Insetos como Indicadores de Qualidade Ambiental
Marcus Vinicius Cabral
Biólogo. mestre em Geociências
Breve Histórico
Bioindicadores são fatores bióticos empregados para o reconhecimento
de condições (passadas, presentes ou futuras) de ecossistemas.
O estudo de organismos tem sido uma das técnicas utilizadas para se
avaliar mudanças no ambiente. Dentre estes organismos, os insetos têm se
mostrado indicadores apropriados para essa finalidade, tendo em vista
sua diversidade e capacidade de produzir várias gerações, geralmente, em
curto espaço de tempo. Os insetos fitófagos, quando específicos para
determinadas plantas, são os organismos mais adequados, principalmente
os lepidópteros, que são taxonomicamente bem estudados e podem ser
facilmente amostrados através de armadilhas luminosas (Holloway
et al., 1987).
O termo bioindicador pode ser usado em vários contextos, tais como:
indicação de alteração de habitats, destruição, contaminação,
reabilitação, sucessão da vegetação, mudanças climáticas e
consequentemente degradação dos solos e ecossistemas (McGeoch, 1998).
Segundo Allaby (1992), Os bioindicadores são espécies que podem ter
uma amplitude estreita a respeito de um ou mais fatores ecológicos, e
quando presentes, podem indicar uma condição ambiental particular ou
estabelecida. Os bioindicadores, conforme Thomanzini & Thomanzini
(2000) e Büchs (2003), devem ter sua taxonomia, ciclo e biologia bem
conhecidos e possuir características de ocorrência em diferentes
condições ambientais ou serem restritos a certas áreas. Além disso,
devem ser sensíveis às mudanças do ambiente para que possam ser
utilizados no monitoramento das perturbações ambientais. Já para Büchs
(2003), cada bioindicador pertence a escalas diferentes de incidência de
perturbações, revelando informações sobre um distúrbio.
Os grupos taxonômicos que não constam nas atuais listas de espécies
ameaçadas, mas que merecem serem avaliados como bioindicadores, incluem
Coleoptera (Carabidae, Staphylinidae e Cicindelidae); alguns grupos de
hemípteros, tais como os Pentatomoidea; várias famílias de Diptera, tais
como Drosophilidae, Tephritidae e Bibionidae; e algumas mariposas, tais
como Geometridae e, especialmente, as Noctuidae (Catocalinae)
frugívoras (Lewinsohn
et al., 2005).
Os biólogos têm se apoiado primariamente nos vertebrados e nas
plantas superiores como grupos indicadores, seja de unidades ecológicas e
paisagísticas, seja de determinadas causas de perturbação e sua
intensidade. No entanto, os invertebrados respondem a diferenças mais
sutis tanto de habitat quanto de intensidade de impacto (Lewinsohn
et al., 2005).
Em geral, os invertebrados apresentam respostas demográficas e
dispersivas mais rápidas do que organismos com ciclos de vida mais
longos. Eles também podem ser amostrados em maior quantidade e em
escalas mais refinadas do que os organismos maiores. Essas vantagens são
contrabalançadas por dificuldades taxonômicas em muitos, se não na
maioria, dos táxons e pelo tempo necessário para processar grandes
amostras. Apesar dessas dificuldades, os artrópodes estão sendo cada vez
mais utilizados para avaliar a diversidade e a composição de espécies
de
habitats ou fisionomias distintas e para avaliar respostas a diferentes regimes de perturbação ou manejo (Lewinsohn
et al., 2005)
Características
Os bioindicadores:
- Devem ter sua taxonomia, ciclo e biologia bem conhecidos e possuir
características de ocorrência em diferentes condições ambientais ou
serem restritos a certas áreas.
- Devem ser sensíveis às mudanças do ambiente para que possam ser utilizados no monitoramento das perturbações ambientais
Tipo de Bioindicadores
- Sentinelas: introduzidas para indicar níveis de degradação e prever ameaças ao ecossistema;
- Detectoras: são espécies locais que respondem a mudanças ambientais de forma mensurável;
- Exploradoras: reagem positivamente a perturbações; Acumuladoras: permitem a verificação de bioacumulação;
- Bio-ensaio: usados na experimentação;
- Sensíveis: modificam acentuadamente o comportamento.
- Bioindicação não específica: diferentes fatores provocam a mesma reação;
- Bioindicação específica: uma reação só ocorre em virtude de um único fator ambiental.
- Bioindicação direta: fator ambiental atua diretamente sobre o sistema biológico;
- Bioindicação indireta: a bioindicação é resultado de alterações ambientais que provocam diferentes respostas.
- Bioindicação primária: é a primeira reação do organismo;
- Bioindicação secundária: ocorre após a primária e é diferente dela.
Indicador Biológico Ideal
- Fácil amostragem;
- Sensibilidade a pequenas variações ambientais;
- Não prejudicial à pessoas e animais;
- Manipulação segura;
- Adaptação amostragem de acordo com o ecossistema;
- Fácil identificação taxonômica;
- Distribuição cosmopolita;
- Abundância numérica;
- Baixa variabilidade genética e ecológica;
- Grande tamanho de corpo, ciclo de vida longo, mobilidade limitada;
- Características ecológicas conhecidas;
- Estar associado aos grandes processos do ecossistema;
- Evidências de que os padrões observados na categoria indicadora
reflitam-se em outras categorias (polinizadores, predadores de sementes,
parasitóides e decompositores);
- Categorias taxonômicas mais elevadas (ordem, família, tribo e
gênero) apresentando ampla distribuição geográfica e em diferentes tipos
de habitats;
- Categorias taxonômicas inferiores (espécies e subespécies) com alta
especialização de forma a serem bem sensíveis a mudanças em seu habitat
Grupos Funcionais
- Xilófagos: comedores de madeira.
- Ex. Cerambicídeos, Cupins
- Rizófagos: Comedores de raízes.
- Ex. larvas de besouros (corós),
- Ninfas de cigarra, percevejos
- Filófagos: comedores de folhas.
- Ex. larvas de lepidópteros
- Adultos de besouros (cerambicídeos, crisomelídeos)
- Saprófagos: comedores de material animal ou vegetal em decomposição.
- Ex. Estafilinídeos (besouros)
- Larvas de dípteros
- Polinizadores: se alimentam de néctar e polén.
- Ex. abelhas, mamangavas, moscas, borboletas, besouros.
- Fitófagos: que sugam a seiva das plantas.
- Ex. Homoptera (cigarrinha, pulgão, mosca-branca)
- Lepidotera (estágio larval)
- Diptera (larva minadora)
- Predadores: comem outros insetos.
- Ex. Libélulas, Louva-deus, Percevejos, Vespas,
- Calosoma, larvas de coccinelídeos.
- Centopéias, aranhas, pseudoescorpiões.
- Parasitóides: que vivem a custa de outro animal.
- Ex. himenópteros e dípteros.
- Geófagos: comem solo.
- Ex. corós, cupins, minhocas
Bibliografia
HOLLOWAY, J.D.; BRADLEY, J.D.; CARTER, J.D. CIE guides to insects of
importance to man. Lepidoptera, 1. C.A.B. International, Wallinford,
1987. 262p.
LEWINSOHN, T.M.; FREITAS, A.V.L.; PRADO, P.I. Conservação de
invertebrados terrestres e seus habitats no Brasil, Megadiversidade, v.
1, n. 1, p 62-69, julho 2005.
McGEOCH, M.A. The selection, testing and application of terrestrial
insects as bioindicators. Biology Review, v.73, p.181-201, 1998.
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Última atualização: Sábado - 28 de abril de 2012.