Pesquisadores monitoram emissões de gases do efeito estufa na Caatinga
20 de outubro de 2016
Diego Freire | Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) monitoraram duas regiões da Caatinga, uma de mata nativa e outra de pasto, e concluíram que as mudanças do uso do solo na área de estudo não apresentaram impacto significativo nas emissões de gases do efeito estufa no bioma.
Verificaram também que as emissões na Caatinga são relativamente baixas quando comparadas com as de outros biomas. Entretanto, por ser uma região densamente povoada e, portanto, sujeita a grandes alterações humanas, é difícil determinar, segundo os pesquisadores, as tendências de emissões.
Iniciativa do Inpe com apoio da FAPESP é pioneira na medição de emissões de nitrogênio, dióxido de carbono e metano no bioma (foto: Wikimedia Commons)
A pesquisa "Impactos
de mudanças climáticas sobre a cobertura e uso da terra em Pernambuco:
geração e disponibilização de informações para o subsídio a políticas
públicas", coordenada por Jean Pierre Henry Balbaud Ometto, foi
realizada com o apoio da FAPESP no âmbito do Programa de Pesquisa sobre
Mudanças Climáticas Globais.
“Trata-se de estudos de medição das emissões de gases do efeito estufa a partir do solo nessa região. O objetivo foi investigar se o uso da terra e as consequentes mudanças na cobertura do solo alteram os ciclos biogeoquímicos e as emissões de gases do efeito estufa na Caatinga, que abrange uma área de 844.453 km² do território brasileiro: um bioma de grande biodiversidade endêmica e com outras características particulares que o fazem exclusivamente brasileiro”, disse Ometto.
As medições foram realizadas em 2013 e 2014 no município pernambucano de São João. De acordo com os resultados do monitoramento, as emissões de óxido nitroso (N2O) e de dióxido de carbono (CO2) foram significativamente superiores às de metano (CH4) na Caatinga durante o período estudado, mas não houve diferenças consideráveis entre as medições na área de vegetação nativa e naquelas sob cobertura de pasto. Por outro lado, as condições de temperatura e de umidade do solo impactaram significativamente as alterações das emissões de gases.
As emissões foram significativamente menores durante as estações secas. Isso porque a matéria orgânica, a disponibilidade de nutrientes e a atividade microbiana são minimizadas em condições de solo muito seco. Já a ocorrência de chuva estimula atividades microbiológicas e o aumento das emissões de CO2 e N2O.
“A exposição direta da superfície do solo à radiação solar altera sua dinâmica microbiológica em virtude das altas temperaturas, o que influencia as emissões de gases do efeito estufa. A umidade do solo também é essencial para a emissão desses gases, especialmente do nitrogênio, pois a atividade microbiana no solo e a decomposição da matéria orgânica dependem da disponibilidade hídrica”, disse Eráclito Sousa Neto, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe.
Mas ele alerta para outras variáveis que podem impactar as emissões. “As variáveis ambientais de temperatura e umidade do solo são importantes reguladores das emissões de gases; no entanto, a variabilidade elevada do clima e das precipitações, típica da Caatinga, associada a alterações antrópicas dificulta determinar as tendências de emissões para o bioma”, disse Sousa Neto.
Segundo os pesquisadores, os resultados do monitoramento revelaram que as emissões de gases do efeito estufa na região estudada são muito baixas, porque se trata de um sistema de dinâmica relativamente lenta, mas nem por isso são menos importantes.
“Quando se comparam as emissões da Caatinga com as de outros biomas, elas são relativamente baixas por conta de fatores como a dinâmica de decomposição do solo, a disponibilidade hídrica e uma cobertura vegetal menos pujante em termos de quantidade de carbono. No entanto, áreas áridas e semiáridas estão representadas em todos os continentes, cobrindo uma região importante do planeta e, geralmente, largamente ocupadas por atividades humanas, como o pastoreio e a agricultura de pequena escala, com processos antrópicos históricos e intensos”, disse Ometto. “A Caatinga brasileira integra esse cenário, que não deve ser ignorado.”
Dessa forma, as emissões relativas à mudança de uso do solo ou à dinâmica da decomposição da matéria orgânica podem não ser significativas em termos comparativos, mas a cobertura global da área associada à ocupação humana evidenciam sua importância.
“A modelagem atmosférica global indica, com certa consistência, que o Nordeste brasileiro deve enfrentar ainda mais períodos de seca intensa. Estamos falando de um número muito grande de pessoas que dependem da atividade agrícola e da pecuária de pequena escala, com uma perspectiva de sofrer impactos de secas mais frequentes e prolongadas, o que nos exige avanços científicos sobre as dinâmicas do funcionamento dos ecossistemas, dos sistemas de produção e da integração de diversos processos ambientais pelos ciclos bioquímicos. A Caatinga, em especial, passa por longos períodos naturais de seca que causam perdas nas colheitas e na produtividade da pecuária, tendo um impacto grave sobre a população”, disse Ometto.
Terras áridas e semiáridas cobrem aproximadamente 41% da superfície da Terra.
Os resultados do monitoramento do bioma pelos pesquisadores do Inpe estão no artigo Land cover changes and greenhouse gas emissions in two different soil covers in the Brazilian Caatinga, publicado pela revista Science of the Total Environment e disponível em dx.doi.org/10.1016/j.scitotenv.2016.07.095.
Assinam o artigo Kelly Ribeiro, Eráclito Rodrigues de Sousa Neto, João Andrade de Carvalho Junior, José Romualdo de Sousa Lima, Rômulo Simões Cezar Menezes, Paulo José Duarte Neto, Glauce da Silva Guerra e Jean Pierre Henry Baulbaud Ometto.
“Trata-se de estudos de medição das emissões de gases do efeito estufa a partir do solo nessa região. O objetivo foi investigar se o uso da terra e as consequentes mudanças na cobertura do solo alteram os ciclos biogeoquímicos e as emissões de gases do efeito estufa na Caatinga, que abrange uma área de 844.453 km² do território brasileiro: um bioma de grande biodiversidade endêmica e com outras características particulares que o fazem exclusivamente brasileiro”, disse Ometto.
As medições foram realizadas em 2013 e 2014 no município pernambucano de São João. De acordo com os resultados do monitoramento, as emissões de óxido nitroso (N2O) e de dióxido de carbono (CO2) foram significativamente superiores às de metano (CH4) na Caatinga durante o período estudado, mas não houve diferenças consideráveis entre as medições na área de vegetação nativa e naquelas sob cobertura de pasto. Por outro lado, as condições de temperatura e de umidade do solo impactaram significativamente as alterações das emissões de gases.
As emissões foram significativamente menores durante as estações secas. Isso porque a matéria orgânica, a disponibilidade de nutrientes e a atividade microbiana são minimizadas em condições de solo muito seco. Já a ocorrência de chuva estimula atividades microbiológicas e o aumento das emissões de CO2 e N2O.
“A exposição direta da superfície do solo à radiação solar altera sua dinâmica microbiológica em virtude das altas temperaturas, o que influencia as emissões de gases do efeito estufa. A umidade do solo também é essencial para a emissão desses gases, especialmente do nitrogênio, pois a atividade microbiana no solo e a decomposição da matéria orgânica dependem da disponibilidade hídrica”, disse Eráclito Sousa Neto, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe.
Mas ele alerta para outras variáveis que podem impactar as emissões. “As variáveis ambientais de temperatura e umidade do solo são importantes reguladores das emissões de gases; no entanto, a variabilidade elevada do clima e das precipitações, típica da Caatinga, associada a alterações antrópicas dificulta determinar as tendências de emissões para o bioma”, disse Sousa Neto.
Segundo os pesquisadores, os resultados do monitoramento revelaram que as emissões de gases do efeito estufa na região estudada são muito baixas, porque se trata de um sistema de dinâmica relativamente lenta, mas nem por isso são menos importantes.
“Quando se comparam as emissões da Caatinga com as de outros biomas, elas são relativamente baixas por conta de fatores como a dinâmica de decomposição do solo, a disponibilidade hídrica e uma cobertura vegetal menos pujante em termos de quantidade de carbono. No entanto, áreas áridas e semiáridas estão representadas em todos os continentes, cobrindo uma região importante do planeta e, geralmente, largamente ocupadas por atividades humanas, como o pastoreio e a agricultura de pequena escala, com processos antrópicos históricos e intensos”, disse Ometto. “A Caatinga brasileira integra esse cenário, que não deve ser ignorado.”
Dessa forma, as emissões relativas à mudança de uso do solo ou à dinâmica da decomposição da matéria orgânica podem não ser significativas em termos comparativos, mas a cobertura global da área associada à ocupação humana evidenciam sua importância.
“A modelagem atmosférica global indica, com certa consistência, que o Nordeste brasileiro deve enfrentar ainda mais períodos de seca intensa. Estamos falando de um número muito grande de pessoas que dependem da atividade agrícola e da pecuária de pequena escala, com uma perspectiva de sofrer impactos de secas mais frequentes e prolongadas, o que nos exige avanços científicos sobre as dinâmicas do funcionamento dos ecossistemas, dos sistemas de produção e da integração de diversos processos ambientais pelos ciclos bioquímicos. A Caatinga, em especial, passa por longos períodos naturais de seca que causam perdas nas colheitas e na produtividade da pecuária, tendo um impacto grave sobre a população”, disse Ometto.
Terras áridas e semiáridas cobrem aproximadamente 41% da superfície da Terra.
Os resultados do monitoramento do bioma pelos pesquisadores do Inpe estão no artigo Land cover changes and greenhouse gas emissions in two different soil covers in the Brazilian Caatinga, publicado pela revista Science of the Total Environment e disponível em dx.doi.org/10.1016/j.scitotenv.2016.07.095.
Assinam o artigo Kelly Ribeiro, Eráclito Rodrigues de Sousa Neto, João Andrade de Carvalho Junior, José Romualdo de Sousa Lima, Rômulo Simões Cezar Menezes, Paulo José Duarte Neto, Glauce da Silva Guerra e Jean Pierre Henry Baulbaud Ometto.
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