Vegetação nativa mantém tamanduá-bandeira em áreas do Cerrado
Atividade de espécie vulnerável à extinção é avaliada
Maristela Garmes
06/07/2017
Foi
na região Nordeste do Estado de São Paulo, onde a paisagem do
Cerrado tem a sua área reduzida e alterada pela expansão
da área urbana e pelas atividades agrícolas, que a
pesquisadora Gisele Lamberti Zanirato foi buscar seu objeto de
estudo: o tamanduá-bandeira.
Gisele queria saber se o
tamanduá-bandeira continua ocupando estas áreas alteradas no
Cerrado. “A perda da vegetação nativa tanto dos fragmentos
(áreas remanescentes da floresta) quanto da paisagem pode levar a
reduções de ocorrência dos tamanduás no Nordeste do
Estado de São Paulo”, diz.
A orientadora do estudo,
professora Rita de Cássia Bianchi, do Departamento de
Biologia da Unesp de Jaboticabal, conta que o trabalho fornece
informações básicas da ocupação do tamanduá-bandeira em uma
paisagem pobre em vegetação nativa e com predomínio de
cana-de-açúcar no Estado de São Paulo.
“Apesar da ocorrência da espécie,
inclusive em canaviais e outras plantações, Unidades de
Conservação maiores e com remanescentes de vegetação nativa em
sua zona de amortecimento são os melhores cenários para a
conservação dessa espécie de mamífero ameaçada de
extinção, afetada pela perda e fragmentação de habitat,
caça, atropelamentos e pelo uso indiscriminado de defensivos
agrícolas, ressalta a professora.
Em sua pesquisa, Gisele avaliou a
presença ou ausência dos tamanduás, analisando 20
fragmentos formados por vegetação nativa, que se distribuíam em
meio às pastagens e plantações de cana-de-açúcar, soja, café,
pinus e eucalipto. Os dados da pesquisa foram obtidos
por meio de armadilhas fotográficas.
Em cada uma destas áreas, ela
avaliou o tamanho do fragmento; a distância do fragmento
estudado aos dos fragmentos ao redor; a quantidade de água e de
vegetação na paisagem. “Este mapeamento é importante para
explicar a ocorrência dos animais nos fragmentos rodeados por
plantios de cana-de-açúcar, silvicultura e pastagens”,
explica.
Um outro destaque da pesquisa foi
verificar se há diferença no padrão de atividade entre
as populações de tamanduás-bandeira que ocupam os fragmentos com
áreas de diferentes tamanhos.
Os resultados apontam que a
ocorrência dos tamanduás-bandeira nos fragmentos tende a
ser maior quanto maior for a área do fragmento e quanto maior
for a porcentagem de vegetação nativa ao redor do fragmento.
A pesquisa avaliou também que os
tamanduás-bandeira estão praticamente ativos das 6h até
às 17h (atividade diurna) e das 18h até às 5h (noturna). “Quando
ativos, tanto de dia quanto de noite, diz-se que o padrão de
atividade é catemeral”, reforça.
Gisele conta que ele tem picos de
atividades crepuscular e noturno e, ainda, o padrão de
atividade nas áreas menores é o mesmo que na área maior e, como
mostram outros trabalhos, diferente de muitos outros mamíferos, a
temperatura do ambiente pode afetar a atividade dessa
espécie.
A pesquisa de mestrado intitulada:
O impacto da perda e fragmentação do habitat sobre a
ocupação e o padrão de atividade do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla),
foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em
Biologia Animal do Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas (Ibilce), Câmpus da Unesp em São José do
Rio Preto.
Tamanduá-bandeira é bicho em extinção?
O tamanduá-bandeira apresenta
distribuição original, ou seja, ocorria naturalmente no
sul dos países de Belize e Guatemala, na América Central, até o
norte da Argentina e do Uruguai. Atualmente, na América Central,
a espécie é encontrada apenas nas regiões montanhosas:
provavelmente está extinta na Guatemala e em Belize. Na
América do Sul, é extinta somente no Uruguai.
No Brasil e no Estado de São
Paulo, o tamanduá-bandeira está classificado como
“vulnerável” e, de forma especial, no Rio Grande do Sul e no
Paraná, ele é considerado "criticamente em perigo", a mais grave
categoria de ameaça à extinção. No Rio de Janeiro, a espécie é
considerada "provavelmente extinta" e no Espírito Santo,
"regionalmente extinta".
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