A estrela mais velha do Universo
10/02/14 06:13
Um grupo internacional de pesquisadores acaba de descobrir a estrela mais velha conhecida em todo o Universo. Segundo as estimativas da equipe, ela deve ter cerca de 13,6 bilhões de anos. O Big Bang, por sua vez, aconteceu 13,8 bilhões de anos atrás.
A descoberta foi feita por Stefan Keller, da Universidade Nacional Australiana, e seus colegas na Austrália, nos Estados Unidos e no Reino Unido. O artigo descrevendo o achado foi publicado online no último domingo pela revista científica britânica “Nature”.
É um recorde significativo. As estrelas mais antigas conhecidas anteriormente tinham 13,2 bilhões de anos. Mas o astro conhecido como SMSS J031300.36-670839.3 (não tente decorar este número; até mesmo os astrônomos abreviam o código após a primeira referência) deixam todas elas para trás e nos oferece uma visão privilegiada de como eram as primeiras estrelas existentes no cosmos.
A pista que levou à descoberta foi o fato de que essa estrela não tem praticamente nenhuma presença de ferro em seu conteúdo. Não dá para dizer com certeza que o conteúdo de ferro é zero, mas observações feitas pelos astrônomos indicam que, se houver algum, ele representa menos de um milionésimo da quantidade existente em nosso Sol.
CONTEÚDO ELEMENTAR
Pode não parecer, mas essa é uma evidência contundente da idade do objeto. Isso porque o Big Bang — o grande evento explosivo que teria dado origem ao nosso Universo, tal qual o conhecemos hoje — só foi capaz de produzir os três elementos mais leves: hidrogênio, hélio e uma pitadinha de lítio.
E o resto? De onde vieram o oxigênio que respiramos, o carbono que forma as moléculas essenciais à vida, o ferro que constitui o núcleo da Terra e os silicatos que compõem a superfície do nosso planeta? Eles só puderam ser fabricados pelas primeiras estrelas — astros gigantes azuis que, pela pressão exercida em seu núcleo pela gravidade, vão grudando átomos de hidrogênio uns nos outros para compor os elementos mais pesados. Ao final de suas vidas velozes e furiosas, essas estrelas explodem em supernovas, e todos esses átomos se espalham pelo espaço, onde semearão nuvens de gás que darão origem à geração seguinte de objetos estelares.
Um aspecto importante é que essas estrelas primordiais consomem seu combustível em poucos milhões de anos e detonam violentamente, de forma que jamais encontraremos um membro desse distinto grupo. A essa altura, todas elas já explodiram há muitos bilhões de anos. O mais perto que podemos chegar das primeiras estrelas é algo como o que foi descoberto agora — uma estrela de baixa massa que foi semeada pelas supernovas primordiais.
Segundo os cálculos feitos por Keller e seu grupo, a presença de elementos pesados na SMSS 0313-6708 (a versão abreviada do nome, não muito mais simpática) indica que ela provavelmente foi enriquecida por apenas uma detonação de supernova — um astro que, enquanto estava na ativa, devia ter cerca de 60 vezes a massa do nosso Sol e, esse sim, pertenceu à primeira geração de estrelas forjadas no cosmos.
Após a explosão, esse objeto gigantesco se tornou um buraco negro — que ainda deve estar por aí, vagando pelo espaço, embora jamais saibamos onde. (Um problema com os buracos negros é que eles são difíceis de detectar. E, mesmo quando os detectamos, eles são indistinguíveis uns dos outros, salvo por sua massa e sua rotação. E isso vale mesmo que eles não tenham a forma clássica e sejam semelhantes ao que recentemente sugeriu Stephen Hawking.) Restaram-nos apenas as estrelas que nasceram depois que esse astro explodiu e que são suficientemente pequenas para brilhar até hoje (quanto menor o astro, mais tempo ele vive). É o caso da SMSS 0313-6708.
Outra coisa particularmente interessante sobre esse objeto recém-estudado é que ele está a apenas 6.000 anos-luz da Terra. Uma distância suficientemente pequena, por exemplo, para tentarmos buscar evidências de um sistema planetário ao seu redor. Em tese, a baixa presença de elementos pesados vetaria a formação de pequenos pedregulhos ao redor da estrela, que se agregariam para afinal formar uma coleção de planetas. Portanto, essas estrelas devem ser desprovidas de objetos planetários. Se por acaso houver algum por lá, teremos de rever nossas teorias de como nascem os mundos.
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