Especialistas debatem queda na produtividade de plantas
Modelo matemático que indica desaceleração do crescimento pode não ser adequado para Amazônia
Edição Online - 31/08/2011© MODIS/Nasa |
Mapa mostra produção das plantas: áreas em branco não possuem vegetação e cinzas não apresentam tendência de aumento ou diminuição significativas. Pontos verdes, maior produtividade. E alaranjados, queda na produção. |
Pesquisadores brasileiros e norte-americanos contestaram no dia 26 de agosto, na sexta-feira, dados de um estudo que apontava uma queda constante da produtividade das plantas devido às secas ocorridas na última década no hemisfério Sul. O fenômeno teria conseqüências graves: a escassez de alimentos e o fim de outros produtos derivados dos vegetais, como os biocombustíveis, em até mil anos. O comentário técnico publicado na Science, a mesma revista que divulgou o estudo há um ano, mostra que esses resultados podem ser incorretos e dar origem a uma preocupação exagerada.
Segundo um dos autores do comentário técnico, Marcos Heil Costa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, há um erro de 25% até 30% no modelo matemático usado no estudo para os cálculos feitos sobre as florestas tropicais. “Isso porque os autores do artigo utilizaram um único algoritmo para calcular a produção primária líquida (PPL), ou seja, a quantidade de carbono que a planta consome para crescer e respirar, no mundo todo”, explica Costa. “A conta feita por eles tende a funcionar para o clima temperado, mas não para climas quentes ou muito frios. Piora a situação o fato de os maiores valores, em termos de PPL, estarem nos trópicos”, detalha o pesquisador.
Os autores do primeiro estudo, Maosheng Zhao e Steven Running, ambos da Universidade de Montana (Estados Unidos), propuseram para o período entre 2000 e 2009 uma tendência anual de queda de 0,1% da PPL e 1% no período de dez anos. O destaque ficou para a floresta amazônica, com uma diminuição de 66% dessa produção. No artigo, também citaram um estudo sobre os efeitos da seca de 2005 na Amazônia (feito pelo geógrafo Oliver Phillips, da Universidade de Leeds, no Reino Unido), que apontava a mortalidade das plantas. O comentário técnico, porém, ressalta que enquanto algumas espécies morriam, outras prosperavam. Isso significa que a seca não seria sinal de uma diminuição significativa da área verde amazônica.
O grupo formado por brasileiros investiga a produtividade das plantas amazônicas desde 2000. Quando leram o artigo de Zhao e Running, no ano passado, confrontaram os dados com os estudos que realizavam. Uma ou duas vezes por ano, os pesquisadores vão até a floresta amazônica medir o tamanho de cerca de duas mil árvores. Com essas informações, calculam a biomassa e estimam o crescimento dessas plantas. Ao mesmo tempo, analisam dados do satélite Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), da Nasa, que faz mapas da vegetação do planeta – incluindo da Amazônia.
Edson Nunes (UFV), outro autor do comentário técnico do qual também participou Simone Vieira, da Universidade Estadual de Campinas, usou esses dados coletados na floresta e pelo satélite para desenvolver um algoritmo funcional para calcular a PPL da Amazônia. Esse algoritmo foi empregado para concluírem que os números publicados no artigo de Zhao e Running poderiam estar errados. Após a breve análise, Costa ligou para os colegas americanos propondo realizarem, em conjunto, estudos específicos refutando as propostas do trabalho publicado em 2010.
Apesar das argumentações colocadas pelos pesquisadores brasileiros e americanos, Zhao e Running publicaram uma resposta ao comentário técnico, na mesma edição em que este foi divulgado na Science, afirmando que seus dados estão corretos. “Testes de sensibilidade novos sobre o modelo reforçam as conclusões iniciais”, diz o texto. Esse é um sinal de que a discussão sobre a produtividade das plantas no mundo – e o debate sobre se haverá alimentos suficiente para toda a população – deve continuar.
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