sábado, 15 de fevereiro de 2014

Mudanças climáticas reduzem camada de gelo de lagos do Alasca

Antes dominada pelos onipresentes lagos congelados, a paisagem da costa do Alasca está se transformando a cada ano. Nas últimas duas décadas, o gelo derrete mais cedo e ainda durante o inverno já é possível ver lagos degelados. De acordo com estudo publicado na revista "Cryosphere", o motivo é claro: as mudanças climáticas. Nesses 20 anos, a região perdeu 22% de sua camada de gelo.
O derretimento do gelo no continente segue o padrão de diminuição do gelo marinho na região, dizem os cientistas da Universidade de Waterloo, em Ontário, Canadá. A pesquisa analisou os lagos entre 1991 e 2011. Durante o período, a capa de gelo diminuiu até 22 centímetros, sendo a maior reduçaõ nos últimos seis anos.

"O declínio depois de 2006 é bastante acentuado", afirmou Cristina Surdu, autora principal da pesquisa. "Essa é mais uma peça do quebra-cabeça das mudanças climáticas na região. Estamos vendo subirem as temperaturas do ar, estamos vendo o gelo do mar ser reduzido, e estamos vendo cada vez mais áreas verdes no Ártico. Os lagos são parte dessa história".

Cristina afirmou ter ficado "chocada ao observar uma redução de gelo tão dramática em um período de apenas 20 anos". Segundo ela, o comportamento dos lagos reflete as temperaturas mais quentes da região. Na primeira década do século XXI, somente na cidade de Barrow - que fica no distrito de North Slope, a aproximadamente 2.100 quilômetros ao sul do Polo Norte -, a temperatura subiu até 1,7° Celsius. Mas, segundo a pesquisadora, as mudanças na precipitação da região também contribuem para o derretimento do gelo.

"A neve é um fator muito importante em tudo isso, porque é um isolante", explicou. "Se ela cai no início da temporada de gelo, ela diminui o espessamento do gelo sobre os lagos, mas se cai no final da temporada, ajuda a manter o gelo, porque o isola do aquecimento das temperaturas. Mas o que estamos vendo é mais queda de neve no início da temporada, e assim a precipitação está trabalhando contra o gelo".
A pesquisa abrangeu mais de 400 lagos, que têm individualmente áreas de superfície de até 60 quilômetros quadrados, mas que possuem, em média, apenas 1,5 metros de profundidade. Os lagos tendem a ficar degelados no verão por um curto período de cerca de 8 a 10 semanas e, em seguida, congelar-se novamente com o aparecimento de temperaturas mais frias no outono.

Os cientistas acreditam que a maior presença de água líquida nos lagos poderá ter diversos impactos, sendo um deles alterar a ecologia dos lagos. Para alguns moradores da região, a maior oferta de água fresca será benéfica, aponta o estudo, mas eles irão sofrer com dificuldades como o desparecimento das estradas de gelo utilizados por caminhões para abastecer Barrow. Com os lagos de gelo mais finos, elas se tornarão inviáveis.

A equipe usou dados do radar European Remote Sensing Satellite (ERS), da Agência Espacial Europeia. O radar orbital pode sentir a presença de água em estado líquido no chão, mesmo quando ela está coberta por dezenas de centímetros de gelo.
O Globo - 05/02/2014

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