sexta-feira, 21 de maio de 2010

Território das Aves

Território das Aves

Karla Chediak


Definição

A definição moderna de território remete à obra de Bernard Altum, Der Vogel und Sein Leben, de 1868, em que diz que para os casais de muitas espécies de aves não é possível reproduzir junto de outros pares, sendo necessário manter distâncias estabelecidas uns do outros. Nice, em seu artigo The role of territory in bird life, de 1941, explica que os casais de aves se distribuem segundo a belicosidade dos machos em relação aos outros membros de seu sexo e espécie. Eles utilizam sons, plumagens e outros sinais para advertir outros machos e atrair as fêmeas. Aquele que dispõe de um território é quase invencível dentro dele e aqueles que falharam na obtenção do território formam uma reserva suplementar de reposição em caso de morte dos donos do território (apud Welty & Baptista, 1988, p. 240).

Características Gerais
Não há uma única função para o território, embora se aceite que ele tem um papel regulador sobre a densidade populacional; a competição pelo território produz um excedente populacional que, por não possuir território, não se reproduz adequadamente ou nem sequer se reproduz. Há muitas vantagens em se manter um território. O isolamento das aves aparentemente é uma desvantagem, mas ele protege seu habitante dos inimigos e dos estranhos, além disso, a estabilidade geográfica promove estabilidade familiar e de recursos. Desse modo, embora o custo para manter um território seja alto, podendo levar à morte em caso de combate, compensa em termos de sobrevivência e reprodução.

Há vários modos de se adquirir um território: por dominância em disputas, morte ou emigração de um possuidor ou por herança quando um membro do grupo morre. Defende-se o território possuído também de várias maneiras: por voz, posturas, perseguição e até combate. A cor também é um fator relevante, machos com cores menos vivas têm maior dificuldade de defender seu território. O foco principal de defesa também varia, podendo ser a parceira, o ninho, os filhotes, a comida ou área de exibição. Em geral, são os machos que fazem a defesa, mas há casos como o do faisão chinês Hydrophasianus chirurgus que a fêmea defende o território, enquanto o macho cuida do ninho e dos filhotes. O vigor com que se defende um território varia, sendo mais intenso no período de reprodução, podendo inclusive resultar em morte de um dos indivíduos em competição. Tiranídeos são particularmente belicosos, atacando não apenas indivíduos de sua espécie, mas até mamíferos, incluindo humanos; porém, em geral, as aves são tolerantes com membros de outras espécies, reservando a agressividade para os de sua própria espécie, principalmente os machos. A exceção ocorre quando espécies distintas competem pelos mesmos recursos, como no caso de uma espécie de furnarídeo das matas de eucaliptos australiana que é bastante agressivo na defesa de seu território com membros de outras espécies que se alimentam das mesmas sementes que ele.

Forma e Tamanho
O tamanho e a forma dos territórios varia segundo a função do território, a densidade populacional, a disponibilidade de habitat, a idade e o tamanho da ave, o grau de agressividade, o tipo de alimento, etc. A regra geral é a de que a energia investida na defesa do território tem de ser menor do que o benefício energético adquirido. Por isso, uma correlação importante é a que existe entre o tamanho da ave e o tamanho do território a ser defendido, mas também a que existe entre quantidade de recursos disponíveis, em termos de alimento, e o grau de investimento para defendê-lo. Por exemplo, o território da coruja da neve Nyctea scandiaca pode variar de 120 a 5000 hectares em função da abundância ou da escassez de recursos alimentares.

Tipos de Territórios

1. Para acasalamento, nidificação e alimentação - É o mais comum, em que as aves realizam todas as suas atividades importantes no interior do território. Está presente em espécies de vários grupos de aves: pica-pau, sabiá, pula-pula, pardal, entre outros.

2. Para acasalamento e nidificação - Nesse caso, as atividades reprodutivas são realizadas dentro do território, mas a alimentação é buscada fora. É o caso de espécies de mergulhões, cisnes, melros, entre outros. Tentilhões, como Carpodacus erythrinus, que defendem seu território com agressividade, alimentam-se amigavelmente junto com seus vizinhos em território neutro próximo.

3. Para acasalamento - Território utilizado apenas para corte e acasalamento, ocorre entre galináceos, aves do paraíso, alguns beija-flores, tangarás, etc. Em muitas dessas espécies os machos exibem-se, cantando, dançando para as fêmeas em áreas comuns. Cada macho defende seu território, sendo que os machos dominantes ficam com as melhores localizações e o sucesso da copulação depende de todos esses fatores, da exibição, da dominância social e da posição do território do indivíduo.

4. Para nidificação - Esse tipo de território está presente entre as aves que defendem os arredores de seu ninho. É típico de aves aquáticas, como pingüins, pelicanos, gaivotas, mas também pombos, andorinhas e aves de rapina. Em algumas espécies coloniais, o território de reprodução é defendido contra intrusos da colônia pertencentes à mesma espécie, como também contra residentes da própria colônia.

5. Para alimentação - São poucas as espécies que têm o território de alimentação diferente do território de nidificação. É o caso da espécie Phainopepla nitens, da Califórnia, que se alimenta nas montanhas, mas nidifica na base dos cânions.

6. De inverno - Os territórios de inverno verdadeiros são separados do território de acasalamento e nidificação. É o caso de alguns maçaricos, falcões, pica-paus e tordos.

7. De repouso - Territórios para repouso são os menos estudados, segundo Welty & Baptista, mas o estorninho Sturnus vulgaris e o arapaçu Certhia familiaris evidenciam esse comportamento, voltando toda noite para o mesmo local e defendendo-o contra intrusos.

8. De grupo - Ocorre quando as aves se reúnem e defendem o território ocupado pelo grupo de intrusos tanto intra, quanto interespecíficos. O ápice do desenvolvimento do território de grupo é formado por bandos mistos de 8 a 12 pares de espécies diferentes observados nas florestas tropicais do Peru.

9. Território móvel - Ocorre quando a fonte de alimento é móvel. Algumas espécies de formicarídeos seguem as formigas de correição. Os melhores pontos de caça da trilha de formigas são defendidos pelos indivíduos dominantes e mais fortes.

10. Super-territórios - São aqueles que contêm mais recursos do que o necessário para a sobrevivência e a reprodução do indivíduo. Podem servir como reserva de alimentos, mas também para inibir competidores impedindo-os de ter acesso a recursos vitais.

BIBLIOGRAFIA

ALCOCK, J. (1989) Animal behavior. Massachusetts: Sinauer Associates.

WELTY, J.C. & BAPTISTA, L. (1990). The life of birds. Fort Worth: Saunders College & Harcourt Brace College.

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