Impacto nacional de publicações científicas
Terça, 05/11/2013
Impacto nacional
20/09/2011
Por Fábio de Castro
Agência
FAPESP – Em comparação com todos os países da América Latina e do BRIC
(Brasil, Rússia, Índia e China), os cientistas brasileiros são os que
conseguem taxas de impacto mais altas com publicações em revistas
nacionais.
A
análise foi feita por Félix Moya, pesquisador do Departamento de
Dinâmica da Ciência e da Inovação do Instituto de Políticas e Bens
Públicos de Granada (Espanha), durante o 2º Seminário de Avaliação do
Desempenho dos Periódicos Brasileiros no JCR, realizado na última
sexta-feira (16/9) na sede da FAPESP, em São Paulo.
Em
comparação a países emergentes, cientistas brasileiros são os que
conseguem taxas de impacto mais altas em publicações nacionais. Análise
foi feita no Seminário de Avaliação do Desempenho dos Periódicos
Brasileiros no JCR, realizado na FAPESP
O
evento foi promovido pelo programa Scientific Electronic Library Online
(SciELO), criado em 1997 por meio de uma parceria entre a FAPESP e o
Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde
(Bireme).
O
objetivo do seminário foi discutir a crescente visibilidade conquistada
pela ciência brasileira noJournal Citation Reports (JCR), o mais
importante índice internacional de citações. A quantidade de periódicos
nacionais indexados no JCR cresceu 43% de 2009 para 2010.
Segundo
Moya, além do aumento da presença de publicações científicas editadas
no Brasil no cenário internacional, houve uma clara melhora do impacto
dessas publicações. Prova disso é que, em relação aos países do BRIC e
da América Latina, o cientista do Brasil é o que consegue as mais altas
taxas de impacto publicando em revistas nacionais.
“O
SciELO tem muito a ver com isso, com toda certeza. Não há nenhum país
do mundo que tenha um projeto nacional de acesso aberto a suas
publicações como esse. Não é tudo o que tem que ser feito no campo da
difusão de ciência no Brasil, mas é um passo muito importante e que não
foi feito em outros países”, disse à Agência FAPESP.
O
fator de impacto em si, no entanto, não deve ser um fim em si mesmo, de
acordo com Moya. “A busca de um melhor impacto é importante à medida
que ele pode ser considerado um sintoma da melhora da qualidade da
pesquisa. Há uma clara correlação entre o impacto e a excelência da
pesquisa. A importância disso, portanto, não se limita ao campo
científico: o alto impacto da pesquisa tem grande relevância social”,
disse.
As
análises, no entanto, precisam ser feitas com cuidado, segundo Moya. De
acordo com ele, o que não é verdade para um pesquisador pode ser
verdade para um país.
“Se
alguém diz que cada trabalho que é publicado em uma revista de alto
impacto será um trabalho de excelência, está dizendo algo falso. Mas se
alguém diz que se os pesquisadores brasileiros tendem a publicar em
revistas de mais impacto haverá uma maior quantidade de trabalhos de
excelência, isso é verdade”, afirmou.
Segundo
ele, é preferível que os pesquisadores se submetam a processos mais
rigorosos e competitivos para publicação dos trabalhos, porque isso é o
que garante a qualidade desses trabalhos no conjunto da comunidade
científica. Mas, ainda que não sejam as preferidas, as revistas de baixo
impacto também têm sua função.
“Só
deixarão de publicar nas revistas de menores impactos aqueles que podem
publicar nas de alto impacto. Para os outros, é preciso ter outras
revistas. Os que são publicados nas revistas de baixo impacto não são
necessariamente piores. O mesmo pesquisador pode publicar
alternativamente em ambos os tipos de revistas. Esse assunto é muito mal
analisado e as conclusões são muito mal tiradas quando se olha para
casos individuais. É um assunto que deve ser analisado como um sistema”,
afirmou.
O
sistema complexo de comunicação da ciência, de acordo com o pesquisador
espanhol, tem a capacidade para implantar o conhecimento em distintos
níveis de revistas. “Nem os pesquisadores nem as revistas ficam imóveis.
O que faz falta é que sejam observadas as tendências que devem seguir
pesquisadores e revistas”, disse.
Se
para o pesquisador é recomendável buscar as revistas de alto impacto,
para as revistas é fundamental desenvolver uma política editorial que
incremente a colaboração internacional. Para Moya, os editores devem
desenvolver atividades de marketing científico.
“Seria
interessante, por exemplo, se os editores das revistas brasileiras
enviassem a cada um dos cientistas citados em suas revistas um
comunicado sobre a citação. Isso geraria um processo de diálogo, fazendo
com que os autores dos trabalhos citados conheçam mais a revista, já
que são potenciais colaboradores. Esse tipo de prática de marketing
científico melhora a visibilidade internacional dos trabalhos”, apontou.
Segundo
Moya, quando a revista tem mais colaborações internacionais, os autores
aumentam o espectro da procedência de suas citações. “Creio que por
isso foi estabelecida a diferença entre a atividade de editor, que se
ocupa do nível científico da revista, e a atividade de publisher, que é
um editor profissional, que trata de conseguir, no âmbito da pura
comunicação, a maior visibilidade possível para a publicação. Nem todas
revistas têm um publisher, mas é um papel central no processo”, disse.
Internacionalização da ciência
Durante
o evento, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP,
destacou o interesse da Fundação em acompanhar o desempenho das revistas
brasileiras que angariaram mais interesse internacional e aumentaram
sua visibilidade.
“Temos
interesse em acompanhar o desempenho e desenvolvimento dessas coleções
de revistas para saber que ações poderemos realizar no período
subsequente a fim de intensificar esses progressos. Por outro lado,
esperamos que o debate ajude a diagnosticar os gargalos e problemas a
fim de buscarmos soluções para eles”, disse.
Brito
Cruz destacou também a importância da internacionalização da ciência
brasileira proporcionada pela consolidação das publicações científicas.
De acordo com ele, o progresso da ciência ocorre de forma mais intensa
quando há diálogo entre os cientistas de várias partes do mundo.
“Quando
medimos o impacto das publicações, queremos avaliar a comunicação.
Publicar um artigo científico é um ato de comunicação. É uma forma de
comunicar aos outros as descobertas e submetê-las à crítica. Gostaria
que a ciência feita no Brasil conversasse mais com o mundo. Quanto mais
as pessoas inteligentes daqui dialogarem com gente inteligente no mundo,
mais a ciência brasileira irá progredir”, analisou.
De
acordo com Abel Packer, coordenador operacional do SciELO, entre 2007 e
2010 houve um crescimento de 17% dos periódicos publicados pelo
programa. A média de crescimento, nesse período, foi de 5% ao ano. Por
outro lado, a presença brasileira aumentou quatro vezes entre 2007 e
2008 em uma das principais bases de dados internacionais – a Web of
Science-ISI (WoS), na qual se fundamenta o JCR.
“O
ingresso de mais periódicos brasileiros na WoS e outras bases de dados
importantes contribuíram para que o Brasil subisse para a 13ª posição no
ranking mundial de produção científica. Nessa produção, contando
artigos e revisões, o peso dos periódicos brasileiros é de 33% do
total”, disse Packer.
Com
33% o Brasil tem uma porcentagem grande de artigos com fator de impacto
publicados em periódicos nacionais em relação a outros países como
África do Sul (21%), Índia (17%), China (16%), México (10%) e Espanha
(10%).
“No
fator de impacto o Brasil não está mal em termos de comparação entre
periódicos nacionais. Cerca de 10% dos periódicos têm fator de impacto
acima da média em suas respectivas áreas. Nosso desafio é subir para 15%
ou 20% dos periódicos com fator de impacto acima da mediana”, disse
Packer.
Rogério
Meneghini, coordenador científico do programa SciELO, destacou que a
ciência é um processo cíclico. Segundo ele, a produção científica
propriamente dita não é o último passo do processo, do qual fazem parte
também a comunicação científica e a discussão informal com os pares.
“Publicar é um feito complexo, muito importante, do processo de fazer
ciência”, afirmou.
De
acordo com Meneghini, ao contrário dos países desenvolvidos, onde o
número de periódicos está relacionado diretamente aos interesses
comerciais, nos países emergentes o número de publicações tem conexão
com a necessidade de dar vazão à produção científica.
“No
momento da publicação há duas rotas possíveis, a nacional e a
internacional. O que estamos discutindo nos últimos anos – e que
seguiremos discutindo – é o quanto a publicação brasileira começa a
ganhar overlap em relação à produção internacional. Ou seja, em que
medida aquilo que publicamos aqui passa a fazer parte do contexto
internacional de publicações científicas”, disse.
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