Atmosfera líquida
Pesquisa revela detalhes sobre as propriedades das
partículas de aerossóis da Amazônia e aponta para impactos causados pela
poluição em Manaus. Mudança na composição atmosférica pode alterar a
dinâmica de chuvas da região.
Publicado em 26/01/2016
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Atualizado em 26/01/2016
Umidade relativa do ar elevada na região amazônica é
apontada como um dos motivos por trás da descoberta de que partículas
aerossóis são majoritariamente líquidas na área. (foto: BM
Explorer/www.bbmexplorer.com)
Partículas de aerossóis são componentes da atmosfera responsáveis pela formação de nuvens e parte do controle da radiação solar que chega à superfície terrestre. Com base em levantamentos anteriores realizados em florestas boreais, modelos climáticos consideravam que essas partículas eram sólidas na região amazônica. No entanto, o estudo publicado em dezembro na revista Nature Geoscience mostra que o estado físico dos aerossóis na Amazônia é 80% líquido.
Segundo o trabalho, a diferença deve-se a várias razões, entre elas a umidade relativa do ar, bastante elevada na região. Outros fatores que influenciam o estado das partículas são os compostos orgânicos voláteis que as formam. Em florestas boreais, os compostos orgânicos voláteis que formam as partículas são majoritariamente terpenos, enquanto, na Amazônia, as partículas são formadas a partir do isopreno.
A liquidez das partículas interfere diretamente na atmosfera amazônica e é responsável por um funcionamento mais dinâmico se comparado a locais com maior concentração de partículas sólidas, como as florestas boreais da Finlândia. “As reações químicas que acontecem entre uma partícula líquida e a atmosfera são mais eficientes do que em fase sólida. A dissolução dos compostos é mais rápida e, como os componentes são solúveis, são mais eficientes para formar gotas de nuvem”, explica o físico brasileiro Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), que participou do estudo.
Influência da urbanização
O levantamento sobre os aerossóis faz parte do projeto GoAmazon2014/15, voltado à compreensão dos efeitos da urbanização da zona metropolitana de Manaus na atmosfera amazônica. Para avaliar a composição física das partículas, foram realizadas coletas em diferentes pontos do estado do Amazonas: alguns em áreas remotas livres de poluição, entre 50 e 120 quilômetros ao norte de Manaus, outros no município de Manacapuru, área urbana localizada 110 quilômetros a sudoeste da capital. A conclusão foi que a fração de partículas sólidas aumentou quando houve contato com a poluição.
Para avaliar a composição física das partículas,
foram realizadas coletas em diferentes pontos do estado do Amazonas. A
conclusão foi que a fração de partículas sólidas aumentou quando houve
contato com a poluição.
A explicação para a diferença de estado físico das partículas aerossóis dentro e fora do ambiente urbano está relacionada aos gases orgânicos envolvidos em sua emissão. “Como as fontes emissoras são distintas, várias propriedades das partículas são alteradas: composição química, tamanho, forma, fase, e, consequentemente, suas propriedades ópticas, isto é, como elas interagem com a radiação solar”, afirma a física Márcia Yamasoe, do Departamento de Ciência Atmosféricas da USP, destacando que a frota veicular movida a diesel é a principal fonte de emissão sólida destas partículas na atmosfera – um dado preocupante, já que o ritmo de urbanização na região amazônica não dá mostras de desaceleração. Se a poluição será grande o suficiente para alterar a formação de nuvens e a dinâmica das as chuvas? Só o tempo dirá.
Iara Pinheiro
Especial para a CH Online
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