Dinossauro = deinos (terrível) + sauro (lagarto) = lagarto terrível
Dentre as inúmeras formas fósseis já descobertas, indubitavelmente as que mais impressionam as pessoas são os dinossauros. Mais de mil espécies já foram descobertas, e esse número continua crescendo.
Algumas pessoas acreditam que todos os fósseis grandes correspondem à dinossauros. Isso não é verdade.
Em primeiro lugar porque alguns mamíferos, e até algumas aves dos períodos Terciário e Quaternário também eram de grande porte. E em segundo lugar porque nem todos os dinossauros eram tão grandes assim. Algumas espécies eram pouco maiores que uma galinha.
Na verdade os dinossauros são um grupo restrito de répteis extintos, com características bastante peculiares.
Acredita-se que os répteis descendam dos anfíbios, mas a transição entre essas classes não é clara no registro fossilífero, uma vez que as formas intermediárias entre os dois grupos são muito parecidas (Ribeiro-Hessel, 1982).
As principais diferenças entre eles estão no tipo de reprodução: muito embora os anfíbios tenham conquistado o ambiente terrestre, ainda dependiam da água para se reproduzir. Já os répteis desenvolveram um ovo, com casca impermeável e uma membrana que mantem o embrião envolvido num líquido protetor. Dessa forma ficaram totalmente independentes da água.
Os dinossauros diferem dos outros répteis em características ósseas, principalmente na bacia e nos membros posteriores.
Na verdade o termo dinossauro é aplicado à apenas duas órdens de répteis: Saurischia (animais com púbis similar ao dos outros répteis) e Ornitischia (animais com púbis semelhantes ao das aves). Assim sendo, nem os répteis voadores nem os marinhos podem ser chamados de dinossauros (Mendes, 1977).
Os Saurischios se dividem em duas sub-órdens: Terópodes (bípedes, predominantemente carnívoros) e Saurópodes (quadrúpedes herbívoros). Vários exemplares das duas sub-órdens já foram encontrados no Brasil.
Os Ornitischios se dividem em quatro sub-órdens: Ornitópodes, Stegossaurídeos, Anquilossaurídeos e Ceratopsídeos, todos herbívoros. Nenhum deles foi encontrado no Brasil, com excessão de algumas pegadas encontradas na Formação Rio do Peixe, do Cretáceo inferior da Paraíba (Kellner, 1998).
Em vista disso concluimos que chamar os dinossauros de "lagartos terríveis" é uma grande injustiça, já que os carnívoros correspondem à apenas uma sub-órdem de répteis!
Os dinossauros surgiram no Período Triássico, viraram durante toda a Era Mesozóica e se extinguiram no final do Período Cretáceo, há 65 milhões de anos.
No Brasil, os fósseis de dinossauros se concentram em três regiões: Formação Santa Maria (225 milhões de anos) no Rio Grande do Sul, Formação Santana (110 Ma), Ceará, Pernambuco e Piauí, e Grupo Baurú (80 Ma), Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso (Kellner et al., 1999).
Principais regiões onde são encontrados fósseis de dinossauros no Brasil.
Modificado de Kellner et al., 1999.
Formação Santa Maria (Triássico médio a superior, Bacia do Paraná, RS)
A Formação Santa Maria é constituída de siltitos e sedimentos pelíticos, depositados em um ambiente com rios e lagos.
Nessa região foi encontrado um dos fósseis de dinossauros mais antigos do mundo, um Staurikosaurus, encontrado em sedimentos de 225 milhões de anos.
Apenas um exemplar dessa espécie foi descrito até hoje, e esse esqueleto atualmente se encontra em exposição nos Estados Unidos.
O Staurikosaurus tinha aproximadamente 1,5m de comprimento por 1m de altura, era bípede e, pelo tipo de dentes, carnívoro.
Recentemente, expedições realizadas no Rio Grande do Sul encontraram vestígios de outros dinossauros pertencentes ao grupo dos prossaurópodes (alguns dos primeiros dinossauros herbívoros), que estão aguardando descrição pormenorizada (Kellner et al., 1999).
A Formação Santa Maria é rica em fósseis de outros vertebrados tais como os Dicinodontes (anteriormante chamados de répteis e hoje considerados parentes distantes dos mamíferos), dos quais já foram encontrados quase cem exemplares (Schwanke, 1995), Cinodontes (muito importantes por serem as primeiras formas de mamíferos) (Keller, et al., 1999), e vários répteis como, por exemplo o Prestosuchus (maior predador do Triássico brasileiro, parente dos crocodilos).
A Formação Santa Maria é correlacionável à algumas formações ricas em fósseis de dinossauros da Argentina (Los Chanares, Ischigualasto e Los Colorados), fato que evidencia o potencial dessa formação para novas descobertas importantes.
Reconstituição de um Staurikosaurus.
Modificado de Kellner et al., 1999.
Formação Santana (110 milhões de anos, Cretáceo inferior da Bacia do Araripe, CE, PE e PI)
Essa é provavelmente o mais rico depósito de vertebrados fósseis do Brasil, e um dos mais importantes do mundo, chamando atenção pelo excelente estado de preservação. É de lá que vem aqueles nódulos com peixes encontrados nas feiras e lojas de souvenirs por todo o Brasil. Aqui cabe um aparte:
Mesmo que eles sejam encontrados à venda em vários lugares, lembre-se: aquele fóssil que você tem na sua casa, e que só pode ser visto por você e por seus amigos, pode ser um exemplar único, nunca antes descrito, que pode fornecer informações importantes para se entender a evolução da vida na Terra!
Os fósseis de dinossauros são raros, e estão restritos ao Membro Romualdo (que é a unidade mais do topo da bacia), composto de folhelhos e margas.
Dois grupos foram descritos formalmente: Irritatos (Martill et al., 1996) e Angaturama (Kellner & Campos, 1996) e mais alguns pequenos exemplares aguardam descrição. Todos pertencem ao grupo dos Terópodes, o único grupo de dinossauros carnívoros, que inclui até os famosos Tyrannosaurus rex e Velociraptors.
No caso do Angaturama limai só se conhece parte do crânio, mas foi suficiente para classifica-lo como um espinossaurídeo (dinossauros de crânio comprido e achatado lateralmente, que provavelmente se alimentavam de peixes).
Reconstituição de um Angaturama.
Modificado de Kellner, et al., 1999.
A grande atração da Bacia do Araripe é um fóssil encontrado em 1991, que ao ser submetido à um microscópio eletrônico, mostrou a presença de pele, fibras musculares e possíveis vasos sanguíneos do animal. Esse é melhor exemplar de tecido mole preservado encontrado até o momento (Kellner & Campos, 1998).
Modificado de Kellner et al.,1999.
Grupo Baurú (80 milhões de anos, Cretáceo inferior da Bacia de Bauru, MG, SP e MT)
A Bacia de Bauru é a mais extensa sequência sedimentar de idade cretácea da América do Sul, e é constituida de arenitos e siltitos depositados em ambiente fluvial.
A presença de dinossauros carnívoros é evidenciada por dentes e ovos.
Já as formas herbívoras apresentam também alguns fósseis de ossos, que permitiram ser classificados como pertencentes à saurópodes (Kellenr & Campos, 1999).
Os Saurópodes são os típicos dinossauros de grande tamanho, cauda e pescoço longos e cabeça pequena, como por exemplo os Brontossauros (ATUALMENTE, Apatossauros)
No Brasil, as formas coletadas pertencem ao grupo dos Titanossauros, animais de 6 a 20m de comprimento, com crânio pequeno e dentes finos, longos e pontudos. Esses animais também são encontrados na Argentina.
Os restos de Titanossauros correspondem à maior parte do material relacionado à dinossauros encontrado no Brasil, incluindo até um raro ovo.
O Grupo Bauru apresenta também fósseis de peixes, crocodilos, tartarugas e lagartos.
Além dos fósseis de ossos de dinossauros, já foram encontrados no Brasil mais de trezentos dentes, quatro ovos e pegadas fósseis (Kellner et al., 1999).
KELLNER, A.W.A. Panorama e perspectiva do estudo de répteis fósseis no Brasil. An. Acad. Bras. de Ciencias, Rio de Janeiro. v. 70, n. 3, p. 647-676. 1998
________, CAMPOS, D.A. Fisrt early Cretaceous theropod dinosaur from Brazil. N. J. Geol. Paläont., v. 199, n. 2, p.151-166. 1996.
________, ________, Vertebrate paleontology in Brazil - a review. Episodes, Ottawa, v. 22, n. 3, p. 238-251. 1999.
KELLNER, A.W.A., SCHWANKE, C. , CAMPOS, D.A. O Brasil no tempo dos dinossauros. Rio de Janeiro : Museu Nacional, 1999. 60 p.
MARTILL, D.M. et al. A new crested maniraptoran dinosaur from the Santana Formation (lower Cretaceous) of Brazil. J. Geol. Soc. of London, London, v.153, p. 5-8. 1996p.
MENDES, J.C. Paleontologia Geral. Rio de Janeiro : LTC, 1977. 342p.
RIBEIRO-HESSEL, M.H. Curso prático de Paleontologia Geral. Porto Alegre, Ed. da Universidade,1982. 250p.
SCHWANKE, C. A utilização de dicinodontes em correlações bioestratigráficas no Meso e Neotriássico. Comunic. do Museu de Ciências e Tecnologia. Porto Alegre : UBEA/PUC-RS. 1995. (Série Ciências da Terra, v. 1, p. 57-62)
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