Extinção da onça no Brasil...lamentável
Sumindo da floresta: menos de 250 espécimes
Onça-pintada pode desaparecer da mata atlântica. A perda de
um predador que ocupa o topo da cadeia alimentar deverá, segundo
pesquisadores, causar sérios impactos ao bioma.
Publicado em 07/02/2014
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Atualizado em 07/02/2014
Onça-pintada, maior felino das Américas. Ação humana pode
comprometer o futuro da espécie na mata atlântica. (foto: Beatriz
Beisiegel)
É o que estimam alguns especialistas brasileiros, segundo os quais todo o bioma não chega a ter 250 indivíduos.
A mata atlântica se estende ao longo da costa nordeste, sudeste e sul do Brasil, e cobre partes da Argentina e do Paraguai.
Presente em boa parte do continente americano, do México ao norte da Argentina, a onça-pintada aparece em todos os biomas brasileiros, à exceção dos pampas, de onde teria desaparecido há pouco tempo devido à ação humana. No país, as maiores populações da espécie estão na Amazônia e no Pantanal.
Calcula-se que em todo o mundo o número de indivíduos não chegue a 10 mil.
Caso a onça-pintada desapareça da mata atlântica, será a primeira vez que um bioma tropical terá perdido um predador de topo da cadeia alimentar (que não é presa natural de nenhuma outra espécie). A situação do animal nesse ambiente foi descrita em carta redigida por 13 pesquisadores (12 deles brasileiros) e publicada recentemente na revista Science.
Dados que preocupam
Um dos signatários do documento, o biólogo Eduardo Eizirik, da Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul, afirma que o número estimado de onças-pintadas na mata atlântica é pequeno. Como esses indivíduos estão espalhados em oito populações (grupos de animais que vivem e se reproduzem entre si) isoladas, com poucos integrantes cada uma, a conservação de P. onca se torna ainda mais difícil.Isso porque, segundo Eizirik, uma população pequena está mais vulnerável a acasos. O nascimento de animais do mesmo sexo ou a morte de um indivíduo, por exemplo, pode prejudicar a reprodução da espécie. “As mesmas eventualidades não teriam efeitos tão severos se as populações fossem maiores”, diz o biólogo.
Ele acrescenta que grupos menores podem também ser afetados geneticamente. “As chances de endocruzamento [acasalamento entre parentes] são maiores, o que pode resultar em indivíduos com má formação ou com menor capacidade de adaptação ao ambiente”, explica.
Análises moleculares feitas pela equipe de Eizirik em alguns exemplares de onça-pintada revelaram um dado ainda mais preocupante: a população efetiva da espécie, que corresponde aproximadamente ao número de adultos reprodutores, não chega a 50 indivíduos em cada uma das populações isoladas da mata atlântica.
Diminuição perigosa
Como predador carnívoro de topo de cadeia, conhecido por sua mordida forte e fatal, a onça-pintada é responsável pelo controle populacional de diversas espécies que fazem parte de sua dieta.
A onça-pintada é responsável pelo controle populacional de diversas espécies que fazem parte de sua dieta
Seu eventual desaparecimento da mata atlântica poderá então, segundo o biólogo Ronaldo Morato, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros,
ocasionar, entre outros problemas ambientais, uma superpopulação de
veados, antas, capivaras e porcos-do-mato. Morato é outro signatário da
carta publicada na Science. Em grande quantidade, esses animais – a maioria deles herbívoros – se tornariam prejudiciais a algumas plantas da floresta. Na falta do predador, o aumento do número de outros carnívoros, como sucuris e jacarés, pode também ocasionar a extinção de outras espécies, como pequenos roedores.
Sumiço explicado
Diversos fatores explicam a redução do número de onças-pintadas na
mata atlântica. Um deles diz respeito à diminuição, nas últimas décadas,
da área de floresta necessária à sobrevivência da espécie. O animal,
habituado a viver de forma isolada, requer uma área de aproximadamente
100 km².Mas a onça-pintada quase não encontra mais fragmentos florestais desse tamanho. Estima-se que a mata atlântica, hoje com pouco mais de 100 mil km², tenha apenas 8% de sua área original, e seus fragmentos vêm se tornando cada vez menores diante dos constantes desmatamentos.
Esse cenário, afirma Eduardo Eizirik, é agravado pela expansão das áreas de pastagem e de plantio no entorno dos fragmentos de mata, impedindo que animais de um fragmento interajam com os de outro. A caça do animal ou de suas presas pelo homem também é uma ameaça à conservação da espécie.
Segundo Ronaldo Morato, algumas ações estão sendo planejadas com a finalidade de proteger a espécie. “Analisamos a viabilidade de intercambiar indivíduos entre biomas ou fazer suplementação populacional por meio de inseminação artificial.”
Mas os pesquisadores adiantam que não é possível prever com rigor as consequências de tais medidas, já que é impossível controlar o comportamento do animal e seu instinto de voltar ao território original. “Ainda há chances de reversão do quadro”, afirma Eizirik. “Mas ações políticas e sociais de preservação devem ser tomadas imediatamente.”
Franciele Petry Schramm
Especial para a CH On-line/ PR
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