segunda-feira, 17 de maio de 2010

Encontrado fóssil do ancestral dos dinossauros no RS

O tecodonte era a criatura mais temida a pisar na superfície do planeta, 180 milhões de anos antes do Tiranossauro Rex.

Animais com bocas imensas de mais de um metro e de formas gigantes que faziam o chão tremer quando caminhavam – todos eles andavam pelo Brasil. Novos achados no Sul do país revelam o berço dos dinossauros e onde também surgiram os primeiros mamíferos.

Um vale, no centro do Rio Grande do Sul, é uma janela para o passado. Ao longo da estrada conhecida como a Paleorrota estão descobertas fundamentais para se entender como era a vida na terra há mais de 200 milhões de anos.

A mais recente foi manchete ao redor do mundo nesta semana: o fóssil de um tecodonte, criatura ainda mais antiga dos que os dinossauros. Um animal tão bem conservado só é encontrado a cada cem anos. O que faz desse fóssil, um fóssil tão interessante, tão diferente?

“Esse animal foi soterrado por uma enchente alguns dias depois de sua morte. Foi esse evento de soterramento rápido que permitiu que ele fizesse essa viagem de 238 milhões de anos em perfeito estado de conservação. Temos os ossos da pata todos. Isso é um achado raro”, explica o paleontólogo Sérgio Cabreira, da Universidade Luterana do Brasil.

O tecodonte era o topo da cadeia alimentar. A criatura mais temida a pisar na superfície do planeta, 180 milhões de anos antes do Tiranossauro Rex. Mas não é só essa incrível viagem no tempo que faz das descobertas no Sul do Brasil tão importantes. É que esses fósseis encontrados estão revelando um elo de transição entre os répteis e os mamíferos. O primeiro passo de um incrível processo de evolução que levou até a criação da espécie humana.

Ciência e arte se unem para reproduzir esse bicho incrível. É como um jacaré que tem as patas sob o corpo. Ele tem de seis a oito metros de comprimento e quase uma tonelada de peso. Era ágil e forte, com uma mordida implacável.

“O dente tinha aproximadamente uns seis ou oito centímetros de comprimento. A mordida dele era muito poderosa. Ele tinha os dentes em forma de punhal e são todos serrilhados na borda. Tem uma microsserrilha na borda. Essa serrilha permitia que os dentes penetrassem, inclusive, no tecido ósseo das presas”, aponta o paleontólogo Sérgio Cabreira.

Em janeiro, uma enchente levou uma ponte matando seis pessoas. Mas a enxurrada que provocou a tragédia também lavou os sedimentos do terreno no município de Dona Francisca, onde já tinham sido encontrados outros fósseis. Percorrendo as ravinas com olhos atentos, o paleontólogo Sérgio Cabreira viu o que foi revelado pelas águas.

“Uma pequena parte estava exposta. A partir daí, começamos a escavar, fomos escavando...”, conta o paleontólogo. Foram descobrindo o esqueleto inteiro, que foi protegido com gesso para ser levado para o laboratório. Uma rápida exploração mostra como o lugar é cheio de tesouros.

“Isso é um fragmento de uma costela. Isso aqui pertenceu a um vertebrado que viveu aqui há 238 milhões de anos. É um pedaço da vida no tempo que transitou até nós”, diz.

“Em outro material, pela forma, nós identificamos como um escudo dérmico”, aponta Cabreira. Ele se refere a uma espécie de blindagem na coluna vertebral, uma proteção contra as mordidas dos inimigos. Logo se confirma: era de um tecodonte.

Mais adiante, há outros ossos, ainda maiores. A fartura de fósseis é porque lá ficava um lago, um oásis. Há 250 milhões de anos a Terra tinha apenas um megacontinente: Pangea. No centro dele, onde hoje é o Brasil, havia um enorme deserto, maior do que qualquer outro que jamais existiu.

Quando os continentes começaram a se separar, o clima mudou drasticamente. O Sul do Brasil se tornou o local mais propício para a vida animal. Há 238 milhões de anos, no período Triássico, os tecodontes dominavam essa região. Eles se alimentavam dos rebanhos de herbívoros.

No Cretáceo, os dinossauros se espalharam por todo o território que veio a se tornar o Brasil. O chão literalmente tremia quando maior de todos eles passava. O titanossauro tinha mais de 14 metros de comprimento. O mais temido carnívoro da época era o espinossauro. Mas no ar, quem mandava eram os répteis voadores: os belos pterossauros.

Depois do Triássico tudo foi coberto por uma grande camada de rocha vulcânica. Mas no vale, um imenso rio ancestral erodiu a rocha abrindo essa janela do tempo. Os troncos petrificados são a prova da floresta que viu surgir o dinossauro mais antigo do mundo.

“O Estauricossauro price é um dinossauro brasileiro. É o pai de todos os outros dinossauros”, explica Sérgio Alex Azevedo, paleontólogo do Museu Nacional.

O nome quer dizer “Cruzeiro do Sul”. Ele era pequeno, do tamanho de um cachorro. Sua presa preferida era o rincossauro, que se alimentava só de plantas e era comum na região, assim como o dicinodonte.

Num sítio em Agudo, a poucos quilômetros do outro, foi encontrada uma raridade: o fóssil de um adulto, com nove filhotes – todos preservados provavelmente pelo deslizamento de terra que os matou.

São vários os locais na região nos quais as rochas do período Triássico afloram. Cada local tem características diferentes, tanto da formação geológica quanto do tipo de fósseis encontrados. Em um deles, por exemplo, predominam os fósseis de cinodonte, que quer dizer “Dente de cão”. É justamente este vertebrado que já trazia características depois encontradas nos mamíferos.

Os cinodontes tinham o cérebro bem maior do que os animais do mesmo porte na época. Os cientistas acreditam que eles já eram animais de sangue quente, mas ainda botavam ovos.

No Museu Nacional, no Rio de Janeiro, cada descoberta é recebida com entusiasmo. Lá está sendo erguida uma réplica de um titanossauro.

“Fósseis maravilhosos com muita informação têm sido descobertos ao longo dos últimos dez anos. Isso nos leva a crer que se as pesquisas forem intensificadas, cada vez maior vai ser o número de achados”, acredita o diretor do Museu Nacional, Sérgio Alex Azevedo.

Os gauchinhos brincam em meio às escavações e mostram que o fascínio pelos dinossauros motiva a pesquisa. “Eu vou ser paleontólogo”, diz um menino.

O Brasil vai precisar desses talentos e de muito investimento para revelar o que abrigou na pré-história.

Fonte: http://fantastico.globo.com

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