sexta-feira, 7 de julho de 2017

Vegetação nativa mantém tamanduá-bandeira em áreas do Cerrado
Atividade de espécie vulnerável à extinção é avaliada
Maristela Garmes
06/07/2017
Foi na região Nordeste do Estado de São Paulo, onde a paisagem do Cerrado tem a sua área reduzida e alterada pela expansão da área urbana e pelas atividades agrícolas, que a pesquisadora Gisele Lamberti Zanirato foi buscar seu objeto de estudo: o tamanduá-bandeira.    

Gisele queria saber se o tamanduá-bandeira continua ocupando estas áreas alteradas no Cerrado. “A perda da vegetação nativa tanto dos fragmentos (áreas remanescentes da floresta) quanto da paisagem pode levar a reduções de ocorrência dos tamanduás no Nordeste do Estado de São Paulo”, diz. 

A orientadora do estudo, professora Rita de Cássia Bianchi, do Departamento de Biologia da Unesp de Jaboticabal, conta que o trabalho fornece informações básicas da ocupação do tamanduá-bandeira em uma paisagem pobre em vegetação nativa e com predomínio de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo.

“Apesar da ocorrência da espécie, inclusive em canaviais e outras plantações, Unidades de Conservação maiores e com remanescentes de vegetação nativa em sua zona de amortecimento são os melhores cenários para a conservação dessa espécie de mamífero ameaçada de extinção, afetada pela perda e fragmentação de habitat, caça, atropelamentos e pelo uso indiscriminado de defensivos agrícolas, ressalta a professora.

Em sua pesquisa, Gisele avaliou a presença ou ausência dos tamanduás, analisando 20 fragmentos formados por vegetação nativa, que se distribuíam em meio às pastagens e plantações de cana-de-açúcar, soja, café, pinus e eucalipto. Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de armadilhas fotográficas.

Em cada uma destas áreas, ela avaliou o tamanho do fragmento; a distância do fragmento estudado aos dos fragmentos ao redor; a quantidade de água e de vegetação na paisagem. “Este mapeamento é importante para explicar a ocorrência dos animais nos fragmentos rodeados por plantios de cana-de-açúcar, silvicultura e pastagens”, explica.

Um outro destaque da pesquisa foi verificar se há diferença no padrão de atividade entre as populações de tamanduás-bandeira que ocupam os fragmentos com áreas de diferentes tamanhos.

Os resultados apontam que a ocorrência dos tamanduás-bandeira nos fragmentos tende a ser maior quanto maior for a área do fragmento e quanto maior for a porcentagem de vegetação nativa ao redor do fragmento.

A pesquisa avaliou também que os tamanduás-bandeira estão praticamente ativos das 6h até às 17h (atividade diurna) e das 18h até às 5h (noturna). “Quando ativos, tanto de dia quanto de noite, diz-se que o padrão de atividade é catemeral”, reforça.

Gisele conta que ele tem picos de atividades crepuscular e noturno e, ainda, o padrão de atividade nas áreas menores é o mesmo que na área maior e, como mostram outros trabalhos, diferente de muitos outros mamíferos, a temperatura do ambiente pode afetar a atividade dessa espécie. 

A pesquisa de mestrado intitulada: O impacto da perda e fragmentação do habitat sobre a ocupação e o padrão de atividade do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), Câmpus da Unesp em São José do Rio Preto.   

Tamanduá-bandeira é bicho em extinção?
O tamanduá-bandeira apresenta distribuição original, ou seja, ocorria naturalmente no sul dos países de Belize e Guatemala, na América Central, até o norte da Argentina e do Uruguai. Atualmente, na América Central, a espécie é encontrada apenas nas regiões montanhosas: provavelmente está extinta na Guatemala e em Belize. Na América do Sul, é extinta somente no Uruguai.

No Brasil e no Estado de São Paulo, o tamanduá-bandeira está classificado como “vulnerável” e, de forma especial, no Rio Grande do Sul e no Paraná, ele é considerado "criticamente em perigo", a mais grave categoria de ameaça à extinção. No Rio de Janeiro, a espécie é considerada "provavelmente extinta" e no Espírito Santo, "regionalmente extinta".

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