Novo gigante voador do Nordeste
Pesquisadores descobrem no Ceará nova espécie de pterossauro
que viveu há mais de 110 milhões de anos. O animal, batizado em
homenagem a colunista da CH On-line, tinha crista e arcada dentária bem
diferentes das de outros do mesmo grupo.
Publicado em 06/10/2014
|
Atualizado em 06/10/2014
A nova espécie de pterossauro, descoberta no Nordeste
brasileiro, distingue-se de outras pelo grande número de dentes e pelo
tamanho da crista, que ocupa 40% de seu crânio. (ilustração: Maurílio
Oliveira.
Um dos mais importantes depósitos paleontológicos do mundo, a bacia
do Araripe, localizada em pleno Nordeste brasileiro, no sul do Ceará, já
foi palco de inúmeras descobertas interessantes – inclusive muitos
fósseis de pterossauros. A mais nova delas, feita por pesquisadores das
universidades Federal de Pernambuco (UFPE), Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE) e Regional do Cariri (Urca), apresentou ao mundo um réptil
voador que viveu há mais de 110 milhões de anos. O animal foi batizado
de Maaradactylus kellneri, em homenagem ao paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista da CH On-line Alexander Kellner.
Segundo uma das participantes da pesquisa, a bióloga Juliana Sayão, da Universidade Federal de Pernambuco, a origem do nome também remete a uma lenda dos índios Cariri, que viviam na mesma área do Ceará em que o fóssil foi encontrado. “Nessa história, Maara era uma índia enfeitiçada e condenada a viver na forma de uma serpente nos lagos da região”, diz. “Já a terminação dactylus vem do grego e significa ‘dedo’; e geralmente é usada para denominar as espécies de pterossauros.” Para completar, kellneri foi escolhido em homenagem a Kellner, orientador de Sayão e de outros dois pesquisadores envolvidos no estudo, publicado este mês na revista Zootaxa.
O fóssil, encontrado em 2010 no sítio São Gonçalo, no município de Santana do Cariri (CE), demorou um ano para ser retirado da rocha e é formado por um crânio quase completo e duas vértebras cervicais. Para estudar o animal, que tinha cerca de 6 metros de envergadura (da ponta de uma asa à outra), os pesquisadores utilizaram o chamado método cladístico, que permite estabelecer relações de uma espécie com outras de pterossauros.
“Comparamos esse indivíduo com outras 46 espécies, a partir de 110 características, para descobrirmos de qual grupo ele se aproxima mais fisicamente”, explica Sayão. “Como resultado, o novo pterossauro foi colocado dentro do agrupamento Anhagueritae, que conta com outras duas espécies, que tinham, assim como o Maaradactylus kellneri, a crista localizada no crânio anterior, como se fosse na ponta do que parece um ‘bico.’”
Para Sayão, além da importância científica, a descoberta representa uma grande conquista para o Nordeste do Brasil. “A nova espécie ajuda a entender como era a diversidade na região há 110 milhões de anos e a coletar mais informações sobre esse grupo que habitou a Terra no passado”, ressalta. “Mas mais do que isso, demonstra um grande amadurecimento da paleontologia no Nordeste e prova que existem paleontólogos ativos no Brasil inteiro, e não apenas concentrados no Sul e no Sudeste.”
Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line
PaleontologiaSegundo uma das participantes da pesquisa, a bióloga Juliana Sayão, da Universidade Federal de Pernambuco, a origem do nome também remete a uma lenda dos índios Cariri, que viviam na mesma área do Ceará em que o fóssil foi encontrado. “Nessa história, Maara era uma índia enfeitiçada e condenada a viver na forma de uma serpente nos lagos da região”, diz. “Já a terminação dactylus vem do grego e significa ‘dedo’; e geralmente é usada para denominar as espécies de pterossauros.” Para completar, kellneri foi escolhido em homenagem a Kellner, orientador de Sayão e de outros dois pesquisadores envolvidos no estudo, publicado este mês na revista Zootaxa.
O fóssil, encontrado em 2010 no sítio São Gonçalo, no município de Santana do Cariri (CE), demorou um ano para ser retirado da rocha e é formado por um crânio quase completo e duas vértebras cervicais. Para estudar o animal, que tinha cerca de 6 metros de envergadura (da ponta de uma asa à outra), os pesquisadores utilizaram o chamado método cladístico, que permite estabelecer relações de uma espécie com outras de pterossauros.
“Comparamos esse indivíduo com outras 46 espécies, a partir de 110 características, para descobrirmos de qual grupo ele se aproxima mais fisicamente”, explica Sayão. “Como resultado, o novo pterossauro foi colocado dentro do agrupamento Anhagueritae, que conta com outras duas espécies, que tinham, assim como o Maaradactylus kellneri, a crista localizada no crânio anterior, como se fosse na ponta do que parece um ‘bico.’”
Pescador pré-histórico
O Maaradactylus kellneri tinha uma arcada dentária nunca vista antes. “Ele tinha 35 pares de dentes, quando o normal é entre 12 e 22, e os últimos grupos são organizados juntos, de três em três”, explica Sayão. Outra peculiaridade é que o animal tinha uma crista muito grande, que ocupava cerca de 40% de seu crânio.
Sayão: “Ele tinha 35 pares de dentes, quando o normal é entre 12 e 22”
Diante das características físicas da espécie, foi possível deduzir
algumas informações sobre seus possíveis hábitos alimentares e sobre o
ambiente em que viveu. “Acreditamos que se alimentava de peixes, pois
com o crânio fino e alongado e muitos dentes, o animal podia romper a
tensão da superfície da água e capturar os peixes, aprisionando-os com
os dentes”, avalia Sayão. “No ambiente em que ele vivia, havia uma
laguna com conexão com o oceano similar à lagoa Rodrigo de Freitas, no
Rio de Janeiro, só que 10 vezes maior”, completa.Para Sayão, além da importância científica, a descoberta representa uma grande conquista para o Nordeste do Brasil. “A nova espécie ajuda a entender como era a diversidade na região há 110 milhões de anos e a coletar mais informações sobre esse grupo que habitou a Terra no passado”, ressalta. “Mas mais do que isso, demonstra um grande amadurecimento da paleontologia no Nordeste e prova que existem paleontólogos ativos no Brasil inteiro, e não apenas concentrados no Sul e no Sudeste.”
Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line
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