Alerta em Abrolhos
Berçário da vida marinha pode ter o equilíbrio de seu ecossistema ameaçado por bactérias altamente virulentas, capazes de causar a extinção de diversas espécies de corais
Por: Bruna Ventura Publicado em 26/10/2010 | Atualizado em 26/10/2010
Ilha Redonda, localizada no arquipélago de Abrolhos, o complexo de recifes mais importante do Atlântico Sul (foto: Marina C. Vinhal – CC BY 2.0).
Segundo Thompson, a degradação mais intensa é observada nos recifes com maior quantidade de microrganismos patogênicos. Uma das espécies de corais mais ameaçadas é a Mussismilia braziliensis. “Os estudos do nosso grupo mostram que, se nada for feito, essa espécie poderá ser extinta em menos de cem anos”, alerta.
Durante o estudo, os pesquisadores descobriram uma nova espécie de bactéria, a Vibrio coralliilyticus, amplamente distribuída no meio marinho – inclusive no banco de Abrolhos. Ela provoca doenças infecciosas cujo principal sintoma é o branqueamento e a necrose dos corais.
O oceanólogo explica que o branqueamento dos corais é consequência da atividade das bactérias quando a temperatura dos oceanos e os nutrientes presentes no meio aumentam. “O aquecimento global intensifica a secreção de toxinas pelas bactérias, o que causa doenças nos corais, como a praga branca e a necrose tecidual”, diz.
Na chamada praga branca, os corais perdem tecido e zooxantelas – tipo de protozoário que vive em interação mutuamente benéfica com os corais e responde por sua coloração. O esqueleto exposto faz com que o coral pareça branco.
Excesso de nutrientes
O oceanólogo explica que as bactérias são encontradas principalmente na água do mar e no intestino de peixes e moluscos. “O desequilíbrio do ecossistema ocorre quando a água recebe nutrientes em excesso, o que propicia uma proliferação de bactérias maior do que o normal”, afirma.Esse aumento de nutrientes na água deve-se em parte à poluição que sai do continente em direção ao banco de recifes de Abrolhos. Os pesquisadores agora investigam a origem dessa poluição, que pode ser esgoto.
Outra causa apontada por Thompson para o aumento de nutrientes é a reprodução vertiginosa de algas. “À medida que o número de algas aumenta, encontramos mais nutrientes e, consequentemente, mais bactérias patogênicas.”
Segundo o oceanólogo, essa situação é decorrente da pesca predatória. “Os peixes que deveriam ser os predadores dessas algas estão sendo pescados de maneira imprópria, o que provoca o desequilíbrio da cadeia alimentar”, conta o pesquisador, ressaltando que mais de 90% do banco de recifes não são protegidos da pesca.
Thompson destaca que o resultado da pesquisa serve como um alerta para o risco de extinção em Abrolhos, uma região de extrema importância para a preservação da biodiversidade brasileira. “Esse banco recifal é um verdadeiro berçário da vida marinha, que abriga recifes com cerca 10 mil anos”, pondera. E completa: “As áreas marinhas protegidas por lei precisam ser expandidas no papel e na prática.”
Bruna VenturaCiência Hoje On-line
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