segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tamanho não é documento

Espécie pré-histórica de dente-de-sabre foi um superpredador, mas sua mordida era tão fraca quanto a de um gato 

RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 14:30 12 de julho de 2013
© CLAIRE HOUCK/WIKICOMMONS
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Crânio do Thylacosmilus atrox: seu enorme dente canino era maior que o de qualquer outra espécie dente-de-sabre

Um grupo de pesquisadores da Austrália e dos Estados Unidos deu um passo importante na compreensão do comportamento de caça do Thylacosmilus atrox, espécie pré-histórica de dente-de-sabre que habitou a América Latina, sobretudo a região da Argentina, há 3,5 milhões de anos. Com base em modelos computacionais tridimensionais, eles examinaram o desempenho biomecânico do animal ao atacar suas presas. Esses modelos foram digitalizados e, em seguida, submetidos a um software que simulou a força de sua mordida.

Os resultados foram comparados com os do Smilodon fatalis, o famoso e emblemático tigre-dente-de-sabre, extinto há 10 mil anos, e do leopardo que conhecemos hoje. Concluíram que a musculatura da mandíbula das duas espécies com dentes-de-sabre eram fracas quando comparadas à do leopardo, mas a do T. atrox surpreendeu. Apesar do tamanho – em torno de 1,5 metro e 100 quilogramas (kg) – e dos enormes dentes caninos superiores, sua mordida era tão ou mais fraca que a de um gato doméstico.
De acordo com o artigo, publicado na edição de junho da revista PloS One, isso era compensado, porém, pelos músculos de seu pescoço, responsáveis justamente pela movimentação de seus dentes gigantescos. “Os músculos da mandíbula do T. atrox eram constrangedores”, afirma Stephen Wroe, pesquisador da University of New South Wales, na Austrália, e autor principal do estudo. “Mas seu desempenho biomecânico durante as simulações sugere que ele, assim como o Smilodon fatalis, era bem adaptado às forças geradas pelos músculos de seu pescoço”.

Ele explica que seus enormes dentes, cujas raízes podiam se estender até a caixa craniana, eram frágeis. Por isso, o animal precisava abater suas presas rapidamente, de modo a não comprometer os caninos. Assim, o T. atrox tinha de imobilizá-las usando os antebraços. Em seguida, numa mistura de força e precisão, valia-se de sua poderosa musculatura e inseria os dentes na traqueia da vítima, atingindo suas artérias. “Presas de grande porte são perigosas, mesmo para superpredadores. Por isso, quanto mais depressa elas são abatidas, menores serão as chances de o predador se machucar ou de atrair a atenção de outros concorrentes”, disse o pesquisador.

Apesar da semelhança, o T. atrox não tem parentesco evolutivo com o Smilodon fatalis, o representante máximo dos mamíferos superpredadores. Na verdade, explica Wroe, o Smilodon é resultado de um de pelo menos cinco “experimentos” independentes registrados na história evolutiva dos dentes-de-sabre no decorrer da Era dos Mamíferos, que se estende por cerca de 65 milhões de anos.
“Essas duas espécies estão separadas por pelo menos 125 milhões de anos de evolução”, afirma Wroe. Trata-se de um caso clássico de convergência evolutiva, fenômeno em que duas ou mais espécies, independentemente, desenvolvem características semelhantes. “Sabe-se hoje que, do ponto de vista evolutivo, os T. atrox tem os marsupiais como parentes mais próximos”, explica.

Artigo científico

WROE, S., et al. Comparative Biomechanical Modeling of Metatherian and Placental Saber-Tooths: A Different Kind of Bite for an Extreme Pouched Predator. PloS One. v.8. jun. 2013.

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