolvida em
diferentes escalas denominadas de macro- meso- e microbandas, em função
de sua espessura, que podem variar de decimétrica a sub-milimétrica
quando são denominadas de Formações Ferríferas Bandadas.
Como sedimentos químicos, formações ferríferas registram as
transformações ambientais e a evolução da Terra por um longo período, desde o
seu aparecimento, no início do arqueano (ca. 3.800 Ma – Isua na Groenlândia),
até o proterozoico médio (1.800 Ma – Grupo Itapanhoacanga na Borda Leste da
Serra do Espinhaço) (ROLIM; ROSIÈRE, 2011). Formações ferríferas reaparecem na
coluna geológica entre 800 e 500 Ma (e.g. a Formação Rapitan, no Canadá, e a Formação Santa Cruz, no Distrito Mineral de
Urucum, no Mato Grosso do Sul) (TRENDALL, 2002; CLOUT; SIMONSON, 2005; KLEIN,
2005).
A descontinuidade da presença de formações ferríferas na coluna
geológica auxilia no entendimento de mudanças no regime tectônico da
Terra com geração de crosta continental e alterações na biosfera que
levaram a um considerável aumento na concentração de oxigênio livre na
atmosfera e nos oceanos.
Formações ferríferas ocorrem em três tipos de bacias em
ambientes geotectônicos distintos (GROSS, 1983):
• Sequências do tipo Algoma, de menor extensão e espessura,
associadas a sequências vulcano-sedimentares, proximal às fontes hidrotermais submarinas
de ferro. Estas sequências ocorrem com maior frequência na era arqueana.
• Sequência do tipo Lago Superior, depositadas em grandes
extensões em bacias de margem passiva, ocorrendo com maior frequência na era
proterozoico. Nessas sequências estão hospedados os maiores depósitos de
minério de ferro de alto teor, tais como na região do Lago Superior (Estados
Unidos/ Canadá), no distrito do Quadrilátero Ferrífero (Supergrupo Minas) no
Brasil e nas bacias de Hamersley, na Austrália e Transvaal, na África do Sul.
• Sequências do tipo Rapitan, depositadas em fossas continentais,
comumente associadas aos diversos ciclos de deposição de sedimentos de origem
glacial no neoproterozoico, como a Formação Rapitan no Canadá e nos distritos
mineradores de Urucum (Mato Grosso do Sul) e Mutum (Bolívia).
Minérios de Ferro de Alto Teor
Processos mineralizadores que envolvem a remoção, lixiviação dos
minerais de ganga e oxidação de minerais ferrosos podem provocar grande
enriquecimento nas formações ferríferas de modo a atingir teores entre
60 e 68% em Fe (Figura 2). Os processos envolvidos podem ser:
• Hipogênicos ou hidrotermais, quando a remoção se desenvolve em
temperatura elevada pela ação de grande volume de fluídos metamórficos,
bacinais, magmáticos ou de origem meteórica infiltrados durante eventos
tectônicos (e.g. BARLEY et al., 1999; HAGEMANN et al., 1999; TAYLOR et
al., 2001; ROSIÈRE; RIOS, 2004).
• Supergênicos, que se desenvolvem pela ação do intemperismo.
Principais províncias onde se encontram Formações ferríferas bandadas
Quadrilátero Ferrífero
O termo Quadrilátero Ferrífero (QF) cunhou a principal província
mineral ferrífera do Brasil e nomeia a quadrícula ao sul da cidade de
Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, mapeada de 1952 a 1969 pelo
USGS (United States Geological Survey) dentro de um programa de
cooperação com o DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral),
compreendendo uma área de cerca de 15,000 km2 entre as coordenadas
19°-20°S de latitude e 43°-44°W longitude. As formações ferríferas ali
aflorantes são denominadas de itabirito, a partir de termo indígena
introduzido no vocabulário geocientífico por W. L. von Eschwege, no
início do século XIX, e pertencem à sequência plataformal do Supergrupo
Minas de idade paleoproterozoica (ca. 2.4 bilhões de anos), que
compreende rochas pelíticas, arenosas e carbonáticas. Itabiritos
hospedam um grande número de depósitos de minério de alto teor de
importância econômica cuja ocorrência é controlada por estruturas
tectônicas. Corpos maciços e friáveis de minério se formam pela
recorrência de processos supergênicos durante o período Neogeno, sobre
minérios formados por enriquecimento hidrotermal (GUILD, 1957; DORR,
1964, 1965; ROSIÈRE et al., 2008) durante o período Riaciano (ROSIÈRE et
al., 2013; SANGLARD et al., 2014).
No QF são lavrados corpos de minério de ferro de alto teor, compacto a
semi-friável e friável, com teores históricos ≥ 64% Fe, além de
itabirito enriquecido com teores entre 30 e 60% Fe.
Província de Carajás
A Província Mineral Carajás situa-se no núcleo de idade arqueana
denominado Província Amazônica Central, com idade superior a 2.500 milhões de
anos (BIZZI et al., 2001), no centro-norte do Estado do Pará.
É considerada a segunda principal província mineral do
Brasil, com produção e potencial crescente para Fe, Mn, Cu, Au, Ni, U, Ag, Pd,
Pt e Os, entre outros. Após seu reconhecimento como depósito em 1965, o Projeto
Carajás foi iniciado em 1978, pela então Companhia Vale do Rio Doce, tendo a
primeira mina entrado em operação oficialmente em 1985, com a inauguração das
instalações de transporte e embarque de minério.
Os depósitos de ferro da Província Mineral Carajás são classificados
em três distritos, as Serras Norte, Sul e Leste onde ocorrem 39 corpos
descontínuos de minério de alto teor.
Na Província de Carajás, a unidade que hospeda as formações
ferríferas e delineia a estrutura tectônica da região é o Grupo
Grão-Pará que representa uma sequência vulcano-sedimentar de idade
arqueana (2.751 ± 4 milhões de ano) (KRYMSKY et al., 2002) hospedeira de
camadas de formação ferrífera com expressivas intercalações de jaspe
(jaspilito).
Fonte: Livro Recursos Minerais no Brasil problemas e desafios.
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