Estudo descreve quatro novas espécies de tubarão
19 de agosto de 2016
Peter Moon | Agência FAPESP – Se algum zoólogo brasileiro anunciasse a descoberta no país não apenas de uma, mas de quatro espécies de mamíferos de médio porte de uma só vez, o achado seria festejado pela comunidade científica mundial. O mesmo entusiasmo deveria valer também para a descoberta, em uma só tacada, de quatro novas espécies de tubarões na costa brasileira.A descrição de quatro novas espécies de tubarões foi recentemente publicada no periódico Zootaxa, em artigo assinado por Sarah Tházia Viana, Marcelo Rodrigues de Carvalho e Ulisses Gomes.
Do gênero Squalus, os
animais têm cerca de 70 cm e 4 kg de peso. Seu habitat está além da
plataforma continental e se estende até profundezas abissais. Na foto, a
bióloga Sarah Viana estuda um exemplar de Squalus no Natural History Museum, em Londres (Foto: Divulgação)
A pesquisa é resultado do mestrado e doutorado de Viana – apoiada pela FAPESP com bolsas de doutorado e de estágio de pesquisa no exterior.
Ela teve a orientação de Carvalho, professor do Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e especialista no
estudo da sistemática, morfologia e evolução de peixes cartilagíneos,
que incluem os tubarões, as raias e as quimeras. Terceiro signatário do
artigo, Gomes é da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
“O estudo só foi possível graças à FAPESP, que me permitiu visitar as principais coleções do mundo, sem o que as identificações das novas espécies não teriam sido possíveis”, atesta Viana.
De acordo com Carvalho, desde os anos 1980, havia indícios recorrentes de que alguns espécimes de tubarões capturados no litoral brasileiro não coincidiam exatamente com a morfologia das espécies do gênero Squalus às quais se considerava que pertencessem.
Segundo o biólogo, isso acontece porque Squalus é um gênero que ocorre em todos os oceanos, e as descrições foram baseadas em espécimes-tipo muitas vezes antigos e malpreservados, depositados na Europa, Estados Unidos, Japão e Oceania. Outro fator é que as diferenças entre as espécies são muito pequenas. Squalus, aliás, foi um dos primeiros gêneros de tubarão descritos por Lineu ainda em 1758.
Até a publicação do artigo dos pesquisadores brasileiros, existiam 26 espécies reconhecidas de Squalus nos mares do planeta. Agora são 30.
Os novos integrantes são Squalus albicaudus, S. bahiensis, S. lobularis, e S. quasimodo.
“São animais pequenos, quando comparados aos tubarões que estamos acostumados a ver no cinema, como o grande tubarão branco e o tubarão-tigre, ambos com mais de 5 metros”, diz Viana. As novas espécies têm cerca de 70 cm e pesam uns 4 kg.
As quatro novas espécies não habitam a plataforma continental brasileira. O seu habitat começa onde a plataforma continental termina e se estende em direção às profundezas abissais. “Eles vivem a partir dos 300 metros de profundidade. Pouco se sabe sobre a biologia desses peixes. Os exemplares que conhecemos foram capturados por pescadores com redes em alto-mar ou provenientes de coletas oceanográficas realizadas há mais de 20 anos”, afirma Viana.
Amazônia Azul
Para descrever as novas espécies, ainda no mestrado Viana visitou diversas coleções brasileiras do Sul ao Nordeste. Salvo algumas poucas exceções, entre elas as coleções do Museu de Zoologia da USP, do Museu Nacional no Rio de Janeiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal da Paraíba, faltavam séries maiores de exemplares para o estudo.
Nos Estados Unidos, Viana pôde avaliar um número maior de representantes do Atlântico Sul nas coleções de Nova York, Washington, São Francisco, na Flóridae da Universidade Harvard.
Como todos aqueles acervos ainda não permitiam a realização da diagnose das novas espécies, no doutorado Viana teve que viajar pelo mundo atrás de espécimes de Squalus, incluindo os espécimes-tipo. Começou pela África do Sul, seguiu pela Austrália e Nova Zelândia e passou pela Europa, analisando os mesmos espécimes estudados por Lineu na Suécia. A pesquisa se estendeu por Londres, Berlim, Hamburgo e Viena. Por fim, no Japão, esteve em Hokkaido e Tóquio. Atualmente, Viana se encontra na África do Sul.
Foi a partir da análise comparativa detalhada dos animais brasileiros com a morfologia externa (morfometria, dentição e padrões de coloração) e a morfologia esquelética dos diversos espécimes-tipo que os pesquisadores conseguiram diagnosticar a validade das quatro novas espécies.
“O próximo passo, talvez no pós-doutorado, poderá ser estudar a biologia molecular dessas espécies de Squalus da nossa região”, diz a pesquisadora.
A descrição de quatro novas espécies de tubarões da costa brasileira pode ser encarada como a ponta do iceberg da biologia marinha desconhecida que habita a chamada Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro cuja área corresponde a aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados.
“O que conhecemos da nossa fauna marinha se limita às espécies que vivem no litoral”, diz Carvalho. Para estudar em alto-mar é necessário embarcações apropriadas, equipamentos e, sobretudo, robôs marinhos teleguiados. E, no Brasil, só quem os tem é a Petrobras.
"Apesar de o estudo da biodiversidade e da evolução exigir um incentivo relativamente pequeno, o trabalho sobre Squalus demonstra que desconhecemos muito ainda sobre a nossa biodiversidade e recursos, ressaltando a importância de se investir na formação de sistematas qualificados”, completa Carvalho.
O artigo de Viana, Carvalho e Gomes, Taxonomy and morphology of species of the genus Squalus Linnaeus, 1758 from the Southwestern Atlantic Ocean (Chondrichthyes: Squaliformes: Squalidae), publicado em Zootaxa ( doi: 10.11646/zootaxa.4133.1.1.), pode ser lido em http://www.mapress.com/j/zt/article/view/zootaxa.4133.1.1.
“O estudo só foi possível graças à FAPESP, que me permitiu visitar as principais coleções do mundo, sem o que as identificações das novas espécies não teriam sido possíveis”, atesta Viana.
De acordo com Carvalho, desde os anos 1980, havia indícios recorrentes de que alguns espécimes de tubarões capturados no litoral brasileiro não coincidiam exatamente com a morfologia das espécies do gênero Squalus às quais se considerava que pertencessem.
Segundo o biólogo, isso acontece porque Squalus é um gênero que ocorre em todos os oceanos, e as descrições foram baseadas em espécimes-tipo muitas vezes antigos e malpreservados, depositados na Europa, Estados Unidos, Japão e Oceania. Outro fator é que as diferenças entre as espécies são muito pequenas. Squalus, aliás, foi um dos primeiros gêneros de tubarão descritos por Lineu ainda em 1758.
Até a publicação do artigo dos pesquisadores brasileiros, existiam 26 espécies reconhecidas de Squalus nos mares do planeta. Agora são 30.
Os novos integrantes são Squalus albicaudus, S. bahiensis, S. lobularis, e S. quasimodo.
“São animais pequenos, quando comparados aos tubarões que estamos acostumados a ver no cinema, como o grande tubarão branco e o tubarão-tigre, ambos com mais de 5 metros”, diz Viana. As novas espécies têm cerca de 70 cm e pesam uns 4 kg.
As quatro novas espécies não habitam a plataforma continental brasileira. O seu habitat começa onde a plataforma continental termina e se estende em direção às profundezas abissais. “Eles vivem a partir dos 300 metros de profundidade. Pouco se sabe sobre a biologia desses peixes. Os exemplares que conhecemos foram capturados por pescadores com redes em alto-mar ou provenientes de coletas oceanográficas realizadas há mais de 20 anos”, afirma Viana.
Amazônia Azul
Para descrever as novas espécies, ainda no mestrado Viana visitou diversas coleções brasileiras do Sul ao Nordeste. Salvo algumas poucas exceções, entre elas as coleções do Museu de Zoologia da USP, do Museu Nacional no Rio de Janeiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal da Paraíba, faltavam séries maiores de exemplares para o estudo.
Nos Estados Unidos, Viana pôde avaliar um número maior de representantes do Atlântico Sul nas coleções de Nova York, Washington, São Francisco, na Flóridae da Universidade Harvard.
Como todos aqueles acervos ainda não permitiam a realização da diagnose das novas espécies, no doutorado Viana teve que viajar pelo mundo atrás de espécimes de Squalus, incluindo os espécimes-tipo. Começou pela África do Sul, seguiu pela Austrália e Nova Zelândia e passou pela Europa, analisando os mesmos espécimes estudados por Lineu na Suécia. A pesquisa se estendeu por Londres, Berlim, Hamburgo e Viena. Por fim, no Japão, esteve em Hokkaido e Tóquio. Atualmente, Viana se encontra na África do Sul.
Foi a partir da análise comparativa detalhada dos animais brasileiros com a morfologia externa (morfometria, dentição e padrões de coloração) e a morfologia esquelética dos diversos espécimes-tipo que os pesquisadores conseguiram diagnosticar a validade das quatro novas espécies.
“O próximo passo, talvez no pós-doutorado, poderá ser estudar a biologia molecular dessas espécies de Squalus da nossa região”, diz a pesquisadora.
A descrição de quatro novas espécies de tubarões da costa brasileira pode ser encarada como a ponta do iceberg da biologia marinha desconhecida que habita a chamada Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro cuja área corresponde a aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados.
“O que conhecemos da nossa fauna marinha se limita às espécies que vivem no litoral”, diz Carvalho. Para estudar em alto-mar é necessário embarcações apropriadas, equipamentos e, sobretudo, robôs marinhos teleguiados. E, no Brasil, só quem os tem é a Petrobras.
"Apesar de o estudo da biodiversidade e da evolução exigir um incentivo relativamente pequeno, o trabalho sobre Squalus demonstra que desconhecemos muito ainda sobre a nossa biodiversidade e recursos, ressaltando a importância de se investir na formação de sistematas qualificados”, completa Carvalho.
O artigo de Viana, Carvalho e Gomes, Taxonomy and morphology of species of the genus Squalus Linnaeus, 1758 from the Southwestern Atlantic Ocean (Chondrichthyes: Squaliformes: Squalidae), publicado em Zootaxa ( doi: 10.11646/zootaxa.4133.1.1.), pode ser lido em http://www.mapress.com/j/zt/article/view/zootaxa.4133.1.1.
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