segunda-feira, 5 de março de 2012


Vulcões: o fogo mortal


Existem no mundo 700 vulcões ativos, mas apenas 60 deles entram em erupções todos os anos e fazem os seus estragos. Mais de 240 mil pessoas já morreram por causa de suas explosões. Vulcões são responsáveis por várias histórias trágicas da humanidade. Eles podem matar até uma cidade inteira, mas são tão venerados que a décima parte da população mora nos arredores de algum deles


por Priscila Gorzoni*



Etna
Em 1979, uma explosão na cratera central do Etna matou nove pessoas e 23 ficaram feridas. Em dezembro de 1991, o vulcão Etna entrou em uma erupção que durou seis meses. A correnteza de lava quase aniquilou a vila de Zaferana. Foi feito de tudo até uma barragem de terra de 30 metros de altura, mas o Etna conseguiu romper a barreira. Depois, bombardearam as lavas do Etna com blocos de concretos e explosivos. Na erupção do Etna de 1669, uma capela na aldeia de Nicolossi ficou soterrada embaixo de sete metros de rocha derretida. Numa parte dessa capela, a lava envolveu uma estátua de Nossa Senhora e a manteve protegida e inteira durante 40 anos. A estátua foi encontrada por uma freira e, desde então, está exposta numa nova capela na encosta da montanha.

O relato a seguir é baseado em fatos reais e foi retirado do documentário Desastres Naturais, da Discovery.
"A minha casa ficava aqui, mas em 1981 ela foi arrastada pela lava. Saí aquela noite e quando voltei já não havia mais nada. Vi o policial civil e o cumprimentei e fui em frente. Quando ele me olhou e disse, não precisa ir mais à frente, lá não existe mais nada, guardei as chaves de casa. Às vezes, venho até aqui e me lembro que um dia já tive uma casa." Esse é o relato de um sobrevivente do vulcão Etna , na Sicília.
Pode passar anos, séculos e as marcas do que o Etna fez aos moradores da cidade de Catania nunca serão apagadas. Por baixo da fúria de suas lavas ficaram milhares de vidas, histórias e casas. E o pior, a certeza de que um dia o vulcão vai acordar novamente. É só uma questão de tempo. Mais tarde, os Andes Equatorianos viveriam uma tragédia semelhante, forçando 25 mil pessoas a deixarem suas casas, em outubro de 1999. Após 70 anos em repouso, o vulcão Tungurahua resolveu acordar e entrar em erupção. Os episódios vulcânicos ocorrem desde o início da evolução da Terra (4,5 bilhões de anos). Assim, a quietude de um vulcão não quer dizer que ele nunca tenha entrado em erupção, apenas não há nenhum relato sobre ele. Ao mesmo tempo, nada impede que um vulcão considerado "extinto" nos últimos 5 mil anos, situado em uma região com vulcanismo latente, possa entrar em atividade no futuro. Os vulcões são imprevisíveis, eles não mandam aviso quando vão acordar e entrar em erupção. Eles gostam de fazer surpresa. Para tentar compreender como é o seu funcionamento e evitar tantas vítimas, na década de 1980 foi criada a vulcanologia . Também sabemos que os vulcões possuem um papel fundamental na formação do planeta. Milhares de vulcões ativos há bilhões de anos liberaram enormes quantidades de água, gás carbônico e outros componentes químicos formando os primeiros oceanos e nossa atmosfera primitiva. Com todas as tragédias que os vulcões provocam, eles também trazem a vida ao planeta.



Vulcão vomita lava de uma cratera no Monte Etna, na ilha italiana da Sicília, em 30 de julho de 2011.
Vulcanologia
Uma ciência que estuda as reações e tenta prever quando o vulcão poderá entrar em atividade. Compreender como funcionam também é uma forma de conhecer as entranhas da Terra, pois suas lavas, gases e cinzas fornecem novos elementos de como os minerais são formados.
Itália
A Ilha de Stromboli, na Itália, já teve 3 mil pessoas, hoje restam algumas centenas, pois ali também é o lugar de um dos vulcões mais ativos da Itália. Ao longo dos anos, as lavas têm recoberto terras que antigamente eram fazendas. Foi colocada na ilha uma câmara de TV de controle remoto que envia imagens da cratera durante 24 horas. Os blocos vulcânicos lançados durante uma erupção podem atingir dimensões superiores a um carro.
Vulcano
O seu próprio nome deriva de Vulcano, o deus romano que forjava na natureza os raios que caíam dos céus. Os antigos povos itálicos acreditam ser ele o causador das erupções vulcânicas. Os vulcões têm sido objeto de adoração ao longo da história da humanidade. O Kilaue, no Havaí, era considerado a morada da deusa do fogo. A montanha que os mexicanos chamam El Popo era um local sagrado dos antigos astecas. Os maoris da Nova Zelândia acreditam que existe um deus dos vulcões. Ele estava sendo amamentado pela sua mãe quando ela sem querer ficou de bruços e espremeu o filho contra o chão. De lá, então, ele nunca mais deixou de resmungar e cuspir. Apesar do poder devastador do vulcão, povos do mundo inteiro constroem suas moradias em volta dele. Um desses casos é o do Monte Etna, um imponente vulcão cercado de uma das cidades mais populosas da Itália, na Sicília. Há séculos o homem vem estudando as erupções do Etna, que tem espalhado fogo e destruição ao longo de sua história. Uma delas aconteceu em 1665, quando um oceano de lavas soterrou a cidade de Catania e mais uma dúzia de outras que estavam em seu caminho na direção ao mar e 20 mil pessoas morreram. Hoje, o vulcão ainda se ergue ameaçador sobre a segunda maior cidade da Sicília. Em Catânia, as pessoas vivem uma rotina tranquila, mas sabedoras que um dia acontecerá novamente.
Um pouco longe dali estão as ruínas de Pompeia, a cidade que viveu a maior tragédia causada por um vulcão em erupção na história da humanidade. A população inteira morreu, seus corpos carbonizados foram mumificados pelas lavas, deixando os testemunhos de quem esteve lá.
O maior da história: o Vesúvio
Pompeia era uma cidade luxuosa do sul da Itália que ficava distante 22 quilômetros de Nápoles. Todos dormiam, era noite quando em agosto do ano de 79, o vulcão Vesúvio entrou em erupção. Sua lava cobriu a cidade com uma camada de dois metros de espessura. Em seguida, o vulcão lançou cinzas e pedras, que formaram outra camada de 10 a 15 metros. Os 30 mil habitantes morreram sufocados pelas cinzas ou massacrados pelos tetos de suas casas que desabaram com o tremor. O Vesúvio tem 1267 metros de altura e estava inativo havia 1500 anos. As ruínas de Pompeia só foram descobertas pelos arqueólogos em 1806, e hoje o local é ponto turístico. A sua última erupção aconteceu há pouco mais de 50 anos. E não se sabe quando acontecerá outra.
Os mais famosos
Em 1815, a erupção do monte Tambora criou nuvens gigantescas de cinzas vulcânicas que escureceram a luz do sol no mundo inteiro, produzindo o que foi chamado "o ano sem verão". Muito tempo depois, em 27 de agosto de 1883, o vulcão Krakatoa deixaria suas marcas trágicas. Localizado em uma ilha vulcânica no estreito de Sonda, entre Java e Sumatra, explodiu e deixou no lugar da cidade um abismo de 300 metros. Não deixou nenhum sobrevivente. A explosão foi tão forte que levantou uma onda de 35 metros e varreu as ilhas de Java, Sumatra, destruiu 163 aldeias e matou mais de 36 mil habitantes. O estrondo da explosão foi ouvido a 3630 km, em Singapura, que pensou tratar-se de um motim. A explosão do vulcão do monte Perbuatan, na ilha de Krakatoa, Indonésia, durou 22 horas, liberou uma energia cinco vezes superior a de uma bomba atômica, daí a ilha desapareceu do mapa.

Vulcão Kilauea, no Havaí vomita lava mais alto do que as copas das árvores, no 7 de março de 2011.

Tempos depois, em 8 de maio de 1902, a cidadezinha de Saint-Pierre na Martinica amanhece tranquilamente sem imaginar o que o destino lhes havia reservado. O Monte Pelée parecia estar adormecido, apesar da emissão de estranhas ondas de gás sulfídrico e leves tremores. Eram então quase oito horas da manhã quando um pó fino e uma nuvem de gás chegaram à cidade em menos de três minutos e mataram 28 mil pessoas. A morte foi tão instantânea, que mulheres, homens e crianças foram encontrados escrevendo, sentados em cadeiras e brincando no chão. Recentemente, a erupção do Monte Santa Helena espalhou na América do Norte um grau de destruição nunca visto em séculos naquele país. Em 1985, o vulcão Nevado Del Ruiz varreu do mapa a cidade colombiana de Armero. As erupções submarinas de uma maneira geral são mais explosivas do que as continentais porque a água entra em contato com o magma quente e se mistura a ele. A explosão lança uma densa massa de fragmentos através da abertura; os primeiros fragmentos arrastam outros menores, parecendo foguetes à distância.
As ruínas de Pompeia ainda guardam as lembranças e marcas da morte de uma cidade inteira sob as lavas do Vesúvio.
Como é um vulcão
Quando a rocha fundida que existe no interior da terra sobe até a superfície, temos as erupções vulcânicas. No final de um tubo de lava solidificada, muito abaixo da base da montanha existe uma camada de magma incandescente. Se a temperatura desse reservatório aumentar, a pressão torna-se muito grande e o magma é empurrado para cima. Uma maré ardente sobe por esses tubos e por entre as fendas das rochas até explodir na superfície. Muitas vezes, o processo vulcânico vem acompanhado de terremoto. É fácil entender como isso acontece, a camada que circula a terra é formada por uma crosta e um pedaço do manto (litosfera) e tem 1.200 graus. Ali, acontece a colisão das placas tectônicas, que quando ocorrem se formam rachaduras e então diminui a pressão interior, o magma se funde, torna-se líquido e sai. O que mata, além do calor das lavas, são o vapor e os gases tóxicos que a lava elimina, como o dióxido de carbono, hidrogênio, monóxido de carbono e dióxido de enxofre. No entanto, apesar da força destruidora do vulcão, ele tem o seu lado bom porque o vulcão fertiliza o solo com minerais, recicla a hidrosfera e a atmosfera terrestre. As lavas podem atingir temperaturas extremamente elevadas. Vinte anos após a erupção do vulcão Jorullo, no México, as suas lavas mantinham uma temperatura suficientemente elevada para acender cigarros. Um vulcão que esteja em inatividade há cem anos não se considera extinto, está apenas adormecido podendo entrar em erupção a qualquer hora. Os terrenos vulcânicos são muito férteis. Neles, mesmo na superfície, brotam quaisquer sementes ou plantas, daí serem procurados pelas populações que querem uma boa produtividade, mesmo correndo grandes riscos. Hoje, apenas dois vulcões estão mais ativos: o Stromboli, na Sicília e o Izalco, em El Salvador. Outros vulcões localizados no "anel do fogo", que cerca o Oceano Pacífico estão menos ativos. Os rios de lava mais rápidos são os do vulcão Mauna Loa, no Havaí. Eles podem atingir a velocidade de oito metros por segundo.
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Principais erupções explosivas
STROMBOLI, Itália (1996)
PINATUBO, Filipinas (1991)
ULZEN, Japão (1991)
NEVADO DEL RUIZ, Colômbia (1985)
SANTA HELENA, EUA (1980)
TAMBORA, Indonésia (1815)
YELLOWSTONE, EUA (630.000 a.C.)
A nuvem de cinzas do vulcão Puyehue, no sul do Chile, a 870 km ao sul de Santiago, em 5 de junho de 2011. O vulcão Puyehue entrou em erupção no dia 4 de junho de 2011, o que levou a evacuação da população, uma vez que enviou uma nuvem de cinzas que circulou o globo.

Guarda do Parque Nacional Virunga, no leste do Congo, e turistas aparecem próximos de uma erupção do vulcão do Monte Nyamulagira, no dia 11 de novembro 2011. O objetivo do passeio noturno é assistir ao espetáculo da erupção que mostra rios de lava incandescente fluindo lentamente para o norte, em uma parte desabitada do parque, sem representar perigo para os gorilas que vivem na região.

As maiores tragédias da história
79 a.C. - VULCÃO DO VÉSUVIO, Pompeia: 30 mil mortos.
1665 - VULCÃO ETNA: 20 mil pessoas morreram.
1783 - VULCÃO DE LAKI, Islândia: mais de 230 mil reses morreram e faltou alimentos para mais de 100 mil habitantes.
1815 - VULCÃO TAMBORA, Indonésia: 90 mil mortos.
1883 - VULCÃO KRAKATOA, Indonésia: 36 mil mortes.
1980 - VULCÃO SANTA HELENA, Califórnia: 57 mortes.
1982 - VULCÃO EL CHICHÓN, México: 2 mil mortos e afetou o clima do planeta.
1985 - VULCÃO NEVADO DEL RUIZ, Andes Colombianos: 22 mil morreram.
1991 - VULCÃO PINATUBO, Filipinas: 800 mortes.
1995 - VULCÃO SOUFRIÈRE, Ilha de Montserrat: 6 mil pessoas abandonaram suas casas.
1995 - VULCÃO CERRO NEGRO, Nicarágua: 3.500 pessoas deixaram suas casas.
1995 - VULCÃO RUAPEHU, Nova Zelândia: a erupção foi a mais forte dos últimos 50 anos.
Visão aérea das cinzas e rochas caindo sobre uma grande área do sul do Japão abrangendo a prefeituras de Miyazaki e Kagoshima. Esse acontecimento levou as autoridades a aumentarem os níveis de alerta para a evacuação de todos os residentes a um raio de 2 km (1,2 milhas) do vulcão. O fato aconteceu em 28 de janeiro de 2011.
Os tipos Vulcão
Existem alguns tipos de vulcões: o venusiano apresenta grande altura e um canal principal (chaminé) por onde flui a lava. O peleano também apresenta um cone alto, mas possui ramificações por onde saem os gases. No havaiano, a lava é muito fluídica e escorre rapidamente de grandes bolsões. Apesar de todos os instrumentos modernos ainda não é possível saber quando um vulcão entrará em erupção. O vulcão Pinatubo, nas Filipinas, que causou um grande desastre em 1991, despejando suas lavas e deixando o céu escuro por vários dias, explode uma vez a cada 40 anos.

Moradores olham as cinzas de Bulusan vomitando suas lavas em Sorsogon, província ao sul de Manila, nas Filipinas, em 21 de fevereiro de 2011. O Monte Bulusan expeliu uma coluna de cinzas de três quilômetros, cobrindo várias aldeias no sudoeste.


Onde eles estão
Cerca de 81% dos vulcões ativos estão no chamado "anel de fogo", uma zona da borda do Oceano Pacífico. Essa área afeta do Chile até a Nova Zelândia, passando ao longo da América do Sul, América Central, México, Costa Oeste dos Estados Unidos, sul do Alasca, Japão, Filipinas, Nova Guiné e as ilhas do sul do Pacífico. Os outros 17% estendem-se do Mediterrâneo em direção à Indonésia, passando pelo Oriente Médio, Himalaia e China. Esses vulcões formam montanhas em áreas continentais e conjuntos de ilhas nos oceanos, como resultado da convergência de placas litosféricas. Muitas vezes, o vulcanismo está associado ao terremoto.


Lava é jorrada de uma fissura do vulcão de Kilauea, no Havaí, logo após o amanhecer no dia 06 de março de 2011.

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