Por que ensinar ciência?
Estudioso lista quatro respostas para a questão: argumentos econômicos, democráticos, de habilidades específicas e culturais.
Por: Thiago Camelo Publicado em 23/12/2010 | Atualizado em 23/12/2010
No passado, a ciência e o ensino de ciência eram vistos em função de um único fim: o belicista. Será que os educadores ainda pensam o aprendizado da matéria com o mesmo objetivo? (foto: Wikimedia Commons).
Hassard é um festejado estudioso de métodos de educação, sobretudo educação em ciência. Seu blogue conta com dicas para professores, planos de aula e inúmeros textos reflexivos sobre o ensino de ciência.
Recentemente, o professor propôs uma reflexão sobre por que ensinar ciência. O debate correu à luz da discussão sobre a reforma do ensino de ciências nos Estados Unidos (ano que vem, provavelmente, teremos notícias a respeito).
Mas, como diz a bióloga Tatiana Nahas em seu blogue Ciência na mídia – local no qual vimos a notícia sobre os textos de Hassard –, "muito do que se discute é aplicável em diversas outras realidades, incluindo a nossa [brasileira]".
Hassard sugeriu quatro tópicos de dissertação que explicam por que é importante ensinar ciência.
As palavras do historiador da ciência Jacob Bronowski abrem o capítulo que trata da relação entre economia e ciência: "A maior descoberta realizada pelos cientistas é a própria ciência".
Hassard cita a frase e, sem esconder o tom crítico, começa a discorrer sobre a ciência à época da Guerra Fria. "O argumento de por que se ensina ciência se sustentava pela comparação de nações em relação à capacidade científica, tecnológica e de engenharia", explica, deixando claro que, embora o período de tensão 'capitalismo x comunismo' tenha, de certo modo, sido superado, é ainda sob a visão belicista que a maioria dos países enxerga a relação do ensino de ciência com a economia.
" ciência é sinônimo de investigação e este deveria ser o ponto central do currículo escolar"
Um argumento muito mais humanista é dado quando Hassard fala das explicações democráticas para se ensinar ciência: 'a ciência na escola deve ajudar os estudantes a serem cidadãos informados".A razão desse argumento importante – mas quase óbvio – é preparar terreno para as razões menos positivistas, e mais humanas, de por que ensinar ciência.
Primeiro, as questões da habilidade, do aprendizado por meio da experimentação. Sobre elas, Hassard diz: "O argumento da habilidade é mais do que o simples ensino de ciência por habilidades transferíveis. Tem mais a ver com o coração da ciência, com o conceito de aprendizagem baseado na investigação. Para muitos professores de ciência, a matéria é sinônimo de investigação e este deveria ser o ponto central do currículo escolar. Deveria ser a razão para se ensinar ciência".
Para finalizar a sua argumentação, que viaja de argumentos de fundo mais deterministas até o lado menos utilitário da ciência, Hassard chega à ciência como cultura. Para avalizar seu texto, visita R. Steven Turner [PDF], outro conhecido historiador da ciência. Turner diz:
A ciência é, sem dúvida, um dos grandes empreendimentos intelectuais da modernidade [...]. A visão da natureza encarnada na ciência moderna define o universo, informa sobre a nossa essência humana e fala das esperanças e dos medos do nosso mundo. A ciência tem um papel no mundo de hoje semelhante ao que tinha as grandes mitologias para as civilizações do passado: proporciona uma grande narração da verdade, dá significado e essência ao que vivemos. O objetivo da ciência na escola, de acordo com o argumento cultural, é levar os estudantes a entender a grande história e as realizações por trás dela. Os estudantes não podem permanecer ignorantes e alienados a respeito da cultura moderna e da ciência.Por aqui, no Alô, Professor, pudemos perceber que – por mais que o contexto de Hassard seja o norte-americano – muitas das questões tratadas por ele já foram abordadas na nossa seção. Ou a fala cultural não tem tudo a ver com a extensa discussão sobre o ensino da história da ciência? Ou a questão das habilidades não se aplica, também, às propostas de ensino menos teórico, à necessidade de bons laboratórios?
Continuemos, pois, a conversa.
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